09 outubro 2004

Portugas que merecem os nossos assobios - IV: O camartelo da Câmara Municipal de Lisboa

1. Estão a destruir o Convento dos Inglesinhos, no Bairro Alto. Recebi um alerta através da minha caixa de correio. Ontem, sexta-feira, dia 8 de Outubro, pelas 22 hoars, estava convocada uma vigília na Travessa dos Inglesinhos,para protestar contra mais um crime de lesa-património que está a ser alvo a nossa cidade, a nossa capital...



2. Aqui fica o texto que recebi ontem, com pedido de ampla divulgação:



"O Bairro Alto está a ser vítima de mais um abuso por parte da Câmara Municipal! Depois da demolição de um quarteirão antigo entre a Rua da Rosa e Rua do Trombeta para a construção de um Condomínio Privado, é tempo de proceder a mais uma destruição: Desta vez o ataque é ao CONVENTO DOS INGLESINHOS!



"A sua descaracterização já está em curso, É URGENTE TRAVÁ-LA ! Património inalienável deste Bairro, cuja construção é do século XVII, portador de uma enorme riqueza, desde os seus muros ao seu jardim de árvores centenárias, enquadrando a magnificência da Igreja de São Pedro e São Paulo e os seus preciosos salões, a sua cozinha e as suas celas, culminando com o Observatório dos seus terraços de onde se pode contemplar a cidade de Lisboa, de nascente a poente, de norte a sul!



"Monumento magnífico implantado em espaço desafogado na mais alta vertente deste Bairro Alto de construção densa e carente de espaços livres, vendido e deixado ao abandono e à especulação imobiliária pela Santa Casa da Misericórdia, a sua existência é vital para o equilíbrio ecológico do Bairro e da Cidade e como tal deve ser recuperado PARA USO E FRUIÇÃO DE TODOS OS CIDADÃOS !



"O Grupo Amorim aproveitou-se do desprezo da Câmara pelo património

colectivo e quer transformar o CONVENTO DOS INGLESINHOS num Condomínio

de Apartamentos de Luxo. VERGONHA: O IPPAR TAMBÉM APROVOU !!!



"Os moradores do Bairro Alto recusam a desfiguração sistemática do seu

Bairro e apelam à presença de todos numa vigília de protesto. VAMOS TRAVAR ESTE 'NEGÓCIO' CONTRA O BAIRRO ALTO !"





3. Ouvi também ecos na imprensa sobre o que se está a passar, bem como da mobilização de moradores do Bairro Alto, incluindo personalidades com relevo na nossa sociedade e na nossa cultura, como por exemplo o cineasta José Fonseca e Costa.



A mim também muito me indigna o que se está a passar. Espero, ao menos, que os 'habitués' do Bairro Alto, e muito em particular os nossos jovens, tenham sensibilidade e coragem para se baterem contra mais esta desavergonhada tentativa de destruição daquele emblemático sítio da nossa Lisboa... A autorização é da Câmara Municipal, o parecer favorável terá sido dado pelo IPPAR, o abandono é imputável à Santa Casa da Misericórida de Lisboa e o crime está a ser praticado por uma empresa do Grupo Amorim...



Pessoalmente, e é o mínimo que posso fazer, mando daqui uma monumental assobiadela em quatro direcções: (i) o camartelo camarário de Lisboa; (ii) o IPPAR; (iii) a Misericórdia de Lisboa; (iv) o Grupo Amorim... Para que, desta vez (ou a partir de agora), a culpa não morra mais solteira...

Portugas que merecem os nossos assobios - IV: O camartelo da Câmara Municipal de Lisboa

1. Estão a destruir o Convento dos Inglesinhos, no Bairro Alto. Recebi um alerta através da minha caixa de correio. Ontem, sexta-feira, dia 8 de Outubro, pelas 22 hoars, estava convocada uma vigília na Travessa dos Inglesinhos,para protestar contra mais um crime de lesa-património que está a ser alvo a nossa cidade, a nossa capital...

2. Aqui fica o texto que recebi ontem, com pedido de ampla divulgação:

"O Bairro Alto está a ser vítima de mais um abuso por parte da Câmara Municipal! Depois da demolição de um quarteirão antigo entre a Rua da Rosa e Rua do Trombeta para a construção de um Condomínio Privado, é tempo de proceder a mais uma destruição: Desta vez o ataque é ao CONVENTO DOS INGLESINHOS!

"A sua descaracterização já está em curso, É URGENTE TRAVÁ-LA ! Património inalienável deste Bairro, cuja construção é do século XVII, portador de uma enorme riqueza, desde os seus muros ao seu jardim de árvores centenárias, enquadrando a magnificência da Igreja de São Pedro e São Paulo e os seus preciosos salões, a sua cozinha e as suas celas, culminando com o Observatório dos seus terraços de onde se pode contemplar a cidade de Lisboa, de nascente a poente, de norte a sul!

"Monumento magnífico implantado em espaço desafogado na mais alta vertente deste Bairro Alto de construção densa e carente de espaços livres, vendido e deixado ao abandono e à especulação imobiliária pela Santa Casa da Misericórdia, a sua existência é vital para o equilíbrio ecológico do Bairro e da Cidade e como tal deve ser recuperado PARA USO E FRUIÇÃO DE TODOS OS CIDADÃOS !

"O Grupo Amorim aproveitou-se do desprezo da Câmara pelo património
colectivo e quer transformar o CONVENTO DOS INGLESINHOS num Condomínio
de Apartamentos de Luxo. VERGONHA: O IPPAR TAMBÉM APROVOU !!!

"Os moradores do Bairro Alto recusam a desfiguração sistemática do seu
Bairro e apelam à presença de todos numa vigília de protesto. VAMOS TRAVAR ESTE 'NEGÓCIO' CONTRA O BAIRRO ALTO !"


3. Ouvi também ecos na imprensa sobre o que se está a passar, bem como da mobilização de moradores do Bairro Alto, incluindo personalidades com relevo na nossa sociedade e na nossa cultura, como por exemplo o cineasta José Fonseca e Costa.

A mim também muito me indigna o que se está a passar. Espero, ao menos, que os 'habitués' do Bairro Alto, e muito em particular os nossos jovens, tenham sensibilidade e coragem para se baterem contra mais esta desavergonhada tentativa de destruição daquele emblemático sítio da nossa Lisboa... A autorização é da Câmara Municipal, o parecer favorável terá sido dado pelo IPPAR, o abandono é imputável à Santa Casa da Misericórida de Lisboa e o crime está a ser praticado por uma empresa do Grupo Amorim...

Pessoalmente, e é o mínimo que posso fazer, mando daqui uma monumental assobiadela em quatro direcções: (i) o camartelo camarário de Lisboa; (ii) o IPPAR; (iii) a Misericórdia de Lisboa; (iv) o Grupo Amorim... Para que, desta vez (ou a partir de agora), a culpa não morra mais solteira...

07 outubro 2004

Blogantologia(s) - XIX - Ondjaki ou a 'maka' da existência

Ponham olho neste puto: Ondjaki, pseudónimo literário de Ndalu de Almeida, escritor angolano, 27 anos, licenciado em sociologia. Um talentoso contador de estórias. Um recriador da língua portuguesa, na esteira de Mia Couto. Último romance: "Quantas madrugadas tem a noite" (Luanda: Nzila, 2004; Lisboa: Caminho, 2004). Uma descida ao inferno do quotidiano de Luanda. Empolgante. Lido em 'in loco', entre duas 'ngalas' ou 'birras' (garrafas de cerveja), tem outro fascínio. Porque a "morte morrida" é de pessoa, e a "morte matada" é de cão...



Porque a maka da existência, em Angola, é que se pode morrer e sobreviver, morrer e nascer de novo, podes ter morrido e ter sobrado um pouco de ti... Como insinua o narrador, na primeira pessoa do singular, no final do seu longo solilóquio nocturno: "Sobrei, muadiê? A verdade só: sobrei ou morri mesmo tudo ?".



Indispensável é o recurso ao glossário que vem apenso ao romance, para entender o calão dos caluandas (naturais de Luanda) e das outras desvairadas gentes que lá foram arribar. Não apenas o calão mas também outros termos falados pelas gentes de Luanda, como o kimbundu. Aqui fica uma pequena amostra de entre cerca de 200 termos, e que de algum modo sugerem a atmosfera da história (ou das muitas estórias que se podem contar numa noite):



Avilo, broda, camba, (amigo, companheiro)

Bazeza, djedjedje, matumbo (idiota, boçal)

Bofa, ngaia (bofetada)

Bufunda, cumbú, dodó, guitos (dinheiro, dólar), no caso de dodó)

Bumbar (trabalhar)

Campar, cubar (dormir, mas também morrer, no caso de campar)

Candengue, muadiê, mona (garoto, moço, rapaz)

Capurroto, kimbombo, maluvo (bebida alcoólica)

Dreda (que está na moda, babalado)

Éme (MPLA)

Fobado (faminto)

Janguê (órgão sexual masculino)

Kabomba, ninja (polícia, sendo ninja a polícia de choque)

Kêta (música)

Kijila, maka, malamba (problema)

Kilunza, makarov (pistola)

Kimba (velório)

Mboa, quitía (rapariga, moça, dama)

Mbumbu (negro)

Mô (meu)

Monandengue, ndengue, piô (criança, miúdo)

Muangolê (natural de Angola)

Muata (chefe)

Mujimbo (boatao)

Nguendeiro (grande farrista, frequentador de festas)

Nzambi (Deus)

Paiar (lixar, taramar alguém)

Pitar (comer)

Píter (comida, pitéu)

Quarra (prostituta)

Ruca (carro)

Salo (trabalho)

Sekulu, dikota, kota (mais velho)

Tibaria (bebedeira)

Tuga (português)

Tuji (merda)

Uáine (vinho)

Vuzar (ter relaçõe sexuais)

Xaxeiro (engatão, conquistador)

Xuxuta (órgão sexual feminino)

Zaicô (zairota)



Blogantologia(s) - XIX - Ondjaki ou a 'maka' da existência

Ponham olho neste puto: Ondjaki, pseudónimo literário de Ndalu de Almeida, escritor angolano, 27 anos, licenciado em sociologia. Um talentoso contador de estórias. Um recriador da língua portuguesa, na esteira de Mia Couto. Último romance: "Quantas madrugadas tem a noite" (Luanda: Nzila, 2004; Lisboa: Caminho, 2004). Uma descida ao inferno do quotidiano de Luanda. Empolgante. Lido em 'in loco', entre duas 'ngalas' ou 'birras' (garrafas de cerveja), tem outro fascínio. Porque a "morte morrida" é de pessoa, e a "morte matada" é de cão...

Porque a maka da existência, em Angola, é que se pode morrer e sobreviver, morrer e nascer de novo, podes ter morrido e ter sobrado um pouco de ti... Como insinua o narrador, na primeira pessoa do singular, no final do seu longo solilóquio nocturno: "Sobrei, muadiê? A verdade só: sobrei ou morri mesmo tudo ?".

Indispensável é o recurso ao glossário que vem apenso ao romance, para entender o calão dos caluandas (naturais de Luanda) e das outras desvairadas gentes que lá foram arribar. Não apenas o calão mas também outros termos falados pelas gentes de Luanda, como o kimbundu. Aqui fica uma pequena amostra de entre cerca de 200 termos, e que de algum modo sugerem a atmosfera da história (ou das muitas estórias que se podem contar numa noite):

Avilo, broda, camba, (amigo, companheiro)
Bazeza, djedjedje, matumbo (idiota, boçal)
Bofa, ngaia (bofetada)
Bufunda, cumbú, dodó, guitos (dinheiro, dólar), no caso de dodó)
Bumbar (trabalhar)
Campar, cubar (dormir, mas também morrer, no caso de campar)
Candengue, muadiê, mona (garoto, moço, rapaz)
Capurroto, kimbombo, maluvo (bebida alcoólica)
Dreda (que está na moda, babalado)
Éme (MPLA)
Fobado (faminto)
Janguê (órgão sexual masculino)
Kabomba, ninja (polícia, sendo ninja a polícia de choque)
Kêta (música)
Kijila, maka, malamba (problema)
Kilunza, makarov (pistola)
Kimba (velório)
Mboa, quitía (rapariga, moça, dama)
Mbumbu (negro)
Mô (meu)
Monandengue, ndengue, piô (criança, miúdo)
Muangolê (natural de Angola)
Muata (chefe)
Mujimbo (boatao)
Nguendeiro (grande farrista, frequentador de festas)
Nzambi (Deus)
Paiar (lixar, taramar alguém)
Pitar (comer)
Píter (comida, pitéu)
Quarra (prostituta)
Ruca (carro)
Salo (trabalho)
Sekulu, dikota, kota (mais velho)
Tibaria (bebedeira)
Tuga (português)
Tuji (merda)
Uáine (vinho)
Vuzar (ter relaçõe sexuais)
Xaxeiro (engatão, conquistador)
Xuxuta (órgão sexual feminino)
Zaicô (zairota)