1. Era costume, no tempo dos romanos, desejar-se bons augúrios aos novos governantes. Augúrio (do latim, auguriu) significava a arte de advinhação e interpretação do futuro mediante o canto e o voo dos pássaros. Em termos mais genéricos, significa, hoje, nas línguas latinas, sinal, indício ou presságio de coisa futura. Não sou augure nem conheço, pessoalmente, nenhum. Nem menos o Velho do Restelo. E ainda bem por que, como lá diz o provérbio, se um augure visse outro augure, não deixaria de rir.
Nem por isso deixo de desejar os bons augúrios ao novo governo, em geral, e ao novo ministro da saúde, em particular. Não rezo por eles por que não sou religioso. Mas gostaria que fizessem boas obras e boas acções. Que deixassem obra feita. Por mor de todos nós, como se diz em terras de Entre Douro e Minho. Por mor de nós e dos hão-de vir atrás de nós.
Por mor do meu país e da coisa pública.
Por mor da boa governação da coisa pública.
Por mor da saúde de todos nós.
Por mor do nosso futuro.
Por mor da nossa memória futura.
Por mor dos vindouros e dos perdedores.
Por mor dos historiadores que escreverão a história
Em nome dos vencedores.
Por mor dos que vierem depois de eu fechar a porta.
Por mor dos guardiões da Torre do Tombo.
Por mor de quem de direito.
Por mor dos pagantes.
E dos não-pagantes.
Por mor dos actores e dos espectadores.
Por mor dos marginais-secantes.
Por mor do mercado e da bolsa de Lisboa
E da casa forte do Banco de Portugal.
Por mor do meu querido Portugal S.A.
Que não quer dizer Portugal Sociedade Anal.
Por mor dos loucos e dos menos loucos.
Por mor dos poetas que têm um pouco de gestores.
E dos gestores que têm um pouco de médicos.
Mas também dos médicos que têm um pouco de loucos.
Por mor dos economistas que gostariam de governar o mundo.
Este mundo e não o outro.
Sem esquecer os políticos que gostariam de mandar
Nos economistas, nos gestores, nos médicos e nos doentes.
Por mor daqueles dos políticos que falam em nome do povo.
E daqueles que gostariam de mandar no povo.
Por mor do povo de esquerda, de centro e de direita.
(Abaixo a unicidade nacional!).
Por mor dos da lista de espera que desesperam de esperar.
Por mor dos que vão morrer esta noite
Nos Hospitais S.A. e nos Hospitais S.P.A.
Por mor dos que foram hoje ao serviço de atendimento permanente
Do meu centro de saúde
E que deram com a porta na cara.
Por mor dos cirurgiões que afiam a faca
À espera dos da lista de espera.
Por mor dos doentes agudos.
E dos doentes crónicos.
E dos hipocondríacos.
E dos doentes da saúde.
Por mor da saúde doente e das doenças saudáveis.
Por mor da saúde emprezarializada.
Por mor das vítimas da guerra, dos terramotos, dos tsunamis,
Da fome, da peste e do bispo da nossa terra, de que Deus nos livre!
Por mor dos simples, dos utentes, dos pacientes, dos clientes,
Dos beneficiários, dos misericordiosos e das crianças.
Por mor das catorze obras de misericórida, sete espirituais e sete corporais.
Por mor dos meus (con)cidadãos, os remediados e os ricos.
Por mor dos pobres, dos tristes, dos descrentes, dos desempregados,
Dos velhos, dos sós, dos esquecidos e dos desconsolados
Da minha rua, do meu bairro, da minha cidade, do meu país.
Sem esquecer os apátridas e os que perderam a identidade.
Por mor daqueles de quem um dia se disse que eram os bem-aventurados
porque deles seriam o reino dos céus, amen.
Por mor do meu fornecedor da revista cais
no semáforo da esquina da rua da alegria com a avenida da liberdade.
Por mor da minha médica de família que conta os dias
que lhe faltam para a reforma.
Por mor do médico do gabinete ao lado
que se enganou no curso que queria tirar
e que está a atender os gajos da propaganda médica.
Por mor do boticário do meu bairro.
Por mor do meu barbeiro-sangrador.
Por mor de mim e de ti, meu amor.
Por mor do meu psicanalista, do meu psicoterapeuta,
do meu confessor e do meu curandeiro.
Por mor do meu médico do trabalho
E do meu técnico de higiene e segurança do trabalho.
Por mor do ergonomista que está a desenhar
o meu sistema técnico e organizacional de trabalho.
Por mor dos habitantes da minha casa inteligente do futuro.
Por da minha cartomante preferida.
Por mor dos mais distraídos.
Dos votantes.
Das debutantes.
Dos amantes.
Por mor do meu patrão
Para que Deus lhe conserve a saúde e a riqueza.
E lhe aumente o empreendedorismo e a capacidade de inovação.
Por mor dos meus dinossauros de estimação.
Por mor dos médicos da noite.
Dos médicos na noite.
Da minha querida Médis.
Por mor dos mercadores de sonho
Que trazem com eles a peste onírica e bubónica.
Por mor do meu rico seguro contra todos os riscos.
Por mor do Estado, que se quer menos Estado e melhor Estado.
Por mor dos contínuos, porteiros e seguranças do Estado.
Mais os cobradores de impostos.
E os pagadores de promessas.
E os guarda-costas das figuras de Estado.
Por mor do Estado de todos nós, sem pompa nem circunstância.
Por mor da nossa jovem democracia.
Por mor dos gestores e administradores dos serviços de saúde.
Por mor dos que passam as noites e os dias a pensar
Na reforma do serviço nacional de saúde.
Por mor dos reformadores de sistemas.
De todos os reformadores.
E das vítimas das reformas.
Dos reformados e aposentados.
Por mor da nossa frágil saúde.
E dos vírus que hão-de vir.
E do mal gálico.
E do mal italiano.
E do mal espanhol.
E do mal americano.
E do mal chinês.
E do mal português.
E do Ribeiro Sanches
Que curava os males de amor
Na Rússia Imperial.
O amor em carne viva.
Por mor das doenças emergentes e re-emergentes
Que nos querem matar.
Por mor das galinhas
Eda gripe dos comedores de galinhas.
Por mor dos codificadores de grupos de dignósticos homogéneos de doença.
Por mor dos marcadores biológicos do Homo Sapiens Sapiens.
E sobretudo dos grandes arquitectos do genoma humano.
Por mor do meu antepassado troglodita
Que era recolector-caçador
E que quando almoçava nunca sabia onde e o quê iria jantar.
Por mor do meu Professor de economia
Que me lembra que não há almoços grátis.
Nem entradas grátis
No céu, no purgatório ou no inferno.
Por mor dos actuais e futuros ministros da saúde.
Por mor dos ministros do futuro.
Por mor da utopia do futuro sem ministros.
E até dos ministros sem futuro.
Por mor dos servidores do povo,
Para que nunca esqueçam que ministro vem do latim minus, pequeno.
Para que os deuses iluminem os nossos governantes
E os pescadores que andam perdidos no mar alto.
E os pecadores dos sete pecados mortais.
Por mor dos nossos governantes e dos seus governados.
Para que o canto e o voo dos pássaros lhes sejam favoráveis.
Por mor do Zé Portuga.
Do Zé Manel.
Do Zé, simplesmente.
E para que, eu, Blogador, me confesse
E nunca perca de vista
O essencial.
Por mor da minha terra, Portugal.
blogue-fora-nada. homo socius ergo blogus [sum]. homem social logo blogador. em sociobloguês nos entendemos. o port(ug)al dos (por)tugas. a prova dos blogue-fora-nada. a guerra colonial. a guiné. do chacheu ao boe. de bissau a bambadinca. os cacimbados. o geba. o corubal. os rios. o macaréu da nossa revolta. o humor nosso de cada dia nos dai hoje.lá vamos blogando e rindo. e venham mais cinco (camaradas). e vieram tantos que isto se transformou numa caserna. a maior caserna virtual da Net!
17 março 2005
Blogantologia(s) - XXIV: Bons augúrios para a governança da coisa pública
1. Era costume, no tempo dos romanos, desejar-se bons augúrios aos novos governantes. Augúrio (do latim, auguriu) significava a arte de advinhação e interpretação do futuro mediante o canto e o voo dos pássaros. Em termos mais genéricos, significa, hoje, nas línguas latinas, sinal, indício ou presságio de coisa futura. Não sou augure nem conheço, pessoalmente, nenhum. Nem menos o Velho do Restelo. E ainda bem por que, como lá diz o provérbio, se um augure visse outro augure, não deixaria de rir.
Nem por isso deixo de desejar os bons augúrios ao novo governo, em geral, e ao novo ministro da saúde, em particular. Não rezo por eles por que não sou religioso. Mas gostaria que fizessem boas obras e boas acções. Que deixassem obra feita. Por mor de todos nós, como se diz em terras de Entre Douro e Minho. Por mor de nós e dos hão-de vir atrás de nós.
Por mor do meu país e da coisa pública.
Por mor da boa governação da coisa pública.
Por mor da saúde de todos nós.
Por mor do nosso futuro.
Por mor da nossa memória futura.
Por mor dos vindouros e dos perdedores.
Por mor dos historiadores que escreverão a história
Em nome dos vencedores.
Por mor dos que vierem depois de eu fechar a porta.
Por mor dos guardiões da Torre do Tombo.
Por mor de quem de direito.
Por mor dos pagantes.
E dos não-pagantes.
Por mor dos actores e dos espectadores.
Por mor dos marginais-secantes.
Por mor do mercado e da bolsa de Lisboa
E da casa forte do Banco de Portugal.
Por mor do meu querido Portugal S.A.
Que não quer dizer Portugal Sociedade Anal.
Por mor dos loucos e dos menos loucos.
Por mor dos poetas que têm um pouco de gestores.
E dos gestores que têm um pouco de médicos.
Mas também dos médicos que têm um pouco de loucos.
Por mor dos economistas que gostariam de governar o mundo.
Este mundo e não o outro.
Sem esquecer os políticos que gostariam de mandar
Nos economistas, nos gestores, nos médicos e nos doentes.
Por mor daqueles dos políticos que falam em nome do povo.
E daqueles que gostariam de mandar no povo.
Por mor do povo de esquerda, de centro e de direita.
(Abaixo a unicidade nacional!).
Por mor dos da lista de espera que desesperam de esperar.
Por mor dos que vão morrer esta noite
Nos Hospitais S.A. e nos Hospitais S.P.A.
Por mor dos que foram hoje ao serviço de atendimento permanente
Do meu centro de saúde
E que deram com a porta na cara.
Por mor dos cirurgiões que afiam a faca
À espera dos da lista de espera.
Por mor dos doentes agudos.
E dos doentes crónicos.
E dos hipocondríacos.
E dos doentes da saúde.
Por mor da saúde doente e das doenças saudáveis.
Por mor da saúde emprezarializada.
Por mor das vítimas da guerra, dos terramotos, dos tsunamis,
Da fome, da peste e do bispo da nossa terra, de que Deus nos livre!
Por mor dos simples, dos utentes, dos pacientes, dos clientes,
Dos beneficiários, dos misericordiosos e das crianças.
Por mor das catorze obras de misericórida, sete espirituais e sete corporais.
Por mor dos meus (con)cidadãos, os remediados e os ricos.
Por mor dos pobres, dos tristes, dos descrentes, dos desempregados,
Dos velhos, dos sós, dos esquecidos e dos desconsolados
Da minha rua, do meu bairro, da minha cidade, do meu país.
Sem esquecer os apátridas e os que perderam a identidade.
Por mor daqueles de quem um dia se disse que eram os bem-aventurados
porque deles seriam o reino dos céus, amen.
Por mor do meu fornecedor da revista cais
no semáforo da esquina da rua da alegria com a avenida da liberdade.
Por mor da minha médica de família que conta os dias
que lhe faltam para a reforma.
Por mor do médico do gabinete ao lado
que se enganou no curso que queria tirar
e que está a atender os gajos da propaganda médica.
Por mor do boticário do meu bairro.
Por mor do meu barbeiro-sangrador.
Por mor de mim e de ti, meu amor.
Por mor do meu psicanalista, do meu psicoterapeuta,
do meu confessor e do meu curandeiro.
Por mor do meu médico do trabalho
E do meu técnico de higiene e segurança do trabalho.
Por mor do ergonomista que está a desenhar
o meu sistema técnico e organizacional de trabalho.
Por mor dos habitantes da minha casa inteligente do futuro.
Por da minha cartomante preferida.
Por mor dos mais distraídos.
Dos votantes.
Das debutantes.
Dos amantes.
Por mor do meu patrão
Para que Deus lhe conserve a saúde e a riqueza.
E lhe aumente o empreendedorismo e a capacidade de inovação.
Por mor dos meus dinossauros de estimação.
Por mor dos médicos da noite.
Dos médicos na noite.
Da minha querida Médis.
Por mor dos mercadores de sonho
Que trazem com eles a peste onírica e bubónica.
Por mor do meu rico seguro contra todos os riscos.
Por mor do Estado, que se quer menos Estado e melhor Estado.
Por mor dos contínuos, porteiros e seguranças do Estado.
Mais os cobradores de impostos.
E os pagadores de promessas.
E os guarda-costas das figuras de Estado.
Por mor do Estado de todos nós, sem pompa nem circunstância.
Por mor da nossa jovem democracia.
Por mor dos gestores e administradores dos serviços de saúde.
Por mor dos que passam as noites e os dias a pensar
Na reforma do serviço nacional de saúde.
Por mor dos reformadores de sistemas.
De todos os reformadores.
E das vítimas das reformas.
Dos reformados e aposentados.
Por mor da nossa frágil saúde.
E dos vírus que hão-de vir.
E do mal gálico.
E do mal italiano.
E do mal espanhol.
E do mal americano.
E do mal chinês.
E do mal português.
E do Ribeiro Sanches
Que curava os males de amor
Na Rússia Imperial.
O amor em carne viva.
Por mor das doenças emergentes e re-emergentes
Que nos querem matar.
Por mor das galinhas
Eda gripe dos comedores de galinhas.
Por mor dos codificadores de grupos de dignósticos homogéneos de doença.
Por mor dos marcadores biológicos do Homo Sapiens Sapiens.
E sobretudo dos grandes arquitectos do genoma humano.
Por mor do meu antepassado troglodita
Que era recolector-caçador
E que quando almoçava nunca sabia onde e o quê iria jantar.
Por mor do meu Professor de economia
Que me lembra que não há almoços grátis.
Nem entradas grátis
No céu, no purgatório ou no inferno.
Por mor dos actuais e futuros ministros da saúde.
Por mor dos ministros do futuro.
Por mor da utopia do futuro sem ministros.
E até dos ministros sem futuro.
Por mor dos servidores do povo,
Para que nunca esqueçam que ministro vem do latim minus, pequeno.
Para que os deuses iluminem os nossos governantes
E os pescadores que andam perdidos no mar alto.
E os pecadores dos sete pecados mortais.
Por mor dos nossos governantes e dos seus governados.
Para que o canto e o voo dos pássaros lhes sejam favoráveis.
Por mor do Zé Portuga.
Do Zé Manel.
Do Zé, simplesmente.
E para que, eu, Blogador, me confesse
E nunca perca de vista
O essencial.
Por mor da minha terra, Portugal.
Nem por isso deixo de desejar os bons augúrios ao novo governo, em geral, e ao novo ministro da saúde, em particular. Não rezo por eles por que não sou religioso. Mas gostaria que fizessem boas obras e boas acções. Que deixassem obra feita. Por mor de todos nós, como se diz em terras de Entre Douro e Minho. Por mor de nós e dos hão-de vir atrás de nós.
Por mor do meu país e da coisa pública.
Por mor da boa governação da coisa pública.
Por mor da saúde de todos nós.
Por mor do nosso futuro.
Por mor da nossa memória futura.
Por mor dos vindouros e dos perdedores.
Por mor dos historiadores que escreverão a história
Em nome dos vencedores.
Por mor dos que vierem depois de eu fechar a porta.
Por mor dos guardiões da Torre do Tombo.
Por mor de quem de direito.
Por mor dos pagantes.
E dos não-pagantes.
Por mor dos actores e dos espectadores.
Por mor dos marginais-secantes.
Por mor do mercado e da bolsa de Lisboa
E da casa forte do Banco de Portugal.
Por mor do meu querido Portugal S.A.
Que não quer dizer Portugal Sociedade Anal.
Por mor dos loucos e dos menos loucos.
Por mor dos poetas que têm um pouco de gestores.
E dos gestores que têm um pouco de médicos.
Mas também dos médicos que têm um pouco de loucos.
Por mor dos economistas que gostariam de governar o mundo.
Este mundo e não o outro.
Sem esquecer os políticos que gostariam de mandar
Nos economistas, nos gestores, nos médicos e nos doentes.
Por mor daqueles dos políticos que falam em nome do povo.
E daqueles que gostariam de mandar no povo.
Por mor do povo de esquerda, de centro e de direita.
(Abaixo a unicidade nacional!).
Por mor dos da lista de espera que desesperam de esperar.
Por mor dos que vão morrer esta noite
Nos Hospitais S.A. e nos Hospitais S.P.A.
Por mor dos que foram hoje ao serviço de atendimento permanente
Do meu centro de saúde
E que deram com a porta na cara.
Por mor dos cirurgiões que afiam a faca
À espera dos da lista de espera.
Por mor dos doentes agudos.
E dos doentes crónicos.
E dos hipocondríacos.
E dos doentes da saúde.
Por mor da saúde doente e das doenças saudáveis.
Por mor da saúde emprezarializada.
Por mor das vítimas da guerra, dos terramotos, dos tsunamis,
Da fome, da peste e do bispo da nossa terra, de que Deus nos livre!
Por mor dos simples, dos utentes, dos pacientes, dos clientes,
Dos beneficiários, dos misericordiosos e das crianças.
Por mor das catorze obras de misericórida, sete espirituais e sete corporais.
Por mor dos meus (con)cidadãos, os remediados e os ricos.
Por mor dos pobres, dos tristes, dos descrentes, dos desempregados,
Dos velhos, dos sós, dos esquecidos e dos desconsolados
Da minha rua, do meu bairro, da minha cidade, do meu país.
Sem esquecer os apátridas e os que perderam a identidade.
Por mor daqueles de quem um dia se disse que eram os bem-aventurados
porque deles seriam o reino dos céus, amen.
Por mor do meu fornecedor da revista cais
no semáforo da esquina da rua da alegria com a avenida da liberdade.
Por mor da minha médica de família que conta os dias
que lhe faltam para a reforma.
Por mor do médico do gabinete ao lado
que se enganou no curso que queria tirar
e que está a atender os gajos da propaganda médica.
Por mor do boticário do meu bairro.
Por mor do meu barbeiro-sangrador.
Por mor de mim e de ti, meu amor.
Por mor do meu psicanalista, do meu psicoterapeuta,
do meu confessor e do meu curandeiro.
Por mor do meu médico do trabalho
E do meu técnico de higiene e segurança do trabalho.
Por mor do ergonomista que está a desenhar
o meu sistema técnico e organizacional de trabalho.
Por mor dos habitantes da minha casa inteligente do futuro.
Por da minha cartomante preferida.
Por mor dos mais distraídos.
Dos votantes.
Das debutantes.
Dos amantes.
Por mor do meu patrão
Para que Deus lhe conserve a saúde e a riqueza.
E lhe aumente o empreendedorismo e a capacidade de inovação.
Por mor dos meus dinossauros de estimação.
Por mor dos médicos da noite.
Dos médicos na noite.
Da minha querida Médis.
Por mor dos mercadores de sonho
Que trazem com eles a peste onírica e bubónica.
Por mor do meu rico seguro contra todos os riscos.
Por mor do Estado, que se quer menos Estado e melhor Estado.
Por mor dos contínuos, porteiros e seguranças do Estado.
Mais os cobradores de impostos.
E os pagadores de promessas.
E os guarda-costas das figuras de Estado.
Por mor do Estado de todos nós, sem pompa nem circunstância.
Por mor da nossa jovem democracia.
Por mor dos gestores e administradores dos serviços de saúde.
Por mor dos que passam as noites e os dias a pensar
Na reforma do serviço nacional de saúde.
Por mor dos reformadores de sistemas.
De todos os reformadores.
E das vítimas das reformas.
Dos reformados e aposentados.
Por mor da nossa frágil saúde.
E dos vírus que hão-de vir.
E do mal gálico.
E do mal italiano.
E do mal espanhol.
E do mal americano.
E do mal chinês.
E do mal português.
E do Ribeiro Sanches
Que curava os males de amor
Na Rússia Imperial.
O amor em carne viva.
Por mor das doenças emergentes e re-emergentes
Que nos querem matar.
Por mor das galinhas
Eda gripe dos comedores de galinhas.
Por mor dos codificadores de grupos de dignósticos homogéneos de doença.
Por mor dos marcadores biológicos do Homo Sapiens Sapiens.
E sobretudo dos grandes arquitectos do genoma humano.
Por mor do meu antepassado troglodita
Que era recolector-caçador
E que quando almoçava nunca sabia onde e o quê iria jantar.
Por mor do meu Professor de economia
Que me lembra que não há almoços grátis.
Nem entradas grátis
No céu, no purgatório ou no inferno.
Por mor dos actuais e futuros ministros da saúde.
Por mor dos ministros do futuro.
Por mor da utopia do futuro sem ministros.
E até dos ministros sem futuro.
Por mor dos servidores do povo,
Para que nunca esqueçam que ministro vem do latim minus, pequeno.
Para que os deuses iluminem os nossos governantes
E os pescadores que andam perdidos no mar alto.
E os pecadores dos sete pecados mortais.
Por mor dos nossos governantes e dos seus governados.
Para que o canto e o voo dos pássaros lhes sejam favoráveis.
Por mor do Zé Portuga.
Do Zé Manel.
Do Zé, simplesmente.
E para que, eu, Blogador, me confesse
E nunca perca de vista
O essencial.
Por mor da minha terra, Portugal.
15 março 2005
Em Lisboa nem sangria má nem purga boa - VI: Até daqui a quatro anos, António!
1.Correia de Campos despediu-se dos seus leitores do Público no dia em que tomou posse do XVII Governo Constitucional, como ministro da saúde. À sua última crónica (quinzenal) deu-lhe um título sucinto mas programático: "Quatro anos" (Público, 11 de Março de 2005).
Começa por dizer-nos que quatro anos é muito tempo e pouco tempo, dependendo do balanço final que vier a ser feito da sua acção à frente da tutela da saúde. Será muito tempo ou tempo perdido, diz Correia de Campos, se daqui a quatro anos continuarmos a ter (itálicos meus):
(i) "as mulheres condenadas pela procriação não desejada ou desiludidas pela não assistida";
(ii) "os doentes de cancro tardiamente diagnosticados e mediocremente tratados";
(iii) "os doentes mortalmente infectados nos hospitais que os deveriam recuperar";
(iv) "os imigrantes que não entendem os labirintos da burocracia sanitária";
(v) "os doentes terminais";
(vi) "os portadores de deficiência mal assistida";
(vii) os sem-abrigo ("os que dormem nas arcadas ou nos vãos de escada");
(viii) "os velhos sós que mendigam conversa e se plantam, de madrugada, à porta do centro de saúde";
e, por fim, (ix) os velhos doentes e os doentes crónicos ("cada vez mais velhos e cada vez mais doentes, a cargo de famílias desesperadas, sem meios nem apoios, empurrados do hospital para um domicílio inexistente, um divã numa marquise suburbana").
2. Estes quatro anos que os cidadãos eleitores portugueses deram ao Partido Socialista e ao seu líder José Sócrates e à sua equipa governativa, não foram um cheque em branco mas serão tempo perdido, segundo o novo ministro da saúde, se:
(i) "o conhecimento, a inovação e a adequada tecnologia para a saúde continuarem a ser mal copiados, descuidados sem ambição ou meramente comprados ao estrangeiro";
(ii) "os interesses profissionais dos assistentes sobrelevarem o interesse dos assistidos";
(iii) "a estratégia do crescimento em mais um mercado vencer a estratégia da equidade;
(iv) "a desejável lógica de mercado em tudo o que o mercado faça melhor que o Estado deixar perverter a concorrência pela dominação";
(v) "não se contiver a hemorragia da despesa desnecessária";
(vi) "não se conseguirem introduzir novos parceiros locais na relação de proximidade entre serviços de saúde e cidadãos-utentes";
e, last but not the least, (vii) "não se conseguir (...) passar a mensagem do nº 1 do artigo 64º da Constituição de que todos têm direito à protecção da saúde, [mas todos têm] o dever de a defender e promover".
3. É um desafio, não direi temerário, mas antes lúcido, assertivo e corajoso, este que compromete mais o homem e o cidadão do que o político (ver-se-á o seu programa daqui a dias). Que compromete mas também honra o professor e o intelectual. Em contrapartida, quatro anos serão pouco tempo, "tempo bem utilizado", se:
(i) "os cuidados primários florescerem paulatinamente, com profissionais suficientes, bem treinados e bem apoiados, tratamento urbano dos assistidos";
(ii) "idosos e suas famílias encontrarem uma solução adequada a cada caso, sem descarte egoísta nem fardo insuportável";
(iii) "os toxicodependentes forem agarrados pelo sistema de saúde em vez de pelo sistema de distribuição da droga";
(iv) "os portadores de VIH e outras doenças transmissíveis souberem onde se tratar e como parar a cadeia de contágio";
(v) "hospitais e centros de saúde estiverem ligados entre si sem hegemonias nem recriminações";
(vi) "todos os hospitais souberem e puderem tratar bem o cancro, deixando para os mais especializados os casos mais complexos";
(vii) "todas as escolas disseminarem conhecimentos de saúde e sobretudo de vida saudável pelos seus alunos, criando nos adolescentes a noção de que o desporto sadio é tão cool como a 24 de Julho ou a Ribeira, que a entreajuda e a alegria de viver e o ar livre são pelo menos tão saborosos como a cervejada semanal e o maço diário, que beber com moderação em ocasiões festivas, designando um condutor rotativamente abstémio, é a melhor forma de não perder dolorosamente amigos e amigas na flor da vida";
(viii) "os nossos velhos vierem a ser mais bem acompanhados";
(ix) "os nossos doentes crónicos, nomeadamente de cancro e outras doenças de alta severidade, vierem a ser mais bem assistidos";
(x) e, por fim, "em cada ano, os ainda mais de mil mortos de acidentes de viação, os quase 500 de acidentes de trabalho, os quase mil de sida, as dezenas de milhares de mortos prematuros devido a doença cárdio e cérebro-vascular, a patologias respiratórias e digestivas evitáveis com exercício regular e redução do tabaco e álcool, os quase 80 mil atingidos por infecção hospitalar, dez por cento dos quais morrem, puderem deixar de contar nessa epidemia silenciosa".
3. Meu caro António, senhor ministro da saúde: sob a tua liderança, não tenho dúvidas de que na saúde nada será como dantes, mesmo que não tenhas, felizmente, prometido o céu. Os teus amigos conhecem-te as qualidades (e os defeitos), com destaque para as tuas reconhecidas capacidades de liderança, determinação, organização, competência, empenhamento e relacionamento, a par da tua cultura, inteligência e sentido de missão. E, no final, embora seguramente mais velho e cansado, terás achado que valeu a pena, que valeram a pena os sacrifícios pessoais, familiares e profissionais, que a análise de custo/benefício foi positiva, que todos ganhámos, os portugueses e as portuguesas, os novos, os adultos, os velhos e os doentes, a saúde pública, a universidade, as empresas, a economia, a economia da saúde e as demais ciências da saúde pública, os utentes mas também os profissionais de saúde, todos nós, afinal, os verdadeiros e legítimos stakeholders da saúde...
PS- Só posso desejar-te boa sorte. Até daqui a quatro anos, António!.
Começa por dizer-nos que quatro anos é muito tempo e pouco tempo, dependendo do balanço final que vier a ser feito da sua acção à frente da tutela da saúde. Será muito tempo ou tempo perdido, diz Correia de Campos, se daqui a quatro anos continuarmos a ter (itálicos meus):
(i) "as mulheres condenadas pela procriação não desejada ou desiludidas pela não assistida";
(ii) "os doentes de cancro tardiamente diagnosticados e mediocremente tratados";
(iii) "os doentes mortalmente infectados nos hospitais que os deveriam recuperar";
(iv) "os imigrantes que não entendem os labirintos da burocracia sanitária";
(v) "os doentes terminais";
(vi) "os portadores de deficiência mal assistida";
(vii) os sem-abrigo ("os que dormem nas arcadas ou nos vãos de escada");
(viii) "os velhos sós que mendigam conversa e se plantam, de madrugada, à porta do centro de saúde";
e, por fim, (ix) os velhos doentes e os doentes crónicos ("cada vez mais velhos e cada vez mais doentes, a cargo de famílias desesperadas, sem meios nem apoios, empurrados do hospital para um domicílio inexistente, um divã numa marquise suburbana").
2. Estes quatro anos que os cidadãos eleitores portugueses deram ao Partido Socialista e ao seu líder José Sócrates e à sua equipa governativa, não foram um cheque em branco mas serão tempo perdido, segundo o novo ministro da saúde, se:
(i) "o conhecimento, a inovação e a adequada tecnologia para a saúde continuarem a ser mal copiados, descuidados sem ambição ou meramente comprados ao estrangeiro";
(ii) "os interesses profissionais dos assistentes sobrelevarem o interesse dos assistidos";
(iii) "a estratégia do crescimento em mais um mercado vencer a estratégia da equidade;
(iv) "a desejável lógica de mercado em tudo o que o mercado faça melhor que o Estado deixar perverter a concorrência pela dominação";
(v) "não se contiver a hemorragia da despesa desnecessária";
(vi) "não se conseguirem introduzir novos parceiros locais na relação de proximidade entre serviços de saúde e cidadãos-utentes";
e, last but not the least, (vii) "não se conseguir (...) passar a mensagem do nº 1 do artigo 64º da Constituição de que todos têm direito à protecção da saúde, [mas todos têm] o dever de a defender e promover".
3. É um desafio, não direi temerário, mas antes lúcido, assertivo e corajoso, este que compromete mais o homem e o cidadão do que o político (ver-se-á o seu programa daqui a dias). Que compromete mas também honra o professor e o intelectual. Em contrapartida, quatro anos serão pouco tempo, "tempo bem utilizado", se:
(i) "os cuidados primários florescerem paulatinamente, com profissionais suficientes, bem treinados e bem apoiados, tratamento urbano dos assistidos";
(ii) "idosos e suas famílias encontrarem uma solução adequada a cada caso, sem descarte egoísta nem fardo insuportável";
(iii) "os toxicodependentes forem agarrados pelo sistema de saúde em vez de pelo sistema de distribuição da droga";
(iv) "os portadores de VIH e outras doenças transmissíveis souberem onde se tratar e como parar a cadeia de contágio";
(v) "hospitais e centros de saúde estiverem ligados entre si sem hegemonias nem recriminações";
(vi) "todos os hospitais souberem e puderem tratar bem o cancro, deixando para os mais especializados os casos mais complexos";
(vii) "todas as escolas disseminarem conhecimentos de saúde e sobretudo de vida saudável pelos seus alunos, criando nos adolescentes a noção de que o desporto sadio é tão cool como a 24 de Julho ou a Ribeira, que a entreajuda e a alegria de viver e o ar livre são pelo menos tão saborosos como a cervejada semanal e o maço diário, que beber com moderação em ocasiões festivas, designando um condutor rotativamente abstémio, é a melhor forma de não perder dolorosamente amigos e amigas na flor da vida";
(viii) "os nossos velhos vierem a ser mais bem acompanhados";
(ix) "os nossos doentes crónicos, nomeadamente de cancro e outras doenças de alta severidade, vierem a ser mais bem assistidos";
(x) e, por fim, "em cada ano, os ainda mais de mil mortos de acidentes de viação, os quase 500 de acidentes de trabalho, os quase mil de sida, as dezenas de milhares de mortos prematuros devido a doença cárdio e cérebro-vascular, a patologias respiratórias e digestivas evitáveis com exercício regular e redução do tabaco e álcool, os quase 80 mil atingidos por infecção hospitalar, dez por cento dos quais morrem, puderem deixar de contar nessa epidemia silenciosa".
3. Meu caro António, senhor ministro da saúde: sob a tua liderança, não tenho dúvidas de que na saúde nada será como dantes, mesmo que não tenhas, felizmente, prometido o céu. Os teus amigos conhecem-te as qualidades (e os defeitos), com destaque para as tuas reconhecidas capacidades de liderança, determinação, organização, competência, empenhamento e relacionamento, a par da tua cultura, inteligência e sentido de missão. E, no final, embora seguramente mais velho e cansado, terás achado que valeu a pena, que valeram a pena os sacrifícios pessoais, familiares e profissionais, que a análise de custo/benefício foi positiva, que todos ganhámos, os portugueses e as portuguesas, os novos, os adultos, os velhos e os doentes, a saúde pública, a universidade, as empresas, a economia, a economia da saúde e as demais ciências da saúde pública, os utentes mas também os profissionais de saúde, todos nós, afinal, os verdadeiros e legítimos stakeholders da saúde...
PS- Só posso desejar-te boa sorte. Até daqui a quatro anos, António!.
Em Lisboa nem sangria má nem purga boa - VI: Até daqui a quatro anos, António!
1.Correia de Campos despediu-se dos seus leitores do Público no dia em que tomou posse do XVII Governo Constitucional, como ministro da saúde. À sua última crónica (quinzenal) deu-lhe um título sucinto mas programático: "Quatro anos" (Público, 11 de Março de 2005).
Começa por dizer-nos que quatro anos é muito tempo e pouco tempo, dependendo do balanço final que vier a ser feito da sua acção à frente da tutela da saúde. Será muito tempo ou tempo perdido, diz Correia de Campos, se daqui a quatro anos continuarmos a ter (itálicos meus):
(i) "as mulheres condenadas pela procriação não desejada ou desiludidas pela não assistida";
(ii) "os doentes de cancro tardiamente diagnosticados e mediocremente tratados";
(iii) "os doentes mortalmente infectados nos hospitais que os deveriam recuperar";
(iv) "os imigrantes que não entendem os labirintos da burocracia sanitária";
(v) "os doentes terminais";
(vi) "os portadores de deficiência mal assistida";
(vii) os sem-abrigo ("os que dormem nas arcadas ou nos vãos de escada");
(viii) "os velhos sós que mendigam conversa e se plantam, de madrugada, à porta do centro de saúde";
e, por fim, (ix) os velhos doentes e os doentes crónicos ("cada vez mais velhos e cada vez mais doentes, a cargo de famílias desesperadas, sem meios nem apoios, empurrados do hospital para um domicílio inexistente, um divã numa marquise suburbana").
2. Estes quatro anos que os cidadãos eleitores portugueses deram ao Partido Socialista e ao seu líder José Sócrates e à sua equipa governativa, não foram um cheque em branco mas serão tempo perdido, segundo o novo ministro da saúde, se:
(i) "o conhecimento, a inovação e a adequada tecnologia para a saúde continuarem a ser mal copiados, descuidados sem ambição ou meramente comprados ao estrangeiro";
(ii) "os interesses profissionais dos assistentes sobrelevarem o interesse dos assistidos";
(iii) "a estratégia do crescimento em mais um mercado vencer a estratégia da equidade;
(iv) "a desejável lógica de mercado em tudo o que o mercado faça melhor que o Estado deixar perverter a concorrência pela dominação";
(v) "não se contiver a hemorragia da despesa desnecessária";
(vi) "não se conseguirem introduzir novos parceiros locais na relação de proximidade entre serviços de saúde e cidadãos-utentes";
e, last but not the least, (vii) "não se conseguir (...) passar a mensagem do nº 1 do artigo 64º da Constituição de que todos têm direito à protecção da saúde, [mas todos têm] o dever de a defender e promover".
3. É um desafio, não direi temerário, mas antes lúcido, assertivo e corajoso, este que compromete mais o homem e o cidadão do que o político (ver-se-á o seu programa daqui a dias). Que compromete mas também honra o professor e o intelectual. Em contrapartida, quatro anos serão pouco tempo, "tempo bem utilizado", se:
(i) "os cuidados primários florescerem paulatinamente, com profissionais suficientes, bem treinados e bem apoiados, tratamento urbano dos assistidos";
(ii) "idosos e suas famílias encontrarem uma solução adequada a cada caso, sem descarte egoísta nem fardo insuportável";
(iii) "os toxicodependentes forem agarrados pelo sistema de saúde em vez de pelo sistema de distribuição da droga";
(iv) "os portadores de VIH e outras doenças transmissíveis souberem onde se tratar e como parar a cadeia de contágio";
(v) "hospitais e centros de saúde estiverem ligados entre si sem hegemonias nem recriminações";
(vi) "todos os hospitais souberem e puderem tratar bem o cancro, deixando para os mais especializados os casos mais complexos";
(vii) "todas as escolas disseminarem conhecimentos de saúde e sobretudo de vida saudável pelos seus alunos, criando nos adolescentes a noção de que o desporto sadio é tão cool como a 24 de Julho ou a Ribeira, que a entreajuda e a alegria de viver e o ar livre são pelo menos tão saborosos como a cervejada semanal e o maço diário, que beber com moderação em ocasiões festivas, designando um condutor rotativamente abstémio, é a melhor forma de não perder dolorosamente amigos e amigas na flor da vida";
(viii) "os nossos velhos vierem a ser mais bem acompanhados";
(ix) "os nossos doentes crónicos, nomeadamente de cancro e outras doenças de alta severidade, vierem a ser mais bem assistidos";
(x) e, por fim, "em cada ano, os ainda mais de mil mortos de acidentes de viação, os quase 500 de acidentes de trabalho, os quase mil de sida, as dezenas de milhares de mortos prematuros devido a doença cárdio e cérebro-vascular, a patologias respiratórias e digestivas evitáveis com exercício regular e redução do tabaco e álcool, os quase 80 mil atingidos por infecção hospitalar, dez por cento dos quais morrem, puderem deixar de contar nessa epidemia silenciosa".
3. Meu caro António, senhor ministro da saúde: sob a tua liderança, não tenho dúvidas de que na saúde nada será como dantes, mesmo que não tenhas, felizmente, prometido o céu. Os teus amigos conhecem-te as qualidades (e os defeitos), com destaque para as tuas reconhecidas capacidades de liderança, determinação, organização, competência, empenhamento e relacionamento, a par da tua cultura, inteligência e sentido de missão. E, no final, embora seguramente mais velho e cansado, terás achado que valeu a pena, que valeram a pena os sacrifícios pessoais, familiares e profissionais, que a análise de custo/benefício foi positiva, que todos ganhámos, os portugueses e as portuguesas, os novos, os adultos, os velhos e os doentes, a saúde pública, a universidade, as empresas, a economia, a economia da saúde e as demais ciências da saúde pública, os utentes mas também os profissionais de saúde, todos nós, afinal, os verdadeiros e legítimos stakeholders da saúde...
PS- Só posso desejar-te boa sorte. Até daqui a quatro anos, António!.
Começa por dizer-nos que quatro anos é muito tempo e pouco tempo, dependendo do balanço final que vier a ser feito da sua acção à frente da tutela da saúde. Será muito tempo ou tempo perdido, diz Correia de Campos, se daqui a quatro anos continuarmos a ter (itálicos meus):
(i) "as mulheres condenadas pela procriação não desejada ou desiludidas pela não assistida";
(ii) "os doentes de cancro tardiamente diagnosticados e mediocremente tratados";
(iii) "os doentes mortalmente infectados nos hospitais que os deveriam recuperar";
(iv) "os imigrantes que não entendem os labirintos da burocracia sanitária";
(v) "os doentes terminais";
(vi) "os portadores de deficiência mal assistida";
(vii) os sem-abrigo ("os que dormem nas arcadas ou nos vãos de escada");
(viii) "os velhos sós que mendigam conversa e se plantam, de madrugada, à porta do centro de saúde";
e, por fim, (ix) os velhos doentes e os doentes crónicos ("cada vez mais velhos e cada vez mais doentes, a cargo de famílias desesperadas, sem meios nem apoios, empurrados do hospital para um domicílio inexistente, um divã numa marquise suburbana").
2. Estes quatro anos que os cidadãos eleitores portugueses deram ao Partido Socialista e ao seu líder José Sócrates e à sua equipa governativa, não foram um cheque em branco mas serão tempo perdido, segundo o novo ministro da saúde, se:
(i) "o conhecimento, a inovação e a adequada tecnologia para a saúde continuarem a ser mal copiados, descuidados sem ambição ou meramente comprados ao estrangeiro";
(ii) "os interesses profissionais dos assistentes sobrelevarem o interesse dos assistidos";
(iii) "a estratégia do crescimento em mais um mercado vencer a estratégia da equidade;
(iv) "a desejável lógica de mercado em tudo o que o mercado faça melhor que o Estado deixar perverter a concorrência pela dominação";
(v) "não se contiver a hemorragia da despesa desnecessária";
(vi) "não se conseguirem introduzir novos parceiros locais na relação de proximidade entre serviços de saúde e cidadãos-utentes";
e, last but not the least, (vii) "não se conseguir (...) passar a mensagem do nº 1 do artigo 64º da Constituição de que todos têm direito à protecção da saúde, [mas todos têm] o dever de a defender e promover".
3. É um desafio, não direi temerário, mas antes lúcido, assertivo e corajoso, este que compromete mais o homem e o cidadão do que o político (ver-se-á o seu programa daqui a dias). Que compromete mas também honra o professor e o intelectual. Em contrapartida, quatro anos serão pouco tempo, "tempo bem utilizado", se:
(i) "os cuidados primários florescerem paulatinamente, com profissionais suficientes, bem treinados e bem apoiados, tratamento urbano dos assistidos";
(ii) "idosos e suas famílias encontrarem uma solução adequada a cada caso, sem descarte egoísta nem fardo insuportável";
(iii) "os toxicodependentes forem agarrados pelo sistema de saúde em vez de pelo sistema de distribuição da droga";
(iv) "os portadores de VIH e outras doenças transmissíveis souberem onde se tratar e como parar a cadeia de contágio";
(v) "hospitais e centros de saúde estiverem ligados entre si sem hegemonias nem recriminações";
(vi) "todos os hospitais souberem e puderem tratar bem o cancro, deixando para os mais especializados os casos mais complexos";
(vii) "todas as escolas disseminarem conhecimentos de saúde e sobretudo de vida saudável pelos seus alunos, criando nos adolescentes a noção de que o desporto sadio é tão cool como a 24 de Julho ou a Ribeira, que a entreajuda e a alegria de viver e o ar livre são pelo menos tão saborosos como a cervejada semanal e o maço diário, que beber com moderação em ocasiões festivas, designando um condutor rotativamente abstémio, é a melhor forma de não perder dolorosamente amigos e amigas na flor da vida";
(viii) "os nossos velhos vierem a ser mais bem acompanhados";
(ix) "os nossos doentes crónicos, nomeadamente de cancro e outras doenças de alta severidade, vierem a ser mais bem assistidos";
(x) e, por fim, "em cada ano, os ainda mais de mil mortos de acidentes de viação, os quase 500 de acidentes de trabalho, os quase mil de sida, as dezenas de milhares de mortos prematuros devido a doença cárdio e cérebro-vascular, a patologias respiratórias e digestivas evitáveis com exercício regular e redução do tabaco e álcool, os quase 80 mil atingidos por infecção hospitalar, dez por cento dos quais morrem, puderem deixar de contar nessa epidemia silenciosa".
3. Meu caro António, senhor ministro da saúde: sob a tua liderança, não tenho dúvidas de que na saúde nada será como dantes, mesmo que não tenhas, felizmente, prometido o céu. Os teus amigos conhecem-te as qualidades (e os defeitos), com destaque para as tuas reconhecidas capacidades de liderança, determinação, organização, competência, empenhamento e relacionamento, a par da tua cultura, inteligência e sentido de missão. E, no final, embora seguramente mais velho e cansado, terás achado que valeu a pena, que valeram a pena os sacrifícios pessoais, familiares e profissionais, que a análise de custo/benefício foi positiva, que todos ganhámos, os portugueses e as portuguesas, os novos, os adultos, os velhos e os doentes, a saúde pública, a universidade, as empresas, a economia, a economia da saúde e as demais ciências da saúde pública, os utentes mas também os profissionais de saúde, todos nós, afinal, os verdadeiros e legítimos stakeholders da saúde...
PS- Só posso desejar-te boa sorte. Até daqui a quatro anos, António!.
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