28 janeiro 2005

Blogarias V - Em Dezembro

Do meu baú das velharias:

em dezembro
não fazia frio
em dezembro
não fazia ainda neve
em dezembro era natal
e comiam-se rabanadas

em janeiro
cantavam-se as janeiras
e bebia-se o vinho novo

em dezembro
ainda não havia neve
pra cozer as pencas pró natal

não havia neve
à porta dos camponeses pobres do norte
nem as peugadas dos pés descalços
das criancinhas do augusto gil

batem leve levemente
como quem chama por mim...
ah onde está o tipicismo da miséria rural
que os escritores burgueses descobriram antes de nós
o camilo o eça o ramalho o aquilino

em dezembro
o pai natal já não descia pelo fumeiro
por entre os salpicões e os presuntos
vinha de peugeot pelas estradas de frança
e trazia tiparrillos pra malta fumar
à lareira

em dezembro
a maria do norte cortava erva pró gado
e cantava a plenos pulmões
uma canção do sul

candoz. natal de 1976

Blogarias V - Em Dezembro

Do meu baú das velharias:

em dezembro
não fazia frio
em dezembro
não fazia ainda neve
em dezembro era natal
e comiam-se rabanadas

em janeiro
cantavam-se as janeiras
e bebia-se o vinho novo

em dezembro
ainda não havia neve
pra cozer as pencas pró natal

não havia neve
à porta dos camponeses pobres do norte
nem as peugadas dos pés descalços
das criancinhas do augusto gil

batem leve levemente
como quem chama por mim...
ah onde está o tipicismo da miséria rural
que os escritores burgueses descobriram antes de nós
o camilo o eça o ramalho o aquilino

em dezembro
o pai natal já não descia pelo fumeiro
por entre os salpicões e os presuntos
vinha de peugeot pelas estradas de frança
e trazia tiparrillos pra malta fumar
à lareira

em dezembro
a maria do norte cortava erva pró gado
e cantava a plenos pulmões
uma canção do sul

candoz. natal de 1976

25 janeiro 2005

Portugal sacro-profano - XXII: O internacionalismo português

O mais internacionalista dos povos é, sem dúvida, o português. Se não vejamos esta lista com 20 argumentos a favor da tese do internacionalismo:



1. Quando um portuga apanha com um grande problema pela frente, diz logo que se vê grego para dar conta do recado.



2. Se a coisa é mesmo complicada de perceber, ele afirma que isso, para ele, é chinês, ao ponto de ficar com os olhos em bico.



3. Em Portugal quem trabalha no duro, de manhã à noite, é um mouro de trabalho. Mas também já foi um galego. Agora diz-se que é um ucraniano.



4. Pelo contrário, o portuga que não gosta de trabalhar, alega que o trabalho é bom para o preto.



5. Invenções, modernices, merdas que não interessam a ninguém como a ciência & a tecnologia, são chamadas de americanices.



6. Se um portuga é gabarolas, se gosta de armar ao pingarelho, é logo apelidado de amigo de espanholadas; se estudou numa universdiade estrangeira, é logo apelidado de estrangeirado.



7. Se ele faz um esforço de comunicação com os seus amigos e vizinhos espanhóis, riem-se do tipo por que não fala o espanhol de Cervantes mas sim um mísero portunhol (que é um novo dialecto ibérico).



8. Em Portugal uma pessoa também não pode viver com um mínimo de luxo, conforto e ostentação (Champagne, jaquinzinhos, Mercedes em 2ª mão, barraca no Algarve com piscina desmontável, férias na neve em Sierra Nevada...), sem que os invejosos dos vizinhos venham dizer que vive à grande e à francesa.



9. Se o gajo tem um pé de meia, é por que é agarrado ao dinheiro, logo tem uma costela de judeu.



10. Pelo contrário, se ele te faz uma sacanice ou te apunhala pelas costas, logo dirás que é um italiano mafioso.



11. Se faz algo para causar boa impressão aos outros, acusam-no de o fazer só para inglês ver.



12. Quando Portugal entrou para a União Europeia, em 1986, fez tudo para se tornar o bom aluno da Europa e, mais recentemente, até dispensou um primeiro-ministro em exercício para ocupar, em Bruxelas, o cargo de Presidente da Comissão Europeia; uma das razões para essa requisição do Zé é por que ele é reconhecidamente um poliglota (fala, além da língua materna, o inglês, o francês, o portunhol e o cherne).



13. No Algarve, o comum dos portugas adora (ou adorava, nos anos sessenta e setenta) ir até à Quarteira engatar bifas (inglesas e outras nórdicas, com ou sem sardas).



14. Entre tremoços, amendoins e bejecas, eles (os portugas, machos) adoram passar as férias a jogar à sueca.



15. Elas, as portugas fêmeas, pelo contrário, preferem gastar o subsídio de férias no Corte Inglês ou noutros estabelecimentos da estranja como a Zara.



16. Em África, nos PALOP que já fizeram parte do seu grande império colonial, o português (m/f) ainda é tratado carinhosamente pelo seu diminuitivo, tuga.



17. Os da Madeira chamam cubanos aos do Continente.



18. Quinhentos anos depois de Álvares Cabral ter aportado ao Novo Mundo, os portugueses estão a redescobrir o Brasil, a falar à moda de lá e a importar os seus indígenas.



19. Católico de baptismo, mas pouco cumpridor dos mandamentos, em matéria de fé o portuga tende a ser mais papista que o Papa.



20. Já quando os gajos (três gatos pingados, segundo creio) chegaram ao País do Sol Nascente, por volta de 1543, os japoneses chamaram-lhe os bárbaros do sul.

Portugal sacro-profano - XXII: O internacionalismo português

O mais internacionalista dos povos é, sem dúvida, o português. Se não vejamos esta lista com 20 argumentos a favor da tese do internacionalismo:

1. Quando um portuga apanha com um grande problema pela frente, diz logo que se vê grego para dar conta do recado.

2. Se a coisa é mesmo complicada de perceber, ele afirma que isso, para ele, é chinês, ao ponto de ficar com os olhos em bico.

3. Em Portugal quem trabalha no duro, de manhã à noite, é um mouro de trabalho. Mas também já foi um galego. Agora diz-se que é um ucraniano.

4. Pelo contrário, o portuga que não gosta de trabalhar, alega que o trabalho é bom para o preto.

5. Invenções, modernices, merdas que não interessam a ninguém como a ciência & a tecnologia, são chamadas de americanices.

6. Se um portuga é gabarolas, se gosta de armar ao pingarelho, é logo apelidado de amigo de espanholadas; se estudou numa universdiade estrangeira, é logo apelidado de estrangeirado.

7. Se ele faz um esforço de comunicação com os seus amigos e vizinhos espanhóis, riem-se do tipo por que não fala o espanhol de Cervantes mas sim um mísero portunhol (que é um novo dialecto ibérico).

8. Em Portugal uma pessoa também não pode viver com um mínimo de luxo, conforto e ostentação (Champagne, jaquinzinhos, Mercedes em 2ª mão, barraca no Algarve com piscina desmontável, férias na neve em Sierra Nevada...), sem que os invejosos dos vizinhos venham dizer que vive à grande e à francesa.

9. Se o gajo tem um pé de meia, é por que é agarrado ao dinheiro, logo tem uma costela de judeu.

10. Pelo contrário, se ele te faz uma sacanice ou te apunhala pelas costas, logo dirás que é um italiano mafioso.

11. Se faz algo para causar boa impressão aos outros, acusam-no de o fazer só para inglês ver.

12. Quando Portugal entrou para a União Europeia, em 1986, fez tudo para se tornar o bom aluno da Europa e, mais recentemente, até dispensou um primeiro-ministro em exercício para ocupar, em Bruxelas, o cargo de Presidente da Comissão Europeia; uma das razões para essa requisição do Zé é por que ele é reconhecidamente um poliglota (fala, além da língua materna, o inglês, o francês, o portunhol e o cherne).

13. No Algarve, o comum dos portugas adora (ou adorava, nos anos sessenta e setenta) ir até à Quarteira engatar bifas (inglesas e outras nórdicas, com ou sem sardas).

14. Entre tremoços, amendoins e bejecas, eles (os portugas, machos) adoram passar as férias a jogar à sueca.

15. Elas, as portugas fêmeas, pelo contrário, preferem gastar o subsídio de férias no Corte Inglês ou noutros estabelecimentos da estranja como a Zara.

16. Em África, nos PALOP que já fizeram parte do seu grande império colonial, o português (m/f) ainda é tratado carinhosamente pelo seu diminuitivo, tuga.

17. Os da Madeira chamam cubanos aos do Continente.

18. Quinhentos anos depois de Álvares Cabral ter aportado ao Novo Mundo, os portugueses estão a redescobrir o Brasil, a falar à moda de lá e a importar os seus indígenas.

19. Católico de baptismo, mas pouco cumpridor dos mandamentos, em matéria de fé o portuga tende a ser mais papista que o Papa.

20. Já quando os gajos (três gatos pingados, segundo creio) chegaram ao País do Sol Nascente, por volta de 1543, os japoneses chamaram-lhe os bárbaros do sul.