11 março 2005

Humor com humor se paga - XXX: Deus e Mourinho

O Papa João Paulo II, a Irmã Lúcia e o Zé Mourinho morrem num desastre de avião e, pela ordem natural das coisas, são apresentados por São Pedro a Deus, Nosso Senhor.
Pergunta o Criador ao Chefe Máximo dos Católicos:
- Então, meu filho, para ti o que é que foi mais importante na tua vida lá em baixo ?
O Papa respondeu-lhe, com a voz trémula:
- A paz na terra entre os homens de boa vontade…
Deus simpatizou com o simpático velhinho, e convidou-o a ficar no Céu:
- Vem sentar-te aqui ao meu lado.

A seguir, interpelou a Irmã Lúcia sobre a sua longa vida de mistério e de clausura:
- E tu, minha filha, ainda tens mais algum segredo de Fátima para desvendar ?
- Não, meu Pai, antes de morrer já tinha deixado os papéis todos arrumados no convento, prontos a seguirem para a Torre do Tombo…
- Também gosto dessa resposta na ponta da língua, para uma velhinha como tu que teve o privilégio de conhecer a Virgem Maria…

Deus fitou, por fim, o Zé Mourinho que parecia não constar da sua base de dados… Algo provocatoriamente, o maior treinador de futebol do mundo desafiava o Criador, com um gesto quase obsceno, o dedo espetado na boca como se O quisesse mandar calar. Diz-lhe Deus, depois de São Pedro ter-Lhe segredado o nome:
- Então, qual é o teu problema, Zé Mourinho?
Ao que este retorquiu:
- Eu acho que TU... estás sentado no banco errado; é que esse, por acaso, é o...MEU!

PS - Este anedota só pode ter uma segunda leitura: os portugas são o povo mais igualitário do mundo, de tal maneira que não sequer admitem a hipótese (teórica) de haver, entre eles, um "primus inter pares", um primeiro entre iguais. No entanto, muito secretamente admiram (ou morrem de inveja por) um Zé Mourinho, um portuga que está a ter um grande sucesso na estranja, e para quem nem o céu parece constituir um limite...

Humor com humor se paga - XXX: Deus e Mourinho

O Papa João Paulo II, a Irmã Lúcia e o Zé Mourinho morrem num desastre de avião e, pela ordem natural das coisas, são apresentados por São Pedro a Deus, Nosso Senhor.
Pergunta o Criador ao Chefe Máximo dos Católicos:
- Então, meu filho, para ti o que é que foi mais importante na tua vida lá em baixo ?
O Papa respondeu-lhe, com a voz trémula:
- A paz na terra entre os homens de boa vontade…
Deus simpatizou com o simpático velhinho, e convidou-o a ficar no Céu:
- Vem sentar-te aqui ao meu lado.

A seguir, interpelou a Irmã Lúcia sobre a sua longa vida de mistério e de clausura:
- E tu, minha filha, ainda tens mais algum segredo de Fátima para desvendar ?
- Não, meu Pai, antes de morrer já tinha deixado os papéis todos arrumados no convento, prontos a seguirem para a Torre do Tombo…
- Também gosto dessa resposta na ponta da língua, para uma velhinha como tu que teve o privilégio de conhecer a Virgem Maria…

Deus fitou, por fim, o Zé Mourinho que parecia não constar da sua base de dados… Algo provocatoriamente, o maior treinador de futebol do mundo desafiava o Criador, com um gesto quase obsceno, o dedo espetado na boca como se O quisesse mandar calar. Diz-lhe Deus, depois de São Pedro ter-Lhe segredado o nome:
- Então, qual é o teu problema, Zé Mourinho?
Ao que este retorquiu:
- Eu acho que TU... estás sentado no banco errado; é que esse, por acaso, é o...MEU!

PS - Este anedota só pode ter uma segunda leitura: os portugas são o povo mais igualitário do mundo, de tal maneira que não sequer admitem a hipótese (teórica) de haver, entre eles, um "primus inter pares", um primeiro entre iguais. No entanto, muito secretamente admiram (ou morrem de inveja por) um Zé Mourinho, um portuga que está a ter um grande sucesso na estranja, e para quem nem o céu parece constituir um limite...

10 março 2005

Socio(b)logia - XIV: Um médico para Diamantino ou os problemas da (e)terna comunicação global


1.
Tenho uma página na Net, o que me permite, ilusoriamente talvez, vencer as barreiras físicas que separam os falantes da língua portuguesa. É o caso, por exemplo, dos brasileiros, que de vez em quando me contactam, por uma razão ou outra. A verdade é que eu nunca fui ao Brasil nem nunca mandei um postal a ninguém do Novo Mundo. Ontem recebi um curioso e-mail, no qual sou confundido com: (i) médico; (ii) médico de família; e (iii) candidato a um lugar nos serviços de saúde de um município do Estado do Mato Grosso (para mim, fica no Cu de Judas, sem ofensa para os habitantes da dita terra). Transcrevo a mensagem, na esperança de pelo menos encontrar-lhe o destinatário certo:


2. Cópia de mensagem por e-mail que acabo de ler na minha caixa de correio:

"From: Secretaria Municipal de Saúde de Diamantino [saude@diamantino.mt.gov.br]
"Sent: qua 2005-03-09 17:58
"To: Luís Graça
"Subject: contratação urgente medicos saude da familia Diamantino-MT


"Prezado Dr, vimos o seu curriculum na internet, por isso resolvemos contactá-lo. O nosso município de Diamantino - MT [Mato Grosso] está precisando com urgência de médicos para trabalhar em Equipes de Saúde da Família. Salário bruto 7.200,00 descontando 27% de imposto de renda. Também pagamos o 13º salário e liberamos para férias. Dispomos apenas de 01 hospital particular no qual os médicos dão plantão. Caso tenha interesse, por gentileza entrar em contato por telefone ou por e-mail. Por gentileza divulgar esta informação junto aos seus colegas de trabalho.

"atenciosamente,


"Cristhiane Duarte, Enfermeira".



3. Acabo de responder ao citado e-mail:

"Minha cara amiga Christiane: Recebi a sua mensagem. Vejo que conhece a minha página na Net e até o meu currículo (http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/). Acontece que não sou médico, e vivo a milhares de quilómetros de distância do seu município, no outro lado do Atlântico, no Velho Mundo, na Eurolândia… Mesmo assim apreciei e divulguei a sua mensagem. Boa sorte para o seu esforço de encontrar um médico que possa fazer um bom trabalho no seu serviço de saúde. A propósito, onde fica Diamantino ?

"Veja o meu blogue: http://blogueforanada.blogspot.com/

"Boa saúde, bom trabalho!
Luís Graça."

Socio(b)logia - XIV: Um médico para Diamantino ou os problemas da (e)terna comunicação global


1.
Tenho uma página na Net, o que me permite, ilusoriamente talvez, vencer as barreiras físicas que separam os falantes da língua portuguesa. É o caso, por exemplo, dos brasileiros, que de vez em quando me contactam, por uma razão ou outra. A verdade é que eu nunca fui ao Brasil nem nunca mandei um postal a ninguém do Novo Mundo. Ontem recebi um curioso e-mail, no qual sou confundido com: (i) médico; (ii) médico de família; e (iii) candidato a um lugar nos serviços de saúde de um município do Estado do Mato Grosso (para mim, fica no Cu de Judas, sem ofensa para os habitantes da dita terra). Transcrevo a mensagem, na esperança de pelo menos encontrar-lhe o destinatário certo:


2. Cópia de mensagem por e-mail que acabo de ler na minha caixa de correio:

"From: Secretaria Municipal de Saúde de Diamantino [saude@diamantino.mt.gov.br]
"Sent: qua 2005-03-09 17:58
"To: Luís Graça
"Subject: contratação urgente medicos saude da familia Diamantino-MT


"Prezado Dr, vimos o seu curriculum na internet, por isso resolvemos contactá-lo. O nosso município de Diamantino - MT [Mato Grosso] está precisando com urgência de médicos para trabalhar em Equipes de Saúde da Família. Salário bruto 7.200,00 descontando 27% de imposto de renda. Também pagamos o 13º salário e liberamos para férias. Dispomos apenas de 01 hospital particular no qual os médicos dão plantão. Caso tenha interesse, por gentileza entrar em contato por telefone ou por e-mail. Por gentileza divulgar esta informação junto aos seus colegas de trabalho.

"atenciosamente,


"Cristhiane Duarte, Enfermeira".



3. Acabo de responder ao citado e-mail:

"Minha cara amiga Christiane: Recebi a sua mensagem. Vejo que conhece a minha página na Net e até o meu currículo (http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/). Acontece que não sou médico, e vivo a milhares de quilómetros de distância do seu município, no outro lado do Atlântico, no Velho Mundo, na Eurolândia… Mesmo assim apreciei e divulguei a sua mensagem. Boa sorte para o seu esforço de encontrar um médico que possa fazer um bom trabalho no seu serviço de saúde. A propósito, onde fica Diamantino ?

"Veja o meu blogue: http://blogueforanada.blogspot.com/

"Boa saúde, bom trabalho!
Luís Graça."

07 março 2005

Portugas que merecem as nossas palmas - XV: O Museu de Medicina da Faculdade de Medicina de Lisboa

1. A criação da Faculdade de Medicina de Lisboa data de 1911,e a ela está associada a chamada "geração de ouro" da medicina portuguesa sob a liderança de Celestino da Costa. Quase cem anos depois, surge o projecto do Museu de Medicina, cuja filosofia é apresentada sucintamente no respectivo sítio, nestes termos:

"Os museus de arte e os museus da ciência e da técnica são dois mundos, duas culturas, cada um com o seu património, as suas especificidades, o seu público.


"Muitos programadores destes dois tipos de equipamento cultural interrogam-se frequentemente sobre a possibilidade de uma terceira via, e lançam questões: Como criar pontes que façam a ligação entre estes dois grandes ramos da experiência e do conhecimento humanos, sem prejuízo das suas especificidades? Será possível reunir num mesmo lugar de exposição, sob um denominador comum, objectos testemunhos de um e de outro universo? E, no caso afirmativo, não haverá o risco de reforçar um conhecimento estático ou de suscitar visões maniqueístas pré-existentes, que reenviariam cada um destes objectos, privados dos contextos respectivos, a categorias em que se poderiam opôr de forma redutora o belo e o verdadeiro, o imaginário e o concreto, o racional e o expressivo, a arte e a ciência? Como pensar uma tal iniciativa no contexto da medicina, não em termos de mera demonstração didática, de ilustração, de pretexto, mas de complementaridade (implicando caminhos paralelos, ou até mesmo divergentes) ou de "contaminação" recíproca (criando enriquecimentos mútuos)?

"Desde Hipócrates que a prática da medicina é assumida simultaneamente como uma arte e como uma ciência. A percepção dos fenómenos da saúde e da doença faz-se quase sempre cruzando métodos de avaliação qualitativos e quantitativos, conjugando a subjectividade sintomatológica das pessoas com a objectividade técnica e analítica das máquinas e instrumentos. Por isso faz todo o sentido que um museu de medicina se organize como uma terceira via que que faça a ligação entre arte, ciências humanas, naturais e sociais, procurando tirar partido da interacção dos diferentes ramos do saber.

"O projecto Museu de Medicina da Faculdade de Medicina de Lisboa seguirá esta terceira via. Organizar-se-á como um laboratório, um centro de circulação de informação e geração de conhecimento e ideias, aberto à multiplicidade de cruzamentos que hoje a investigação interdisciplinar permite fazer, a partir da especificidade da arte e da ciência".


2. Visitei ontem a exposição "Passagens - 100 Peças para o Museu de Medicina", a decorrer no Museu Nacional de Arte Antiga, entre 24 de Fevereiro e 30 de Abril de 2005. Estão de parabéns a equipa que lidera este projecto da Faculdade de Medicina de Lisboa mas também o Museu Nacional de Arte Antiga por esta aposta e esta oportunidade de renovação da (e de reflexão sobre a) prática museológica. Trata-se de uma exposição a não perder. No velho museu das Janelas Verdes modelos anatómicos, preparações humanas, mecanismos e imagens médicas, instrumentos de medição e de observação cruzam-se e ligam-se com obras de arte, e passam à categoria de objectos culturais, ligados à nossa memória, à nossa identidade e à produção de um discurso legitimador não só da ciência e da tecnologia como da arte. A exposição tem seis núcleos: (i) Espelhos e refelexões; (ii) Fragmentos e anatomias; (iii) Compôr, cuidar e tratar; (iv) Fluídos, circulação e imagens; (v) Observar, medir, temporizar; (vi) Ver o 'invisível'. Ao domingo de manhã, a visita ao msueu (e a esta exposição temporária) é gratuita.

De entre outras peças raras, vai aqui o meu destaque para um exemplar do De Humani Corporis Fabrica, do belga Andrea Vesalius (a 2ª edição, Pádua, 1555), uma obra-prima bibliográfica da Renascença e também uma obra decisiva para o desenvolvimento da anatomia e da cirurgia. Julgo que faça parte do espólio da antiga Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa (1836-1911). Por outro lado, é também notável o quadro que descreve e explica as experiências levadas a cabo por Egas Moniz e a sua equipa, e que contribuiram para o avanço das neurociências. Recorde-se que em 26 de Junho de 1927, foi feito pela primeira vez nuyms er humano vivo um exame radiográfico dos vasos sanguíneos cerebrais. Destaco ainda, e por fim, o tratamento museológico que foi dado uma desconjuntada e carcomida escultura em madeira do Séc. XIV, representando Cristo (Núcleo 3 - Compôr, cuidar, tratar): conforme se diz no guia da exposição, trata-se de "uma escultura 'doente', em fase terminal, submetida a tratamento museológico paliativo (...), que permite reflectir sobre o conceito de humanidade no próprioo acto de cuidar das obras de arte".

Portugas que merecem as nossas palmas - XV: O Museu de Medicina da Faculdade de Medicina de Lisboa

1. A criação da Faculdade de Medicina de Lisboa data de 1911,e a ela está associada a chamada "geração de ouro" da medicina portuguesa sob a liderança de Celestino da Costa. Quase cem anos depois, surge o projecto do Museu de Medicina, cuja filosofia é apresentada sucintamente no respectivo sítio, nestes termos:

"Os museus de arte e os museus da ciência e da técnica são dois mundos, duas culturas, cada um com o seu património, as suas especificidades, o seu público.


"Muitos programadores destes dois tipos de equipamento cultural interrogam-se frequentemente sobre a possibilidade de uma terceira via, e lançam questões: Como criar pontes que façam a ligação entre estes dois grandes ramos da experiência e do conhecimento humanos, sem prejuízo das suas especificidades? Será possível reunir num mesmo lugar de exposição, sob um denominador comum, objectos testemunhos de um e de outro universo? E, no caso afirmativo, não haverá o risco de reforçar um conhecimento estático ou de suscitar visões maniqueístas pré-existentes, que reenviariam cada um destes objectos, privados dos contextos respectivos, a categorias em que se poderiam opôr de forma redutora o belo e o verdadeiro, o imaginário e o concreto, o racional e o expressivo, a arte e a ciência? Como pensar uma tal iniciativa no contexto da medicina, não em termos de mera demonstração didática, de ilustração, de pretexto, mas de complementaridade (implicando caminhos paralelos, ou até mesmo divergentes) ou de "contaminação" recíproca (criando enriquecimentos mútuos)?

"Desde Hipócrates que a prática da medicina é assumida simultaneamente como uma arte e como uma ciência. A percepção dos fenómenos da saúde e da doença faz-se quase sempre cruzando métodos de avaliação qualitativos e quantitativos, conjugando a subjectividade sintomatológica das pessoas com a objectividade técnica e analítica das máquinas e instrumentos. Por isso faz todo o sentido que um museu de medicina se organize como uma terceira via que que faça a ligação entre arte, ciências humanas, naturais e sociais, procurando tirar partido da interacção dos diferentes ramos do saber.

"O projecto Museu de Medicina da Faculdade de Medicina de Lisboa seguirá esta terceira via. Organizar-se-á como um laboratório, um centro de circulação de informação e geração de conhecimento e ideias, aberto à multiplicidade de cruzamentos que hoje a investigação interdisciplinar permite fazer, a partir da especificidade da arte e da ciência".


2. Visitei ontem a exposição "Passagens - 100 Peças para o Museu de Medicina", a decorrer no Museu Nacional de Arte Antiga, entre 24 de Fevereiro e 30 de Abril de 2005. Estão de parabéns a equipa que lidera este projecto da Faculdade de Medicina de Lisboa mas também o Museu Nacional de Arte Antiga por esta aposta e esta oportunidade de renovação da (e de reflexão sobre a) prática museológica. Trata-se de uma exposição a não perder. No velho museu das Janelas Verdes modelos anatómicos, preparações humanas, mecanismos e imagens médicas, instrumentos de medição e de observação cruzam-se e ligam-se com obras de arte, e passam à categoria de objectos culturais, ligados à nossa memória, à nossa identidade e à produção de um discurso legitimador não só da ciência e da tecnologia como da arte. A exposição tem seis núcleos: (i) Espelhos e refelexões; (ii) Fragmentos e anatomias; (iii) Compôr, cuidar e tratar; (iv) Fluídos, circulação e imagens; (v) Observar, medir, temporizar; (vi) Ver o 'invisível'. Ao domingo de manhã, a visita ao msueu (e a esta exposição temporária) é gratuita.

De entre outras peças raras, vai aqui o meu destaque para um exemplar do De Humani Corporis Fabrica, do belga Andrea Vesalius (a 2ª edição, Pádua, 1555), uma obra-prima bibliográfica da Renascença e também uma obra decisiva para o desenvolvimento da anatomia e da cirurgia. Julgo que faça parte do espólio da antiga Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa (1836-1911). Por outro lado, é também notável o quadro que descreve e explica as experiências levadas a cabo por Egas Moniz e a sua equipa, e que contribuiram para o avanço das neurociências. Recorde-se que em 26 de Junho de 1927, foi feito pela primeira vez nuyms er humano vivo um exame radiográfico dos vasos sanguíneos cerebrais. Destaco ainda, e por fim, o tratamento museológico que foi dado uma desconjuntada e carcomida escultura em madeira do Séc. XIV, representando Cristo (Núcleo 3 - Compôr, cuidar, tratar): conforme se diz no guia da exposição, trata-se de "uma escultura 'doente', em fase terminal, submetida a tratamento museológico paliativo (...), que permite reflectir sobre o conceito de humanidade no próprioo acto de cuidar das obras de arte".