04 junho 2005

Guiné 69/71 - XLIII: Antologia (1): O que era ser periquito...

Há páginas na Net que correm o risco de desaparecer... Miseravelmente. Como aconteceu com as páginas no Portal Terrávista. O maior portal, em língua portuguesa, da segunda década de 1990.

Algumas das páginas que encontramos na net têm um maior ou menor interesse documental para a história da guerra colonial na África Portuguesa. Por exemplo, mostram, com maior ou menor propriedade, rigor e talento, o que era a vida de um tuga na Guiné. Por isso merecem ser objecto de antologia.

Hoje seleciono aqui a página de um ranger, que esteve na Guiné entre 1971 e 1974. É um ranger convicto, endoutrinado, disciplinado, "como mandava a puta da sapatilha". A guerra acabou, não serei eu seguramente a alimentar as idiotas rivalidades que levaram a troca de insultos e até confrontos físicos, em Bissau, entre a tropa de elite (paras, comandos, fuzileiros, operações especiais) e o resto: a tropa-macaca (como a CCAÇ 12 ou a CCAÇ 3) ou os cassanhos (como a CART 1690, do Alferes Lopes).1.

Comneça por escrever o nosso ranger:

"A viagem durou aproximadamente cinco dias a bordo do navio Niassa e decorreu sem incidentes, com chegada ao largo do porto de Bissau ao anoitecer do dia 24 de Dezembro de 1971.

"Ali aguardámos, fizemos a nossa ceia da noite de Natal e desembarcámos nas primeiras horas da manhã do dia 25 de Dezembro. A excitação do jantar, a ansiedade do desembarque, de conhecer aquela terra tantas vezes falada (com apreensão!), aquelas gentes, não deixou que alguém pregasse olho. Bebemos, conversámos, cantámos até ao amanhecer cinzento, tórrido. Cansados, desembarcámos quase em silêncio".

2. "Uma vez desembarcados, fomos transportados para o aquartelamento do Cumeré que dista da cidade de Bissau uns 40 km por estrada e 12 km em linha recta, e onde permanecemos cerca de vinte dias.

"Este período foi destinado à habituação física, ao contacto com os naturais e, principalmente, ao primeiro encontro com a operacionalidade versus realidade da guerra. Daqui fomos transferidos para as localidades do interior do território (denominado mato).

"Pelo Rio Geba acima, em lanchas de desembarque da Marinha [LDG], fomos levados até ao Xime onde desembarcamos já ao fim da tarde".

3. E a viagem continua, pelas estradas da zona leste (Xime, Banbadinca, Galomaro, Saltinho):

"Ali, no Xime, esperava-nos um esquadrão de cavalaria com os blindados chaimite que nos iriam escoltar até á próxima paragem, Bambadinca.

"Já noite, pernoitámos e ganhámos forças para o dia seguinte que, segundo os velhos (aqueles que já lá estavam, na Guiné), seria bem mais difícil pois o risco de flagelação à distância ou emboscadas era muito grande, ou quase certo. Iríamos ter de atravessar o Rio Pulom onde fatidicamente algumas vidas já se tinham perdido. É um local de selva densa, temível.

"Dirigimo-nos então para Galomaro onde deixámos uma Companhia (CCS) e, de seguida, para o Saltinho sempre acompanhados de perto pelos caças FIAT e bombardeiros T6 da Força Aérea. A tensão era muita, uma grande prova de nervos, mas, felizmente, não chegámos a ser presenteados pela hospitalidade do PAIGC

"Chegámos finalmente ao local onde eu iria passar a maior parte do meu tempo de comissão".

4. No Saltinho, "fomos recebidos pelos velhos como periquitos, com muita alegria e carinho. Estavam ansiosos pelo regresso às suas casas, e nós quase sentíamos inveja disso. Finalmente foram e assim ficámos entregues a nós próprios num misto de orgulho e saudade.

"Começámos então o nosso trabalho concentrados num objectivo: Havemos de fazer um grande ronco, estar cá para receber os nossos periquitos e regressar.

"Para isso passamos de imediato à acção que não se fez tardar,com algumas escaramuças com o PAIGC de Amilcar Cabral e de Nino Vieira.

"A vida ali não sofria grandes alterações para além das constantes incursões pelo mato, as operações de maior ou menor envergadura, as emboscadas, as flagelações nocturnas, os apoios a outras unidades em perigo, o bater à zona, a preparação no terreno de mais uma coluna de reabastecimento, o pedir apoio aéreo ou artilharia, o montar e desmontar de minas e armadilhas, fazer fornilhos, esticar arame farpado, abrir e restaurar abrigos, as noites sem dormir... os ataques de abelhas, os mosquitos e outros mais, o calor abrasador, a micose insustentável,... o whisky, a cerveja... e muita saudade!

"O aquartelamento do Saltinho era formado por abrigos em betão, capazes de resistir ao temível foguetão 122 mm,de origem soviética, cuja granada ao explodir produz cerca de 15.000 fragmentos mortais.

"Situava-se junto á fronteira com a Guiné-Conacri, na margem do Rio Corubal e constituía a defesa da ponte sobre o mesmo rio. Na outra margem tínhamos um destacamento. Mais para lá era terra de ninguém. Havia por perto, a Norte (a uns 30 km), uma das principais bases de ataque do PAIGC, a base de Kambera.

5. Prossegue o nosso ranger:

"A Sul, sensivelmente à mesma distância, a não menos importante base de Kandiafara que muitos e graves problemas causou aos nossos camaradas de Guileje e Gadamael Porto. A Sul do Saltinho, contavamos com o apoio dos obuses da eficaz artilharia do aquartelamento da Aldeia Formosa [hoje, Quebo].

"Água não faltava todo o ano (embora imprópria para consumo), de um rio que variava bruscamente o seu caudal conforme a época, seca ou das chuvas.

"Entretanto formei o meu grupo (GE) de nativos, por mim instruído e preparado para a execução de qualquer operação, reconhecimento ou acção irregular.

"Era um grupo constituído por naturais da etnia Fula e Futa Fula, homogéneo, com excelentes capacidades de combate, resistência física e grande camaradagem.

"Passámos juntos por situações de muito perigo como, por exemplo, em operações para além da nossa fronteira onde se tornava difícil qualquer apoio que não fosse o aéreo (quando possível !). Tomamos parte em grandes operações um pouco por toda a região de Bafatá, Galomaro, Bambadinca e Aldeia Formosa.

"Estávamos equipados com o tipo de armamento utilizado pelos guerrilheiros do PAIGC, desde a HK-47 (Kalashnikov) até ao temível lança granadas foguete RPG-7. Não havia dúvidas de que estas armas de origem soviética eram mais eficazes, tendo em conta as características da guerra que se travava (guerrilha), as acções a levar a cabo no terreno, assim como pela facilidade de manejo. No entanto o objectivo da utilização deste equipamento prendia-se sobretudo com a intenção de confundir o inimigo e obter daí as vantagens do efeito surpresa.

"Lamento sinceramente não saber qual o foi destino destes homens após a independência da Guiné. Pressuponho apenas que não terá sido o mais feliz, desgraçadamente.

"Terminado o tempo que a própria conjuntura determinou para a minha comissão (teoricamente 18 meses mas na prática dois anos e 94 dias), regressei à Metrópole novamente embarcado no navio Niassa cuja tripulação, pelo carinho e atenção que nos dispensaram, merece todo o apreço.

"A reintegração para mim não foi difícil. Com traumas da guerra não fiquei, caso contrário não me teria servido para nada a forte acção psicológica a que fui submetido durante a instrução do meu curso de Operações Especiais. Lá, no CIOE, formam-se Rangers, de Firme Vontade e Indómito Valor".

Guiné 69/71 - XLIII: Antologia (1): O que era ser periquito...

Há páginas na Net que correm o risco de desaparecer... Miseravelmente. Como aconteceu com as páginas no Portal Terrávista. O maior portal, em língua portuguesa, da segunda década de 1990.

Algumas das páginas que encontramos na net têm um maior ou menor interesse documental para a história da guerra colonial na África Portuguesa. Por exemplo, mostram, com maior ou menor propriedade, rigor e talento, o que era a vida de um tuga na Guiné. Por isso merecem ser objecto de antologia.

Hoje seleciono aqui a página de um ranger, que esteve na Guiné entre 1971 e 1974. É um ranger convicto, endoutrinado, disciplinado, "como mandava a puta da sapatilha". A guerra acabou, não serei eu seguramente a alimentar as idiotas rivalidades que levaram a troca de insultos e até confrontos físicos, em Bissau, entre a tropa de elite (paras, comandos, fuzileiros, operações especiais) e o resto: a tropa-macaca (como a CCAÇ 12 ou a CCAÇ 3) ou os cassanhos (como a CART 1690, do Alferes Lopes).1.

Comneça por escrever o nosso ranger:

"A viagem durou aproximadamente cinco dias a bordo do navio Niassa e decorreu sem incidentes, com chegada ao largo do porto de Bissau ao anoitecer do dia 24 de Dezembro de 1971.

"Ali aguardámos, fizemos a nossa ceia da noite de Natal e desembarcámos nas primeiras horas da manhã do dia 25 de Dezembro. A excitação do jantar, a ansiedade do desembarque, de conhecer aquela terra tantas vezes falada (com apreensão!), aquelas gentes, não deixou que alguém pregasse olho. Bebemos, conversámos, cantámos até ao amanhecer cinzento, tórrido. Cansados, desembarcámos quase em silêncio".

2. "Uma vez desembarcados, fomos transportados para o aquartelamento do Cumeré que dista da cidade de Bissau uns 40 km por estrada e 12 km em linha recta, e onde permanecemos cerca de vinte dias.

"Este período foi destinado à habituação física, ao contacto com os naturais e, principalmente, ao primeiro encontro com a operacionalidade versus realidade da guerra. Daqui fomos transferidos para as localidades do interior do território (denominado mato).

"Pelo Rio Geba acima, em lanchas de desembarque da Marinha [LDG], fomos levados até ao Xime onde desembarcamos já ao fim da tarde".

3. E a viagem continua, pelas estradas da zona leste (Xime, Banbadinca, Galomaro, Saltinho):

"Ali, no Xime, esperava-nos um esquadrão de cavalaria com os blindados chaimite que nos iriam escoltar até á próxima paragem, Bambadinca.

"Já noite, pernoitámos e ganhámos forças para o dia seguinte que, segundo os velhos (aqueles que já lá estavam, na Guiné), seria bem mais difícil pois o risco de flagelação à distância ou emboscadas era muito grande, ou quase certo. Iríamos ter de atravessar o Rio Pulom onde fatidicamente algumas vidas já se tinham perdido. É um local de selva densa, temível.

"Dirigimo-nos então para Galomaro onde deixámos uma Companhia (CCS) e, de seguida, para o Saltinho sempre acompanhados de perto pelos caças FIAT e bombardeiros T6 da Força Aérea. A tensão era muita, uma grande prova de nervos, mas, felizmente, não chegámos a ser presenteados pela hospitalidade do PAIGC

"Chegámos finalmente ao local onde eu iria passar a maior parte do meu tempo de comissão".

4. No Saltinho, "fomos recebidos pelos velhos como periquitos, com muita alegria e carinho. Estavam ansiosos pelo regresso às suas casas, e nós quase sentíamos inveja disso. Finalmente foram e assim ficámos entregues a nós próprios num misto de orgulho e saudade.

"Começámos então o nosso trabalho concentrados num objectivo: Havemos de fazer um grande ronco, estar cá para receber os nossos periquitos e regressar.

"Para isso passamos de imediato à acção que não se fez tardar,com algumas escaramuças com o PAIGC de Amilcar Cabral e de Nino Vieira.

"A vida ali não sofria grandes alterações para além das constantes incursões pelo mato, as operações de maior ou menor envergadura, as emboscadas, as flagelações nocturnas, os apoios a outras unidades em perigo, o bater à zona, a preparação no terreno de mais uma coluna de reabastecimento, o pedir apoio aéreo ou artilharia, o montar e desmontar de minas e armadilhas, fazer fornilhos, esticar arame farpado, abrir e restaurar abrigos, as noites sem dormir... os ataques de abelhas, os mosquitos e outros mais, o calor abrasador, a micose insustentável,... o whisky, a cerveja... e muita saudade!

"O aquartelamento do Saltinho era formado por abrigos em betão, capazes de resistir ao temível foguetão 122 mm,de origem soviética, cuja granada ao explodir produz cerca de 15.000 fragmentos mortais.

"Situava-se junto á fronteira com a Guiné-Conacri, na margem do Rio Corubal e constituía a defesa da ponte sobre o mesmo rio. Na outra margem tínhamos um destacamento. Mais para lá era terra de ninguém. Havia por perto, a Norte (a uns 30 km), uma das principais bases de ataque do PAIGC, a base de Kambera.

5. Prossegue o nosso ranger:

"A Sul, sensivelmente à mesma distância, a não menos importante base de Kandiafara que muitos e graves problemas causou aos nossos camaradas de Guileje e Gadamael Porto. A Sul do Saltinho, contavamos com o apoio dos obuses da eficaz artilharia do aquartelamento da Aldeia Formosa [hoje, Quebo].

"Água não faltava todo o ano (embora imprópria para consumo), de um rio que variava bruscamente o seu caudal conforme a época, seca ou das chuvas.

"Entretanto formei o meu grupo (GE) de nativos, por mim instruído e preparado para a execução de qualquer operação, reconhecimento ou acção irregular.

"Era um grupo constituído por naturais da etnia Fula e Futa Fula, homogéneo, com excelentes capacidades de combate, resistência física e grande camaradagem.

"Passámos juntos por situações de muito perigo como, por exemplo, em operações para além da nossa fronteira onde se tornava difícil qualquer apoio que não fosse o aéreo (quando possível !). Tomamos parte em grandes operações um pouco por toda a região de Bafatá, Galomaro, Bambadinca e Aldeia Formosa.

"Estávamos equipados com o tipo de armamento utilizado pelos guerrilheiros do PAIGC, desde a HK-47 (Kalashnikov) até ao temível lança granadas foguete RPG-7. Não havia dúvidas de que estas armas de origem soviética eram mais eficazes, tendo em conta as características da guerra que se travava (guerrilha), as acções a levar a cabo no terreno, assim como pela facilidade de manejo. No entanto o objectivo da utilização deste equipamento prendia-se sobretudo com a intenção de confundir o inimigo e obter daí as vantagens do efeito surpresa.

"Lamento sinceramente não saber qual o foi destino destes homens após a independência da Guiné. Pressuponho apenas que não terá sido o mais feliz, desgraçadamente.

"Terminado o tempo que a própria conjuntura determinou para a minha comissão (teoricamente 18 meses mas na prática dois anos e 94 dias), regressei à Metrópole novamente embarcado no navio Niassa cuja tripulação, pelo carinho e atenção que nos dispensaram, merece todo o apreço.

"A reintegração para mim não foi difícil. Com traumas da guerra não fiquei, caso contrário não me teria servido para nada a forte acção psicológica a que fui submetido durante a instrução do meu curso de Operações Especiais. Lá, no CIOE, formam-se Rangers, de Firme Vontade e Indómito Valor".

03 junho 2005

Guiné 69/71 - XLII: Convívios: CART 1690 (Geba), CART 2716 (Xitole), CCAÇ 12 (Bambadinca), CART 3494 (Xime), BCAÇ 2852 (Bambadinca)

3 de Junho de 2005:

Caros amigos

Amanhã, sábado, vou-me encontrar em Lisboa com os alferes da CART 1690 (com os que ficaram vivos).

No dia 18 de Junho haverá um encontro (dos ainda sobreviventes) perto de Sever do Vouga.

Estes encontros têm sido promovidos pelos sempre amigos e gloriosos furriéis. Quem quiser saber mais histórias da CART 1690 apareça. Eu lá estarei.

Um abraço. A. Marques Lopes


1 de Junho de 205:

Luís Graça:

Estive no sábado passado a minha reunião e almoço com os ex-militares da
minha CART 2716 [Xitole]. Informei-me correctamente sobre o nome do Capitão do
Xime que Comandava a CART 2715 que seguiu com o BART 2917. Era o Capitão Amaro dos Santos. Foi evacuado após essa célebre operação em que tu foste testemunha tomando parte [Op Abencerragem Candente, 25-26 de Novembro de 1970, na região do Xime].

Estou a recolher mais material e histórias para poder enviar. Oportunamente terás noticias (...).

David J. Guimarães

30 de Maio de 2005:

Carvalhido da Ponte:


Antes demais apresento-me. Sou o Castro, de Vila Fria, Viana do Castelo, como deves estar lembrado. Apanhei o teu endereço electrónico num artigo escrito por ti no jornal Aurora do Lima ( "O 'Santa Luzia dos meus amores...' num djemberem de Cacheu" ).

Também é para informar que apareceu um djubi, de seu nome J. C. Mussá Biai, natural do Xime, Guiné, mas a viver em Lisboa, formado em engenharia florestal. Diz ele que queria encontrar o Carvalhido da Ponte, o professor de ensino primário que ele teve no Xime em 1972 e que nunca o esqueceu. Mandei o teu endereço para o caso de poder contactar-te.

nexei uma hiperligação onde está o texto dele e muitas estórias da Guiné e para que aceites o convite para contares as tuas experiências vividas na Guiné enviando para o Luís Graça .

Espero encontrar-te no convívio em Pataias, a 11 de Junho de 2005, com concentração na Batalha, pelas 10 horas. Cumprimentos. Sousa de Castro .

26 de Maio de 2005:

(...) Fui eu que o meti [,ao Manuel Castro,] nestas andanças, trabalhamos ambos na mesma empresa, a ENVC (Estaleiros Navais de Viana do Castelo), e o facto é que ele já conseguiu encontrar alguns colegas da CART 6254 a que ele pertenceu ["Os presentes", que estiveram no Olossato, e cuja missão na Guiné vai de Março de 1973 a Agosto de 1974].

Eu ando há muito tempo nisto, tenho feito alguns apelos pela NET e ainda não apareceu ninguém da minha CART 3494, "Os Fantasmas do Xime" (Dezembro de 1971/Abril de 1974).

Já agora digo-vos que irei participar no XX Convívio da CART 3494 a realizar em Pataias, Marinha Grande, no dia 11 de Junho de 2005.

Cumprimentos, Sousa Castro.

25 de Maio de 2005:

O pessoal que esteve em Bambadinca, no leste da Guiné, entre 1968 e 1971, vai encontrar-se mais uma vez, para o seu convívio anual. Este ano será na Ria Formosa, com local de encpontro em Faro, no próximo dia 11 de Junho. A festa está a ser organizada pelo José Manuel Amaral Soares (Largo Vieira Caldas, 6A, 3º Dtº, 1685-585 Caneças), que pertencia â CCS do BCAÇ 2852 (Bambadinca).

Há uma lista de endereços que vai sendo actualizada todos os anos. Eu próprio (Luís Graça ou, como era conhecido, Henriques) e o Humberto Reis (ambos furriéis milicianos da CCAÇ 12) podemos tomar nota de novos contactos.

É partir desta lista que têm sido convocados os antigos camaradas de armas que estiveram, connosco, naquela região da Guiné, a saber (entre outros):

(i) Comando e Companhia de Comando e Serviços do BCAÇ 2852 (que esteve sedeado em Bambabinca desde finais de 1968 até Julho de 1970, altura em que foi substituído pelo BART 2917);

(ii) Forças de intervenção: CCAÇ 12 / CCAÇ 2590 (Bambadinca); Pelotão de Caçadores Nativos 52 (Missirá) (a partir de Junho de 1970, Pel Caç Nat 53, aquartelado em Fá-Mandinga);

(iii) Subunidades em quadrícula: CART 2530 (Xime), CART 2339 (Mansambo) e CART 2413 (Xitole), substituídas em Junho de 1970 pelas CART 2715, 2714 e 2716, respectivamente (estas três companhias pertenciam ao BART 2917).

Guiné 69/71 - XLII: Convívios: CART 1690 (Geba), CART 2716 (Xitole), CCAÇ 12 (Bambadinca), CART 3494 (Xime), BCAÇ 2852 (Bambadinca)

3 de Junho de 2005:

Caros amigos

Amanhã, sábado, vou-me encontrar em Lisboa com os alferes da CART 1690 (com os que ficaram vivos).

No dia 18 de Junho haverá um encontro (dos ainda sobreviventes) perto de Sever do Vouga.

Estes encontros têm sido promovidos pelos sempre amigos e gloriosos furriéis. Quem quiser saber mais histórias da CART 1690 apareça. Eu lá estarei.

Um abraço. A. Marques Lopes


1 de Junho de 205:

Luís Graça:

Estive no sábado passado a minha reunião e almoço com os ex-militares da
minha CART 2716 [Xitole]. Informei-me correctamente sobre o nome do Capitão do
Xime que Comandava a CART 2715 que seguiu com o BART 2917. Era o Capitão Amaro dos Santos. Foi evacuado após essa célebre operação em que tu foste testemunha tomando parte [Op Abencerragem Candente, 25-26 de Novembro de 1970, na região do Xime].

Estou a recolher mais material e histórias para poder enviar. Oportunamente terás noticias (...).

David J. Guimarães

30 de Maio de 2005:

Carvalhido da Ponte:


Antes demais apresento-me. Sou o Castro, de Vila Fria, Viana do Castelo, como deves estar lembrado. Apanhei o teu endereço electrónico num artigo escrito por ti no jornal Aurora do Lima ( "O 'Santa Luzia dos meus amores...' num djemberem de Cacheu" ).

Também é para informar que apareceu um djubi, de seu nome J. C. Mussá Biai, natural do Xime, Guiné, mas a viver em Lisboa, formado em engenharia florestal. Diz ele que queria encontrar o Carvalhido da Ponte, o professor de ensino primário que ele teve no Xime em 1972 e que nunca o esqueceu. Mandei o teu endereço para o caso de poder contactar-te.

nexei uma hiperligação onde está o texto dele e muitas estórias da Guiné e para que aceites o convite para contares as tuas experiências vividas na Guiné enviando para o Luís Graça .

Espero encontrar-te no convívio em Pataias, a 11 de Junho de 2005, com concentração na Batalha, pelas 10 horas. Cumprimentos. Sousa de Castro .

26 de Maio de 2005:

(...) Fui eu que o meti [,ao Manuel Castro,] nestas andanças, trabalhamos ambos na mesma empresa, a ENVC (Estaleiros Navais de Viana do Castelo), e o facto é que ele já conseguiu encontrar alguns colegas da CART 6254 a que ele pertenceu ["Os presentes", que estiveram no Olossato, e cuja missão na Guiné vai de Março de 1973 a Agosto de 1974].

Eu ando há muito tempo nisto, tenho feito alguns apelos pela NET e ainda não apareceu ninguém da minha CART 3494, "Os Fantasmas do Xime" (Dezembro de 1971/Abril de 1974).

Já agora digo-vos que irei participar no XX Convívio da CART 3494 a realizar em Pataias, Marinha Grande, no dia 11 de Junho de 2005.

Cumprimentos, Sousa Castro.

25 de Maio de 2005:

O pessoal que esteve em Bambadinca, no leste da Guiné, entre 1968 e 1971, vai encontrar-se mais uma vez, para o seu convívio anual. Este ano será na Ria Formosa, com local de encpontro em Faro, no próximo dia 11 de Junho. A festa está a ser organizada pelo José Manuel Amaral Soares (Largo Vieira Caldas, 6A, 3º Dtº, 1685-585 Caneças), que pertencia â CCS do BCAÇ 2852 (Bambadinca).

Há uma lista de endereços que vai sendo actualizada todos os anos. Eu próprio (Luís Graça ou, como era conhecido, Henriques) e o Humberto Reis (ambos furriéis milicianos da CCAÇ 12) podemos tomar nota de novos contactos.

É partir desta lista que têm sido convocados os antigos camaradas de armas que estiveram, connosco, naquela região da Guiné, a saber (entre outros):

(i) Comando e Companhia de Comando e Serviços do BCAÇ 2852 (que esteve sedeado em Bambabinca desde finais de 1968 até Julho de 1970, altura em que foi substituído pelo BART 2917);

(ii) Forças de intervenção: CCAÇ 12 / CCAÇ 2590 (Bambadinca); Pelotão de Caçadores Nativos 52 (Missirá) (a partir de Junho de 1970, Pel Caç Nat 53, aquartelado em Fá-Mandinga);

(iii) Subunidades em quadrícula: CART 2530 (Xime), CART 2339 (Mansambo) e CART 2413 (Xitole), substituídas em Junho de 1970 pelas CART 2715, 2714 e 2716, respectivamente (estas três companhias pertenciam ao BART 2917).

Guiné 69/71 - XLI: A região do Xitole, por onde andou o Nino...

Texto do David J. Guimarães:

Tocou-me a vez... Creio que vale a pena no momento consultar o Mapa do Sector L1 / Zona Leste - Xitole.

A Zona de intervenção do Xitole não era muito grande em área - bem, mas era uma zona bem quentinha, sim. A norte era limitada pela ponte do Rio Jacarajá onde começava a Zona de Intervenção de Mansambo; zona de Salifo, a leste do R Jacarajá. Salifo tinha sido uma tabanca importante que, quando fizemos um dia uma operação de assalto para a destruir, eles já tinham feito o favor de se retirar de lá... Ufa, que alívio!...

Continuando a nossa Zona de Intervenção tínhamos depois toda a outra zona até ao Rio Corubal, Galo Corubal, Satecuta, até às matas do Fiofioli, Seco Braima. Seguindo a estrada na direcção do Saltinho íamos até ao limite deste mapa, onde havia uma tabanca (Sincha Mádio, deve ser assim) que era depois de Cambessé. Tabanca importante que estava confinada a outra e onde existia o Cussilinta - a parte mais bela, ainda hoje, [do Rio Corubal],parecia uma colónia balnear....

Todas essa s zonas eram diariamente pratrulhadas. Um grupo de combate seguia para os lados periféricos do aquartelamento, para os lados de Seco Braima. Outro grupo seguia sempre para as tabancas (em missão psico). Um grupo instalava-se na Ponte dos Fulas onde residia e era rendido ao fim do mês... Vida monótona, rotinas e sempre armados até aos dentes...

Assinalarei aqui um facto importante e que sempre nos incomodou: a margem esquerda do Rio Corubal, na nossa zona, que era uma área de intervenção no COM-CHEFE [Comando-Chefe]. Era daí que eles [o IN] apontavam os canhões sem recuo e, enfim, tentavam fazer tiro ao alvo para o nosso quartel....

Pelas sete, oito horas, da noite aí estavam eles: Nino e seus canhões, assim dizíamos nós... Digo Nino e ele mesmo confirma isso, como o Luís Cabral (Este na Crónica da Libertação). O Nino, ele mesmo em pessoa, falou, antes de voltar recentemente para a Guiné. Ele morava aqui, em Vila Nova de Gaia... Um dia o ex-comandante da CART 2716 [, a minha companhia], passou por ele e disse:

- Olha o Comandante!... Bem lá falaram. O Nino confirmou ser aquela a zona [a região do Xitole] onde ele andou, sim, no tempo da Guerra Colonial....

Mas a grande chatice eram as colunas e o reabastecimento:

- Ora amanhã há coluna... Porra, um dia no mato!... Mas tem que ser!...

Três grupos de combate instalados desde a Ponte dos Fulas até Rio Jacarajá. E lá começava a passar o comboio de viaturas: uma Daimler, depois o resto dos camiões, enquadrados por viaturas militares. Pior:

- Quem vai a picar hoje? - E lá ia o 1º grupo, depois o 2º e, outra vezes, o 3º ou o 4º. Como eu residia no Destacamento da Ponte dos Fulas, bem, eram os outros...

Tocou-me a mim num belo dia. Eu é que ia a comandar o grupo (o Alferes estava de férias). E lá já bem perto de Jacarajá:

- Mina, mina, porra!... E agora!?

Tocou-me a mim: afinal eu é que era o artista. Em Tancos tinham-me ensinado a trabalhar com aquilo: "manga de cu piquinino", protecção feita, suores frios ao sol quente... Bem, lá consegui operar... Tínhamos que comer... Lá ficou o buraco feito e do chão extraí isso que envio em fotografia... Um Mina PMD-6, espoleta MUV, duas barras de trotil de 4 kg, mais aqueles dois calcinhos do mesmo material a 200 gr cada cada um, sendo que dentro da mina lá estavam os 400 gr habituais da carga base onde actuaria o detonador depois de accionada a espoleta...

- Ufa, que merda!... Já está! - e daqui a pouco lá vinha a coluna, o barulho daqueles motores e, à frente, a Daimler do [Alferes]Vacas de Carvalho....

Prontos, e lá ficamos o dia inteiro até que lá a coluna volta a passar, mas de regresso a Bambadinca. Nós, por nossa vez, lá regressamos ao quartel no Xitole.

Mais tarde lá me deram os 300 escudos (prémio por levantamento de material explosivo):

- Pronto, mais um dinheirinho para beber umas bazucas [cervejas] ...

Foi um dia de rotina, um pouco diferente - uma mina sempre é uma mina.....

Envio uma outra fotografia da época: é do abrigo onde estavam instalados a maioria dos furriéis, junto à casa dos sargentos... Era ai que dormíamos. Era um abrigo amplo, voltado para o aeródromo. Lá dispunha do explosor que faria rebentar, caso necessário, um fornilho que eu tinha armado do outro lado do arama farpado, não viessem eles lembrarem-se de virem por aí... Nunca foi preciso, ainda bem....

A outra é a fotografia da mina com as cargas de trotil ao lado... Ainda bem que a Daimler não lhe passou por cima, era menos uma que ficava...

PS - A Daimler é um carro muito lindinho, de rodas maciças... Só tinha um defeito: era o depósito de combustível estar exactamente por debaixo da viatura ... Percebe-se que isso fosse um rebenta-minas?

David J. Guimarães

Nota de L.G.- O Guimarães era especialista em... minas e armadilhas. E fez muito bem o seu trabalho. A foto que nos mandou da mina PDM-6 ainda me causa calafrios... É que voei, numa GMC, com o meu grupo de combate [na altura, o 4º Gr Com da CCAÇ 12], quando accionámos uma mina deste tipo... Um dia deste falaremos dessa trágica amanhã, às portas do reordenamento de Nhabijões...

Estas duas fotos do Guimarães irão ser inseridas no respectivo álbum.

Guiné 69/71 - XLI: A região do Xitole, por onde andou o Nino...

Texto do David J. Guimarães:

Tocou-me a vez... Creio que vale a pena no momento consultar o Mapa do Sector L1 / Zona Leste - Xitole.

A Zona de intervenção do Xitole não era muito grande em área - bem, mas era uma zona bem quentinha, sim. A norte era limitada pela ponte do Rio Jacarajá onde começava a Zona de Intervenção de Mansambo; zona de Salifo, a leste do R Jacarajá. Salifo tinha sido uma tabanca importante que, quando fizemos um dia uma operação de assalto para a destruir, eles já tinham feito o favor de se retirar de lá... Ufa, que alívio!...

Continuando a nossa Zona de Intervenção tínhamos depois toda a outra zona até ao Rio Corubal, Galo Corubal, Satecuta, até às matas do Fiofioli, Seco Braima. Seguindo a estrada na direcção do Saltinho íamos até ao limite deste mapa, onde havia uma tabanca (Sincha Mádio, deve ser assim) que era depois de Cambessé. Tabanca importante que estava confinada a outra e onde existia o Cussilinta - a parte mais bela, ainda hoje, [do Rio Corubal],parecia uma colónia balnear....

Todas essa s zonas eram diariamente pratrulhadas. Um grupo de combate seguia para os lados periféricos do aquartelamento, para os lados de Seco Braima. Outro grupo seguia sempre para as tabancas (em missão psico). Um grupo instalava-se na Ponte dos Fulas onde residia e era rendido ao fim do mês... Vida monótona, rotinas e sempre armados até aos dentes...

Assinalarei aqui um facto importante e que sempre nos incomodou: a margem esquerda do Rio Corubal, na nossa zona, que era uma área de intervenção no COM-CHEFE [Comando-Chefe]. Era daí que eles [o IN] apontavam os canhões sem recuo e, enfim, tentavam fazer tiro ao alvo para o nosso quartel....

Pelas sete, oito horas, da noite aí estavam eles: Nino e seus canhões, assim dizíamos nós... Digo Nino e ele mesmo confirma isso, como o Luís Cabral (Este na Crónica da Libertação). O Nino, ele mesmo em pessoa, falou, antes de voltar recentemente para a Guiné. Ele morava aqui, em Vila Nova de Gaia... Um dia o ex-comandante da CART 2716 [, a minha companhia], passou por ele e disse:

- Olha o Comandante!... Bem lá falaram. O Nino confirmou ser aquela a zona [a região do Xitole] onde ele andou, sim, no tempo da Guerra Colonial....

Mas a grande chatice eram as colunas e o reabastecimento:

- Ora amanhã há coluna... Porra, um dia no mato!... Mas tem que ser!...

Três grupos de combate instalados desde a Ponte dos Fulas até Rio Jacarajá. E lá começava a passar o comboio de viaturas: uma Daimler, depois o resto dos camiões, enquadrados por viaturas militares. Pior:

- Quem vai a picar hoje? - E lá ia o 1º grupo, depois o 2º e, outra vezes, o 3º ou o 4º. Como eu residia no Destacamento da Ponte dos Fulas, bem, eram os outros...

Tocou-me a mim num belo dia. Eu é que ia a comandar o grupo (o Alferes estava de férias). E lá já bem perto de Jacarajá:

- Mina, mina, porra!... E agora!?

Tocou-me a mim: afinal eu é que era o artista. Em Tancos tinham-me ensinado a trabalhar com aquilo: "manga de cu piquinino", protecção feita, suores frios ao sol quente... Bem, lá consegui operar... Tínhamos que comer... Lá ficou o buraco feito e do chão extraí isso que envio em fotografia... Um Mina PMD-6, espoleta MUV, duas barras de trotil de 4 kg, mais aqueles dois calcinhos do mesmo material a 200 gr cada cada um, sendo que dentro da mina lá estavam os 400 gr habituais da carga base onde actuaria o detonador depois de accionada a espoleta...

- Ufa, que merda!... Já está! - e daqui a pouco lá vinha a coluna, o barulho daqueles motores e, à frente, a Daimler do [Alferes]Vacas de Carvalho....

Prontos, e lá ficamos o dia inteiro até que lá a coluna volta a passar, mas de regresso a Bambadinca. Nós, por nossa vez, lá regressamos ao quartel no Xitole.

Mais tarde lá me deram os 300 escudos (prémio por levantamento de material explosivo):

- Pronto, mais um dinheirinho para beber umas bazucas [cervejas] ...

Foi um dia de rotina, um pouco diferente - uma mina sempre é uma mina.....

Envio uma outra fotografia da época: é do abrigo onde estavam instalados a maioria dos furriéis, junto à casa dos sargentos... Era ai que dormíamos. Era um abrigo amplo, voltado para o aeródromo. Lá dispunha do explosor que faria rebentar, caso necessário, um fornilho que eu tinha armado do outro lado do arama farpado, não viessem eles lembrarem-se de virem por aí... Nunca foi preciso, ainda bem....

A outra é a fotografia da mina com as cargas de trotil ao lado... Ainda bem que a Daimler não lhe passou por cima, era menos uma que ficava...

PS - A Daimler é um carro muito lindinho, de rodas maciças... Só tinha um defeito: era o depósito de combustível estar exactamente por debaixo da viatura ... Percebe-se que isso fosse um rebenta-minas?

David J. Guimarães

Nota de L.G.- O Guimarães era especialista em... minas e armadilhas. E fez muito bem o seu trabalho. A foto que nos mandou da mina PDM-6 ainda me causa calafrios... É que voei, numa GMC, com o meu grupo de combate [na altura, o 4º Gr Com da CCAÇ 12], quando accionámos uma mina deste tipo... Um dia deste falaremos dessa trágica amanhã, às portas do reordenamento de Nhabijões...

Estas duas fotos do Guimarães irão ser inseridas no respectivo álbum.

Guiné 69/71 - XL: Sinchã Jobel IV, V e VI

Três textos de A. Marques Lopes (mandou uma série de fotos da CART 1690, aquartelada em Geba, que ficarão disponíveis no nosso álbum):


1. Foi a operação que se fez a seguir àquela em que entraram dois grupos de comandos, e que ficou em águas de bacalhau... Esta foi feita com cassanhos, só, e deu o que vão ler.

A operação foi comandada do PCV (Posto de Controlo Volante) pelo Comandante do Agrupamento. O Agostinho Francisco da Câmara (e não Camará), morto na operação, era açoriano e do meu grupo de combate; o Armindo Correia Paulino, aqui referido, também era do meu grupo de combate, o Bigodes, como lhe chamávamos, um minhoto que foi, mais tarde, aprisionado pelo PAIGC em Cantacunda e que acabou por morrer no cativeiro, em Conakry.

Um esclarecimento: os nomes das operações nesta zona começavam todos por "I" ou por "J".



"17.Op Imparável. 15 de 16 de Outubro de 1967:



"Situação particular:


"O IN tem-se revelado no regulado de Mansomine não só durante as operações, como em ataques a tabancas e aquartelamentos. Possui um acampamento na região de Sinchã Jobel que lhe serve de base às suas acções.

"Missão:

-Golpe de mão ao acampamento de Sinchã Jobel seguido de uma batida na região.

"Força executante:

Dest A - C CAV 1748.

Dest B -CCAÇ.1685 a 2 Gr Comb ref. c/ 1 PEL MIL/C MIL 3.

Dest C -CART 1690 a 2 Gr Comb ref. c/ 1 PEL MIL/C MIL 3.

"Desenrolar da acção:


Em 15, às 4H30, o Dest C saiu auto-transportado de Geba, em direcção a Sare Madina, progredindo apeadamente em direcção a Sucuta que atingiu às 08H45. Instalou-se no orla junto à bolanha, tendo mantido essas posições até 16 de Outubro, às 10H30.
"Durante a noite de 15 para 16 fomos flagelados com 4 tiros de morteiro e rajadas de armas ligeiras automáticas. Cerca das 03H00 foi avistado um Helicóptero IN que sobrevoou o acampamento IN.

"Quando o Dest A iniciou a travessia da bolanha, a 16, às 9H00, o mesmo foi atacado por tiros de morteiro e rajadas de armas ligeiras automáticas, tendo o Dest B e C feito fogo de morteiro às minhas ordens, sobre o IN instalado na margem oposta. Este Dest não conseguiu atravessar a bolanha, o mesmo sucedendo ao Dest B embora, quando este último tentou a travessia, já tivesse apoio aéreo (ATAP). O PCV ordenou então ao Dest C para nomear uma secção e tentar a travessia da bolanha às 11H30. Esta secção atravessou a bolanha sob fogo IN e com apoio aéreo dos T-6 chegando ao outro lado da bolanha às 12H45.

"As 15H00 os Dest A e C tinham atravessado a bolanha e preparavam-se para progredir em direcção ao acampamento IN. Antes de iniciarem a progressão teve de se rebentar uma armadilha A/P, constituída por uma granada do LGF. Os dois Dest A e C atingiram a clareira de Sinchã Jobel pelas l6H40, onde se estabeleceu que o Dest C reforçado por um Gr Comb do Dest A iria fazer o ataque ao acampamento IN.

"Pelas 17H00, caiu-se numa emboscada montada pelo IN. Tentou-se anular a emboscada, que seria conseguido senão fosse a hora tardia, a incapacidade de duas armas pesadas (LGF e MORT 60) e algumas G-3 encravadas do Dest C. Outra razão talvez decisiva e que fez com que as NT não calassem a emboscada foi o facto de o Dest A não ter envolvido o IN devido ao fogo cerrado do morteiro 60 e 82 do IN.

"Além destas armas, o IN possuía armas automáticas individuais, 3 MP [metralhadoras pesadas] e alguns lança rocketes ou LGF (Não sei precisar). Uma das MP foi calada pelo nosso LGF [bazuca]. Vários contras para nos surgiram durante a emboscada: O nosso bazuqueiro (passe o termo) Soldado Agostinho Camará que estava a fazer um fogo certeiro, foi atingido mortalmente (note-se que este LGF era o único que estava a fazer fogo). Foi o Soldado enfermeiro Alípio Parreira que se encontrava próximo e que estava a fazer fogo com a ML metralhadora ligeira] MG-42 (para a qual o referido soldado se oferecera como voluntário) pegar no LGF e continuar a fazer fogo com ele. Nesta altura tive que pegar na MG-42 e fazer fogo com ela. Logo a seguir tive que me dirigir à rectaguarda a fim de falar com o PCV que me chamava.

"Quando regressei à frente verifiquei que o já referido soldado enfermeiro recomeçara a fazer fogo com a ML MG-42 e que passado mais alguns momentos ficou impossibilitado de fazer fogo devido a uma avaria, ao mesmo tempo que o soldado enfermeiro e o municiador eram feridos por estilhaços. Mesmo assim este soldado enfermeiro veio para a rectaguarda, onde agarrou no morteiro 60 e continuou a fazer fogo com o mesmo.

"Foi-me impossível continuar o ataque ao acampamento IN, em virtude de se terem esgotado as munições que levava, as armas pesadas não funcionarem, a noite já ter caído por completo e desconhecermos o terreno. Deve notar-se, contudo, que nesta altura já o IN dava sinais de fraqueza e, segundo alguns soldados nativos que se encontram juntamente comigo na frente, estarem a gritar que tinham que fugir.

"Para retirar, pedi auxilio ao Dest A que foi à frente, permitindo que o Dest C retirasse para fora da zona de morte, donde protegeu a retirada do Dest A. Já fora da zona de morte, verifiquei que não se tinham trazido os mortos, pelo que enviei novamente à zona de morte alguns soldados para os trazerem. Tal não foi possível, visto estarem armas automáticas do IN apontadas para o local onde se encontravam os corpos. Ainda foram abatidos a tiro de G-3 dois elementos IN, um destes pretendia agarrar o Soldado Armindo Correia Paulino, quando este estava a arrastar um dos nossos mortos para a rectaguarda e que se salvou devido ao aviso oportuno do soldado Saliu Baldé e que permitiu ao primeiro soldado citado abater esse elemento IN, ao mesmo tempo que o soldado citado abatia um segundo elemento IN, que se encontrava armado e estava a proteger o outro elemento IN abatido.

"Seguidamente efectuou-se a retirada (e friso mais uma vez que esta teve de ser feita devido ao Dest C ter esgotado as munições e as armas avariadas), tendo o IN vindo em nossa perseguição até à bolanha onde os últimos elementos a atravessá-la (o Dest C) foram alvejados por rajadas de armas automáticas.

"Após a travessia da bolanha verifiquei que o Dest B já não se encontrava em Sucuta. Os Dest A e C atingiram Sare Madina pelas 02H00 de 17 [de Outubro de 1967], onde aguardaram viaturas do Dest C que os transportaram para Geba, tendo uma viatura do Dest C seguido para Bafatá com os feridos mais graves.

"Resultados obtidos:

-Baixas sofridas pelo IN: - Mortos confirmados 8 e baixas prováveis numerosas.

-Foi destruída uma armadilha A/P e destruída ou danificada uma MP.

"Comentários:

"O plano de acção inicial não foi cumprido. Se tivesse sido, o acampamento IN teria sido destruído porque o Dest A conseguiu chegar a 50 metros do acampamento IN sem ser detectado.

"Nota:

"Em 27 de Agosto de 1967 foi recebida uma noticia C2 em que referia que o IN tinha sofrido 54 mortos e muitos feridos ainda não controlados.

"As NT tiveram tarefa bastante penosa no regresso devido a terem que transportar 12 feridos graves e 22 ligeiros por as evacuações não poderem ser feitas de Helicóptero durante a noite.»


2. Poder-se-ia pensar que, agora, com a 5ª Companhia de Comandos é que vai ser!... Mas não foi. Este é o relatório da CART 1690, o dos comandos não o conheço e não sei o que disse. Fizeram a batida e não viram nada, com as coordenadas tão bem definidas... o que me parece é que não era ali exactamente. Além de que o IN não terá visto vantagem em confrontar-se com os comandos, também admito. Mas veja-se como a 5ª Companhia de Comandos se põe a andar, deixando para trás dois grupos de combate de cassanhos... A operação foi comandada do PCV pelo Comandante do Agrupamento.



"18. Op Insistir. 27 de Outiubro de 1967

"Situação particular:

"Desde Abril de 1967 que o IN se tem revelado nos regulados de Mansomine e Joladu. Durante a Op Imparável foi finalmente localizado de forma segura o acampamento de Sinchã Jobel que se situa em: 1455 1210 E9-76 [são as coordenadas topográficas].

"Missão:

- Ataca e destrói o acampamento IN de Sinchã Jobel.

"Força executante:


Dest A - 5ª Companhia de Comandos

DEst B - CART l690 ( a2 Gr Comb) + 1 PEL MIL 109/C MIL 3

"Desenrolar da acção:

"Em D pelas 05H00 o Dest B saiu autotransportado de Geba em direcção a Sare Madina, progredindo depois até em direcção a Sucuta que atingiu às 08H15. Instalou-se na orla da bolanha não conseguindo qualquer comunicação através do rádio com Geba ou Baftá para informar a nossa posição. Cerca das 09H45 foi feito fogo de morteiro de amas ligeiras afim de atrair a atenção do IN naquela direcção.

"Após o bombardeamento da FA [Força Aérea] e por ordem do PCV, um grupo de combate iniciou a travessia da bolanha onde permaneceu até que o Dest A fez a batida ao objectivo regressando em direcção ao Dest B.

"Gorando-se o encontro do Dest A com o Dest B, por ordem do PCV o Dest B retirou da bolanha vindo juntar-se ao Dest A que já regressava a Sare Madina.

"Em Sare Madina, o Dest B seguiu em viaturas para Geba onde chegou cerca das l6H30.»


3. Esta nunca entendi. Como continuo a não entender qual foi o "sucesso” da Op Insistir. Foi comandada do PCV.

«19. Op Instar. 28 de Outubro de 1967.

"Situação particular: a do planeamento operacional da Op Insistir.


"Missão: explorar o sucesso da Op Insistir; bater a região de Sinchã Jobel

"Força executante:

Dest A - CCAÇ 1790
Dest B - CART. 1690 (a 2 Gr Comb ref. c/PEL MIL 109/C MIL 3

"Desenrolar da acção:

"Pelas 06H15 iniciou a progressão para Sucuta que atingiu cerca das 08H00. Após instalado o pessoal junto à bolanha, um Gr Comb por ordem do PCV cambou a bolanha instalando-se do outro lado, onde emboscado aguardou a chegada do Dest A. Na passagem da bolanha, após a junção dos 2 Dest. em Sucuta fez-se a progressão para Sare Madina onde o Dest B logo seguiu
de viaturas para Geba aonde chegou cerca das 16H00.»

Guiné 69/71 - XL: Sinchã Jobel IV, V e VI

Três textos de A. Marques Lopes (mandou uma série de fotos da CART 1690, aquartelada em Geba, que ficarão disponíveis no nosso álbum):


1. Foi a operação que se fez a seguir àquela em que entraram dois grupos de comandos, e que ficou em águas de bacalhau... Esta foi feita com cassanhos, só, e deu o que vão ler.

A operação foi comandada do PCV (Posto de Controlo Volante) pelo Comandante do Agrupamento. O Agostinho Francisco da Câmara (e não Camará), morto na operação, era açoriano e do meu grupo de combate; o Armindo Correia Paulino, aqui referido, também era do meu grupo de combate, o Bigodes, como lhe chamávamos, um minhoto que foi, mais tarde, aprisionado pelo PAIGC em Cantacunda e que acabou por morrer no cativeiro, em Conakry.

Um esclarecimento: os nomes das operações nesta zona começavam todos por "I" ou por "J".



"17.Op Imparável. 15 de 16 de Outubro de 1967:



"Situação particular:


"O IN tem-se revelado no regulado de Mansomine não só durante as operações, como em ataques a tabancas e aquartelamentos. Possui um acampamento na região de Sinchã Jobel que lhe serve de base às suas acções.

"Missão:

-Golpe de mão ao acampamento de Sinchã Jobel seguido de uma batida na região.

"Força executante:

Dest A - C CAV 1748.

Dest B -CCAÇ.1685 a 2 Gr Comb ref. c/ 1 PEL MIL/C MIL 3.

Dest C -CART 1690 a 2 Gr Comb ref. c/ 1 PEL MIL/C MIL 3.

"Desenrolar da acção:


Em 15, às 4H30, o Dest C saiu auto-transportado de Geba, em direcção a Sare Madina, progredindo apeadamente em direcção a Sucuta que atingiu às 08H45. Instalou-se no orla junto à bolanha, tendo mantido essas posições até 16 de Outubro, às 10H30.
"Durante a noite de 15 para 16 fomos flagelados com 4 tiros de morteiro e rajadas de armas ligeiras automáticas. Cerca das 03H00 foi avistado um Helicóptero IN que sobrevoou o acampamento IN.

"Quando o Dest A iniciou a travessia da bolanha, a 16, às 9H00, o mesmo foi atacado por tiros de morteiro e rajadas de armas ligeiras automáticas, tendo o Dest B e C feito fogo de morteiro às minhas ordens, sobre o IN instalado na margem oposta. Este Dest não conseguiu atravessar a bolanha, o mesmo sucedendo ao Dest B embora, quando este último tentou a travessia, já tivesse apoio aéreo (ATAP). O PCV ordenou então ao Dest C para nomear uma secção e tentar a travessia da bolanha às 11H30. Esta secção atravessou a bolanha sob fogo IN e com apoio aéreo dos T-6 chegando ao outro lado da bolanha às 12H45.

"As 15H00 os Dest A e C tinham atravessado a bolanha e preparavam-se para progredir em direcção ao acampamento IN. Antes de iniciarem a progressão teve de se rebentar uma armadilha A/P, constituída por uma granada do LGF. Os dois Dest A e C atingiram a clareira de Sinchã Jobel pelas l6H40, onde se estabeleceu que o Dest C reforçado por um Gr Comb do Dest A iria fazer o ataque ao acampamento IN.

"Pelas 17H00, caiu-se numa emboscada montada pelo IN. Tentou-se anular a emboscada, que seria conseguido senão fosse a hora tardia, a incapacidade de duas armas pesadas (LGF e MORT 60) e algumas G-3 encravadas do Dest C. Outra razão talvez decisiva e que fez com que as NT não calassem a emboscada foi o facto de o Dest A não ter envolvido o IN devido ao fogo cerrado do morteiro 60 e 82 do IN.

"Além destas armas, o IN possuía armas automáticas individuais, 3 MP [metralhadoras pesadas] e alguns lança rocketes ou LGF (Não sei precisar). Uma das MP foi calada pelo nosso LGF [bazuca]. Vários contras para nos surgiram durante a emboscada: O nosso bazuqueiro (passe o termo) Soldado Agostinho Camará que estava a fazer um fogo certeiro, foi atingido mortalmente (note-se que este LGF era o único que estava a fazer fogo). Foi o Soldado enfermeiro Alípio Parreira que se encontrava próximo e que estava a fazer fogo com a ML metralhadora ligeira] MG-42 (para a qual o referido soldado se oferecera como voluntário) pegar no LGF e continuar a fazer fogo com ele. Nesta altura tive que pegar na MG-42 e fazer fogo com ela. Logo a seguir tive que me dirigir à rectaguarda a fim de falar com o PCV que me chamava.

"Quando regressei à frente verifiquei que o já referido soldado enfermeiro recomeçara a fazer fogo com a ML MG-42 e que passado mais alguns momentos ficou impossibilitado de fazer fogo devido a uma avaria, ao mesmo tempo que o soldado enfermeiro e o municiador eram feridos por estilhaços. Mesmo assim este soldado enfermeiro veio para a rectaguarda, onde agarrou no morteiro 60 e continuou a fazer fogo com o mesmo.

"Foi-me impossível continuar o ataque ao acampamento IN, em virtude de se terem esgotado as munições que levava, as armas pesadas não funcionarem, a noite já ter caído por completo e desconhecermos o terreno. Deve notar-se, contudo, que nesta altura já o IN dava sinais de fraqueza e, segundo alguns soldados nativos que se encontram juntamente comigo na frente, estarem a gritar que tinham que fugir.

"Para retirar, pedi auxilio ao Dest A que foi à frente, permitindo que o Dest C retirasse para fora da zona de morte, donde protegeu a retirada do Dest A. Já fora da zona de morte, verifiquei que não se tinham trazido os mortos, pelo que enviei novamente à zona de morte alguns soldados para os trazerem. Tal não foi possível, visto estarem armas automáticas do IN apontadas para o local onde se encontravam os corpos. Ainda foram abatidos a tiro de G-3 dois elementos IN, um destes pretendia agarrar o Soldado Armindo Correia Paulino, quando este estava a arrastar um dos nossos mortos para a rectaguarda e que se salvou devido ao aviso oportuno do soldado Saliu Baldé e que permitiu ao primeiro soldado citado abater esse elemento IN, ao mesmo tempo que o soldado citado abatia um segundo elemento IN, que se encontrava armado e estava a proteger o outro elemento IN abatido.

"Seguidamente efectuou-se a retirada (e friso mais uma vez que esta teve de ser feita devido ao Dest C ter esgotado as munições e as armas avariadas), tendo o IN vindo em nossa perseguição até à bolanha onde os últimos elementos a atravessá-la (o Dest C) foram alvejados por rajadas de armas automáticas.

"Após a travessia da bolanha verifiquei que o Dest B já não se encontrava em Sucuta. Os Dest A e C atingiram Sare Madina pelas 02H00 de 17 [de Outubro de 1967], onde aguardaram viaturas do Dest C que os transportaram para Geba, tendo uma viatura do Dest C seguido para Bafatá com os feridos mais graves.

"Resultados obtidos:

-Baixas sofridas pelo IN: - Mortos confirmados 8 e baixas prováveis numerosas.

-Foi destruída uma armadilha A/P e destruída ou danificada uma MP.

"Comentários:

"O plano de acção inicial não foi cumprido. Se tivesse sido, o acampamento IN teria sido destruído porque o Dest A conseguiu chegar a 50 metros do acampamento IN sem ser detectado.

"Nota:

"Em 27 de Agosto de 1967 foi recebida uma noticia C2 em que referia que o IN tinha sofrido 54 mortos e muitos feridos ainda não controlados.

"As NT tiveram tarefa bastante penosa no regresso devido a terem que transportar 12 feridos graves e 22 ligeiros por as evacuações não poderem ser feitas de Helicóptero durante a noite.»


2. Poder-se-ia pensar que, agora, com a 5ª Companhia de Comandos é que vai ser!... Mas não foi. Este é o relatório da CART 1690, o dos comandos não o conheço e não sei o que disse. Fizeram a batida e não viram nada, com as coordenadas tão bem definidas... o que me parece é que não era ali exactamente. Além de que o IN não terá visto vantagem em confrontar-se com os comandos, também admito. Mas veja-se como a 5ª Companhia de Comandos se põe a andar, deixando para trás dois grupos de combate de cassanhos... A operação foi comandada do PCV pelo Comandante do Agrupamento.



"18. Op Insistir. 27 de Outiubro de 1967

"Situação particular:

"Desde Abril de 1967 que o IN se tem revelado nos regulados de Mansomine e Joladu. Durante a Op Imparável foi finalmente localizado de forma segura o acampamento de Sinchã Jobel que se situa em: 1455 1210 E9-76 [são as coordenadas topográficas].

"Missão:

- Ataca e destrói o acampamento IN de Sinchã Jobel.

"Força executante:


Dest A - 5ª Companhia de Comandos

DEst B - CART l690 ( a2 Gr Comb) + 1 PEL MIL 109/C MIL 3

"Desenrolar da acção:

"Em D pelas 05H00 o Dest B saiu autotransportado de Geba em direcção a Sare Madina, progredindo depois até em direcção a Sucuta que atingiu às 08H15. Instalou-se na orla da bolanha não conseguindo qualquer comunicação através do rádio com Geba ou Baftá para informar a nossa posição. Cerca das 09H45 foi feito fogo de morteiro de amas ligeiras afim de atrair a atenção do IN naquela direcção.

"Após o bombardeamento da FA [Força Aérea] e por ordem do PCV, um grupo de combate iniciou a travessia da bolanha onde permaneceu até que o Dest A fez a batida ao objectivo regressando em direcção ao Dest B.

"Gorando-se o encontro do Dest A com o Dest B, por ordem do PCV o Dest B retirou da bolanha vindo juntar-se ao Dest A que já regressava a Sare Madina.

"Em Sare Madina, o Dest B seguiu em viaturas para Geba onde chegou cerca das l6H30.»


3. Esta nunca entendi. Como continuo a não entender qual foi o "sucesso” da Op Insistir. Foi comandada do PCV.

«19. Op Instar. 28 de Outubro de 1967.

"Situação particular: a do planeamento operacional da Op Insistir.


"Missão: explorar o sucesso da Op Insistir; bater a região de Sinchã Jobel

"Força executante:

Dest A - CCAÇ 1790
Dest B - CART. 1690 (a 2 Gr Comb ref. c/PEL MIL 109/C MIL 3

"Desenrolar da acção:

"Pelas 06H15 iniciou a progressão para Sucuta que atingiu cerca das 08H00. Após instalado o pessoal junto à bolanha, um Gr Comb por ordem do PCV cambou a bolanha instalando-se do outro lado, onde emboscado aguardou a chegada do Dest A. Na passagem da bolanha, após a junção dos 2 Dest. em Sucuta fez-se a progressão para Sare Madina onde o Dest B logo seguiu
de viaturas para Geba aonde chegou cerca das 16H00.»

Guiné 69/71 - XXXIX: Sinchã Jobel II e III

Mais dois textos de A. Marques Lopes, ex-alferes miliciano da CART 1690 (Geba), actualmente coronel (DFA) na situação de reforma:

1. Depois da minha "descoberta involuntária", mas sem surpresa para alguns, iniciaram-se algumas operações mais elaboradas com o objectivo da destruição da base de Sinchã Jobel.

Era, como vos disse, uma antiga tabanca, já destruída, sendo agora uma clareira de cerca de 2.000m2, cercada por uma mata densa, tendo a sul o Rio Gambiel, com água pelo peito e uma "ponte" submersa, isto é, dois troncos de palmeira debaixo de água, (quando fui para lá o meu guia indicou-ma, quando regressei, sem guia, tive de a descobrir); a Oeste e a Este tem várias bolanhas, uma delas mesmo perto da clareira (a tal onde durante a noite toda a minha vida me passou pelo pensamento); a Norte, até Banjara, tem uma floresta muito densa e dezenas de poilões (há lá, na Guiné-Bissau de agora, uma serração).

Nas margens do rio Gambiel e das bolanhas os guerrilheiros tinham sentinelas; pelo lado de Banjara, a floresta impenetrável tornava o acesso impossível. É claro que a base de guerrilha não estava na clareira de Sinchã Jobel (nem antes dela, pois não a encontrei quando ia para lá) mas em algum local deste contexto que vos descrevo, para Norte, muito bem situada e com óptimas condições de defesa.

Nesta fase, certamente ainda em início de implantação, é natural que os guerrilheiros só se manifestassem quando lhes parecesse conveniente (foi o que lhes pareceu quando viram trinta mecos a ir para lá...), por isso não se manifestaram nesta Operação Jigajoga 2. Além de que o seu principal objectivo era montar minas e emboscadas no itinerário Geba-Banjara e atacar os destacamentos. Mais tarde, quando fortalecidos e bem guarnecidos, creio que alargaram a sua acção até Mansabá e para o Xime e Xitole. Este enquadramento da base de Sinchã Jobel expliquei-o ao comandante do Agrupamento 1980, em Bafatá, mas, pelo que vão ver nos "próximos capítulos", não valeu de muito.


"15. OP Jigajoga 2. 31 de Agosto de 1967.


"Situação particular:

O IN tem-se revelado a sul de BBanjara, com mais intensidade nos regulados de Mansomine e Joladu. Em Sinchã Jobel possui uma base forte, que serve de apoio às suas acções.

"Missão:

-Assegura a ocupação do Sector, tendo em atenção os regulados da faixa Oeste e as linhas de infiltração que conduzem ao interior.

-Detecta, vigia ou captura elementos ou grupos suspeitos de subversão que se hajam infiltrado ou constituído no sector, impedindo que a subversão alastre.

-Captura ou aniquila os rebeldes que se venham a revelar, destruindo as suas instalações ou meios de vida e restabelece a autoridade e a ordem nas regiões afectadas.

-Armadilha os itinerários utilizados pelo IN.

"Força executante:

DEST A - CART 1690 (2 Gr Comb); CCAÇ 1685 (1 Gr Comb); CCVA 1693 (1 Gr Comb); 1 PEL SAP / CCS 1877 (2 secções); 1 PEL 109/CAÇ MIL 3

DEST B - CCS 1877 (1 Gr Comb) /CCS 1877 (1 Gr COmb); 1 PEL REC/EREC 1578.

"Desenrolar da acção:



"Em 31 de Agosto de 1967, pelas 4.30h., iniciou-se a progressão a partir de Darsalame. Durante a progressão foi batida toda a zona do itinerário, procurando vestígios e/ou trilhos que indicassem a existência do IN.

"Pelas 09H00 aproximação de Sare Tamba, os cuidados de pesquisa redobraram no sentido de localizar e assaltar o possível acampamento IN. Batida toda a mata durante 2 horas onde se supunha existir o referido acampamento, não foi possível localizá-lo nem o IN se revelou.

"No deslocamento para o objectivo pelas 11H00 foi ouvido um disparo de espingarda tipo Muaser ao longe, não sendo possível determinar a sua direcção. Continuada a batida foram encontrados restos de um camuflado IN não sendo possível, porém, encontrar mais nada. Pelas 11H50 foram ouvidos muito ao longe alguns rebentamentos fora da zona de acção.

"Por parecer mais fácil passou-se a bolanha junto a Sinchã Bolo e a seguir o Rio Jago na direcção de Sucuta (Madina Fali) onde se chegou pelas 15H00. Fez-se uma paragem para se conferir pessoal e material, porque as bolanhas foram de difícil travessia e foi a coluna atacada por um enxame de abelhas durante a transposição da primeira bolanha.

"Reiniciada a progressão em direcção a Sare Budi foi detectada pelas l6H00, em 1445 121.07H, 100 metros após a entrar na mata uma armadilha A/P a qual foi destruída pela Secção do PEL SAP/1877. Em Sare Budi no itinerário para Sare Madina foram montadas 2 armadilhas A/P cujo croqui será elaborado pelo Cmdt SAP/BCAÇ 1877.

"Continuando a progressão em direcção a Sinchã Fero Demori, não foi possível montar mais armadilhas em virtude do adiantamento da hora e não ser possível determinar o itinerário de acesso ao interior do sector desta CART.

"A chegada a Sare Banda verificou-se às 19H30, seguindo em meios auto até Geba, o que se registou às 20H30, tendo regressado às suas unidades o Gr Comb/CCAÇ 1685 e o 1 PEL SAP / CCS 1877 (2 secções)".


2. Nesta altura, as cabeças pensantes do Agrupamento [sedeado em Bafatá] já teriam concluído, e tinham provavelmente informações, que a base se situava a seguir à clareira de Sinchã Jobel, para Norte. Daí a presença de dois grupos da 5ª Companhia de Comandos para o eventual golpe de mão ao acampamento. Só que a guerrilha já se tinha também prevenido com minas A/P (já vistas na Op Jigajoga 2) e A/C como mais uma limitação no acesso à base e, ao mesmo tempo, um factor de alerta. Um dos feridos com o rebentamento de mina nesta operação foi o meu amigo Eng. Domingos Maçarico, então alferes miliciano da CART 1690, que acabou por ser evacuado para o Hospital Militar Principal da Estrela, e anda agora com uma placa de platina na cabeça.


"15. OP Jacaré. 16 de Setembro de 1967


"Situação particular:


"O IN tem-se revelado em operações realizadas nos regulados de Mansomine. Possui um acampamento forte em Sinchã Jobel que serve de base para as suas acções.

"Missão:

- Assegura a ocupação do sector, tendo em atenção os regulados da faixa Oeste e as linhas de infiltração que conduzem ao interior.

- Detecta, vigia ou captura elementos ou grupos suspeitos de subversão que se hajam infiltrado ou constituído no sector, impedindo que a subversão alastre.

- Captura ou aniquila os rebeldes que se venham a revelar, destruindo as suas instalações ou meios de vida e restabelece a autoridade e a ordem nas regiões afectadas.

"Força executante:

DEST A - CCAV 1650 (-); CART 1690 (2 Gr Comb); CCAÇ 1685 (1 Gr Comb); PEL MIL 111/C MIL 3

DEST. B - 01 PEL REC/EREC 1578.

DEST C - 2 Gr. COMANDOS.

DEST D - 1 Gr. Comb /CCS/BCAÇ 1877.

DEST E - 1 Secção / AML 1143.

DEST F - 1 Secção / AML 1143.


"Desenrolar da acção:

"Em 16 de Setembro de 1967, pelas 6H30, o Dest A menos o PEL MIL /C MIL 5 deslocou-se em meios auto em direcção a Cheüel. Após a saída de Geba uma viatura avariou, sendo o pessoal distribuído pelas outras viaturas que constituíam a coluna.

"Cerca das 08H00, uma mina anti-carro destruiu a terceira viatura da coluna a 100 metros de Chüel, projectando os ocupantes, dos quais 8 foram evacuados por Heli para o Hospital Militar 241, tendo os restantes ficado em condições de não prosseguir a operação, o mesmo acontecendo, com outros que ao saltar das viaturas se haviam magoado.

"Montada a segurança aos feridos e viaturas, procedeu-se a escolha e preparação do campo de aterragem para o Heli que imediatamente fora pedido pelo PCV [posto de controlo volante] que na altura nos sobrevoava. Posta a situação ao PCV, quanto a baixas, foi ordenado ao Dest A para regressar ao quartel depois de evacuar as viaturas, e onde chegou pelas 17H00.

"Devido à quebra do segredo foi ordenado pelo CMDT AGRUP 1980 o cancelamento da operação.»

Guiné 69/71 - XXXIX: Sinchã Jobel II e III

Mais dois textos de A. Marques Lopes, ex-alferes miliciano da CART 1690 (Geba), actualmente coronel (DFA) na situação de reforma:

1. Depois da minha "descoberta involuntária", mas sem surpresa para alguns, iniciaram-se algumas operações mais elaboradas com o objectivo da destruição da base de Sinchã Jobel.

Era, como vos disse, uma antiga tabanca, já destruída, sendo agora uma clareira de cerca de 2.000m2, cercada por uma mata densa, tendo a sul o Rio Gambiel, com água pelo peito e uma "ponte" submersa, isto é, dois troncos de palmeira debaixo de água, (quando fui para lá o meu guia indicou-ma, quando regressei, sem guia, tive de a descobrir); a Oeste e a Este tem várias bolanhas, uma delas mesmo perto da clareira (a tal onde durante a noite toda a minha vida me passou pelo pensamento); a Norte, até Banjara, tem uma floresta muito densa e dezenas de poilões (há lá, na Guiné-Bissau de agora, uma serração).

Nas margens do rio Gambiel e das bolanhas os guerrilheiros tinham sentinelas; pelo lado de Banjara, a floresta impenetrável tornava o acesso impossível. É claro que a base de guerrilha não estava na clareira de Sinchã Jobel (nem antes dela, pois não a encontrei quando ia para lá) mas em algum local deste contexto que vos descrevo, para Norte, muito bem situada e com óptimas condições de defesa.

Nesta fase, certamente ainda em início de implantação, é natural que os guerrilheiros só se manifestassem quando lhes parecesse conveniente (foi o que lhes pareceu quando viram trinta mecos a ir para lá...), por isso não se manifestaram nesta Operação Jigajoga 2. Além de que o seu principal objectivo era montar minas e emboscadas no itinerário Geba-Banjara e atacar os destacamentos. Mais tarde, quando fortalecidos e bem guarnecidos, creio que alargaram a sua acção até Mansabá e para o Xime e Xitole. Este enquadramento da base de Sinchã Jobel expliquei-o ao comandante do Agrupamento 1980, em Bafatá, mas, pelo que vão ver nos "próximos capítulos", não valeu de muito.


"15. OP Jigajoga 2. 31 de Agosto de 1967.


"Situação particular:

O IN tem-se revelado a sul de BBanjara, com mais intensidade nos regulados de Mansomine e Joladu. Em Sinchã Jobel possui uma base forte, que serve de apoio às suas acções.

"Missão:

-Assegura a ocupação do Sector, tendo em atenção os regulados da faixa Oeste e as linhas de infiltração que conduzem ao interior.

-Detecta, vigia ou captura elementos ou grupos suspeitos de subversão que se hajam infiltrado ou constituído no sector, impedindo que a subversão alastre.

-Captura ou aniquila os rebeldes que se venham a revelar, destruindo as suas instalações ou meios de vida e restabelece a autoridade e a ordem nas regiões afectadas.

-Armadilha os itinerários utilizados pelo IN.

"Força executante:

DEST A - CART 1690 (2 Gr Comb); CCAÇ 1685 (1 Gr Comb); CCVA 1693 (1 Gr Comb); 1 PEL SAP / CCS 1877 (2 secções); 1 PEL 109/CAÇ MIL 3

DEST B - CCS 1877 (1 Gr Comb) /CCS 1877 (1 Gr COmb); 1 PEL REC/EREC 1578.

"Desenrolar da acção:



"Em 31 de Agosto de 1967, pelas 4.30h., iniciou-se a progressão a partir de Darsalame. Durante a progressão foi batida toda a zona do itinerário, procurando vestígios e/ou trilhos que indicassem a existência do IN.

"Pelas 09H00 aproximação de Sare Tamba, os cuidados de pesquisa redobraram no sentido de localizar e assaltar o possível acampamento IN. Batida toda a mata durante 2 horas onde se supunha existir o referido acampamento, não foi possível localizá-lo nem o IN se revelou.

"No deslocamento para o objectivo pelas 11H00 foi ouvido um disparo de espingarda tipo Muaser ao longe, não sendo possível determinar a sua direcção. Continuada a batida foram encontrados restos de um camuflado IN não sendo possível, porém, encontrar mais nada. Pelas 11H50 foram ouvidos muito ao longe alguns rebentamentos fora da zona de acção.

"Por parecer mais fácil passou-se a bolanha junto a Sinchã Bolo e a seguir o Rio Jago na direcção de Sucuta (Madina Fali) onde se chegou pelas 15H00. Fez-se uma paragem para se conferir pessoal e material, porque as bolanhas foram de difícil travessia e foi a coluna atacada por um enxame de abelhas durante a transposição da primeira bolanha.

"Reiniciada a progressão em direcção a Sare Budi foi detectada pelas l6H00, em 1445 121.07H, 100 metros após a entrar na mata uma armadilha A/P a qual foi destruída pela Secção do PEL SAP/1877. Em Sare Budi no itinerário para Sare Madina foram montadas 2 armadilhas A/P cujo croqui será elaborado pelo Cmdt SAP/BCAÇ 1877.

"Continuando a progressão em direcção a Sinchã Fero Demori, não foi possível montar mais armadilhas em virtude do adiantamento da hora e não ser possível determinar o itinerário de acesso ao interior do sector desta CART.

"A chegada a Sare Banda verificou-se às 19H30, seguindo em meios auto até Geba, o que se registou às 20H30, tendo regressado às suas unidades o Gr Comb/CCAÇ 1685 e o 1 PEL SAP / CCS 1877 (2 secções)".


2. Nesta altura, as cabeças pensantes do Agrupamento [sedeado em Bafatá] já teriam concluído, e tinham provavelmente informações, que a base se situava a seguir à clareira de Sinchã Jobel, para Norte. Daí a presença de dois grupos da 5ª Companhia de Comandos para o eventual golpe de mão ao acampamento. Só que a guerrilha já se tinha também prevenido com minas A/P (já vistas na Op Jigajoga 2) e A/C como mais uma limitação no acesso à base e, ao mesmo tempo, um factor de alerta. Um dos feridos com o rebentamento de mina nesta operação foi o meu amigo Eng. Domingos Maçarico, então alferes miliciano da CART 1690, que acabou por ser evacuado para o Hospital Militar Principal da Estrela, e anda agora com uma placa de platina na cabeça.


"15. OP Jacaré. 16 de Setembro de 1967


"Situação particular:


"O IN tem-se revelado em operações realizadas nos regulados de Mansomine. Possui um acampamento forte em Sinchã Jobel que serve de base para as suas acções.

"Missão:

- Assegura a ocupação do sector, tendo em atenção os regulados da faixa Oeste e as linhas de infiltração que conduzem ao interior.

- Detecta, vigia ou captura elementos ou grupos suspeitos de subversão que se hajam infiltrado ou constituído no sector, impedindo que a subversão alastre.

- Captura ou aniquila os rebeldes que se venham a revelar, destruindo as suas instalações ou meios de vida e restabelece a autoridade e a ordem nas regiões afectadas.

"Força executante:

DEST A - CCAV 1650 (-); CART 1690 (2 Gr Comb); CCAÇ 1685 (1 Gr Comb); PEL MIL 111/C MIL 3

DEST. B - 01 PEL REC/EREC 1578.

DEST C - 2 Gr. COMANDOS.

DEST D - 1 Gr. Comb /CCS/BCAÇ 1877.

DEST E - 1 Secção / AML 1143.

DEST F - 1 Secção / AML 1143.


"Desenrolar da acção:

"Em 16 de Setembro de 1967, pelas 6H30, o Dest A menos o PEL MIL /C MIL 5 deslocou-se em meios auto em direcção a Cheüel. Após a saída de Geba uma viatura avariou, sendo o pessoal distribuído pelas outras viaturas que constituíam a coluna.

"Cerca das 08H00, uma mina anti-carro destruiu a terceira viatura da coluna a 100 metros de Chüel, projectando os ocupantes, dos quais 8 foram evacuados por Heli para o Hospital Militar 241, tendo os restantes ficado em condições de não prosseguir a operação, o mesmo acontecendo, com outros que ao saltar das viaturas se haviam magoado.

"Montada a segurança aos feridos e viaturas, procedeu-se a escolha e preparação do campo de aterragem para o Heli que imediatamente fora pedido pelo PCV [posto de controlo volante] que na altura nos sobrevoava. Posta a situação ao PCV, quanto a baixas, foi ordenado ao Dest A para regressar ao quartel depois de evacuar as viaturas, e onde chegou pelas 17H00.

"Devido à quebra do segredo foi ordenado pelo CMDT AGRUP 1980 o cancelamento da operação.»

02 junho 2005

Guiné 69/71 - XXXVIII: Afinal, onde ficava Geba ? (2)

Texto de A. Marques Lopes, ex-alferes milciano da CART 1690 (Geba, 1967/1969), actualmente coronel (DAF) na situação de reforma:

Geba existe e está, de facto, quase completamente abandonada. Estive lá em 1998. Mas não deu para tirar fotografias (só uma ou duas). Mas ainda tem habitantes, embora poucos.

As instalações militares do tempo da guerra colonial, essas, estão em completa derrocada. Situam-se no morro existente a um quilómetro do lado direito (de quem está virado para o rio Geba) da povoação. Tinham acabado de ser construídas quando a CART 1690 lá chegou, em Abril de 1967. Mas o comando da companhia situava-se mesmo na povoação.

Na Bíblia, Geba era uma cidade da antiga Palestina, situada a 8 km de Jerusalém, local onde Jonatan derrotou os filisteus. Ainda hoje existe esse local e está na zona da Autoridade Palestiniana. Será que o nome vem daí? Não me admira, dado que, quando os portugueses chegaram à Guiné no séc. XVI, já essa terra estava islamisada. Geba, juntamente com Cacheu e Ziguinchor, foi o berço do crioulo falado na Guiné. Procurem neste link http://www.unb.br/ics/dan/Serie154empdf.pdf o que foi Geba nos séculos passados.

A jornalista Diana Andringa esteve há anos em Geba e fez um filme que me ofereceu. Emprestei-o a um ex-camarada de armas e ainda estou à espera da devolução... Mas vou insistir com ele e pode ser que consiga tirar desse filme algumas imagens relativamente recentes sobre Geba.

Abraços.
A. Marques Lopes

Guiné 69/71 - XXXVIII: Afinal, onde ficava Geba ? (2)

Texto de A. Marques Lopes, ex-alferes milciano da CART 1690 (Geba, 1967/1969), actualmente coronel (DAF) na situação de reforma:

Geba existe e está, de facto, quase completamente abandonada. Estive lá em 1998. Mas não deu para tirar fotografias (só uma ou duas). Mas ainda tem habitantes, embora poucos.

As instalações militares do tempo da guerra colonial, essas, estão em completa derrocada. Situam-se no morro existente a um quilómetro do lado direito (de quem está virado para o rio Geba) da povoação. Tinham acabado de ser construídas quando a CART 1690 lá chegou, em Abril de 1967. Mas o comando da companhia situava-se mesmo na povoação.

Na Bíblia, Geba era uma cidade da antiga Palestina, situada a 8 km de Jerusalém, local onde Jonatan derrotou os filisteus. Ainda hoje existe esse local e está na zona da Autoridade Palestiniana. Será que o nome vem daí? Não me admira, dado que, quando os portugueses chegaram à Guiné no séc. XVI, já essa terra estava islamisada. Geba, juntamente com Cacheu e Ziguinchor, foi o berço do crioulo falado na Guiné. Procurem neste link http://www.unb.br/ics/dan/Serie154empdf.pdf o que foi Geba nos séculos passados.

A jornalista Diana Andringa esteve há anos em Geba e fez um filme que me ofereceu. Emprestei-o a um ex-camarada de armas e ainda estou à espera da devolução... Mas vou insistir com ele e pode ser que consiga tirar desse filme algumas imagens relativamente recentes sobre Geba.

Abraços.
A. Marques Lopes

31 maio 2005

Guiné 69/71 - XXXVII: Afinal, onde ficava Geba ? (1)

1. Segundo uma oportuna mensagem enviada por Fernando Rodrigues Junqueiro, Geba ficava a oeste de Bafatá, a 12 km de distância. Em Abril de 1997, quando o nosso amigo Fred por lá passou, Geba, o antigo entreposto comercial português, era um monte de ruínas.

E as instalações militares ? Será que estamos a falar da mesma Geba, a tal povoação que supostamente não vem nos mapas e que era a sede da CART 1690, a companhia do Alferes Lopes e de outros camaradas que conheceram o inferno de Cantacunda, Banjara, Sare Gana, Sare Banda, Sinchã Jobel e outros sítios de má memória do subsector de Geba (que no meu tempo pertencia ao Sector L2 / Zona Leste, e que incluía Contuboel, um paraíso, pelo menos no tempo que lá estive: Junho/Julho de 1969)?

Viagem à Guiné-Bissau > Abril de 1977 > Bafatá & Interior:


"Bafatá é a segunda maior cidade da Guiné-Bissau com 10.000 habitantes. Fica no interior do país na margem do Rio Geba, 150 kms a leste de Bissau. Bafatá é uma cidade surpreendentemente tranquila, caracterizada por uma predominância de edifícios e casas coloniais, infelizmente num estado avançado de degradação. O herói nacional, Amílcar Cabral, nasceu em Bafatá e esse facto está assinalado num pequeno monumento com o seu busto e na casa onde nasceu, perto do Mercado Central. A cidade fica numa colina sobre o Rio Geba. 12 kms a oeste ficam as ruínas de Geba, um antigo entreposto português".

2. Como se pode ver pelo mapa da Guiné Portugesa, carta de Bambadinca (Escala 1/50.000), dos Serviços Cartográficos do Exército (1955),a povoaço e entreposto comercial de Geba fica a norte do Rio Geba (ou Geba Estreito), antes de Bafatá.

Agradeço ao meu amigo e ex-camarada de armas Humberto Reis a gentileza da oferta de fotocópias de diversas cartas da Zona Leste da antiga Guiné Portuguesa (Xime, Xitole, Contabane, Bambadinca, Bafatá, Contuboel, Duas Fontes), além da Carta da Província (1961). Foram estas famosas cartas, para além dos guias locais, que nos ajudaram a encontrar o caminho... de regresso a casa!

Fica aqui também a minha modesta homenagem a portugueses ilustres como Avelino Teixeira da Mota (1920-1982) que dedicou uma parte da sua vida à etnografia e à cartografia da Guiné.

Em mapas actuais da Guiné-Bissau, como o que consta por exemplo no sítio da OMS, Geba figura ainda, claramente, como localidade, devido em parte à sua importância histórica, cultural e económica, no passado.

Guiné 69/71 - XXXVII: Afinal, onde ficava Geba ? (1)

1. Segundo uma oportuna mensagem enviada por Fernando Rodrigues Junqueiro, Geba ficava a oeste de Bafatá, a 12 km de distância. Em Abril de 1997, quando o nosso amigo Fred por lá passou, Geba, o antigo entreposto comercial português, era um monte de ruínas.

E as instalações militares ? Será que estamos a falar da mesma Geba, a tal povoação que supostamente não vem nos mapas e que era a sede da CART 1690, a companhia do Alferes Lopes e de outros camaradas que conheceram o inferno de Cantacunda, Banjara, Sare Gana, Sare Banda, Sinchã Jobel e outros sítios de má memória do subsector de Geba (que no meu tempo pertencia ao Sector L2 / Zona Leste, e que incluía Contuboel, um paraíso, pelo menos no tempo que lá estive: Junho/Julho de 1969)?

Viagem à Guiné-Bissau > Abril de 1977 > Bafatá & Interior:


"Bafatá é a segunda maior cidade da Guiné-Bissau com 10.000 habitantes. Fica no interior do país na margem do Rio Geba, 150 kms a leste de Bissau. Bafatá é uma cidade surpreendentemente tranquila, caracterizada por uma predominância de edifícios e casas coloniais, infelizmente num estado avançado de degradação. O herói nacional, Amílcar Cabral, nasceu em Bafatá e esse facto está assinalado num pequeno monumento com o seu busto e na casa onde nasceu, perto do Mercado Central. A cidade fica numa colina sobre o Rio Geba. 12 kms a oeste ficam as ruínas de Geba, um antigo entreposto português".

2. Como se pode ver pelo mapa da Guiné Portugesa, carta de Bambadinca (Escala 1/50.000), dos Serviços Cartográficos do Exército (1955),a povoaço e entreposto comercial de Geba fica a norte do Rio Geba (ou Geba Estreito), antes de Bafatá.

Agradeço ao meu amigo e ex-camarada de armas Humberto Reis a gentileza da oferta de fotocópias de diversas cartas da Zona Leste da antiga Guiné Portuguesa (Xime, Xitole, Contabane, Bambadinca, Bafatá, Contuboel, Duas Fontes), além da Carta da Província (1961). Foram estas famosas cartas, para além dos guias locais, que nos ajudaram a encontrar o caminho... de regresso a casa!

Fica aqui também a minha modesta homenagem a portugueses ilustres como Avelino Teixeira da Mota (1920-1982) que dedicou uma parte da sua vida à etnografia e à cartografia da Guiné.

Em mapas actuais da Guiné-Bissau, como o que consta por exemplo no sítio da OMS, Geba figura ainda, claramente, como localidade, devido em parte à sua importância histórica, cultural e económica, no passado.

BlogAngola - IV: Museu da Lourinhã descobre o primeiro dinossauro de Angola

1. O meu amigo Octávio Mateus, paleontólogo de dinossauros, do Museu da Lourinhã, acaba de chegar do sul de Angola, e de enviar-nos o seguinte relatório da sua curta mas frutuosa expedição científica, sob a forma de um "press release", que tomo a liberdade de divulgar:

"Instituições científicas europeias, norte-americanas e angolana estão a associar-se para estudarem o património paleontológico de Angola. Fósseis de mosassauros, dinossauros, e outros répteis do tempo dos dinossauros, assim como peixes e outros vertebrados foram o objectivo de uma expedição de reconhecimento realizada em Maio passado.

"Desde o início da guerra em Angola que nenhum paleontólogo tinha feito trabalho de campo à procura de vertebrados fósseis. Os trabalhos mais importantes neste domínio foram conduzidos durante os anos 60 por Miguel Telles Antunes, da Universidade Nova de Lisboa, que estudou a área em detalhe e desde aí tem publicado estudos sobre os fósseis de vertebrados de Angola. Antunes é o professor e orientador de Octávio Mateus, que em breve estará a apresentar o Doutoramento nesta Universidade.

Figura - Escavação de crânio de mosassauro no sul de Angola.

Figura - Escavação de crânio de mosassauro no sul de Angola. © Octávio Mateus e Museu da Lourinhã (2005)

"No fim de Maio, Octávio Mateus, do Museu da Lourinhã e da Universidade Nova de Lisboa participou numa expedição de reconhecimento acompanhado com o norte-americano Louis Jacobs da Universidade Metodista do Sul, do Texas.

"Com esta viagem, estreitou-se a cooperação científica entre as instituições portuguesas e angolanas, com destaque para a Faculdade de Ciências da Universidade Agostinho Neto, Museu de História Natural de Angola, Instituto Superior Privado de Angola e Instituto Geológico de Angola.

"O reconhecimento e recolha de fósseis no terreno superou largamente todas as expectativas mais ousadas. O paleontólogo português Octávio Mateus descobriu inúmeros fósseis entre os quais o primeiro dinossauro de Angola. Trata-se da parte do braço de um dinossauro saurópode, do Cretácico Superior, cujo alguns ossos estão agora no museu em Luanda, mas a maioria do esqueleto está ainda no terreno à espera de uma escavação a ser conduzida pelo Museu da Lourinhã em 2006.

"Além do primeiro dinossauro angolano, o Museu da Lourinhã descobriu ainda crânios de mosassauros, plesiossauros (répteis marinhos do tempo dos dinossauros), tartarugas e peixes fósseis com cerca de 65 milhões de anos. Todo o espólio recolhido foi entregue no Museu de Geologia da Universidade Agostinho Neto, em Luanda, embora alguns fósseis estejam agora no Museu da Lourinhã, onde serão preparados e estudados. Os fósseis regressarão a Angola em 2006 após o estudo e uma exposição temporária no museu lourinhanense.

Figura - Crânio quase completo de mosassauro, actualmente em estudo no Museu da Lourinhã

Figura - Crânio quase completo de mosassauro, actualmente em estudo no Museu da Lourinhã. © Octávio Mateus e Museu da Lourinhã (2005)

"As recolhas no terreno foram realizadas no deserto da província do Namibe, no sul de Angola, e nas arribas costeiras da província de Bengo. A experiência obtida em Portugal, nomeadamente na Lourinhã, foram essenciais para o sucesso da expedição em Angola.

"Será preparada uma expedição em 2006 com mais recursos e uma equipa maior. O país é vasto e rico em fósseis e daí provêem alguns fósseis emblemáticos como o Angolasaurus, um réptil marinho mosassauro que viveu há cerca de 65 milhões de anos. A equipa espera encontrar mais vestígios deste e outros animais de forma a aumentar o conhecimento sobre o passado de Angola e de África".

2. Os meus parabéns ao Octávio Mateus e ao Prof. Doutor Teles Antunes, assessor científico do Museu da Lourinhã. Mas parabéns também aos angolanos, pessoas e instituições, que apoiaram esta iniciativa que, espero, venha a ser uma grande janela de oportunidade para a cooperação científica entre os dois países no domínio da geologia, paleontologia e museologia.

BlogAngola - IV: Museu da Lourinhã descobre o primeiro dinossauro de Angola

1. O meu amigo Octávio Mateus, paleontólogo de dinossauros, do Museu da Lourinhã, acaba de chegar do sul de Angola, e de enviar-nos o seguinte relatório da sua curta mas frutuosa expedição científica, sob a forma de um "press release", que tomo a liberdade de divulgar:

"Instituições científicas europeias, norte-americanas e angolana estão a associar-se para estudarem o património paleontológico de Angola. Fósseis de mosassauros, dinossauros, e outros répteis do tempo dos dinossauros, assim como peixes e outros vertebrados foram o objectivo de uma expedição de reconhecimento realizada em Maio passado.

"Desde o início da guerra em Angola que nenhum paleontólogo tinha feito trabalho de campo à procura de vertebrados fósseis. Os trabalhos mais importantes neste domínio foram conduzidos durante os anos 60 por Miguel Telles Antunes, da Universidade Nova de Lisboa, que estudou a área em detalhe e desde aí tem publicado estudos sobre os fósseis de vertebrados de Angola. Antunes é o professor e orientador de Octávio Mateus, que em breve estará a apresentar o Doutoramento nesta Universidade.

Figura - Escavação de crânio de mosassauro no sul de Angola.

Figura - Escavação de crânio de mosassauro no sul de Angola. © Octávio Mateus e Museu da Lourinhã (2005)

"No fim de Maio, Octávio Mateus, do Museu da Lourinhã e da Universidade Nova de Lisboa participou numa expedição de reconhecimento acompanhado com o norte-americano Louis Jacobs da Universidade Metodista do Sul, do Texas.

"Com esta viagem, estreitou-se a cooperação científica entre as instituições portuguesas e angolanas, com destaque para a Faculdade de Ciências da Universidade Agostinho Neto, Museu de História Natural de Angola, Instituto Superior Privado de Angola e Instituto Geológico de Angola.

"O reconhecimento e recolha de fósseis no terreno superou largamente todas as expectativas mais ousadas. O paleontólogo português Octávio Mateus descobriu inúmeros fósseis entre os quais o primeiro dinossauro de Angola. Trata-se da parte do braço de um dinossauro saurópode, do Cretácico Superior, cujo alguns ossos estão agora no museu em Luanda, mas a maioria do esqueleto está ainda no terreno à espera de uma escavação a ser conduzida pelo Museu da Lourinhã em 2006.

"Além do primeiro dinossauro angolano, o Museu da Lourinhã descobriu ainda crânios de mosassauros, plesiossauros (répteis marinhos do tempo dos dinossauros), tartarugas e peixes fósseis com cerca de 65 milhões de anos. Todo o espólio recolhido foi entregue no Museu de Geologia da Universidade Agostinho Neto, em Luanda, embora alguns fósseis estejam agora no Museu da Lourinhã, onde serão preparados e estudados. Os fósseis regressarão a Angola em 2006 após o estudo e uma exposição temporária no museu lourinhanense.

Figura - Crânio quase completo de mosassauro, actualmente em estudo no Museu da Lourinhã

Figura - Crânio quase completo de mosassauro, actualmente em estudo no Museu da Lourinhã. © Octávio Mateus e Museu da Lourinhã (2005)

"As recolhas no terreno foram realizadas no deserto da província do Namibe, no sul de Angola, e nas arribas costeiras da província de Bengo. A experiência obtida em Portugal, nomeadamente na Lourinhã, foram essenciais para o sucesso da expedição em Angola.

"Será preparada uma expedição em 2006 com mais recursos e uma equipa maior. O país é vasto e rico em fósseis e daí provêem alguns fósseis emblemáticos como o Angolasaurus, um réptil marinho mosassauro que viveu há cerca de 65 milhões de anos. A equipa espera encontrar mais vestígios deste e outros animais de forma a aumentar o conhecimento sobre o passado de Angola e de África".

2. Os meus parabéns ao Octávio Mateus e ao Prof. Doutor Teles Antunes, assessor científico do Museu da Lourinhã. Mas parabéns também aos angolanos, pessoas e instituições, que apoiaram esta iniciativa que, espero, venha a ser uma grande janela de oportunidade para a cooperação científica entre os dois países no domínio da geologia, paleontologia e museologia.

Socio(b)logia - XV: Idiossincrasia(s) lusitana(s)

Segundo os dicionários, idiossincrasia (do grego idiosygkrasía < ídios, próprio + sýkrasis, constituição, temperamento) significa “disposição do temperamento de um indivíduo para sentir, de um modo especial e privativo dele, a influência de diversos agentes; reacção individual própria a cada pessoa”...

Perguntam-me: Há uma idiossincrasia portuguesa ? São os portugueses um povo triste, sentimental, fatalista ? E se sim, porquê?

Há muitos estereótipos sobre os povos. Como, por exemplo, aquela anedota sobre o inferno, em que o humor seria alemão, a cozinha inglesa e a gestão italiana. Há variantes: a gestão pode até ser portuguesa ou grega, estendendo-se deste modo aos povos da Europa do sul o anátema da falta de organização, do improviso, do desenrascanço, da imprevidência, da propensão para o acidente, etc.

Trata-se de clichés, de preconceitos, de ideias feitas que estão já muito enraizadas, interna e externamente, mas que muitas vezes não correspondem a nenhuma realidade sócio-antropológica. A verdade é que os povos conhecem-se mal uns aos outros. E utilizam a joke, a anedota, para subvalorizar ou até oprimir os seus vizinhos. Há muito que os ingleses reproduzem um estereótipo de irlandês. A vingança dos irlandeses dar-se ao luxo de ter hoje um PIB per capita superior ao dos ingleses... Ironias da história...

Durante séculos matámo-nos uns aos outros em nome do mesmo Deus, in nomine Dei. Até meados do Séc. XX restava-nos a literatura de viagens para um conhecimento mais ou menos empírico da realidade de cada país. Depois disso conhecemos a migração económica, em massa, que levou, por exemplo, os italianos, os espanhóis e os portugueses à Alemanha e à França. Conhecemo-nos mal e superficialmente, mesmo viajando mais pela Europa, como turistas. Tal como a Suécia do Século XX não é o universo cinematográfico do Bergman, também o Portugal do Estado Novo não se pode reduzir ao xaile negro, ao fado, a Fátima, ao futebol…

Há povos mais etnocêntricos do que outros: na península ibérica, os castelhanos, seguramente; na Europa do norte, os alemães; na Ásia, os chineses e os japoneses. A história das mentalidades, a influência das religiões dominantes, as elites, as particularidades da geografia, mas também a aventura da língua, as sete partidas, a diáspora…

Tudo isso é importante para se perceber a idiossincrasia de cada povo, se é que ela existe. Eduardo Lourenço, especialista da alma portuguesa, prefere falar em idiossincrasias lusitanas. Por outro lado, a mesma língua que serviu aos nossos jograis, ao Gil Vicente, ao Eça de Queirós, ao Bordalo Pinheiro ou ao Alexandre O’Neil para fazer um humor muito nosso, autocrítico, saudável e genuinamente português, também serviu para criar um certo tipo de lirismo. A questão é que o povo português e a sua língua são capazes de todos os registos humanos, universais: da alegria à tristeza, da euforia à saudade, da esperança ao fatalismo, do erotismo à crueldade...

Texto de Luís Graça. Uma versão ligeiramente diferente foi publicada na revista Plenitude (Lisboa). 27 (Junho de 2005). 46