16 julho 2004

Em Lisboa nem sangria má nem purga boa - V: Porque (não) reclamam os utentes dos serviços de saúde ?

A Andreia é uma ciberamiga que eu não conheço pessoalmente mas com quem me correspondo por e-mail, há mais de cinco anos! Jornalista, tem andado por vários sítios, o último dos quais no "Tempo Médico".

Há dias pediu-me, mesmo em cima da hora, para lhe responder a umas tantas perguntas, suscitadas pela leitura do relatório sobre as reclamações que chegaram à Direcção Geral de Saúde, relativamente ao ano de 2003 e aos utentes dos serviços de saúde, quer públicos quer privados (n=114). O relatório, de 13 páginas, está disponível em formato pdf no sítio da Direcção Geral de Saúde.
 
Eis as perguntas (P) da Andreia a que eu respondi (R), de improviso, em cima do joelho, sem ter lido o citado documento:

P1 - Quais serão os motivos que poderão justificar o facto de serem os médicos os mais visados pelas queixas dos utentes dos hospitais do SNS (48%) e centros de saúde (34%), quer na vertente de prestação de cuidados, quer na vertente da sua correcção e humanidade?
 
R1 - Os médicos são  mais visados pelas queixas dos utentes dos hospitais do SNS (48%) e centros de saúde (34%) do que os outros profissionais (enfermeiros, pessoal de acção médica, administrativos, técnicos de diagnóstico e terapêutica)…
 
Haverá diversas explicações: (i) maior número de interacções dos utentes/doentes com o pessoal médico; (ii) maior impacto da relação terapêutica na satisfação do utente/doente; (iii) a relação terapêutica é uma relação de poder, assimétrica, stressante, propensa ao conflito; (iv) o poder técnico-científico que é reconhecido ao médico tem uma dimensão oculta (o poder mágico-religioso de toda a relação terapêutica: a palavra  terapeuta vem do grego (terapeutes), quer dizer: medium, aquele que faz a ligação a um deus, aquele que cura através de ….; (v) last but not the least, os médicos, nas faculdades de medicina, são treinados para ver doenças, não para lidar com doentes, com pessoas doentes…

 
P2 - Nos Centros de Saúde, as matérias relacionadas com a sua organização e funcionamento originam a maioria das reclamações dos seus utentes (47%). O que é que o poderá motivar e o que poderá ser feito para melhorar a situação?

R2 - Os problemas de organização e funcionamento dos centros de saúde  estão na origem da maioria das reclamações dos seus utentes (47%)… São sobretudo os problemas de marcação de consulta, de gestão da lista do médico de família, de falta de médicos, de excesso de consultas por médico, de horários, de falta de condições de acolhimento dos utentes (sala de espera)…

O primeiro contacto com o centro de saúde, o rosto do centro de saúde, é um administrativo, sem formação específica, muitas vezes com baixa escolaridade, e que nalguns casos vem da escala mais baixa do funcionalismo público: o pessoal auxiliar e operário… A solução do problema passa também pela melhoria das competências em gestão dos médicos, enfermeiros e administrativos que dirigem (ou dirigiam)  os centros de saúde…

A actual reforma da rede dos cuidados de saúde primária (Decreto Lei nº 60/200, de 1 de Abril) pretende atacar este problema, mas isso não se resolve de um pé para a mão pondo os “privados” a governar o barco… Por outro lado, a clientela dos nossos centros de saúde tende, cada vez mais, a ser a população com menores recursos económicos e culturais (idosos, pobres, imigrantes…).

P3 - A DGS refere no relatório que as reclamações ainda não são usadas pelos utentes como oportunidades de melhoramento, mas para fazerem acusações. Como interpreta esta afirmação?

R3 - Na realidade, o utente dos serviços de saúde tem um papel passivo, e não proactivo: foi sempre visto como um consumidor, um doente, um “paciente” (sic), e não como um verdadeiro cliente com capacidade de influenciar a oferta de serviços… É um problema de empowerment, de competição, de mercado, de equidade… É também um problema sociocultural mais complexo…

P4 - Cerca de metade (49%) das reclamações são de utentes de instituições da Sub-Região de Saúde de Lisboa, seguindo-se as da Sub-Região de Saúde do Porto (13%) e de Setúbal (11%). A “interioridade” revela-se também neste tipo de actuação (ou não actuação) dos utentes?

R4 - De facto,a "interioridade” também se revela aqui… O eixo Setúbal-Braga, desenvolvido, litoral, urbano, jovem, com maior grau de literacia, também aqui faz sentir o seu peso (demográfico, económico, social…) sobre a periferia, pobre, rural, envelhecida, com baixa literacia…

Por outro lado, há uma maior relação de proximidade dos centros de saúde do interior (por ex., Baixo Alentejo) com a população que servem… O modelo de prestação de cuidados (por ex., trabalho em equipa, visitas domiciliárias, existência de extensões) também pode ser uma variável relevante para explicar estas diferenças comportamentais…

P5 - A maior parte das reclamações dizem respeito ao sector público. Será que as pessoas não se queixam do sector privado por falta de motivos de queixa ou porque não sabem que a DGS poderá intervir a esse nível?

R5 - Eu acho que os portugueses, embora não sendo parvos, são masoquistas… Por um lado, pensam que o dinheiro compra tudo (competência, qualidade, simpatia…), o que não é verdade… Se assim fosse, as nossas grandes empresas prestadores de serviços tratariam muito melhor os seus clientes… Essa história do “em cima o cliente, em baixo o presidente”, é uma história de conto de fadas que a gente costuma contar nos cursos de formação, mas que hoje em dia só produz sorrisos amarelos…

De resto, há cada vez menos respeito pelo cliente (seja externo, seja interno): parece que o único stakeholder que interessa satisfazer é o shareholder, esse peixe voraz e anónimo que especula na bolsa de valores…

Há ainda que referir que os consumidores de saúde (ou melhor do health care industry, que é a indústria da doença, e não da saúde!) não estão organizados, nem têm os mesmos meios de defesa e de lobbying como os outros… Abro uma excepção, para as relativamente poderosas associações de doentes crónicos…

Em Lisboa nem sangria má nem purga boa - V: Porque (não) reclamam os utentes dos serviços de saúde ?

A Andreia é uma ciberamiga que eu não conheço pessoalmente mas com quem me correspondo por e-mail, há mais de cinco anos! Jornalista, tem andado por vários sítios, o último dos quais no "Tempo Médico".

Há dias pediu-me, mesmo em cima da hora, para lhe responder a umas tantas perguntas, suscitadas pela leitura do relatório sobre as reclamações que chegaram à Direcção Geral de Saúde, relativamente ao ano de 2003 e aos utentes dos serviços de saúde, quer públicos quer privados (n=114). O relatório, de 13 páginas, está disponível em formato pdf no sítio da Direcção Geral de Saúde.
 
Eis as perguntas (P) da Andreia a que eu respondi (R), de improviso, em cima do joelho, sem ter lido o citado documento:

P1 - Quais serão os motivos que poderão justificar o facto de serem os médicos os mais visados pelas queixas dos utentes dos hospitais do SNS (48%) e centros de saúde (34%), quer na vertente de prestação de cuidados, quer na vertente da sua correcção e humanidade?
 
R1 - Os médicos são  mais visados pelas queixas dos utentes dos hospitais do SNS (48%) e centros de saúde (34%) do que os outros profissionais (enfermeiros, pessoal de acção médica, administrativos, técnicos de diagnóstico e terapêutica)…
 
Haverá diversas explicações: (i) maior número de interacções dos utentes/doentes com o pessoal médico; (ii) maior impacto da relação terapêutica na satisfação do utente/doente; (iii) a relação terapêutica é uma relação de poder, assimétrica, stressante, propensa ao conflito; (iv) o poder técnico-científico que é reconhecido ao médico tem uma dimensão oculta (o poder mágico-religioso de toda a relação terapêutica: a palavra  terapeuta vem do grego (terapeutes), quer dizer: medium, aquele que faz a ligação a um deus, aquele que cura através de ….; (v) last but not the least, os médicos, nas faculdades de medicina, são treinados para ver doenças, não para lidar com doentes, com pessoas doentes…

 
P2 - Nos Centros de Saúde, as matérias relacionadas com a sua organização e funcionamento originam a maioria das reclamações dos seus utentes (47%). O que é que o poderá motivar e o que poderá ser feito para melhorar a situação?

R2 - Os problemas de organização e funcionamento dos centros de saúde  estão na origem da maioria das reclamações dos seus utentes (47%)… São sobretudo os problemas de marcação de consulta, de gestão da lista do médico de família, de falta de médicos, de excesso de consultas por médico, de horários, de falta de condições de acolhimento dos utentes (sala de espera)…

O primeiro contacto com o centro de saúde, o rosto do centro de saúde, é um administrativo, sem formação específica, muitas vezes com baixa escolaridade, e que nalguns casos vem da escala mais baixa do funcionalismo público: o pessoal auxiliar e operário… A solução do problema passa também pela melhoria das competências em gestão dos médicos, enfermeiros e administrativos que dirigem (ou dirigiam)  os centros de saúde…

A actual reforma da rede dos cuidados de saúde primária (Decreto Lei nº 60/200, de 1 de Abril) pretende atacar este problema, mas isso não se resolve de um pé para a mão pondo os “privados” a governar o barco… Por outro lado, a clientela dos nossos centros de saúde tende, cada vez mais, a ser a população com menores recursos económicos e culturais (idosos, pobres, imigrantes…).

P3 - A DGS refere no relatório que as reclamações ainda não são usadas pelos utentes como oportunidades de melhoramento, mas para fazerem acusações. Como interpreta esta afirmação?

R3 - Na realidade, o utente dos serviços de saúde tem um papel passivo, e não proactivo: foi sempre visto como um consumidor, um doente, um “paciente” (sic), e não como um verdadeiro cliente com capacidade de influenciar a oferta de serviços… É um problema de empowerment, de competição, de mercado, de equidade… É também um problema sociocultural mais complexo…

P4 - Cerca de metade (49%) das reclamações são de utentes de instituições da Sub-Região de Saúde de Lisboa, seguindo-se as da Sub-Região de Saúde do Porto (13%) e de Setúbal (11%). A “interioridade” revela-se também neste tipo de actuação (ou não actuação) dos utentes?

R4 - De facto,a "interioridade” também se revela aqui… O eixo Setúbal-Braga, desenvolvido, litoral, urbano, jovem, com maior grau de literacia, também aqui faz sentir o seu peso (demográfico, económico, social…) sobre a periferia, pobre, rural, envelhecida, com baixa literacia…

Por outro lado, há uma maior relação de proximidade dos centros de saúde do interior (por ex., Baixo Alentejo) com a população que servem… O modelo de prestação de cuidados (por ex., trabalho em equipa, visitas domiciliárias, existência de extensões) também pode ser uma variável relevante para explicar estas diferenças comportamentais…

P5 - A maior parte das reclamações dizem respeito ao sector público. Será que as pessoas não se queixam do sector privado por falta de motivos de queixa ou porque não sabem que a DGS poderá intervir a esse nível?

R5 - Eu acho que os portugueses, embora não sendo parvos, são masoquistas… Por um lado, pensam que o dinheiro compra tudo (competência, qualidade, simpatia…), o que não é verdade… Se assim fosse, as nossas grandes empresas prestadores de serviços tratariam muito melhor os seus clientes… Essa história do “em cima o cliente, em baixo o presidente”, é uma história de conto de fadas que a gente costuma contar nos cursos de formação, mas que hoje em dia só produz sorrisos amarelos…

De resto, há cada vez menos respeito pelo cliente (seja externo, seja interno): parece que o único stakeholder que interessa satisfazer é o shareholder, esse peixe voraz e anónimo que especula na bolsa de valores…

Há ainda que referir que os consumidores de saúde (ou melhor do health care industry, que é a indústria da doença, e não da saúde!) não estão organizados, nem têm os mesmos meios de defesa e de lobbying como os outros… Abro uma excepção, para as relativamente poderosas associações de doentes crónicos…

11 julho 2004

Blogantologia(s) - XVI: Luanda revis(i)tada

Para o António, o Xico, o Daniel, o Mário, a Evelize, o Miguel, o Cunha, o Jorge e os demais companheiros da saúde pública, portugueses e angolanos, que acreditam e apostam no humanware angolano, tendo concebido, planeado e implementado o 1º Curso de Introdução à Administração dos Hospitais (3 blocos, com mais de 20 módulos, num total superior a 600 horas), num discreto mas notável projecto de cooperação que envolve, pelo lado angolano, o Ministério da Saúde de Angola e a Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto, em Luanda, e pelo lado português a Fundação Calouste Gulbenkian e a Escola Nacional de Saúde Pública, em Lisboa. E para o pessoal de secretariado, da Idalisa (Lisboa) à Elisabete (Luanda), que na retaguarda asseguram as mil e uma pequenas coisas que garantem o sucesso das grandes coisas.

Um especial kandandu para o Jorge que eu não pude rever desta vez, em Luanda, e que me dizem estar doente. As tuas melhoras, amigo e companheiro.

Para a Rita, a Paulina, a Eugénia e a Maria Antónia, as meninas Leal Monteiro dessa Casa Grande & Sanzala que é a Hospedaria Soleme, em Luanda, na Maianga, que tem sido a nossa casa, o nosso oásis e o nosso porto de abrigo. Sem esquecer a velha senhora Maria Eulália, a matriarca da família, que eu infelizmente ainda não conheço.


Trata-se, além disso, de um lugar único em Luanda já que a casa está também cheia de recordações e de obras do grande pintor angolano Viteix (Vítor Teixeira) (1940-1993), só agora conhecido em Portugal (A galeria da Caixa Geral de Depósitos, no Porto, teve em exposição entre Abril e Junho de 2004 uma importante colecção de obras do pintor, do período de 1958 a 1993, uma parte das quais temporariamente cedidas pela família Leal Monteiro a que o pintor estava ligado pelos laços do casamento).


Um enorme painel de azulejos, reproduzindo um das suas telas, feito em Portugal e montado sob orientação do seu filho, passou entretanto a partir de Dezembro último a figurar no alto de uma das paredes, adjacentes à fachada principal do edifício da Soleme. Devidamente iluminado à noite por projectores, o painel é perfeitamente visível da Rua Kwamme N'krumah e constitui uma justa e terna homenagem da família ao Viteix. Os dez anos da sua morte também foram devidamente assinalados na sua terra, com uma exposição em Maio de 2003, sob o título "Reviver Viteix".

Queridas amigas: Continuo a pensar que a vossa casa, a Soleme, é um verdadeiro oásis em Luanda, um lugar onde se alia a tradição, a cultura, a gastronomia, a hospitalidade, o cosmopolitismo, a arte de bem receber e sobretudo o human touch, o toque humano, que faz de uma simples relação comercial uma verdadeira relação de amizade...

Quero aqui prestar, em meu nome, a minha homenagem às grandes mulheres que mantêm de pé a belíssima casa, feita de granito angolano, talhada por artesões portugueses dos anos 20, que foi do vosso pai e avô, João Monteiro, quadro superior da administração colonial que faria este ano cem anos se fosse vivo (1904-2004)... Tivemos pena, eu e o Daniel, de não podermos estar na vossa festa, na passada sexta-feira... De qualquer modo ficámos sensibilizados pelo vosso convite. A viagem de regresso a Lisboa correu bem. Até sempre, amig@s!





Fonte: Fotografia gentilmente cedida pela Hospedaria Soleme, Rua Kwamme N'krumah, 1, Maianga, Luanda





Luanda revis(i)tada



Não vi flores,

Não vi acácias vermelhas,

Dessas rubras acácias de Benguela,

No teu imenso muceque;

Não vi o esplendor celebrado

Da tua baía,

Nem senti o sortilégio da tua ilha dos amores,

Ó cidade de Luanda

Que a gente nunca esquece,

Outrora tão jovem e tão bela.



Porém, no teu rosto (re)visitado

Pelas rugas velhas

Da guerra, da pobreza e da malária,

Descobri diamantes em estado puro

No teu olhar de criança

Perdida em viagem imaginária.



De modo nenhum te quereria

Em postal ilustrado,

Decadente e saudosista,

Com carimbo de correio pós-colonial:

A restinga do Mussulo ao pôr-do-sol,

A laguna, o mangal, a marginal,

E o estúpido turista em férias,

No Coconuts, na ilha, elitista,

Ou na piscina do Hotel Tropical!



Não li sequer os graffiti do FMI,

Gravados a duro pau de giz

Nos muros dos palácios da cidade alta,

Proclamando urbi et orbi

Que doravante toda a malta

Seria rica e feliz!



Há muito que os kaluandas partiram,

Deixando atrás de si,

Com um misto de saudade e de glória,

O calor húmido e fraterno

Da grande nação crioula.

Mais os imbondeiros que resistiram

À seca, à fome, ao inferno,

Ao lixo, à sida, à história.



O cheiro fétido do humano

Viaja nos candongueiros

Que atravessam de lés a lés

A tua rede de túneis-formigueiros,

As tua entranhas, o teu tutano,

A tua essência.

Alguém poderia achar essas correrias loucas

Se não soubesse quem tu és,

Mas tu tens o teu tempo e a tua medida,

Ó cidade das mulheres empreendedoras,

Peritas na arte da sobrevivência.



Um enorme exército de formigas obreiras,

Com os jerricãs de plástico à cabeça,

Leva o fio da água da vida,

Tão preciosa quanto parca,

Ao teu ventre de Jocasta,

Mãe África, mãe de kixikila,

Zungueira, matriarca,

Moça reguila, parideira,

Quitandeira, kinguila.



Na praia dos pescadores

Há meninos, brancos e pretos,

Pé descalço e calças rotas,

A chutar a bola às balizas da sorte.

Poderão não vir a ser uns senhores,

E sorrir como o Mantorras,

O rosto espalhado em outdoors pela cidade.

Mas contarão, decerto, aos seus netos

Como souberam fintar a morte

Desde a mais tenra idade.



Mãe África, mãe coragem,

Para quem pouco te basta,

Mesmo se muito tu queres

Daquilo a que tens pleno direito:

Cidade revis(i)tada,

Sem mapa nem roteiro,

Simples lugar de passagem,

Onde um litro de gasolina, imagina!

Custa tanto quanto um pão,

Vinte kwanzas.



Poderei dizer em Lisboa, se quiseres,

Que o melhor de ti, Luanda, terra quente,

É a tua gente, a quem mando um chicoração:

As tuas infatigáveis mulheres,

E as tuas ternas, eternas, crianças.





Glossário de termos do falar local:



Candongueiros - Os endiabrados táxis colectivos de Luanda. Param um qualquer sítio e levam sempre mais um passageiro para além da sua lotação máxima Cada viagem custa 30 kwanzas. O termo vem de candonga (contrabando). "Inicialmente o contrabando de peixe seco. Só muitos anos mais tarde se passaria a usar o termo candongueiro para designar os contrabandistas de diamantes ou, mais tarde ainda, os novos taxistas luandenses do chamado processo dos 500" (Segundo leio no sítio de um brasileiro sobre os países e comunidades de língua portuguesa) .



Imbondeiro - Também conhecido por n´bondo (Adansonia digitata, Lin.):



Kaluanda - Nome antigo, colonial, dado ao habitante de Luanda.



Kandandu - Abraço (Plural: Jindandu). Ver outras expressões usadas nas saudações em kimbundu.



Kimbundu - Considerado o maior grupo etnolinguístico de Angola (c. 25% da população na costa oeste e no norte), a seguir ao ovimbundu (c. 37%, a sul), mas à frente do bakongo (13%) (Estas são as três principais línguas de Angola, todas elas pertencentes ao grupo bantu). A língua oficial é, como se sabe, o português. No Ciberdúvidas da Língua Portuguesa há uma interessantíssima nota de Rui Ramos sobre as relações nem sempre fáceis entre o português (colonial, dominante) e o kimbundu (ou quimbundo, o falar das gentes de Luanda-Malanje). Termos usados hoje pelos nossos jovens, como cota (dikota, pessoa mais velha) são provenientes do kimbundu. Sobre as questões de grafia (kimbundu ou quimbundo), ver igualmente a resposta do angolano Rui Ramos, especialista em línguas africanas, no mesmo sítio. Não se deve confundir, no entanto, o kimbundu com o calão de Luanda (caso de bué, e outras expressões que se ouvem na noite lisboeta).



Kinguila - Rapariga ou mulher que, no mercado paralelo, se dedica ao câmbio de moeda. Em geral, os maços de kwanzas e de dólares são guardados nos seios. Este negócio era tradicionalmente dos zairotas, habitantes do Zaire. Segundo o portal Netangola, numa página com preciosas dicas para os homens de negócios estrangeiros em visita a Luanda, "one can often find in the streets of the city the typical Kinguila - the seller of money - who normally offers the best quotation. This practice is forbidden by the authorities and offers some risks".



Kixikila - Em kimbundu, quer dizer contribuição, em dinheiro, para um dado fim colectivo. Em África, em geral, e em Angola, em particular, é aquilo que se designa pela expressão inglesa Rotating Savings and Credit Associations (ROSCA), um sistema informal de poupança e crédito, um grupo de ajuda mútua, liderado em geral por uma mulher, a "mãe de kixikila". O pequeno grupo, de cinco a dez elementos, tende a ser constituído por pessoas que estão ligadas entre si por laços de amizade, parentesco, vizinhança ou profissão. Cada elemento faz periodicamente uma determinada contribuição para um fundo comum que é depois utilizado rotativamente por cada um, com uma taxa de juro nula ou de valor reduzido. Na ausência de sistemas de crédito bancário acessíveis à generalidade da população, o kixikila voltou aos hábitos dos kaluandas como forma de atenuar ou reduzir o impacto da pobreza. O kixikila está hoje vulgarizado, não só entre as vendedeiras, quitandandeiras e kinguilas, mas também nos serviços públicos e nas empresas (vd. Neto, S. - Kixikila não é uma lotaria. Economia & Mercado. 19 (Maio-Junho de 2004). 40-42). Vd. também: Ducados, H.L.; Ferreira, M.E. (1998) - O financiamento informal e as estratégias de sobrevivência económica das mulheres em Angola : a Kixikila no caso do município do Sambizanga (Luanda). Lisboa: CEsA - Centro de Estudos sobre África e do Desenvolvimento. Instituto Superior de Economia e Gestão. Universidade Técnica de Lisboa. 1998 (Documentos de Trabalho, 53).



Kwanza - Moeda local. 1 dólar equivale a c. 85 kwanzas. O cacete (tipo de pão) custa cerca de 20 kwanzas (Julho de 2004). Consultar também o sítio oficial da República de Angola.



Muceques - Bairros populares degradados de Luanda.



Quitandeira - Vendedora de rua (ou de mercado), em geral de produtos hortofrutícolas. Vem de quitanda, um termo kimbundu que significa expor (determinados produtos para venda), e, por extensão, feira ou mercado. Há um belíssimo poema de Agostinho Neto sobre a quitandeira, que vem no seu livro Sagrada Esperança (1974): "A quitanda. Muito sol /e a quitandeira à sombra / da mulemba. /- Laranja, minha senhora, /laranjinha boa!"...



Zungueira - Vendedor ambulante, uma figura típica da economia paralela de Luanda. Em geral é do sexo feminino, mas também há cada mais jovens e crianças do sexo masculino. Estima-se que 70% da população de Luanda, em idade activa, seja zungueira. Ninguém sabe ao certo qual é a população actual da cidade e periferia: estima-se que possa chegar aos 4 milhões (a maior parte deslocados de guerra), ou seja, mais de 1/3 da população angolana actual, estimada actualmente pela CIA em c. 11 milhões de habitantes. Do verbo zunguar (andar para cima e para baixo, circular tentando vender alguma coisa). As zungueiras abastecem-se em mercados como o Roque Santeiro ou o Kikolo, onde não é aconselhável, por razões de segurança, a visita do turista estrangeiro. Considerando a sua densidade populacional e o drama do seu quotidiano, Luanda é apesar de tudo uma cidade com uma baixa taxa de criminalidade. Sobre o comércio informal, a figura da zungueira e a arte de sobreviver em Luanda, veja-se uma excelente reportagem assinada pelo jornalista e sociólogo Paulo de Carvalho (paulodecarvalho@sociologist.com, na revista Economia & Mercado. 19 (Maio-Junho de 2004).34-39.



Fotos de Luanda e de outros sítios de Angola:



O meu álbum de fotografias > Angola > Luanda > Cidade / City (tiradas em data posterior a este post)



Angola > Imagens



Luanda > Ilha do Mussulo > Imagens



Luanda > 1983 > Imagens



Lusoáfrica > Angola > Fotografias





Outros sítios sobre Angola (história, sociedade, economia, cultura):



Nhamalanda > História da Família Costa



SanzalAngola > Página de Helder de Sousa



UEA - União dos Escritores Angolanos





Blogantologia(s) - XVI: Luanda revis(i)tada

Para o António, o Xico, o Daniel, o Mário, a Evelize, o Miguel, o Cunha, o Jorge e os demais companheiros da saúde pública, portugueses e angolanos, que acreditam e apostam no humanware angolano, tendo concebido, planeado e implementado o 1º Curso de Introdução à Administração dos Hospitais (3 blocos, com mais de 20 módulos, num total superior a 600 horas), num discreto mas notável projecto de cooperação que envolve, pelo lado angolano, o Ministério da Saúde de Angola e a Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto, em Luanda, e pelo lado português a Fundação Calouste Gulbenkian e a Escola Nacional de Saúde Pública, em Lisboa. E para o pessoal de secretariado, da Idalisa (Lisboa) à Elisabete (Luanda), que na retaguarda asseguram as mil e uma pequenas coisas que garantem o sucesso das grandes coisas.

Um especial kandandu para o Jorge que eu não pude rever desta vez, em Luanda, e que me dizem estar doente. As tuas melhoras, amigo e companheiro.

Para a Rita, a Paulina, a Eugénia e a Maria Antónia, as meninas Leal Monteiro dessa Casa Grande & Sanzala que é a Hospedaria Soleme, em Luanda, na Maianga, que tem sido a nossa casa, o nosso oásis e o nosso porto de abrigo. Sem esquecer a velha senhora Maria Eulália, a matriarca da família, que eu infelizmente ainda não conheço.

Trata-se, além disso, de um lugar único em Luanda já que a casa está também cheia de recordações e de obras do grande pintor angolano Viteix (Vítor Teixeira) (1940-1993), só agora conhecido em Portugal (A galeria da Caixa Geral de Depósitos, no Porto, teve em exposição entre Abril e Junho de 2004 uma importante colecção de obras do pintor, do período de 1958 a 1993, uma parte das quais temporariamente cedidas pela família Leal Monteiro a que o pintor estava ligado pelos laços do casamento).

Um enorme painel de azulejos, reproduzindo um das suas telas, feito em Portugal e montado sob orientação do seu filho, passou entretanto a partir de Dezembro último a figurar no alto de uma das paredes, adjacentes à fachada principal do edifício da Soleme. Devidamente iluminado à noite por projectores, o painel é perfeitamente visível da Rua Kwamme N'krumah e constitui uma justa e terna homenagem da família ao Viteix. Os dez anos da sua morte também foram devidamente assinalados na sua terra, com uma exposição em Maio de 2003, sob o título "Reviver Viteix".

Queridas amigas: Continuo a pensar que a vossa casa, a Soleme, é um verdadeiro oásis em Luanda, um lugar onde se alia a tradição, a cultura, a gastronomia, a hospitalidade, o cosmopolitismo, a arte de bem receber e sobretudo o human touch, o toque humano, que faz de uma simples relação comercial uma verdadeira relação de amizade...

Quero aqui prestar, em meu nome, a minha homenagem às grandes mulheres que mantêm de pé a belíssima casa, feita de granito angolano, talhada por artesões portugueses dos anos 20, que foi do vosso pai e avô, João Monteiro, quadro superior da administração colonial que faria este ano cem anos se fosse vivo (1904-2004)... Tivemos pena, eu e o Daniel, de não podermos estar na vossa festa, na passada sexta-feira... De qualquer modo ficámos sensibilizados pelo vosso convite. A viagem de regresso a Lisboa correu bem. Até sempre, amig@s!




Fonte: Fotografia gentilmente cedida pela Hospedaria Soleme, Rua Kwamme N'krumah, 1, Maianga, Luanda


Luanda revis(i)tada

Não vi flores,
Não vi acácias vermelhas,
Dessas rubras acácias de Benguela,
No teu imenso muceque;
Não vi o esplendor celebrado
Da tua baía,
Nem senti o sortilégio da tua ilha dos amores,
Ó cidade de Luanda
Que a gente nunca esquece,
Outrora tão jovem e tão bela.

Porém, no teu rosto (re)visitado
Pelas rugas velhas
Da guerra, da pobreza e da malária,
Descobri diamantes em estado puro
No teu olhar de criança
Perdida em viagem imaginária.

De modo nenhum te quereria
Em postal ilustrado,
Decadente e saudosista,
Com carimbo de correio pós-colonial:
A restinga do Mussulo ao pôr-do-sol,
A laguna, o mangal, a marginal,
E o estúpido turista em férias,
No Coconuts, na ilha, elitista,
Ou na piscina do Hotel Tropical!

Não li sequer os graffiti do FMI,
Gravados a duro pau de giz
Nos muros dos palácios da cidade alta,
Proclamando urbi et orbi
Que doravante toda a malta
Seria rica e feliz!

Há muito que os kaluandas partiram,
Deixando atrás de si,
Com um misto de saudade e de glória,
O calor húmido e fraterno
Da grande nação crioula.
Mais os imbondeiros que resistiram
À seca, à fome, ao inferno,
Ao lixo, à sida, à história.

O cheiro fétido do humano
Viaja nos candongueiros
Que atravessam de lés a lés
A tua rede de túneis-formigueiros,
As tua entranhas, o teu tutano,
A tua essência.
Alguém poderia achar essas correrias loucas
Se não soubesse quem tu és,
Mas tu tens o teu tempo e a tua medida,
Ó cidade das mulheres empreendedoras,
Peritas na arte da sobrevivência.

Um enorme exército de formigas obreiras,
Com os jerricãs de plástico à cabeça,
Leva o fio da água da vida,
Tão preciosa quanto parca,
Ao teu ventre de Jocasta,
Mãe África, mãe de kixikila,
Zungueira, matriarca,
Moça reguila, parideira,
Quitandeira, kinguila.

Na praia dos pescadores
Há meninos, brancos e pretos,
Pé descalço e calças rotas,
A chutar a bola às balizas da sorte.
Poderão não vir a ser uns senhores,
E sorrir como o Mantorras,
O rosto espalhado em outdoors pela cidade.
Mas contarão, decerto, aos seus netos
Como souberam fintar a morte
Desde a mais tenra idade.

Mãe África, mãe coragem,
Para quem pouco te basta,
Mesmo se muito tu queres
Daquilo a que tens pleno direito:
Cidade revis(i)tada,
Sem mapa nem roteiro,
Simples lugar de passagem,
Onde um litro de gasolina, imagina!
Custa tanto quanto um pão,
Vinte kwanzas.

Poderei dizer em Lisboa, se quiseres,
Que o melhor de ti, Luanda, terra quente,
É a tua gente, a quem mando um chicoração:
As tuas infatigáveis mulheres,
E as tuas ternas, eternas, crianças.


Glossário de termos do falar local:

Candongueiros - Os endiabrados táxis colectivos de Luanda. Param um qualquer sítio e levam sempre mais um passageiro para além da sua lotação máxima Cada viagem custa 30 kwanzas. O termo vem de candonga (contrabando). "Inicialmente o contrabando de peixe seco. Só muitos anos mais tarde se passaria a usar o termo candongueiro para designar os contrabandistas de diamantes ou, mais tarde ainda, os novos taxistas luandenses do chamado processo dos 500" (Segundo leio no sítio de um brasileiro sobre os países e comunidades de língua portuguesa) .

Imbondeiro - Também conhecido por n´bondo (Adansonia digitata, Lin.):

Kaluanda - Nome antigo, colonial, dado ao habitante de Luanda.

Kandandu - Abraço (Plural: Jindandu). Ver outras expressões usadas nas saudações em kimbundu.

Kimbundu - Considerado o maior grupo etnolinguístico de Angola (c. 25% da população na costa oeste e no norte), a seguir ao ovimbundu (c. 37%, a sul), mas à frente do bakongo (13%) (Estas são as três principais línguas de Angola, todas elas pertencentes ao grupo bantu). A língua oficial é, como se sabe, o português. No Ciberdúvidas da Língua Portuguesa há uma interessantíssima nota de Rui Ramos sobre as relações nem sempre fáceis entre o português (colonial, dominante) e o kimbundu (ou quimbundo, o falar das gentes de Luanda-Malanje). Termos usados hoje pelos nossos jovens, como cota (dikota, pessoa mais velha) são provenientes do kimbundu. Sobre as questões de grafia (kimbundu ou quimbundo), ver igualmente a resposta do angolano Rui Ramos, especialista em línguas africanas, no mesmo sítio. Não se deve confundir, no entanto, o kimbundu com o calão de Luanda (caso de bué, e outras expressões que se ouvem na noite lisboeta).

Kinguila - Rapariga ou mulher que, no mercado paralelo, se dedica ao câmbio de moeda. Em geral, os maços de kwanzas e de dólares são guardados nos seios. Este negócio era tradicionalmente dos zairotas, habitantes do Zaire. Segundo o portal Netangola, numa página com preciosas dicas para os homens de negócios estrangeiros em visita a Luanda, "one can often find in the streets of the city the typical Kinguila - the seller of money - who normally offers the best quotation. This practice is forbidden by the authorities and offers some risks".

Kixikila - Em kimbundu, quer dizer contribuição, em dinheiro, para um dado fim colectivo. Em África, em geral, e em Angola, em particular, é aquilo que se designa pela expressão inglesa Rotating Savings and Credit Associations (ROSCA), um sistema informal de poupança e crédito, um grupo de ajuda mútua, liderado em geral por uma mulher, a "mãe de kixikila". O pequeno grupo, de cinco a dez elementos, tende a ser constituído por pessoas que estão ligadas entre si por laços de amizade, parentesco, vizinhança ou profissão. Cada elemento faz periodicamente uma determinada contribuição para um fundo comum que é depois utilizado rotativamente por cada um, com uma taxa de juro nula ou de valor reduzido. Na ausência de sistemas de crédito bancário acessíveis à generalidade da população, o kixikila voltou aos hábitos dos kaluandas como forma de atenuar ou reduzir o impacto da pobreza. O kixikila está hoje vulgarizado, não só entre as vendedeiras, quitandandeiras e kinguilas, mas também nos serviços públicos e nas empresas (vd. Neto, S. - Kixikila não é uma lotaria. Economia & Mercado. 19 (Maio-Junho de 2004). 40-42). Vd. também: Ducados, H.L.; Ferreira, M.E. (1998) - O financiamento informal e as estratégias de sobrevivência económica das mulheres em Angola : a Kixikila no caso do município do Sambizanga (Luanda). Lisboa: CEsA - Centro de Estudos sobre África e do Desenvolvimento. Instituto Superior de Economia e Gestão. Universidade Técnica de Lisboa. 1998 (Documentos de Trabalho, 53).

Kwanza - Moeda local. 1 dólar equivale a c. 85 kwanzas. O cacete (tipo de pão) custa cerca de 20 kwanzas (Julho de 2004). Consultar também o sítio oficial da República de Angola.

Muceques - Bairros populares degradados de Luanda.

Quitandeira - Vendedora de rua (ou de mercado), em geral de produtos hortofrutícolas. Vem de quitanda, um termo kimbundu que significa expor (determinados produtos para venda), e, por extensão, feira ou mercado. Há um belíssimo poema de Agostinho Neto sobre a quitandeira, que vem no seu livro Sagrada Esperança (1974): "A quitanda. Muito sol /e a quitandeira à sombra / da mulemba. /- Laranja, minha senhora, /laranjinha boa!"...

Zungueira - Vendedor ambulante, uma figura típica da economia paralela de Luanda. Em geral é do sexo feminino, mas também há cada mais jovens e crianças do sexo masculino. Estima-se que 70% da população de Luanda, em idade activa, seja zungueira. Ninguém sabe ao certo qual é a população actual da cidade e periferia: estima-se que possa chegar aos 4 milhões (a maior parte deslocados de guerra), ou seja, mais de 1/3 da população angolana actual, estimada actualmente pela CIA em c. 11 milhões de habitantes. Do verbo zunguar (andar para cima e para baixo, circular tentando vender alguma coisa). As zungueiras abastecem-se em mercados como o Roque Santeiro ou o Kikolo, onde não é aconselhável, por razões de segurança, a visita do turista estrangeiro. Considerando a sua densidade populacional e o drama do seu quotidiano, Luanda é apesar de tudo uma cidade com uma baixa taxa de criminalidade. Sobre o comércio informal, a figura da zungueira e a arte de sobreviver em Luanda, veja-se uma excelente reportagem assinada pelo jornalista e sociólogo Paulo de Carvalho (paulodecarvalho@sociologist.com, na revista Economia & Mercado. 19 (Maio-Junho de 2004).34-39.

Fotos de Luanda e de outros sítios de Angola:

O meu álbum de fotografias > Angola > Luanda > Cidade / City (tiradas em data posterior a este post)

Angola > Imagens

Luanda > Ilha do Mussulo > Imagens

Luanda > 1983 > Imagens

Lusoáfrica > Angola > Fotografias


Outros sítios sobre Angola (história, sociedade, economia, cultura):

Nhamalanda > História da Família Costa

SanzalAngola > Página de Helder de Sousa

UEA - União dos Escritores Angolanos