05 agosto 2005

Guiné 63/74 - CXLI: Filmografia e videografia da Guerra Colonial - Guiné (3)

1. Selecção de Jorge Santos:

GUINÉ – ASPECTOS VÁRIOS
Portugal, 1963
Realização: Rogado Godinho
Produção: Centro de Estudos de Antropologia Cultural
Género: Documentário


PRODUÇÕES DO SERVIÇO DE INFORMAÇÕES PÚBLICAS
DAS FORÇAS ARMADAS

MISSÃO NA GUINÉ
Portugal, 1965
Realização: Luís Miranda
Produção: RTP /S.I.P.F.A.
Género: Documentário

GUINÉ 1970
Portugal, 1970
Produção: S.I.P.F.A.
Género: Documentário


PRODUÇÕES DOS SERVIÇOS CARTOGRÁFICOS DO EXÉRCITO

MISSÃO NA GUINÉ 1, 2, 3, 4 e 5
Portugal, 1964
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário

EXÉRCITO NA GUINÉ 1 – Operação “Odette”
Portugal, 1966
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Curta-Metragem

EXÉRCITO NA GUINÉ 2
Portugal, 1966
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário

UMA OPERAÇÃO NA GUINÉ
Portugal, 1966
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário

AUTO-DEFESA - GUINÉ
Portugal, 1967
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário

EXÉRCITO NA GUINÉ 3 E 4
Portugal, 1967
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário


ENGENHARIA NA GUINÉ
Portugal, 1968
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário


FORÇA AÉREA NA GUINÉ 1
Portugal, 1968
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário

MARINHA NA GUINÉ
Portugal, 1968
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário

EXÉRCITO NA GUINÉ 5 – Auto-Defesa das Populações
Portugal, 1968
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário

FORÇA AÉREA NA GUINÉ 2 e 3
Portugal, 1970
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário

MARINHA NA GUINÉ 1 e 2
Portugal, 1970
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário

INSTRUÇÃO DO EXÉRCITO NA GUINÉ
Portugal, 1970
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário

VISITA DE GUINEENSES À METRÓPOLE
Portugal, 1970
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário


PRODUÇÕES DA TELECINE-MORO

GUINÉ 68
Portugal, 1968
Realização: Quirino Simões
Produção: Telecine-Moro
Género: Curta-Metragem

GUINÉ A CAMINHO DO FUTURO
Portugal, 1971
Realização: Quirino Simões
Produção: Telecine-Moro
Género: Documentário

GUINÉ 1
Portugal, 1972
Realização: Abel Escoto
Produção: Telecine-Moro
Género: Documentário

GUINÉ 2
Portugal, 1972
Realizador: Felipe de Solms
Produção: Telecine-Moro
Género: Documentário

GUINÉ 74
Portugal, 1974
Realizador: Quirino Simões
Produção: Telecine-Moro
Género: Documentário

Guiné 63/74 - CXLI: Filmografia e videografia da Guerra Colonial - Guiné (3)

1. Selecção de Jorge Santos:

GUINÉ – ASPECTOS VÁRIOS
Portugal, 1963
Realização: Rogado Godinho
Produção: Centro de Estudos de Antropologia Cultural
Género: Documentário


PRODUÇÕES DO SERVIÇO DE INFORMAÇÕES PÚBLICAS
DAS FORÇAS ARMADAS

MISSÃO NA GUINÉ
Portugal, 1965
Realização: Luís Miranda
Produção: RTP /S.I.P.F.A.
Género: Documentário

GUINÉ 1970
Portugal, 1970
Produção: S.I.P.F.A.
Género: Documentário


PRODUÇÕES DOS SERVIÇOS CARTOGRÁFICOS DO EXÉRCITO

MISSÃO NA GUINÉ 1, 2, 3, 4 e 5
Portugal, 1964
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário

EXÉRCITO NA GUINÉ 1 – Operação “Odette”
Portugal, 1966
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Curta-Metragem

EXÉRCITO NA GUINÉ 2
Portugal, 1966
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário

UMA OPERAÇÃO NA GUINÉ
Portugal, 1966
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário

AUTO-DEFESA - GUINÉ
Portugal, 1967
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário

EXÉRCITO NA GUINÉ 3 E 4
Portugal, 1967
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário


ENGENHARIA NA GUINÉ
Portugal, 1968
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário


FORÇA AÉREA NA GUINÉ 1
Portugal, 1968
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário

MARINHA NA GUINÉ
Portugal, 1968
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário

EXÉRCITO NA GUINÉ 5 – Auto-Defesa das Populações
Portugal, 1968
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário

FORÇA AÉREA NA GUINÉ 2 e 3
Portugal, 1970
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário

MARINHA NA GUINÉ 1 e 2
Portugal, 1970
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário

INSTRUÇÃO DO EXÉRCITO NA GUINÉ
Portugal, 1970
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário

VISITA DE GUINEENSES À METRÓPOLE
Portugal, 1970
Realização: S.C.E
Produção: S.C.E.
Género: Documentário


PRODUÇÕES DA TELECINE-MORO

GUINÉ 68
Portugal, 1968
Realização: Quirino Simões
Produção: Telecine-Moro
Género: Curta-Metragem

GUINÉ A CAMINHO DO FUTURO
Portugal, 1971
Realização: Quirino Simões
Produção: Telecine-Moro
Género: Documentário

GUINÉ 1
Portugal, 1972
Realização: Abel Escoto
Produção: Telecine-Moro
Género: Documentário

GUINÉ 2
Portugal, 1972
Realizador: Felipe de Solms
Produção: Telecine-Moro
Género: Documentário

GUINÉ 74
Portugal, 1974
Realizador: Quirino Simões
Produção: Telecine-Moro
Género: Documentário

Guiné 63/4 - CXL: Filmografia e videografia da Guerra Colonial - Guiné (2)

1. Texto do Jorge Santos


GERAÇÃO DE 60 – Movimento Estudantil, Movimentos de Libertação
Portugal, 1989
Realização: Diana Andringa
Edição: RTP
Nota: Registo Vídeo, 1 cassete (180 m)
RESUMO:
Contém depoimentos dos líderes dos movimentos de libertação africanos, líderes do movimento estudantil e alguns políticos portugueses.


GERAÇÃO DE 60 – Presos Políticos, Guerra Colonial
Portugal, 1989
Realização: Diana Andringa
Edição: RTP
Nota: Registo Vídeo, 1 cassete (180 m)
RESUMO:
Contém depoimentos de políticos e militares portugueses.


GUERRA COLONIAL: Estado Novo e Regime Democrático
Portugal, 1995
Realização: Revista Vértice
Edição: Centro de Documentação 25 de Abril
Nota: Registo Vídeo, 2 cassetes (180 m)
RESUMO:
A Guerra Colonial em Angola, Guiné e Moçambique e os deficientes militares das forças armadas.

ANTÓNIO DE SPÍNOLA (Especial Informação)
Portugal, 1995
Realização: Luís Salvador
Edição: (Suana Zarco) - TVI
Nota: Registo Vídeo, 1 cassete (30 m)
RESUMO:
Contém imagens da carreira militar e política de Spínola, vários depoimentos, sobre a Guerra Colonial na Guiné, Amílcar Cabral, o PAIGC, o MDLP.

AS ÚLTIMAS PALAVRAS DE SALGUEIRO MAIA
Portugal, 1995
Realização: Apres. Victor Moura Pinto
Edição: SIC
Nota: Registo Vídeo, 1 cassete (50 m)
RESUMO:
Guerra Colonial, memórias, contendo imagens da Guerra Colonial e do 25 de Abril.

GRANDE REPORTAGEM - De Guillege a Gadamael: O Corredor da Morte
Portugal, 1996
Realização: Manuel Tomás – José Manuel Saraiva
Edição: SIC
Nota: Registo Vídeo, 1 cassete (60 m)
RESUMO:
Encontro de ex-combatentes no local onde foi travada a guerrilha.


GUERRA COLONIAL: Angola, Guiné e Moçambique – Ventos da História: Fases da Guerra
Portugal, 1997
Realização: Anabela Ramalhão de Almeida
Edição: Diário de Notícias
Nota: Registo Vídeo, 1 cassete (130 m)
RESUMO:
Abrange o período da Guerra Colonial compreendido entre 1961 e 1969.


GUERRA COLONIAL: Histórias de Campanha na Guiné
Portugal, 1998
Realização: Diário de Notícias
Edição: Diário de Notícias
Nota: Registo Vídeo, 1 cassete (28 m)
RESUMO:
Depoimentos da Guerra Colonial na Guiné.

Guiné 63/4 - CXL: Filmografia e videografia da Guerra Colonial - Guiné (2)

1. Texto do Jorge Santos


GERAÇÃO DE 60 – Movimento Estudantil, Movimentos de Libertação
Portugal, 1989
Realização: Diana Andringa
Edição: RTP
Nota: Registo Vídeo, 1 cassete (180 m)
RESUMO:
Contém depoimentos dos líderes dos movimentos de libertação africanos, líderes do movimento estudantil e alguns políticos portugueses.


GERAÇÃO DE 60 – Presos Políticos, Guerra Colonial
Portugal, 1989
Realização: Diana Andringa
Edição: RTP
Nota: Registo Vídeo, 1 cassete (180 m)
RESUMO:
Contém depoimentos de políticos e militares portugueses.


GUERRA COLONIAL: Estado Novo e Regime Democrático
Portugal, 1995
Realização: Revista Vértice
Edição: Centro de Documentação 25 de Abril
Nota: Registo Vídeo, 2 cassetes (180 m)
RESUMO:
A Guerra Colonial em Angola, Guiné e Moçambique e os deficientes militares das forças armadas.

ANTÓNIO DE SPÍNOLA (Especial Informação)
Portugal, 1995
Realização: Luís Salvador
Edição: (Suana Zarco) - TVI
Nota: Registo Vídeo, 1 cassete (30 m)
RESUMO:
Contém imagens da carreira militar e política de Spínola, vários depoimentos, sobre a Guerra Colonial na Guiné, Amílcar Cabral, o PAIGC, o MDLP.

AS ÚLTIMAS PALAVRAS DE SALGUEIRO MAIA
Portugal, 1995
Realização: Apres. Victor Moura Pinto
Edição: SIC
Nota: Registo Vídeo, 1 cassete (50 m)
RESUMO:
Guerra Colonial, memórias, contendo imagens da Guerra Colonial e do 25 de Abril.

GRANDE REPORTAGEM - De Guillege a Gadamael: O Corredor da Morte
Portugal, 1996
Realização: Manuel Tomás – José Manuel Saraiva
Edição: SIC
Nota: Registo Vídeo, 1 cassete (60 m)
RESUMO:
Encontro de ex-combatentes no local onde foi travada a guerrilha.


GUERRA COLONIAL: Angola, Guiné e Moçambique – Ventos da História: Fases da Guerra
Portugal, 1997
Realização: Anabela Ramalhão de Almeida
Edição: Diário de Notícias
Nota: Registo Vídeo, 1 cassete (130 m)
RESUMO:
Abrange o período da Guerra Colonial compreendido entre 1961 e 1969.


GUERRA COLONIAL: Histórias de Campanha na Guiné
Portugal, 1998
Realização: Diário de Notícias
Edição: Diário de Notícias
Nota: Registo Vídeo, 1 cassete (28 m)
RESUMO:
Depoimentos da Guerra Colonial na Guiné.

Guiné 63/74 - CXXXIX: Filmografia e videografia da Guerra Colonial - Guiné (1)

1. Texto do Jorge Santos (1º Gr. Fz., DFA, da Comp. Fuzileiros nº 4, Moçambique, Metangula, Cobué, 1968/70; página pessoal > "rapaziada da Tertúlia" possa completá-los. Logo que tenha mais, envio. Consultar a base de dados sobre o Cinema Português .


UM GRUPO DE TERRORISTAS ATACA
Inglaterra, 1964
Realização: John Sheppard
Produção: BBC
SINOPSE:
Uma reportagem realizada para a BBC, em 1964, que contribuiu para o despertar do mundo sobre a situação da guerra colonial que se travava nas matas da Guiné-Bissau, pela independência do país. A guerrilha p.d. teve início em Janeiro de 1963.

MISSÃO NA GUINÉ
Portugal, 1965
Realização: Luís Miranda
Produção: RTP / Serviço de Informação Pública das Forças Armadas

OPERAÇÃO MAR VERDE
Portugal, 197 (?)
Realização: Henrique Vasconcelos e Rui Araújo
Produção: RTC (Rádio Televisão Comercial)
Distribuição: RTC
SINOPSE:
Durante a guerra nas colónias o soldado português executou somente o seu dever. E um dos momentos em que melhor o executou terá sido durante a invasão e a ocupação da capital da Guiné-Conacri, em 22 de Novembro de 1970.

GUINÉ-BISSAU - INDEPENDÊNCIA
Portugal, 1977
Realização: António Escudeiro
Produção: Francisco de Castro
Fotografia.: António Escudeiro

ACTO DOS FEITOS DA GUINÉ
Portugal, 1980
Produção: Cinequipa
Realização: Fernando Matos Silva
Fotografia: José Luís Carvalhosa
Argumento: Fernando Matos Silva e Margarida Gouveia Fernandes
Música: Fausto
Som: Carlos Alberto Lopes
SINOPSE:
Ficção e realidade misturam-se neste filme, explicando a história da Guiné-Bissau, a colonização portuguesa e a luta de libertação nacional conduzida pelo PAIGC. Imagens reais de guerra e excertos de documentários cruzam-se com imagens e leituras do livro do século XVI História Trágico-Marítima, e textos inspirados pela guerra colonial, e com os pontos de vista ficcionados de personagens emblemáticos: o colono, o retornado, o guerrilheiro, o militar, o pide, o padre, o "descobridor".

MADINA DO BOÉ
Portugal, 1995
Realização: Manuel Costa e Silva, Manuel Tomás
Produção: Quimera do ouro; IPACA/ Estado-Maior do Exército
Fotografia: Rui Poças
Argumento: José Manuel Saraiva
Som: Vasco Barão
SINOPSE:
A operação de retirada de Madina de Boé vista por dois antigos oficiais do Exército Português, volvidos 25 anos, assim como por antigos guerrilheiros do PAIGC que estiveram directamente implicados. É o primeiro documentário sobre a guerra colonial que procura efectuar um levantamento histórico dos acontecimentos que levaram á morte de meia centenas de miliatres portugueses , na travessia do Corubal, no dia 6 de Fevereirod e 1968.( Vd. post de 2 de Agosto > Guiné 63/74 - CXXXIII: O desastre de Cheche, na retirada de Madina do Boé (6 de Fevereiro de 1969)

NINGUÉM NASCE SOLDADO
Portugal/Inglaterra, 1995
Realização: Jo Willems
Produção: Karen O´Brien - Dear Films
Fotografia: Glynn Speeckaert
Música: Vasco Martins
Som: Bart Van Den Bempt
SINOPSE:
As consequências da guerra colonial na população portuguesa, hoje. Três gerações que estiveram envolvidas na guerra: os próprios soldados, os seus pais e os seus filhos. Uma mãe fala do seu filho, morto na Guiné; dois soldados evocam o seu passado, falam do seu presente e do seu futuro; um filho de 25 anos, ainda aguarda o pai, soldado, que veio da guerra mas que nunca regressou ao seio da família.


ANOS DA GUERRA: Guiné 1963-1974
Portugal, 2000
Realização: José Barahona
Produção: Pedro Efe - Acetato / RTP


MONSANTO
Portugal, 2000
Realização: Ruy Guerra
Produção: Animatógrafo - SIC
Fotografia: José António Loureiro
Argumento: Vicente Alves do Ó
Música: Luís Cília
Som: Carlos Pinto
SINOPSE:
O filme centra a sua atenção no stresse pós-traumático que afecta muitos dos ex-combatentes. Um veterano, inadaptado, acaba por perder a noção da realidade e regressar à Guiné no parque de Monsanto.

AMILCAR CABRAL
Portugal, 2001
Realização: Ana Lúcia Ramos
Produção: Paulo de Sousa - Continental Filmes / RTP
Fotografia: José Brinco e Octávio Espírito Santo
Argumento: Ana Lúcia Ramos
Música: Celina Pereira
Som: Vasco Pedroso
SINOPSE:
Retrato simples e eficiente de Amílcar Cabral, o líder do processo de independência da Guiné-Bissau.

Guiné 63/74 - CXXXIX: Filmografia e videografia da Guerra Colonial - Guiné (1)

1. Texto do Jorge Santos (1º Gr. Fz., DFA, da Comp. Fuzileiros nº 4, Moçambique, Metangula, Cobué, 1968/70; página pessoal > "rapaziada da Tertúlia" possa completá-los. Logo que tenha mais, envio. Consultar a base de dados sobre o Cinema Português .


UM GRUPO DE TERRORISTAS ATACA
Inglaterra, 1964
Realização: John Sheppard
Produção: BBC
SINOPSE:
Uma reportagem realizada para a BBC, em 1964, que contribuiu para o despertar do mundo sobre a situação da guerra colonial que se travava nas matas da Guiné-Bissau, pela independência do país. A guerrilha p.d. teve início em Janeiro de 1963.

MISSÃO NA GUINÉ
Portugal, 1965
Realização: Luís Miranda
Produção: RTP / Serviço de Informação Pública das Forças Armadas

OPERAÇÃO MAR VERDE
Portugal, 197 (?)
Realização: Henrique Vasconcelos e Rui Araújo
Produção: RTC (Rádio Televisão Comercial)
Distribuição: RTC
SINOPSE:
Durante a guerra nas colónias o soldado português executou somente o seu dever. E um dos momentos em que melhor o executou terá sido durante a invasão e a ocupação da capital da Guiné-Conacri, em 22 de Novembro de 1970.

GUINÉ-BISSAU - INDEPENDÊNCIA
Portugal, 1977
Realização: António Escudeiro
Produção: Francisco de Castro
Fotografia.: António Escudeiro

ACTO DOS FEITOS DA GUINÉ
Portugal, 1980
Produção: Cinequipa
Realização: Fernando Matos Silva
Fotografia: José Luís Carvalhosa
Argumento: Fernando Matos Silva e Margarida Gouveia Fernandes
Música: Fausto
Som: Carlos Alberto Lopes
SINOPSE:
Ficção e realidade misturam-se neste filme, explicando a história da Guiné-Bissau, a colonização portuguesa e a luta de libertação nacional conduzida pelo PAIGC. Imagens reais de guerra e excertos de documentários cruzam-se com imagens e leituras do livro do século XVI História Trágico-Marítima, e textos inspirados pela guerra colonial, e com os pontos de vista ficcionados de personagens emblemáticos: o colono, o retornado, o guerrilheiro, o militar, o pide, o padre, o "descobridor".

MADINA DO BOÉ
Portugal, 1995
Realização: Manuel Costa e Silva, Manuel Tomás
Produção: Quimera do ouro; IPACA/ Estado-Maior do Exército
Fotografia: Rui Poças
Argumento: José Manuel Saraiva
Som: Vasco Barão
SINOPSE:
A operação de retirada de Madina de Boé vista por dois antigos oficiais do Exército Português, volvidos 25 anos, assim como por antigos guerrilheiros do PAIGC que estiveram directamente implicados. É o primeiro documentário sobre a guerra colonial que procura efectuar um levantamento histórico dos acontecimentos que levaram á morte de meia centenas de miliatres portugueses , na travessia do Corubal, no dia 6 de Fevereirod e 1968.( Vd. post de 2 de Agosto > Guiné 63/74 - CXXXIII: O desastre de Cheche, na retirada de Madina do Boé (6 de Fevereiro de 1969)

NINGUÉM NASCE SOLDADO
Portugal/Inglaterra, 1995
Realização: Jo Willems
Produção: Karen O´Brien - Dear Films
Fotografia: Glynn Speeckaert
Música: Vasco Martins
Som: Bart Van Den Bempt
SINOPSE:
As consequências da guerra colonial na população portuguesa, hoje. Três gerações que estiveram envolvidas na guerra: os próprios soldados, os seus pais e os seus filhos. Uma mãe fala do seu filho, morto na Guiné; dois soldados evocam o seu passado, falam do seu presente e do seu futuro; um filho de 25 anos, ainda aguarda o pai, soldado, que veio da guerra mas que nunca regressou ao seio da família.


ANOS DA GUERRA: Guiné 1963-1974
Portugal, 2000
Realização: José Barahona
Produção: Pedro Efe - Acetato / RTP


MONSANTO
Portugal, 2000
Realização: Ruy Guerra
Produção: Animatógrafo - SIC
Fotografia: José António Loureiro
Argumento: Vicente Alves do Ó
Música: Luís Cília
Som: Carlos Pinto
SINOPSE:
O filme centra a sua atenção no stresse pós-traumático que afecta muitos dos ex-combatentes. Um veterano, inadaptado, acaba por perder a noção da realidade e regressar à Guiné no parque de Monsanto.

AMILCAR CABRAL
Portugal, 2001
Realização: Ana Lúcia Ramos
Produção: Paulo de Sousa - Continental Filmes / RTP
Fotografia: José Brinco e Octávio Espírito Santo
Argumento: Ana Lúcia Ramos
Música: Celina Pereira
Som: Vasco Pedroso
SINOPSE:
Retrato simples e eficiente de Amílcar Cabral, o líder do processo de independência da Guiné-Bissau.

04 agosto 2005

Guiné 63/74 - CXXXVIII: Antologia (13): Manhã cedo, em Canhagina

1. Texto do A. Marques Lopes:

Caros camaradas:

Para intervalar nesta salutar polémica do quem disse o que disse, envio-vos alguns textos de um autor ainda desconhecido. Faz-nos recordar muitas das nossas vivências.

«...Manhã cedo em Canhagina. A bolanha! Quem diria que a bolanha é um pântano... Após os primeiros dias da época das chuvas é maravilhosa. Estávamos a 23 de Junho. Com uma precisão quase matemática, as chuvas começaram a cair aí por volta do dia 15. Do solo, da vegetação luxuriante desprende-se um vapor que paira sobre as águas e envolve o ambiente. É o calor acumulado durante o período seco. Há quem lhe chame cacimba e quem diga que é prejudicial à boa saúde das vias respiratórias... mas, aos 23 anos, não há cacimba que impeça os pulmões de respirar poesia. Se há coisas belas que eu tenho visto na minha vida, uma delas, é, sem dúvida, a bolanha da Guiné, cercada por palmeiras, cibos e tufos de capim.

" (...) A bicha de pirilau, ao longo de quase trezentos metros, pondo em relevo, na paisagem verde, todas as sinuosidades do antigo carreiro já quase totalmente coberto, movia-se como um réptil enorme, segmentado e escamoso. O silêncio profundo e agradavelmente sombrio da mata era apenas cortado pelo roçar das botas de lona e dos camuflados pelas ervas e folhagens que acompanhavam o carreiro. Ambiente para piqueniques e amor. Na hora em que o intenso sol tropical só conseguiu ainda afastar e diluir a luminosidade doentia libertada durante a noite por aquela vegetação farta de clorofila, mantinha-se o meio termo da frescura agradável que faz da Guiné um dos locais mais belos e repousantes às sete horas da manhã.

"(...) Enterrei os galões no sítio onde jazem tantas noites de amor africano. Achei que não me servia ali a Convenção de Genebra, que o meu futuro de prisioneiro seria melhor se não soubesse o meu posto... Estranho, agora, como é que fui assaltado por essa estúpida ideia de avaliar nesses termos a enrascada em que me encontrava.

"Ali, deitado sobre a terra, desejoso de nela me afundar, como quem dorme com mulher, deixei a minha condição humana. Ali fiquei, alapado como um coelho que segue os passos do caçador à espera do momento oportuno para fugir.

"Levantei a cabeça e espreitei por cima do capim alto. Tendo abandonado as suas posições de combate, os turras avançavam em linha ao longo da clareira, lançando rajadas curtas de costureirinhas e kalashs. Estou a vê-los, numa imagem de ocasião, sem saber ainda se é real se imaginária: fortes, atléticos mesmo, em passadas decididas, senhores da vitória. Despertou em mim o animal cujas reacções são comandadas pelo instinto de sobrevivência e, ao mesmo tempo, o animal especial que eu era: o animal domesticado que eu era para reagir a determinados sinais e estímulos. Mais do que um naturalista, estou agora apto a compreender todo o mecanismo de comportamento do animal encurralado por numerosos caçadores. Não há computador electrónico, por mais perfeito e programado, que consiga dar a solução tão acertada e rapidamente como o maquinismo instintivo da sobrevivência, aliado ao treino para reagir às mais variadas situações.»

2. Já dei os parabéns ao futuro autor de um best seller sobre a guerra da Guiné! O nosso jagudi anda inspirado, criativo e produtivo… Parabéns, coronel! ....Só não sei ainda onde fica Canhagina... ! Também não importa: fica-me a poderosa impressão de, como há trinta e tal anos, atravessar uma bolanha da Guiné... Sém dúvida: com a cacimba (substantivo feminino), às sete da manhã, era um dos lugares mais perturbantes e fascinantes do mundo... Não gostaria de morrer sem voltar a... Canhagima! ... Ou talvez não: estão a matar as bolanhas da Guiné, um dos lugares mais belos da terra. O assassino chama-se... caju. (L.G.).

Guiné 63/74 - CXXXVIII: Antologia (13): Manhã cedo, em Canhagina

1. Texto do A. Marques Lopes:

Caros camaradas:

Para intervalar nesta salutar polémica do quem disse o que disse, envio-vos alguns textos de um autor ainda desconhecido. Faz-nos recordar muitas das nossas vivências.

«...Manhã cedo em Canhagina. A bolanha! Quem diria que a bolanha é um pântano... Após os primeiros dias da época das chuvas é maravilhosa. Estávamos a 23 de Junho. Com uma precisão quase matemática, as chuvas começaram a cair aí por volta do dia 15. Do solo, da vegetação luxuriante desprende-se um vapor que paira sobre as águas e envolve o ambiente. É o calor acumulado durante o período seco. Há quem lhe chame cacimba e quem diga que é prejudicial à boa saúde das vias respiratórias... mas, aos 23 anos, não há cacimba que impeça os pulmões de respirar poesia. Se há coisas belas que eu tenho visto na minha vida, uma delas, é, sem dúvida, a bolanha da Guiné, cercada por palmeiras, cibos e tufos de capim.

" (...) A bicha de pirilau, ao longo de quase trezentos metros, pondo em relevo, na paisagem verde, todas as sinuosidades do antigo carreiro já quase totalmente coberto, movia-se como um réptil enorme, segmentado e escamoso. O silêncio profundo e agradavelmente sombrio da mata era apenas cortado pelo roçar das botas de lona e dos camuflados pelas ervas e folhagens que acompanhavam o carreiro. Ambiente para piqueniques e amor. Na hora em que o intenso sol tropical só conseguiu ainda afastar e diluir a luminosidade doentia libertada durante a noite por aquela vegetação farta de clorofila, mantinha-se o meio termo da frescura agradável que faz da Guiné um dos locais mais belos e repousantes às sete horas da manhã.

"(...) Enterrei os galões no sítio onde jazem tantas noites de amor africano. Achei que não me servia ali a Convenção de Genebra, que o meu futuro de prisioneiro seria melhor se não soubesse o meu posto... Estranho, agora, como é que fui assaltado por essa estúpida ideia de avaliar nesses termos a enrascada em que me encontrava.

"Ali, deitado sobre a terra, desejoso de nela me afundar, como quem dorme com mulher, deixei a minha condição humana. Ali fiquei, alapado como um coelho que segue os passos do caçador à espera do momento oportuno para fugir.

"Levantei a cabeça e espreitei por cima do capim alto. Tendo abandonado as suas posições de combate, os turras avançavam em linha ao longo da clareira, lançando rajadas curtas de costureirinhas e kalashs. Estou a vê-los, numa imagem de ocasião, sem saber ainda se é real se imaginária: fortes, atléticos mesmo, em passadas decididas, senhores da vitória. Despertou em mim o animal cujas reacções são comandadas pelo instinto de sobrevivência e, ao mesmo tempo, o animal especial que eu era: o animal domesticado que eu era para reagir a determinados sinais e estímulos. Mais do que um naturalista, estou agora apto a compreender todo o mecanismo de comportamento do animal encurralado por numerosos caçadores. Não há computador electrónico, por mais perfeito e programado, que consiga dar a solução tão acertada e rapidamente como o maquinismo instintivo da sobrevivência, aliado ao treino para reagir às mais variadas situações.»

2. Já dei os parabéns ao futuro autor de um best seller sobre a guerra da Guiné! O nosso jagudi anda inspirado, criativo e produtivo… Parabéns, coronel! ....Só não sei ainda onde fica Canhagina... ! Também não importa: fica-me a poderosa impressão de, como há trinta e tal anos, atravessar uma bolanha da Guiné... Sém dúvida: com a cacimba (substantivo feminino), às sete da manhã, era um dos lugares mais perturbantes e fascinantes do mundo... Não gostaria de morrer sem voltar a... Canhagima! ... Ou talvez não: estão a matar as bolanhas da Guiné, um dos lugares mais belos da terra. O assassino chama-se... caju. (L.G.).

Guiné 63/74 - CXXXVII: Antologia (12): Op Mar Verde

Trecho do livro de Alpoím Galvão De Conakry ao MDLP (1976), seleccionado por A. Marques Lopes (vd. post de 22 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXX: Bibliografia de uma guerra (9): a invasão de Conacri):

A LFG ORION fundeou a NW dos molhes de protecção do porto de Conakry. A maré estava completamente cheia, o vento era nulo, e apenas o clarão da cidade iluminava a noite. Os botes de assalto foram colocados na água e, pelas 00.45, a equipa Victor, do comando do 2.° tenente Rebordão de Brito e composta por 14 elementos, largou discretamente em direcção aos molhes. Encostou ao Dique Norte, localizou exactamente o objectivo e partiu ao ataque.

O grumete FZE Abu Camará eliminou silenciosamente a sentinela, o que permitiu a entrada a bordo das três vedetas P6, que se encontravam a N da ponte do cais bananeiro. Abertas as portas das cobertas foram lançadas granadas de mão ofensivas para o interior das mesmas neutralizando as guarnições. A equipa de assalto atravessou velozmente a ponte e invadiu os restantes navios: mais três vedetas e uma espécie de lancha de desembarque.

Entretanto soara o alarme no porto e o inimigo abriu fogo sobre os nossos elementos que, repetindo a técnica das granadas de mão, eliminaram os focos de resistência a bordo. Os incêndios ateados pelas granadas cresceram rapidamente e, em breve, de bordo da ORION, avistaram-se as bolas de fogo provenientes das explosões das lanchas.

A equipa Victor, que realizou o notabilíssimo trabalho, regressou a bordo pelas 02.10, com dois feridos ligeiros e sem a menor perda de material.

As LFG Dragão e Cassiopeia, transportando a equipa ZULU, fundearam em 5 metros de fundo, na pequena baía a N da península de Conakry, junto aos baixos de La Prudente, cerca das 00.15, a três milhas marítimas do local de abicagem.

Às 01.40 os botes (em número de 10) largaram dos navios. Houve, poucos momentos depois, um pequeno contratempo: alguns botes enrodilharam-se em várias redes de pesca, que não foram avistadas devido à escuridão da noite. Depois de aturado trabalho a desvencilhar os hélices, conseguiu-se o desembarque pelas 02.15.

A equipa dividiu-se em três elementos: o primeiro, comandado pelo 1° tenente Cunha e Silva, dirigiu-se imediatamente à prisão La Montaigne, onde, depois de violenta escaramuça, eliminou a respectiva guarda e libertou os 26 prisioneiros portugueses que lá se encontravam.

O segundo, comandado pelo sub-tenente Falcão Lucas seguiu para o grupo de objectivos do PAIGC. Neutralizou uma série de sentinelas, destruiu 5 edifícios do partido, seis viaturas e abateu vários militantes que se encontravam nas instalações.

Finalmente o terceiro, comandado pelo 2° tenente Benjamim Abreu, encarregou-se do Campo das Milícias e da Villa Silly, residência secundária de Sekou Touré. Com uma decisão notável, o pequeno grupo (22 homens), forçou a entrada do Campo, esmagou a débil estrutura que se começou a formar e, à granada de mão, à bazucada e com bem dirigidas rajadas de metralhadora, pôs fora de combate cerca de 60 milicianos que guarneciam as duas casernas existentes. Prevendo que a guarda da casa de Sekou Touré, tivesse acorrido à defesa dos dois portões de entrada da propriedade, o tenente Benjamim resolveu saltar o muro que separava os dois objectivos e pôde assim, colhendo-a de supresa, eliminar a referida guarda. Sekou Touré ainda não chegara a casa: o quarto de dormir, a cama, impecavelmente aberta, aguardava o ditador Guineense! Incendiado o objectivo, o grupo retirou-se a fim de se juntar ao resto da equipa, o que conseguiu pelas quatro da manhã.

Passou a equipa ZULU a constituir a reserva de manobra do Comandante da operação.
Da LDG Montante, partiram as equipas OSCAR, ÍNDIA e MIK. A primeira, seguiu em botes de borracha conduzidos por pessoal do navio e abicou ao Quartel da Guarda Republicana, pelas 01.35. Para o desembarque das outras duas, a Montante, num alarde de boa manobra, abicou pelas 01.40 ao molhe Yatch Club!

A equipa OSCAR, constituída por efectivos nossos do Front (total 40 homens) e encabeçada pelos alferes Ferreira e Tomás Camará, dirigiu-se discretamente para o portão da entrada. O alferes Ferreira temerariamente tentou dominar a sentinela, a qual se refugiou na casa da guarda. O alferes, ao tentar persegui-lo, foi abatido na soleira da porta por dois homens que se encontravam no interior, os quais abriram nutrido fogo sobre os assaltantes. Valeu a decisão e coragem do furriel de comandos Marcelino da Mata: mergulhou através da janela e na confusão de vidros partidos e cadeiras caídas, etc., abateu os oponentes com uma rajada de AK-47.

O grupo entrou de rompante pelo recinto, colocando-se em posição de enfiar a saída das casernas, enquanto alguns homens corriam para a armaria. Apanhados de supresa, os guardas republicanos tentaram sair das casernas mas foram abatidos na maioria perdendo-se os outros na escuridão da noite.

Ocupado o campo, abriram-se as portas da prisão onde foram encontrados cerca de 400 presos políticos, que retomaram a liberdade no meio de grandes manifestações de alegria (ver relato do Capitão Abou Sommah, ocupante da cela n.° 37). Fez-se em seguida a entrega do campo às forças do FNLG (20 homens), na pessoa do chefe Barry Ibrahima, conhecido por BARRY III e cujas qualidades o tinham feito estimar por todos quantos com ele contactaram.

A equipa ÍNDIA (10 homens, furriel Demda Seca e Thiam do FLNG) atravessou a linha de caminho de ferro de Conakry – Fria e dirigiu-se para a Central. Observou a existência de quatro portas com sentinelas. Eliminou duas, prendeu o encarregado da central e obrigou-o a cortar a luz da cidade. Eram 02.15. Esta acção era primordial para o efeito psicológico que se pretendia obter. O seu sucesso contribuiu bastante para a desorientação verificada.

A equipa MIKE (50 homens) tinha por objectivo o Campo Militar Samory. Em marcha acelerada percorreu o quilómetro que a separava do alvo. Desarmou as sentinelas que estavam nos portões e ocupou o recinto sem efusão de sangue. A tarefa seguinte constituiu em bazucar e destruir os veículos que vinham para o campo carregados de pessoal: foram assim destruídas 16 viaturas com algumas dezenas de soldados. Deitou-se fogo aos edifícios do Estado-Maior e, não havendo mais resistência, a equipa dividiu-se em duas: uma, com o Alferes Sisseco (ferido na boca), que conduziu os nossos elementos feridos para o molhe do Yatch Club; a outra, com o coronel do FNLG DIALLO, o Comandante Assad e o jornalista do JEUNE AFRIQUE Siradiou Diallo, seguiu a ligar-se à equipa ÍNDIA. Por um acaso infeliz os rádios da equipa MIKE ficaram quase imediatamente fora de acção, o que obrigava a contactos directos com os outros grupos para saber o que se passava.

A LDG BOMBARDA, do comando do cap. ten. Aguiar de Jesus, cuja calma imperturbável era demonstrada pela descontracção como fumava o inseparável cigarrinho na extremidade duma já velha boquilha, pelas 01.00 pairava a 300 jardas a sul da praia Peronné. As 01.05, largaram de bordo dois botes com a equipa HOTEL, encarregada de se apossar da Emissora de Boulbinet.

Esta equipa, comandada pelo Alferes Jamanca e tendo como assessor do FNLG o engenheiro electrónico Tidiane Diallo, actuou de forma bizarra. O alferes Jamanca dera boas provas ao longo de 7 anos de campanha. Mas inexplicavelmente, depois de desembarcar junto do objectivo ou por desorientação do engenheiro Diallo, conhecedor do local, ou por indecisão do alferes, o facto é que os dez homens da equipa HOTEL ficaram agarrados ao local de desembarque até receberem ordem para retirar!

Entretanto, e em duas vagas de botes de borracha, desembarcaram as restantes equipas: ALFA, BRAVO, CHARLIE, DELTA, ECHO, FOXTROT e GOLF. Passada a desorientação inicial devida à escuridão provocada pelo corte de luz e por se estar numa cidade desconhecida, estas equipas, compostas por elementos da CCCA e do FNLG — cujos guias nem sempre se mostravam à altura da situação — seguiram para os objectivos e neutralizaram os meios importantes.

Apenas na Gendarmerie se encontrou resistência de vulto. Como a equipa ECHO (reforçada com a GOLF, BRAVO e DELTA, num total de 50 homens) demorou mais que o previsto a reagrupar o pessoal, ao chegar ao alvo que lhe estava destinado, verificou que uma coluna blindada se preparava para sair. O Capitão João Bacar, que comandava a equipa, atacou as viaturas com decisão, destruindo quatro e causando elevado número de baixas. A guarda do Palácio Presidencial, ao ver chegar os dez homens da equipa ALFA, debandou em grande velocidade deixando aos assaltantes o problema de revistar um edifício tão grande e que se encontrava vazio!

Finalmente, a LFG HIDRA (1° tenente Fialho Goes), aproximou-se, depois duma hábil navegação, do local de desembarque da equipa Sierra (capitão pára Morais), pairando pelas 212330, com dois metros de fundo. Em 220015, os botes largaram do navio, com rumo ao local de desembarque, sob o comando do guarda-marinha Centeno, imediato da HIDRA. As três milhas demoraram uma hora a percorrer e só pelas 01.30 se conseguiu desembarcar.

A equipa Sierra era composta por:

a) Elementos nacionais.

Cap. Lopes Morais
2° Sarg. mi/, comando Teixeira

Formação do comando
1.°s cabos paras Duarte, Morais
Tenente Januário, com 9 homens do seu pelotão
Alferes Justo, com 24 homens do seu pelotão.

b) Elementos do FNLG

Sub-Lieutenant Boiro, com cinco homens, sendo um, de nome Mamadu Balde, antigo controlador de circulação aérea no Aeroporto de Conakry.

Iniciou a progressão em direcção ao campo e antes de o atingir foi surpreendido pelo som dos rebentamentos que se iam ouvindo na cidade. O Cap. Morais, apesar de uma lesão num joelho contraída recentemente num salto de pára-quedas, forçou a marcha, mas sentindo uma certa resistência ao movimento na retaguarda, mandou um dos seus homens tentar a ligação e verificou com espanto que o tenente Januário e cerca de 20 homens tinham desaparecido.

"...A partir daquela altura só uma coisa importava já: localizar os MIG e destruí-los; dirigi-me ao local, mas não estavam; entretanto, no campo Alpha Ya-Ya, ouviam-se toques de clarins e ruídos fortes de motores a trabalhar;por me ressentir do joelho fiquei com três homens a meio do taxi-way e ordenei ao Alf. Justo e 2.° Sarg. Teixeira para irem procurar os MIG; voltaram vinte minutos depois, informando-me que no fim da pista estavam 3 aviões de hélice já velhos e que havia outra pista ao lado da principal e em terra batida, mas nada de MIG. Voltei para trás e aproximei-me da placa; nessa altura ouvia-se um toque prolongado de sino no aeroporto seguindo-se-lhe, passados alguns minutos, toques de apitos, calculo que por motivo da chegada dos pescadores a terra. Na placa havia seis aviões: 2 Caravelle, que o Ten. Boiro identificou pertencerem à Companhia AIR AFRIQUE e 4 aviões bi-motores, de asa alta, tipo Fokker F-27. O Alf. Justo quis ir destruí-los, mas não autorizei. Entretanto chegou uma viatura pesada que me pareceu uma auto-metralhadora; nos hangares que estavam abertos e iluminados não havia aviões" (do relatório do Capitão Morais).

Desde as duas da manhã que o comandante do T. G. tinha conhecimento da deserção do ten. Januário (msg. enviada pelo Grupo SIERRA — "O filho da puta do tenente fugiu com 20 dos meus homens. Traiu-me miseravelmente"). Embarcada a equipa VICTOR, a ORION levantou ferro, seguindo a toda a força para junto da BOMBARDA e HIDRA. Era necessário desembarcar a equipa PAPA, destinada a cortar o istmo que separa Conakry l de Conakry II.

O CTG 2 passou em bote de borracha para a BOMBARDA a fim de, face à evolução da situação, accionar a equipa PAPA.

Às 02.30 recebera comunicação da HIDRA de que a equipa SIERRA não tinha encontrado os MIG. Pelas 03.00 algumas notícias colhidas junto de prisioneiros em terra afirmavam que os MIG tinham sido enviados para Labé, no dia 20, devido a uma remodelação ministerial no Governo de Conakry! Havia ainda a hipótese de se conseguir capturar Sekou Touré. Às 04.00, CGT 2 teve conhecimentos que o Presidente não fora visto nem na Villa Silly nem no Palácio Presidencial. Mandou suster o desembarque da equipa PAPA, quando a BOMBARDA já manobrava para tomar posição, e fez o ponto.

"Pelas 04.30, a situação apresentava-se da seguinte maneira:

— Objectivos PAIGC atingidos em boa parte.
— Domínio no mar, assegurado.
— Domínio em terra, ainda em disputa, mas com forte possibilidade de sucesso.
— Presidente Sekou Touré — não encontrado.
— Domínio no ar — não assegurado.

"Este factor pesou fundamentalmente no meu julgamento pois, dali em diante, a minha única preocupação foi deixar o menor número de provas documentais da nossa actividade. A possibilidade de afundamento dum navio nas águas de Conakry era de evitar a todo o custo. Mandei, pois, reembarcar todo o pessoal que compareceu nos locais para isso designados em caso de insucesso".(Do relatório de CTG 27.2).

A LFG HIDRA, que reembarcara a equipa SIERRA foi mandada pairar na posição uma milha a sul do farol de Boulbinet. Às 04.40, a LDG BOMBARDA iniciou a tarefa, pela equipa HOTEL e terminou-a às 05.30, deixando dois botes para o grupo ALFA, que foi recolhido pela ORION, onde já se encontrava novamente o CTG 2. Às 06.00 deu-se ordem à BOMBARDA e ORION para constituírem a T.U. 27.2.1., seguindo para sul da ilha de Kassa onde, às 07.10, meteu ao Rv-180° durante uma hora, em diversão.

Navegou depois independentemente, tendo às 13.35, recebido indicação para aguardar o resto da TG 27-2 em Orango.

O problema do reembarque na parte norte do T.O. Parâmetros mais delicados devido ao baixa-mar. Além disso, o Sol já iluminava perfeitamente o terreno e uma grande multidão, que vitoriava ruidosamente as equipas que actuaram em terra, aglomerava-se agora junto aos locais de reembarque.

A MONTANTE colocou-se a 1.000 jardas de terra e, com o auxílio dos botes das LFG, foi reembarcado o pessoal, com excepção dos elementos do FNLG que quiseram continuar em terra. De terra, às 07.40, duma posição junto ao Palácio do Povo fizeram quatro disparos de morteiro de 82 sobre a MONTANTE, muito mal regulados. O navio e a DRAGÃO que se interpôs a fazer de escudo ao pessoal que reembarcava, calaram a boca de fogo com alguns tiros de intimidação. Às 08.05, a DRAGÃO encostou à ORION para receber material de transfusão de sangue, pois o 1° tenente MR Hélder Romero necessitava dele para o tratamento dos feridos e transbordou o sargento aviador Lobato, que se encontrava prisioneiro há 7 anos!

Desde o romper do dia que a força naval se achava no mais alto grau de prontidão anti-aérea. Quando, pelas 09.00, se deu por terminado o reembarque, já havia ordem para formar em losango, dispositivo que foi executado às 10.30, ao rumo base 240.°
O regresso fez-se sem incidentes, fundeando-se em Soga em 231625.

Terminada a operação, que custou ao inimigo mais de 500 baixas, desfez-se a TG 27.2.

Guiné 63/74 - CXXXVII: Antologia (12): Op Mar Verde

Trecho do livro de Alpoím Galvão De Conakry ao MDLP (1976), seleccionado por A. Marques Lopes (vd. post de 22 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXX: Bibliografia de uma guerra (9): a invasão de Conacri):

A LFG ORION fundeou a NW dos molhes de protecção do porto de Conakry. A maré estava completamente cheia, o vento era nulo, e apenas o clarão da cidade iluminava a noite. Os botes de assalto foram colocados na água e, pelas 00.45, a equipa Victor, do comando do 2.° tenente Rebordão de Brito e composta por 14 elementos, largou discretamente em direcção aos molhes. Encostou ao Dique Norte, localizou exactamente o objectivo e partiu ao ataque.

O grumete FZE Abu Camará eliminou silenciosamente a sentinela, o que permitiu a entrada a bordo das três vedetas P6, que se encontravam a N da ponte do cais bananeiro. Abertas as portas das cobertas foram lançadas granadas de mão ofensivas para o interior das mesmas neutralizando as guarnições. A equipa de assalto atravessou velozmente a ponte e invadiu os restantes navios: mais três vedetas e uma espécie de lancha de desembarque.

Entretanto soara o alarme no porto e o inimigo abriu fogo sobre os nossos elementos que, repetindo a técnica das granadas de mão, eliminaram os focos de resistência a bordo. Os incêndios ateados pelas granadas cresceram rapidamente e, em breve, de bordo da ORION, avistaram-se as bolas de fogo provenientes das explosões das lanchas.

A equipa Victor, que realizou o notabilíssimo trabalho, regressou a bordo pelas 02.10, com dois feridos ligeiros e sem a menor perda de material.

As LFG Dragão e Cassiopeia, transportando a equipa ZULU, fundearam em 5 metros de fundo, na pequena baía a N da península de Conakry, junto aos baixos de La Prudente, cerca das 00.15, a três milhas marítimas do local de abicagem.

Às 01.40 os botes (em número de 10) largaram dos navios. Houve, poucos momentos depois, um pequeno contratempo: alguns botes enrodilharam-se em várias redes de pesca, que não foram avistadas devido à escuridão da noite. Depois de aturado trabalho a desvencilhar os hélices, conseguiu-se o desembarque pelas 02.15.

A equipa dividiu-se em três elementos: o primeiro, comandado pelo 1° tenente Cunha e Silva, dirigiu-se imediatamente à prisão La Montaigne, onde, depois de violenta escaramuça, eliminou a respectiva guarda e libertou os 26 prisioneiros portugueses que lá se encontravam.

O segundo, comandado pelo sub-tenente Falcão Lucas seguiu para o grupo de objectivos do PAIGC. Neutralizou uma série de sentinelas, destruiu 5 edifícios do partido, seis viaturas e abateu vários militantes que se encontravam nas instalações.

Finalmente o terceiro, comandado pelo 2° tenente Benjamim Abreu, encarregou-se do Campo das Milícias e da Villa Silly, residência secundária de Sekou Touré. Com uma decisão notável, o pequeno grupo (22 homens), forçou a entrada do Campo, esmagou a débil estrutura que se começou a formar e, à granada de mão, à bazucada e com bem dirigidas rajadas de metralhadora, pôs fora de combate cerca de 60 milicianos que guarneciam as duas casernas existentes. Prevendo que a guarda da casa de Sekou Touré, tivesse acorrido à defesa dos dois portões de entrada da propriedade, o tenente Benjamim resolveu saltar o muro que separava os dois objectivos e pôde assim, colhendo-a de supresa, eliminar a referida guarda. Sekou Touré ainda não chegara a casa: o quarto de dormir, a cama, impecavelmente aberta, aguardava o ditador Guineense! Incendiado o objectivo, o grupo retirou-se a fim de se juntar ao resto da equipa, o que conseguiu pelas quatro da manhã.

Passou a equipa ZULU a constituir a reserva de manobra do Comandante da operação.
Da LDG Montante, partiram as equipas OSCAR, ÍNDIA e MIK. A primeira, seguiu em botes de borracha conduzidos por pessoal do navio e abicou ao Quartel da Guarda Republicana, pelas 01.35. Para o desembarque das outras duas, a Montante, num alarde de boa manobra, abicou pelas 01.40 ao molhe Yatch Club!

A equipa OSCAR, constituída por efectivos nossos do Front (total 40 homens) e encabeçada pelos alferes Ferreira e Tomás Camará, dirigiu-se discretamente para o portão da entrada. O alferes Ferreira temerariamente tentou dominar a sentinela, a qual se refugiou na casa da guarda. O alferes, ao tentar persegui-lo, foi abatido na soleira da porta por dois homens que se encontravam no interior, os quais abriram nutrido fogo sobre os assaltantes. Valeu a decisão e coragem do furriel de comandos Marcelino da Mata: mergulhou através da janela e na confusão de vidros partidos e cadeiras caídas, etc., abateu os oponentes com uma rajada de AK-47.

O grupo entrou de rompante pelo recinto, colocando-se em posição de enfiar a saída das casernas, enquanto alguns homens corriam para a armaria. Apanhados de supresa, os guardas republicanos tentaram sair das casernas mas foram abatidos na maioria perdendo-se os outros na escuridão da noite.

Ocupado o campo, abriram-se as portas da prisão onde foram encontrados cerca de 400 presos políticos, que retomaram a liberdade no meio de grandes manifestações de alegria (ver relato do Capitão Abou Sommah, ocupante da cela n.° 37). Fez-se em seguida a entrega do campo às forças do FNLG (20 homens), na pessoa do chefe Barry Ibrahima, conhecido por BARRY III e cujas qualidades o tinham feito estimar por todos quantos com ele contactaram.

A equipa ÍNDIA (10 homens, furriel Demda Seca e Thiam do FLNG) atravessou a linha de caminho de ferro de Conakry – Fria e dirigiu-se para a Central. Observou a existência de quatro portas com sentinelas. Eliminou duas, prendeu o encarregado da central e obrigou-o a cortar a luz da cidade. Eram 02.15. Esta acção era primordial para o efeito psicológico que se pretendia obter. O seu sucesso contribuiu bastante para a desorientação verificada.

A equipa MIKE (50 homens) tinha por objectivo o Campo Militar Samory. Em marcha acelerada percorreu o quilómetro que a separava do alvo. Desarmou as sentinelas que estavam nos portões e ocupou o recinto sem efusão de sangue. A tarefa seguinte constituiu em bazucar e destruir os veículos que vinham para o campo carregados de pessoal: foram assim destruídas 16 viaturas com algumas dezenas de soldados. Deitou-se fogo aos edifícios do Estado-Maior e, não havendo mais resistência, a equipa dividiu-se em duas: uma, com o Alferes Sisseco (ferido na boca), que conduziu os nossos elementos feridos para o molhe do Yatch Club; a outra, com o coronel do FNLG DIALLO, o Comandante Assad e o jornalista do JEUNE AFRIQUE Siradiou Diallo, seguiu a ligar-se à equipa ÍNDIA. Por um acaso infeliz os rádios da equipa MIKE ficaram quase imediatamente fora de acção, o que obrigava a contactos directos com os outros grupos para saber o que se passava.

A LDG BOMBARDA, do comando do cap. ten. Aguiar de Jesus, cuja calma imperturbável era demonstrada pela descontracção como fumava o inseparável cigarrinho na extremidade duma já velha boquilha, pelas 01.00 pairava a 300 jardas a sul da praia Peronné. As 01.05, largaram de bordo dois botes com a equipa HOTEL, encarregada de se apossar da Emissora de Boulbinet.

Esta equipa, comandada pelo Alferes Jamanca e tendo como assessor do FNLG o engenheiro electrónico Tidiane Diallo, actuou de forma bizarra. O alferes Jamanca dera boas provas ao longo de 7 anos de campanha. Mas inexplicavelmente, depois de desembarcar junto do objectivo ou por desorientação do engenheiro Diallo, conhecedor do local, ou por indecisão do alferes, o facto é que os dez homens da equipa HOTEL ficaram agarrados ao local de desembarque até receberem ordem para retirar!

Entretanto, e em duas vagas de botes de borracha, desembarcaram as restantes equipas: ALFA, BRAVO, CHARLIE, DELTA, ECHO, FOXTROT e GOLF. Passada a desorientação inicial devida à escuridão provocada pelo corte de luz e por se estar numa cidade desconhecida, estas equipas, compostas por elementos da CCCA e do FNLG — cujos guias nem sempre se mostravam à altura da situação — seguiram para os objectivos e neutralizaram os meios importantes.

Apenas na Gendarmerie se encontrou resistência de vulto. Como a equipa ECHO (reforçada com a GOLF, BRAVO e DELTA, num total de 50 homens) demorou mais que o previsto a reagrupar o pessoal, ao chegar ao alvo que lhe estava destinado, verificou que uma coluna blindada se preparava para sair. O Capitão João Bacar, que comandava a equipa, atacou as viaturas com decisão, destruindo quatro e causando elevado número de baixas. A guarda do Palácio Presidencial, ao ver chegar os dez homens da equipa ALFA, debandou em grande velocidade deixando aos assaltantes o problema de revistar um edifício tão grande e que se encontrava vazio!

Finalmente, a LFG HIDRA (1° tenente Fialho Goes), aproximou-se, depois duma hábil navegação, do local de desembarque da equipa Sierra (capitão pára Morais), pairando pelas 212330, com dois metros de fundo. Em 220015, os botes largaram do navio, com rumo ao local de desembarque, sob o comando do guarda-marinha Centeno, imediato da HIDRA. As três milhas demoraram uma hora a percorrer e só pelas 01.30 se conseguiu desembarcar.

A equipa Sierra era composta por:

a) Elementos nacionais.

Cap. Lopes Morais
2° Sarg. mi/, comando Teixeira

Formação do comando
1.°s cabos paras Duarte, Morais
Tenente Januário, com 9 homens do seu pelotão
Alferes Justo, com 24 homens do seu pelotão.

b) Elementos do FNLG

Sub-Lieutenant Boiro, com cinco homens, sendo um, de nome Mamadu Balde, antigo controlador de circulação aérea no Aeroporto de Conakry.

Iniciou a progressão em direcção ao campo e antes de o atingir foi surpreendido pelo som dos rebentamentos que se iam ouvindo na cidade. O Cap. Morais, apesar de uma lesão num joelho contraída recentemente num salto de pára-quedas, forçou a marcha, mas sentindo uma certa resistência ao movimento na retaguarda, mandou um dos seus homens tentar a ligação e verificou com espanto que o tenente Januário e cerca de 20 homens tinham desaparecido.

"...A partir daquela altura só uma coisa importava já: localizar os MIG e destruí-los; dirigi-me ao local, mas não estavam; entretanto, no campo Alpha Ya-Ya, ouviam-se toques de clarins e ruídos fortes de motores a trabalhar;por me ressentir do joelho fiquei com três homens a meio do taxi-way e ordenei ao Alf. Justo e 2.° Sarg. Teixeira para irem procurar os MIG; voltaram vinte minutos depois, informando-me que no fim da pista estavam 3 aviões de hélice já velhos e que havia outra pista ao lado da principal e em terra batida, mas nada de MIG. Voltei para trás e aproximei-me da placa; nessa altura ouvia-se um toque prolongado de sino no aeroporto seguindo-se-lhe, passados alguns minutos, toques de apitos, calculo que por motivo da chegada dos pescadores a terra. Na placa havia seis aviões: 2 Caravelle, que o Ten. Boiro identificou pertencerem à Companhia AIR AFRIQUE e 4 aviões bi-motores, de asa alta, tipo Fokker F-27. O Alf. Justo quis ir destruí-los, mas não autorizei. Entretanto chegou uma viatura pesada que me pareceu uma auto-metralhadora; nos hangares que estavam abertos e iluminados não havia aviões" (do relatório do Capitão Morais).

Desde as duas da manhã que o comandante do T. G. tinha conhecimento da deserção do ten. Januário (msg. enviada pelo Grupo SIERRA — "O filho da puta do tenente fugiu com 20 dos meus homens. Traiu-me miseravelmente"). Embarcada a equipa VICTOR, a ORION levantou ferro, seguindo a toda a força para junto da BOMBARDA e HIDRA. Era necessário desembarcar a equipa PAPA, destinada a cortar o istmo que separa Conakry l de Conakry II.

O CTG 2 passou em bote de borracha para a BOMBARDA a fim de, face à evolução da situação, accionar a equipa PAPA.

Às 02.30 recebera comunicação da HIDRA de que a equipa SIERRA não tinha encontrado os MIG. Pelas 03.00 algumas notícias colhidas junto de prisioneiros em terra afirmavam que os MIG tinham sido enviados para Labé, no dia 20, devido a uma remodelação ministerial no Governo de Conakry! Havia ainda a hipótese de se conseguir capturar Sekou Touré. Às 04.00, CGT 2 teve conhecimentos que o Presidente não fora visto nem na Villa Silly nem no Palácio Presidencial. Mandou suster o desembarque da equipa PAPA, quando a BOMBARDA já manobrava para tomar posição, e fez o ponto.

"Pelas 04.30, a situação apresentava-se da seguinte maneira:

— Objectivos PAIGC atingidos em boa parte.
— Domínio no mar, assegurado.
— Domínio em terra, ainda em disputa, mas com forte possibilidade de sucesso.
— Presidente Sekou Touré — não encontrado.
— Domínio no ar — não assegurado.

"Este factor pesou fundamentalmente no meu julgamento pois, dali em diante, a minha única preocupação foi deixar o menor número de provas documentais da nossa actividade. A possibilidade de afundamento dum navio nas águas de Conakry era de evitar a todo o custo. Mandei, pois, reembarcar todo o pessoal que compareceu nos locais para isso designados em caso de insucesso".(Do relatório de CTG 27.2).

A LFG HIDRA, que reembarcara a equipa SIERRA foi mandada pairar na posição uma milha a sul do farol de Boulbinet. Às 04.40, a LDG BOMBARDA iniciou a tarefa, pela equipa HOTEL e terminou-a às 05.30, deixando dois botes para o grupo ALFA, que foi recolhido pela ORION, onde já se encontrava novamente o CTG 2. Às 06.00 deu-se ordem à BOMBARDA e ORION para constituírem a T.U. 27.2.1., seguindo para sul da ilha de Kassa onde, às 07.10, meteu ao Rv-180° durante uma hora, em diversão.

Navegou depois independentemente, tendo às 13.35, recebido indicação para aguardar o resto da TG 27-2 em Orango.

O problema do reembarque na parte norte do T.O. Parâmetros mais delicados devido ao baixa-mar. Além disso, o Sol já iluminava perfeitamente o terreno e uma grande multidão, que vitoriava ruidosamente as equipas que actuaram em terra, aglomerava-se agora junto aos locais de reembarque.

A MONTANTE colocou-se a 1.000 jardas de terra e, com o auxílio dos botes das LFG, foi reembarcado o pessoal, com excepção dos elementos do FNLG que quiseram continuar em terra. De terra, às 07.40, duma posição junto ao Palácio do Povo fizeram quatro disparos de morteiro de 82 sobre a MONTANTE, muito mal regulados. O navio e a DRAGÃO que se interpôs a fazer de escudo ao pessoal que reembarcava, calaram a boca de fogo com alguns tiros de intimidação. Às 08.05, a DRAGÃO encostou à ORION para receber material de transfusão de sangue, pois o 1° tenente MR Hélder Romero necessitava dele para o tratamento dos feridos e transbordou o sargento aviador Lobato, que se encontrava prisioneiro há 7 anos!

Desde o romper do dia que a força naval se achava no mais alto grau de prontidão anti-aérea. Quando, pelas 09.00, se deu por terminado o reembarque, já havia ordem para formar em losango, dispositivo que foi executado às 10.30, ao rumo base 240.°
O regresso fez-se sem incidentes, fundeando-se em Soga em 231625.

Terminada a operação, que custou ao inimigo mais de 500 baixas, desfez-se a TG 27.2.

Guiné 63/74 - CXXXVI: Informação & Propaganda: de que lado estava a verdade ? (3)

1. Ainda sobre as "histórias do outro lado" (artigo de Marinho Neves, publicado no Notícias Magazine, de 24 de Abril de 1994)... O Sousa da Castro fez-nos chegar um outro excerto. É sobre a invasão pelas tropas portuguesas à cidade de CONAKRY

"A versão vista pelo prisma do PAIGC, contada pelo comandante Mateus Correia do PAIGC, diz assim:

"Mateus Correia estava em Conakry quando as tropas portuguesas invadiram aquela cidade em 22 de Novembro de 1970, sob o comando de Alpoim Calvão e, a sua versão, vista pelo prisma do PAIGC, tem outros contornos:

- Os portugueses tinham informação do local onde estavam os seus prisioneiros e a sua primeira acção foi libertá-los. Entre eles estava o major-aviador António Lobato.
E acrescentou:

- Muito antes do embarque tivemos acesso à informação de que Alpoim Calvão circulava livremente por Conakry com a cobertura de alguns pides e elementos ligados à oposição de Sekou Touré.

2. Comentário do A. Marques Lopes:

O comandante Mateus Correia teve, naturalmente, uma visão parcelar dessa operação. O que se passou conta Alpoim Calvão em várias páginas do seu livro De Conakry ao MDLP (ver texto que se publica a seguir: vd. Guiné 63/74 - CXXXVII: Antologia (12): Op Mar Verde ), e creio que ele diz a verdade, pois escreve na base do relatório que fez dessa operação.

E o sargento piloto-aviador António Lourenço Sousa Lobato [que esteve em cativeiro durante sete anos, experiência que mais tarde irá relatar em livro] só foi promovido a major depois da sua libertação e depois de muito esforço seu.

Quanto aos militares da CART 1690 que não compareceram entre os 26 libertados (1):

(i) o Luís dos Santos Marques (2) terá morrido depois de uma tareia que lhe deram na prisão, segundo o actual major Lobato;
(ii) o João da Costa Sousa [,soldado,] "passou-se" e terá mesmo feito campanha contra a guerra na rádio Voz da Liberdade, em Argel;
(iii) o Francisco Gomes da Silva e o Armindo Correia Paulino [,soldados,] morreram de cólera.

______

Nota de M.L.:

(1) Dos 26 prisioneiros libertados, 8 eram da CART 1690: o fur. mil. João N. Vaz; os 1ºs cabos José M.M. Duarte (residente em Amarante), e José S. Morais; os soldados Domingos N. Costa (residente em Braga), António A. Duarte (Carriço)(residente em Barreiros - Amor), David N. Pedras, José S. Teixeira, Luís S.A.A. Vieira.

Guiné 63/74 - CXXXVI: Informação & Propaganda: de que lado estava a verdade ? (3)

1. Ainda sobre as "histórias do outro lado" (artigo de Marinho Neves, publicado no Notícias Magazine, de 24 de Abril de 1994)... O Sousa da Castro fez-nos chegar um outro excerto. É sobre a invasão pelas tropas portuguesas à cidade de CONAKRY

"A versão vista pelo prisma do PAIGC, contada pelo comandante Mateus Correia do PAIGC, diz assim:

"Mateus Correia estava em Conakry quando as tropas portuguesas invadiram aquela cidade em 22 de Novembro de 1970, sob o comando de Alpoim Calvão e, a sua versão, vista pelo prisma do PAIGC, tem outros contornos:

- Os portugueses tinham informação do local onde estavam os seus prisioneiros e a sua primeira acção foi libertá-los. Entre eles estava o major-aviador António Lobato.
E acrescentou:

- Muito antes do embarque tivemos acesso à informação de que Alpoim Calvão circulava livremente por Conakry com a cobertura de alguns pides e elementos ligados à oposição de Sekou Touré.

2. Comentário do A. Marques Lopes:

O comandante Mateus Correia teve, naturalmente, uma visão parcelar dessa operação. O que se passou conta Alpoim Calvão em várias páginas do seu livro De Conakry ao MDLP (ver texto que se publica a seguir: vd. Guiné 63/74 - CXXXVII: Antologia (12): Op Mar Verde ), e creio que ele diz a verdade, pois escreve na base do relatório que fez dessa operação.

E o sargento piloto-aviador António Lourenço Sousa Lobato [que esteve em cativeiro durante sete anos, experiência que mais tarde irá relatar em livro] só foi promovido a major depois da sua libertação e depois de muito esforço seu.

Quanto aos militares da CART 1690 que não compareceram entre os 26 libertados (1):

(i) o Luís dos Santos Marques (2) terá morrido depois de uma tareia que lhe deram na prisão, segundo o actual major Lobato;
(ii) o João da Costa Sousa [,soldado,] "passou-se" e terá mesmo feito campanha contra a guerra na rádio Voz da Liberdade, em Argel;
(iii) o Francisco Gomes da Silva e o Armindo Correia Paulino [,soldados,] morreram de cólera.

______

Nota de M.L.:

(1) Dos 26 prisioneiros libertados, 8 eram da CART 1690: o fur. mil. João N. Vaz; os 1ºs cabos José M.M. Duarte (residente em Amarante), e José S. Morais; os soldados Domingos N. Costa (residente em Braga), António A. Duarte (Carriço)(residente em Barreiros - Amor), David N. Pedras, José S. Teixeira, Luís S.A.A. Vieira.

Guiné 63/74 - CXXXV: Informação & propaganda: de que lado estava a verdade ? (2)

1. Mensagem do Vitor Junqueira, que foi alferes miliciano da CCAÇ 2753, em Mansambá (1970/72).


Amigos e camaradas;

Recorrendo à minha memória e a documentos classificados de então, que ainda hoje guardo religiosamente, estou em condições de assegurar que a transcrição de um comunicado oficial da época que o Afonso Sousa nos facultou, corresponde em absoluto à verdade.

Fui testemunha presencial de alguns dos factos referidos no comunicado. Entre eles vi elementos IN capturados e muito material apreendido. Outros há que me abstenho de relatar dada a sua natureza chocante.

Participei nesta operação emboscando nos dias 19, 20, 21 e 22 de Dezembro de 1971, na região de Madina Fula que era considerada uma das possívei vias de fuga dos guerrilheiros do PAIGC sob grande pressão nas suas bases do Morés. O IN sofreu nesta operação [Safira Solitária] um dos revezes mais brutais, tendo a sua estrutura naquela zona ficado afectada durante muito tempo.

Glória aos Heróis Tenente Saegue, Sargento Loma, Alferes Tomás, [dos Comandos Africanos] e outros que conheci, guineenses orgulhosamente portugueses, cobardemente assassinados no Cumeré.

Morte a todos os embusteiros, traidores e oportunistas que durante os últimos trinta anos tudo têm feito para desonrar as Forças Armadas Portuguesas e os ex-combatentes.

2. Ainda a propósito da Op Safira Solitária, o Vitor Junqueira manda-nos "um trecho de um texto que escrevi há algum tempo onde consta a missão da minha Companhia [CCAÇ 2753], tal como vinha definida na ordem de operações.


(...) Estávamos nos primeiros dias do mês de Fevereiro de 1971. A nossa Companhia era uma das Unidades que compunham o COP 6, cujo comando estava sedeado em Mansabá. Fazia parte do Agrupamento T, tendo-lhe sido atribuída a missão (transcrevo dos registos oficiais, que constam da História da Unidade e Feitos e Factos da CCAÇ 2753):

"Assegurar a protecção dos trabalhos da estrada Mansabá - Farim, em ordem a garantir um ritmo acelerado de construção e evitar as flagelações do IN sobre os meios técnicos empenhados.

"Na segurança dos trabalhos as forças adoptam o dispositivo com as seguintes
missões:

- Montam a segurança próxima dos trabalhos em ordem a garantir a interdição de itinerários de aproximação, eliminando a possibilidade do IN exercer acções de flagelação sobre a zona dos trabalhos, para o que monta emboscadas nas possíveis bases de fogos e executam patrulhamentos na ZA atribuída.
-Garantem a segurança imediata dos trabalhadores e equipamentos, detectando ou aniquilando quaisquer elementos IN infiltrados através do dispositivo próximo, para o que realiza patrulhamentos frequentes nas imediações da zona de trabalhos e ocupa posições sobre os eixos da mais possível infiltração.
- Realizam acções ofensivas sobre as áreas fulcrais do Morés, Canjaja e Biribão em ordem a anular a pressão do IN sobre o eixo Mansabá - Farim".

(...) hÁ anos que nenhuma força militar portuguesa tivera condições para se movimentar naquele itinerário, a partir de e para norte de Mansabá até ao Kápa 3. A região estava agora a ser (re)conquistada diariamente, palmo a palmo, metro a metro. Por sua vez, o IN tentava a todo o custo impedir ou retardar o avanço dos trabalhos, pois aquela era uma via estratégica para o desenvolvimento das suas acções. Nela desaguavam os corredores do Sitató e Lamel, que lhe permitiam uma ligação fácil e rápida entre as bases junto à fronteira sul do Senegal e o coração da Guiné (Oio, Morés e região dos Sares).

As frequentes escaramuças consistiam em emboscadas e flagelações sobre a frente de trabalhos, com baixas entre trabalhadores e danos nas máquinas. Após o pôr do Sol, invariavelmente pela hora do jantar, era preciso estar atento ao som inconfundível das saídas dos CSR [Canhão sem recuo], MORT 82 e RPG que, vindo da orla mata, anunciava uma saraivada de balas e estilhaços a rasgar o céu por cima do aquartelamento.

Localizado num ponto do mapa, onde antes da guerra existia uma pequena povoação, o Destacamento Temporário do Bironque foi ocupado pela CCAÇ 2753 em 1 de Dezembro de 1970, que aí veio substituir a CCAÇ 17. Dias antes, tinha havido uma espécie de motim com cenas de tiros entre os oficiais e sargentos daquela Companhia e os seus elementos nativos, de etnia maioritariamente manjaca. Estes, fartos de bordoada, recusaram-se a sair para o mato, alegando que, a terem levar porrada forte e feia, preferiam apanhá-la defendendo o seu Chão. O gen. Spínola resolveu o contencioso através de umas despromoções e da transferência da Companhia para Bula.

De Bissau, avançam os Barões da CCAÇ 2753 até então afecta ao COMBIS como força de reserva. Passam assim da noite para o dia de uma espécie de tropa VIP, bem alojada, bem alimentada e com tarefas aligeiradas, ao grau mais elementar de tropa macaca. Cheirando ainda a periquito, sem qualquer treino operacional e, não tendo beneficiado de rodagem por sobreposição com tropas mais batidas, vêem-se entregues à bicharada, obrigados a aprender à própria custa. Certo é que provaram ser dignos do lema que orgulhosamente ostentavam nos crachats Noblessse Oblige [Nobreza Obriga]!

Acompanhando a progressão dos trabalhos, a Companhia transfere-se com armas e bagagens em 13 de Janeiro de 1971 para um novo Destacamento mais a norte, na zona de Madina Fula, a uns 8 Km de Farim. Nestes Destacamentos Temporários não existia qualquer construção ou barraca, apenas algumas tendas de lona, insuportáveis durante o dia devido ao calor. À noite não ofereciam a quem estivesse no seu interior, qualquer protecção contra balas ou estilhaços, pelo que toda a gente preferia pernoitar nos abrigos. Tratava-se em rigor de um acampamento que as poderosas máquinas Caterpillar ao serviço da empresa construtora, edificavam do seguinte modo:

Sobre uma das faixas desmatadas de cerca de 100 metros de largura que se estendiam de cada lado da estrada em construção (para evitar o ataque próximo às nossas colunas), erguiam quatro barreiras de terra com dois metros de altura, de maneira a formar um quadrado com mais ou menos 50 metros de lado. No topo destas barreiras, escavavam-se então os espaldões para as armas pesadas, trincheiras e simples covas que abrigavam um ou dois homens. Era a partir deste arremedo de fortim que se montava a vigilância e defesa, tanto do pessoal como das máquinas que no final do dia de trabalho, recolhiam ao seu interior. Como vizinhança , muita força de mosquitos e matacanhas!

Logo nos primeiros passeios pela natureza, tivemos a visão clara do inferno que teria sido a vida dos camaradas que nos precederam. Numa região enxameada por bases do PAIGC localizadas nas regiões de (e volto a citar dos registos) Cã Quebo, Santambato, Cambajú, Iracunda, Mansodé, Cubonje, Canjaja, Biribão, Ionfarim, Uália, Mansomine, Binta, Queré, Banjara e Manhau, qualquer movimento nosso era acompanhado por acção semelhante por parte do IN, tornando-se o contacto inevitável.

Em alguns pontos, nomeadamente ao longo do que antes tinham sido as bermas e valetas da estrada, as cápsulas de munições de armas ligeiras, apanhavam-se aos milhares, nalguns sítios literalmente à pazada. No entanto, o sortido abrangia um pouco de tudo, desde velhas minas anti-pessoal com a tampa de madeira carcomida pela formiga mas ainda capazes de nos pregar uns sustos, até granadas anti-tanque, algumas intactas, bojudas, matulonas que se chamavam (?) Panzerovkas.

Havia armadilhas na estrada e nas zonas de mato contíguas. Por ali confiscamos também em operações subsequentes, variadas peças do arsenal do IN que incluía itens antigos, como obsoletos canhangulos, novíssimas granadas de RPG 2 e 7 e respectivos lançadores, Mort. 82, munições de Browning 20mm e os tripés das mesmas (utilizadas então como anti-aéreas), muitas pistolas de várias proveniências, PPSH, Degtariev e kalashnikov, Esping. M44 americanas (!). E ainda, Met. Pesadas Breda (2) e Dreyses (1), por certo gamadas ao Exército Português. Também faziam parte deste catálogo um par de lindíssimas espingardas Mauser, com ferragens cromadas e, gravado sobre as câmaras, o sêlo da República Portuguesa. A quem teriam pertencido? Quem terá ficado com elas?

O dia começava bem cedo para o pessoal engajado nas operações de segurança próxima, e não só! Ainda não eram quatro da matina e já uma das sentinelas tinha obrigado o russo (cozinheiro) e o básico, seu ajudante, a porem-se de pé a fim de preparar o pequeno almoço e a merenda para o 3º Gr Comb que iria emboscar em Farim 2 C6 97.

Os restantes, guarnição e pessoal da segurança imediata, comiam mais tarde, por volta das seis e meia ou sete horas. Junto à banca que servia de refeitório, a parelha dos tachos aguardava impaciente (queriam voltar para o choco!) os homens que iam assomando em pequenos grupos para o dejejum. Apresentavam-se praticamente em estado de prontidão. Devidamente equipados. Emoldurando-lhes os cachaços, cachos de granadas de mort. 60 e grinaldas de munições de bazuca 6cm, 10.7, Instalazzas, dilagramas e outro material de efeito pirotécnico. GMD penduradas em tudo o que era grampo ou presilha e, naturalmente, quilómetros de fitas para as HK.

Todo o material se encontrava limpo e bem cuidado. Com as canhotas então, tinham desvelos amorosos, tratando-as tão bem ou melhor do que se fossem namoradas! Suspensos do cinturão, um ou dois cantis de água e todos os carregadores de G3 próprios e alheios a que pudessem deitar mão. Sem contar com aquele sistema inventado pelo Zé soldado em momentos de aperto, que consistia em embutir um carregador na arma, ficando outro amarrado a este, preso em cruz com fita adesiva. E não se disse ataviados como impõe a gíria militar.

Porque fardas era coisa que já não existia havia tempo, tinham ido à vida. Mergulhos forçados nas bolanhas, lavagens frequentes com pouco sabão e muita paulada aliadas às carícias de gravetos e espinhos do mato, tinham decretado o seu desgaste precoce. Por esta altura, iam-se combinando os restos dos camuflados com peças n.º 1, 2 e 3. Botas de cabedal bambas com várias comissões no coiro, umas já sem rasto, outras com ventiladores nas biqueiras, alternavam com as de lona a dar as últimas e chanatos adquiridos pelos próprios. Já então era a crise!

Vitor Junqueira

Guiné 63/74 - CXXXV: Informação & propaganda: de que lado estava a verdade ? (2)

1. Mensagem do Vitor Junqueira, que foi alferes miliciano da CCAÇ 2753, em Mansambá (1970/72).


Amigos e camaradas;

Recorrendo à minha memória e a documentos classificados de então, que ainda hoje guardo religiosamente, estou em condições de assegurar que a transcrição de um comunicado oficial da época que o Afonso Sousa nos facultou, corresponde em absoluto à verdade.

Fui testemunha presencial de alguns dos factos referidos no comunicado. Entre eles vi elementos IN capturados e muito material apreendido. Outros há que me abstenho de relatar dada a sua natureza chocante.

Participei nesta operação emboscando nos dias 19, 20, 21 e 22 de Dezembro de 1971, na região de Madina Fula que era considerada uma das possívei vias de fuga dos guerrilheiros do PAIGC sob grande pressão nas suas bases do Morés. O IN sofreu nesta operação [Safira Solitária] um dos revezes mais brutais, tendo a sua estrutura naquela zona ficado afectada durante muito tempo.

Glória aos Heróis Tenente Saegue, Sargento Loma, Alferes Tomás, [dos Comandos Africanos] e outros que conheci, guineenses orgulhosamente portugueses, cobardemente assassinados no Cumeré.

Morte a todos os embusteiros, traidores e oportunistas que durante os últimos trinta anos tudo têm feito para desonrar as Forças Armadas Portuguesas e os ex-combatentes.

2. Ainda a propósito da Op Safira Solitária, o Vitor Junqueira manda-nos "um trecho de um texto que escrevi há algum tempo onde consta a missão da minha Companhia [CCAÇ 2753], tal como vinha definida na ordem de operações.


(...) Estávamos nos primeiros dias do mês de Fevereiro de 1971. A nossa Companhia era uma das Unidades que compunham o COP 6, cujo comando estava sedeado em Mansabá. Fazia parte do Agrupamento T, tendo-lhe sido atribuída a missão (transcrevo dos registos oficiais, que constam da História da Unidade e Feitos e Factos da CCAÇ 2753):

"Assegurar a protecção dos trabalhos da estrada Mansabá - Farim, em ordem a garantir um ritmo acelerado de construção e evitar as flagelações do IN sobre os meios técnicos empenhados.

"Na segurança dos trabalhos as forças adoptam o dispositivo com as seguintes
missões:

- Montam a segurança próxima dos trabalhos em ordem a garantir a interdição de itinerários de aproximação, eliminando a possibilidade do IN exercer acções de flagelação sobre a zona dos trabalhos, para o que monta emboscadas nas possíveis bases de fogos e executam patrulhamentos na ZA atribuída.
-Garantem a segurança imediata dos trabalhadores e equipamentos, detectando ou aniquilando quaisquer elementos IN infiltrados através do dispositivo próximo, para o que realiza patrulhamentos frequentes nas imediações da zona de trabalhos e ocupa posições sobre os eixos da mais possível infiltração.
- Realizam acções ofensivas sobre as áreas fulcrais do Morés, Canjaja e Biribão em ordem a anular a pressão do IN sobre o eixo Mansabá - Farim".

(...) hÁ anos que nenhuma força militar portuguesa tivera condições para se movimentar naquele itinerário, a partir de e para norte de Mansabá até ao Kápa 3. A região estava agora a ser (re)conquistada diariamente, palmo a palmo, metro a metro. Por sua vez, o IN tentava a todo o custo impedir ou retardar o avanço dos trabalhos, pois aquela era uma via estratégica para o desenvolvimento das suas acções. Nela desaguavam os corredores do Sitató e Lamel, que lhe permitiam uma ligação fácil e rápida entre as bases junto à fronteira sul do Senegal e o coração da Guiné (Oio, Morés e região dos Sares).

As frequentes escaramuças consistiam em emboscadas e flagelações sobre a frente de trabalhos, com baixas entre trabalhadores e danos nas máquinas. Após o pôr do Sol, invariavelmente pela hora do jantar, era preciso estar atento ao som inconfundível das saídas dos CSR [Canhão sem recuo], MORT 82 e RPG que, vindo da orla mata, anunciava uma saraivada de balas e estilhaços a rasgar o céu por cima do aquartelamento.

Localizado num ponto do mapa, onde antes da guerra existia uma pequena povoação, o Destacamento Temporário do Bironque foi ocupado pela CCAÇ 2753 em 1 de Dezembro de 1970, que aí veio substituir a CCAÇ 17. Dias antes, tinha havido uma espécie de motim com cenas de tiros entre os oficiais e sargentos daquela Companhia e os seus elementos nativos, de etnia maioritariamente manjaca. Estes, fartos de bordoada, recusaram-se a sair para o mato, alegando que, a terem levar porrada forte e feia, preferiam apanhá-la defendendo o seu Chão. O gen. Spínola resolveu o contencioso através de umas despromoções e da transferência da Companhia para Bula.

De Bissau, avançam os Barões da CCAÇ 2753 até então afecta ao COMBIS como força de reserva. Passam assim da noite para o dia de uma espécie de tropa VIP, bem alojada, bem alimentada e com tarefas aligeiradas, ao grau mais elementar de tropa macaca. Cheirando ainda a periquito, sem qualquer treino operacional e, não tendo beneficiado de rodagem por sobreposição com tropas mais batidas, vêem-se entregues à bicharada, obrigados a aprender à própria custa. Certo é que provaram ser dignos do lema que orgulhosamente ostentavam nos crachats Noblessse Oblige [Nobreza Obriga]!

Acompanhando a progressão dos trabalhos, a Companhia transfere-se com armas e bagagens em 13 de Janeiro de 1971 para um novo Destacamento mais a norte, na zona de Madina Fula, a uns 8 Km de Farim. Nestes Destacamentos Temporários não existia qualquer construção ou barraca, apenas algumas tendas de lona, insuportáveis durante o dia devido ao calor. À noite não ofereciam a quem estivesse no seu interior, qualquer protecção contra balas ou estilhaços, pelo que toda a gente preferia pernoitar nos abrigos. Tratava-se em rigor de um acampamento que as poderosas máquinas Caterpillar ao serviço da empresa construtora, edificavam do seguinte modo:

Sobre uma das faixas desmatadas de cerca de 100 metros de largura que se estendiam de cada lado da estrada em construção (para evitar o ataque próximo às nossas colunas), erguiam quatro barreiras de terra com dois metros de altura, de maneira a formar um quadrado com mais ou menos 50 metros de lado. No topo destas barreiras, escavavam-se então os espaldões para as armas pesadas, trincheiras e simples covas que abrigavam um ou dois homens. Era a partir deste arremedo de fortim que se montava a vigilância e defesa, tanto do pessoal como das máquinas que no final do dia de trabalho, recolhiam ao seu interior. Como vizinhança , muita força de mosquitos e matacanhas!

Logo nos primeiros passeios pela natureza, tivemos a visão clara do inferno que teria sido a vida dos camaradas que nos precederam. Numa região enxameada por bases do PAIGC localizadas nas regiões de (e volto a citar dos registos) Cã Quebo, Santambato, Cambajú, Iracunda, Mansodé, Cubonje, Canjaja, Biribão, Ionfarim, Uália, Mansomine, Binta, Queré, Banjara e Manhau, qualquer movimento nosso era acompanhado por acção semelhante por parte do IN, tornando-se o contacto inevitável.

Em alguns pontos, nomeadamente ao longo do que antes tinham sido as bermas e valetas da estrada, as cápsulas de munições de armas ligeiras, apanhavam-se aos milhares, nalguns sítios literalmente à pazada. No entanto, o sortido abrangia um pouco de tudo, desde velhas minas anti-pessoal com a tampa de madeira carcomida pela formiga mas ainda capazes de nos pregar uns sustos, até granadas anti-tanque, algumas intactas, bojudas, matulonas que se chamavam (?) Panzerovkas.

Havia armadilhas na estrada e nas zonas de mato contíguas. Por ali confiscamos também em operações subsequentes, variadas peças do arsenal do IN que incluía itens antigos, como obsoletos canhangulos, novíssimas granadas de RPG 2 e 7 e respectivos lançadores, Mort. 82, munições de Browning 20mm e os tripés das mesmas (utilizadas então como anti-aéreas), muitas pistolas de várias proveniências, PPSH, Degtariev e kalashnikov, Esping. M44 americanas (!). E ainda, Met. Pesadas Breda (2) e Dreyses (1), por certo gamadas ao Exército Português. Também faziam parte deste catálogo um par de lindíssimas espingardas Mauser, com ferragens cromadas e, gravado sobre as câmaras, o sêlo da República Portuguesa. A quem teriam pertencido? Quem terá ficado com elas?

O dia começava bem cedo para o pessoal engajado nas operações de segurança próxima, e não só! Ainda não eram quatro da matina e já uma das sentinelas tinha obrigado o russo (cozinheiro) e o básico, seu ajudante, a porem-se de pé a fim de preparar o pequeno almoço e a merenda para o 3º Gr Comb que iria emboscar em Farim 2 C6 97.

Os restantes, guarnição e pessoal da segurança imediata, comiam mais tarde, por volta das seis e meia ou sete horas. Junto à banca que servia de refeitório, a parelha dos tachos aguardava impaciente (queriam voltar para o choco!) os homens que iam assomando em pequenos grupos para o dejejum. Apresentavam-se praticamente em estado de prontidão. Devidamente equipados. Emoldurando-lhes os cachaços, cachos de granadas de mort. 60 e grinaldas de munições de bazuca 6cm, 10.7, Instalazzas, dilagramas e outro material de efeito pirotécnico. GMD penduradas em tudo o que era grampo ou presilha e, naturalmente, quilómetros de fitas para as HK.

Todo o material se encontrava limpo e bem cuidado. Com as canhotas então, tinham desvelos amorosos, tratando-as tão bem ou melhor do que se fossem namoradas! Suspensos do cinturão, um ou dois cantis de água e todos os carregadores de G3 próprios e alheios a que pudessem deitar mão. Sem contar com aquele sistema inventado pelo Zé soldado em momentos de aperto, que consistia em embutir um carregador na arma, ficando outro amarrado a este, preso em cruz com fita adesiva. E não se disse ataviados como impõe a gíria militar.

Porque fardas era coisa que já não existia havia tempo, tinham ido à vida. Mergulhos forçados nas bolanhas, lavagens frequentes com pouco sabão e muita paulada aliadas às carícias de gravetos e espinhos do mato, tinham decretado o seu desgaste precoce. Por esta altura, iam-se combinando os restos dos camuflados com peças n.º 1, 2 e 3. Botas de cabedal bambas com várias comissões no coiro, umas já sem rasto, outras com ventiladores nas biqueiras, alternavam com as de lona a dar as últimas e chanatos adquiridos pelos próprios. Já então era a crise!

Vitor Junqueira

03 agosto 2005

Guiné 63/74 - CXXXIV: Informação & Propaganda: de que lado estava a verdade ? (1)

1. O Sousa de Castro enviou para a nossa tertúlia esta estória sobre a guerra colonial na Guiné contada pelo Coronel João Malaca, do PAIGC. Trata-se de um excerto de uma reportagem publicada no Notícias Magazine, de 24 de Abril de 1994, da autoria do jornalista Marinho Neves, que também foi combatente na Guiné:

"O coronel João Malaca foi um dos comandantes da guerrilha na zona de Morés e Bissorá [na região do Óio]. Foi ele quem comandou a célebre batalha de Morés na zona de Farim, em 21 de Dezembro de 1971, onde as tropas portuguesas deixaram no terreno 61 mortos confirmados pelo PAIGC.

Foto tirada do lado sul do rio Cacheu, pelo Humberto Reis, em 24 de Março de 1996 > "À espera da lancha para atravessar para Farim que se vê do lado de lá". © Humberto Reis (2005).

Ia uma companhia de africanos à frente. Tínhamos um rádio para captar todas as informações. A operação chamava-se Estrela Solitária. Quando os apanhamos na zona para onde os canhões e morteiros estavam apontados, começámos a descarregar a artilharia e fechámos-lhes a saída. Morreu muita gente. Era a guerra, ninguém ficou contente com isso".

A tentativa da tomada [da base do PAIGC] de Farim demorou mais dias. Os guerrilheiros tinham informadores dentro do próprio exército português. O comandante Malaca confessou-me:

- Era gente que vivia dentro dos quartéis e convivia diariamente com os militares. Vieram os Comandos e fomos avisados de que Marcelino da Mata tinha garantido que, com as tropas dele, nos conquistava o terreno. Armámos-lhe uma cilada da qual não poderia fugir. Mas ele parece ter adivinhado a situação e mandou o seu adjunto comandar a operação. Acabou por morrer. Mas nós queríamos era o Marcelino da Mata.

João Malaca disse-nos que Marcelino da Mata “era um soldado sanguinário. Ele não era um verdadeiro guerreiro. Só surgia no alvo quando tudo estava praticamente conquistado. A sua fama veio, apenas, das barbaridades que cometeu”.

Foram contados 61 mortos que as tropas portuguesas abandonaram no terreno. O coronel Malaca garantiu-nos que os próprios guerrilheiros do PAIGC abriram valas para os enterrar depois de os identificarem:

- Revistámos todos os corpos e recolhemos os documentos possíveis, para além de lhes tirarmos a chapa de identificação. Elaborámos um arquivo que ainda está na posse do PAIGC. Mas havia dificuldades porque a maior parte dos nossos guerrilheiros eram analfabetos. Posso é garantir que todos os soldados mortos nesses combates foram enterrados com respeito.

"O PAIGC tinha a certeza de que a guerra estava ganha:

- O 25 de Abril só veio abreviar a situação. O nosso problema estava na aviação, mas na altura da independência já estávamos a receber os mísseis Estrela-2 e isso seria fatal para a aviação portuguesa”.


2. O Vitor Junqueiro, que era na altura alferes miliciano da CCAÇ 2743 (Mansambá, 1970/72), veio de imediato protestar:

Amigo Sousa de Castro: Esta história do Sr. João Malaca é completamente falsa. Direi mesmo absurda. Eu estive lá nessa época ... Um abraço do Junqueira.


3. O Sousa de Castro justificou-se:

É uma história publicada no Notícias Magazine em 24 de Abril 1974 e assinada pelo jornalista Marinho Neves. Ele mesmo finaliza a entrevista dizendo isto: "Após quase uma hora de conversa, jornalista e guerrilheiro acabaram por chegar á conclusão que estiveram frente a frente em vários combates. Recordaram-se situações nada agradáveis, mas sem ressentimentos. A guerra tinha acabado".

A minha opinião é de que terá sido possível ter acontecido o que o Comandante Malaca contou, até prova em contrário. Ainda não li nada, desmentindo esta notícia. Esta revista sai semanalmente com o Jornal de Notícias e Diário de Notícias . É seguramente das mais lidas do País. Mas, apareça alguém da tertúlia que possa rebater este ponto de vista.

4. Eu, Luís Graça, sugeri ao Castro e ao Vitor o seguinte:

Amigos: Seria bom apurar a verdade…O Vitor estava lá nessa altura e diz que é tudo mentira… Seria bom ouvir o depoimento dele, com mais detalhes, mais factos… Eu já não estava na Guiné em 21 de Dezembro de 1971 nem nunca fui à Região do Cacheu nem do Óio. O máximo que estive foi a sul do mítico Morés…

Que operação foi essa, a Estrela Solitária ? Envolveu os comandos africanos: só ou também com outras unidades ? Para conquistar Farim ? Mas Farim nunca caiu, que eu saiba, até ao 25 de Abril de 1974, contrariamente a Madina do Boé ou outros aquartelamentos abandonados pela NT... [Confusão minha: o comandante João Malaca deveria querer referir-se à base de Farim, do PAIGC, no Morès. Será isso ? ].

Outra questão: os alegados 61 mortos em combate foram reconhecidos pelas NT ? Não se tratará de fantasia ou delírio do comandante João Malaca ? 61 mortos é um massacre! Ora isso nem no sul aconteceu. Nem mesmo no Como, em 1964, segundo creio saber…

Não tenho ideia de ter havido uma batalha na Guiné, com tantos mortos, só da nossa parte… É claro que nós também fantasiávamos quando se tratava de fazer as contas às baixas do IN em combate...

Um jornalista não pode ouvir só uma das partes. Nesta peça não há nenhuma referência às fontes portuguesas. A avaliar por esta amostra do artigo ou reportagem, não dou crédito nenhum ao autor do texto, o Marinho Neves, que ainda por cima diz que foi combatente na Guiné, na mesma altura (1971)…

Em suma, temos de averiguar melhor esta estória, que me parece estar mal contada… É certo que não temos a peça completa, mas apenas um extracto…

O melhor é ouvir a opinião do A. Marques Lopes, cuja experiência e conhecimento do terreno têm sido preciosos, para todos nós, ajudando-nos a reconstituir o puzzle da guerra da Guiné. A verdade da guerra era como a nota de 100 pesos: também ela tinha um verso e um reverso...

5. O Afonso Sousa (furriel miliciano de transmissões,que conheceu bem a região do Cacheu, entre 1968 e 1970), veio trazer-nos o ponto de vista das NT.

"Notícias captadas da radiodifusão pelas transmissões da Presse Lusitânia > Dia 29 de Dezembro de 1971.

"Do País > Bissau - Comunicado especial do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné:

"Numa das mais importantes operações militares realizadas no Teatro de Operações da Guiné, as forças guerrilheiras acabam de sofrer um expressivo revés. Desde Outubro, final da época da chuvas que o Comando, através dos seus orgãos de pesquisa vinha acompanhando os movimentos de infiltração do inimigo nas florestas da área do Morés, situada no norte da Província, tendo lançado algumas operações de diversão com vista a criar no inimigo uma falsa sensação de segurança que o levasse a continuar a concentrar meios na referida área o que efectivanente se verificou.

"A crescente adesão das populações à causa nacional permitiu que através de informações seguras e detalhadas, colhidas no seio do próprio dispositivo inimigo, se localizassem exactamente as posições inimigas e se completasse o conhecimento do esquema da sua denominada Ofensiva do Natal e definida nos seguintes termos constantes em documentos apreendidos: Oposição a todo o custo ao asfaltamento das estradas Mansoa - Bissorã e Bula- Bissorã - Olossato; desencadeamento dum conjunto de acções ofensivas na quadra do Fim de Ano sobre as povoações mais importantes da área, nomeadamente Bissorã, Mansoa, Olossato, Mansabá e sobre todos os novos aldeamentos.

"De posse de todos os elementos foi planeado, no maior sigilo, uma grande operação visando envolver, cercar e aniquilar as forças de guerrilha concentradas na referida área fulcral do Morés. Montada a operação, denominada Safira Solitária, foi esta levada a efeito por unidades da força africana e teve início ao alvorecer do dia 20 prolongando-se até à tarde do dia 26 tendo as nossas forças sido guiadas na floresta por elementos das populações da área pertencentes à nossa rede de informações que conhecia a localização precisa das posições inimigas.

"Apesar de colhido de surpresa, o inimigo estimado em 6 bigrupos, 2 grupos armados de armas pesadas instalados em posições fortificadas e cerca de 333 elementos armados da milícia popular, opôs durante os três primeiros dias tenaz resistência acabando todavia por ser desarticulado e aniquilado, tendo sofrido 215 mortos confirmados, entre os quais três cubanos, e alguns mercenários estrangeiros africanos, 28 capturados, além de apreciável número de feridos.

"Segundo declarações dos capturados, encontravam-se na área pelo menos mais 4 elementos cubanos. Verificou-se que o inimigo estava implantando no Morés um sistema de fortificação de campanha do qual se destacavam espaldões para armas pesadas e abrigos subterrâneos para pessoal. Os grupos de guerrilha, pela resistência que ofereceram revelaram uma sensível melhoria de enquadramento e uma técnica mais avançada de guerra de posição.

"No decurso da operação foi capturado o seguinte material: 1 canhão sem recúo B-10, 2 morteiros de 82 mm, 2 morteiros de 60mm, 3 metralhadoras pesadas Goryonov, 7 lança-granadas RPG-7, 14 espingardas automáticas Kalashnikov, 38 espingardas semi-automáticas Simonov, 8 espingardas Mosin Nagant, 14 pistolas metralhadoras PPSH, além de avultado número de armas de repetição, de cunhetes de munições, fitas e carregadores, destruídos no local por desnecessários. As nossas forças sofreram 8 mortos, 12 feridos graves e 41 feridos ligeiros".

6. O A. Marques Lopes, o nosso coronel, protesta, mas por outras razões:

Não me chegou esse artigo. Peço ao Sousa de Castro que mo envie. De qualquer modo, nunca ouvi falar nessa operação nem que alguma vez tivesse havido tamanha mortandade por parte do PAIGC. Se houve, acho estranho que, como noutras situações, nenhum dos intervenientes da nossa parte tivesse ainda contado sobre ela. E é claro que Farim nunca foi abandonada [pelas NT] ou tomada pelo PAIGC. E do Marinho Neves, jornalista, só ouvi falar daquele que escreveu Golpe de Estádio [um livro de ficção sobre a corrupção no futebol, edição da Terramar, 1996]...

E numa outra mensagem a seguir, acrescenta:

Quanto á Estrela Solitária do coronel João Malaca, não terá sido, então, a operação Safira Solitária ? Se calhar há confusão do coronel João Malaca. De qualquer modo, os relatos não conferem um com o outro, o que acho natural, se foram da mesma operação, pois sabemos como é que era essa coisa de fazer relatos de operações: cada um procurava fazer chegar a brasa à sua sardinha... tanto mais nos relatos de um inimigo e os do outro inimigo. De qualquer modo, continuo a pensar que é um exagero os 61 mortos da nossa parte - os relatores das nossas operações também davam números de mortos que não correspondiam à realidade (ver Op Jigajoga, por exemplo).

7. O Sousa de Castro mandou-nos, ainda a propósito desta estória que promete fazer correr muita tinta (ou melhor: muitos KB), a seguinte mensagem:

Encontrei num livro que disponho (A guerra Colonial: Angola - Guiné - Moçambique) editado pelo Diário de Notícias e de que são autores Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, a seguinte referência, na parte da cronologia:

"1971.12.20 - Início de uma operação na zona de Morés, no Norte da Guiné, para reocupar posições pelas tropas portuguesas".

Vou fotocopiar as páginas da revista Notícias Magazine e enviás-las pelo correio para o Luís Graça. Convém desmistificar a notícia afim de repôr a verdade. Pode de facto ser uma fanfarronice do CMDT João Malaca. Convinha também descobrir o autor do texto, esse tal Marinho Neves.