26 fevereiro 2004

Em Lisboa nem sangria má nem purga boa - I : Carta a Sua Excelência, o Ministro da Saúde

Cópia do original.



Para memória futura.

Para os vindouros.

Para os historiadores.

Para os que vierem depois de eu fechar a porta.

Para os guardiões da Torre do Tombo.

Para quem de direito. Para os pagantes. Para os não-pagantes. Para os actores. Para os espectadores.

Para os marginais-secantes.

Para o mercado e a bolsa de Lisboa e a casa forte do Banco de Portugal.

Para o Portugal S.A. Para o Portugal Sociedade Anal.

Para os loucos e os menos loucos.

Para os poetas que têm um pouco de gestores.

Para os gestores que têm um pouco de médicos.

Para os médicos que têm um pouco de loucos.

Para os economistas que gostariam de governar o mundo.

Para os políticos que gostariam de mandar nos economistas, nos gestores, nos médicos e nos doentes.

Para aqueles dos políticos que falam em nome do povo.

E para aqueles que gostariam de mandar no povo.

Para os da lista de espera que desesperam de esperar.

Para os que vão morrer esta noite nos Hospitais S.A.

Para os que foram hoje ao serviço de atendimento permanente do meu centro de saúde e deram com a porta na cara.

Para os doentes agudos. Para os doentes crónicos.

Para os hipocondríacos. Para os doentes da saúde.

Para as vítimas da guerra, dos terramotos, da fome, da peste e do bispo da nossa terra, de que Deus nos livre!

Para os simples, os utentes, os pacientes, os clientes, os beneficiários, as crianças.

Para os meus (con)cidadãos, os remediados e os ricos.

Para os pobres, os tristes, os descrentes, os desempregados, os velhos, os sós, os esquecidos e os desconsolados que frequentem o meu centro de saúde.

Para os apátridas. Para os que perderam a identidade.

Para aqueles de quem um dia se disse que eram os bem-aventurados porque deles seriam o reino dos céus, amen.

Para o meu fornecedor da revista cais no semáforo da esquina da rua da alegria com a avenida da liberdade.

Para a minha-médica-de-família-que-é-a-melhor-médica-do-mundo. Para o médico de família do gabinete ao lado que se enganou no curso que queria tirar.

Para o boticário do meu bairro. Para o meu barbeiro-sangrador. Para mim. Para ti, meu amor.

Para o meu psicanalista. Para o meu psicoterapeuta.

Para o meu médico do trabalho.

Para o meu técnico de higiene e segurança no trabalho.

Para o ergonista que está a desenhar o meu sistema técnico e organizacional de trabalho.

Para os habitantes da minha casa inteligente do futuro.

Para a minha cartomante preferida.

Para os mais distraídos. Para os votantes.

Para as debutantes. Para os amantes.

Para o meu patrão.

Para os meus dinossauros de estimação.

Para os médicos da noite. Para os médicos na noite.

Para a minha querida Médis.

Para o meu rico seguro contra todos os riscos.

Para a coisa (pública) e a sua gestão.

Para os contínuos, porteiros e seguranças do Estado.

Para os cobradores de impostos.

Para os pagadores de promessas.

Para os gestores e administradores dos serviços de saúde.

Para os que passam as noites e os dias a pensar na reforma do serviço nacional de saúde.

Para os reformadores do sistema. Para todos os reformadores.

Para a nossa saúde. Para os vírus que hão-de vir.

Para os codificadores de grupos de dignósticos homogéneos de doença.

Para os marcadores biológicos do Homo Sapiens Sapiens.

Para os arquitectos do genoma humano.

Para o meu antepassado troglodita que era recolector-caçador e que quando almoçava nunca sabia onde e o quê iria jantar.

Para os futuros ministros da saúde. Para os ministros do futuro. Para que Deus ilumine os nossos governantes e os pescadores que andam perdidos no mar alto.

Para conhecimento do Zé Portuga. Para o Zé Manel. Para o Zé, simplesmente.



PS - E para que o Blogador nunca perca de vista o essencial

_________________________



Lisboa, 19 de Fevereiro de 2004



Senhor Ministro da Saúde



Excelência,



Os Médicos de Família Carlos Arroz, João Rodrigues, José Luís Gomes e Luís Pisco, reuniram em 9 de Fevereiro de 2004, no Ministério da Saúde, a pedido de V. Exª, para análise da aplicação do DL 60/2003, de 1 de Abril, e modelos alternativos para a gestão dos Centros de Saúde, conforme previsto na Lei de Bases da Saúde. Nessa reunião ficou clara a nossa postura responsável de diálogo, transparência e objectividade nas propostas apresentadas, tendo sido consensualmente aceite o início dum trabalho conjunto conducente à concretização de novos modelos para a gestão dos Centros de Saúde baseados num contrato-programa nacional.



Surpreendentemente, três dias após a nossa reunião, tomamos conhecimento de que V. Exª teria comunicado, aos respectivos directores, a decisão de entregar a gestão dos Centros de Saúde de Vila Real (1 e 2), Santa Marta de Penaguião, Mesão Frio e Régua ao Centro Hospitalar de Vila Real / Peso da Régua, S.A.



Simultaneamente, recebemos a informação de que igual decisão estaria tomada relativamente aos Centros de Saúde englobados na área de influência do Centro Hospitalar da Cova da Beira, S.A.



Estupefactos e incrédulos perante um cenário que, a ser verdade, contraria as mais elementares regras da ética, da transparência e da boa fé nas relações interpessoais e institucionais, e que, obrigatoriamente, devem estar presentes ao nível dum órgão da governação, vimos solicitar junto de V. Exª os devidos e urgentes esclarecimentos formais sobre esta matéria.



Como se compreenderá não podemos esperar nem admitir de V. Exª outra resposta que não seja o imediato e inequívoco desmentido público deste tipo de decisões e linha de conduta.



Se tal não se verificar, os subscritores deste comunicado, não pondo em causa os deveres institucionais e de respeito para com o Governo e o Ministério da Saúde, consideram estar irremediavelmente comprometida a confiança no titular da respectiva pasta, pelo que nenhum trabalho ou negociação poderá desenvolver-se enquanto num dos lados prevalecer uma sistemática cultura de ocultação de factos e propósitos.



Com os nossos melhores cumprimentos



Carlos Arroz

João Rodrigues

José Luís Gomes

Luís Pisco

Em Lisboa nem sangria má nem purga boa - I : Carta a Sua Excelência, o Ministro da Saúde

Cópia do original.

Para memória futura.
Para os vindouros.
Para os historiadores.
Para os que vierem depois de eu fechar a porta.
Para os guardiões da Torre do Tombo.
Para quem de direito. Para os pagantes. Para os não-pagantes. Para os actores. Para os espectadores.
Para os marginais-secantes.
Para o mercado e a bolsa de Lisboa e a casa forte do Banco de Portugal.
Para o Portugal S.A. Para o Portugal Sociedade Anal.
Para os loucos e os menos loucos.
Para os poetas que têm um pouco de gestores.
Para os gestores que têm um pouco de médicos.
Para os médicos que têm um pouco de loucos.
Para os economistas que gostariam de governar o mundo.
Para os políticos que gostariam de mandar nos economistas, nos gestores, nos médicos e nos doentes.
Para aqueles dos políticos que falam em nome do povo.
E para aqueles que gostariam de mandar no povo.
Para os da lista de espera que desesperam de esperar.
Para os que vão morrer esta noite nos Hospitais S.A.
Para os que foram hoje ao serviço de atendimento permanente do meu centro de saúde e deram com a porta na cara.
Para os doentes agudos. Para os doentes crónicos.
Para os hipocondríacos. Para os doentes da saúde.
Para as vítimas da guerra, dos terramotos, da fome, da peste e do bispo da nossa terra, de que Deus nos livre!
Para os simples, os utentes, os pacientes, os clientes, os beneficiários, as crianças.
Para os meus (con)cidadãos, os remediados e os ricos.
Para os pobres, os tristes, os descrentes, os desempregados, os velhos, os sós, os esquecidos e os desconsolados que frequentem o meu centro de saúde.
Para os apátridas. Para os que perderam a identidade.
Para aqueles de quem um dia se disse que eram os bem-aventurados porque deles seriam o reino dos céus, amen.
Para o meu fornecedor da revista cais no semáforo da esquina da rua da alegria com a avenida da liberdade.
Para a minha-médica-de-família-que-é-a-melhor-médica-do-mundo. Para o médico de família do gabinete ao lado que se enganou no curso que queria tirar.
Para o boticário do meu bairro. Para o meu barbeiro-sangrador. Para mim. Para ti, meu amor.
Para o meu psicanalista. Para o meu psicoterapeuta.
Para o meu médico do trabalho.
Para o meu técnico de higiene e segurança no trabalho.
Para o ergonista que está a desenhar o meu sistema técnico e organizacional de trabalho.
Para os habitantes da minha casa inteligente do futuro.
Para a minha cartomante preferida.
Para os mais distraídos. Para os votantes.
Para as debutantes. Para os amantes.
Para o meu patrão.
Para os meus dinossauros de estimação.
Para os médicos da noite. Para os médicos na noite.
Para a minha querida Médis.
Para o meu rico seguro contra todos os riscos.
Para a coisa (pública) e a sua gestão.
Para os contínuos, porteiros e seguranças do Estado.
Para os cobradores de impostos.
Para os pagadores de promessas.
Para os gestores e administradores dos serviços de saúde.
Para os que passam as noites e os dias a pensar na reforma do serviço nacional de saúde.
Para os reformadores do sistema. Para todos os reformadores.
Para a nossa saúde. Para os vírus que hão-de vir.
Para os codificadores de grupos de dignósticos homogéneos de doença.
Para os marcadores biológicos do Homo Sapiens Sapiens.
Para os arquitectos do genoma humano.
Para o meu antepassado troglodita que era recolector-caçador e que quando almoçava nunca sabia onde e o quê iria jantar.
Para os futuros ministros da saúde. Para os ministros do futuro. Para que Deus ilumine os nossos governantes e os pescadores que andam perdidos no mar alto.
Para conhecimento do Zé Portuga. Para o Zé Manel. Para o Zé, simplesmente.

PS - E para que o Blogador nunca perca de vista o essencial
_________________________

Lisboa, 19 de Fevereiro de 2004

Senhor Ministro da Saúde

Excelência,

Os Médicos de Família Carlos Arroz, João Rodrigues, José Luís Gomes e Luís Pisco, reuniram em 9 de Fevereiro de 2004, no Ministério da Saúde, a pedido de V. Exª, para análise da aplicação do DL 60/2003, de 1 de Abril, e modelos alternativos para a gestão dos Centros de Saúde, conforme previsto na Lei de Bases da Saúde. Nessa reunião ficou clara a nossa postura responsável de diálogo, transparência e objectividade nas propostas apresentadas, tendo sido consensualmente aceite o início dum trabalho conjunto conducente à concretização de novos modelos para a gestão dos Centros de Saúde baseados num contrato-programa nacional.

Surpreendentemente, três dias após a nossa reunião, tomamos conhecimento de que V. Exª teria comunicado, aos respectivos directores, a decisão de entregar a gestão dos Centros de Saúde de Vila Real (1 e 2), Santa Marta de Penaguião, Mesão Frio e Régua ao Centro Hospitalar de Vila Real / Peso da Régua, S.A.

Simultaneamente, recebemos a informação de que igual decisão estaria tomada relativamente aos Centros de Saúde englobados na área de influência do Centro Hospitalar da Cova da Beira, S.A.

Estupefactos e incrédulos perante um cenário que, a ser verdade, contraria as mais elementares regras da ética, da transparência e da boa fé nas relações interpessoais e institucionais, e que, obrigatoriamente, devem estar presentes ao nível dum órgão da governação, vimos solicitar junto de V. Exª os devidos e urgentes esclarecimentos formais sobre esta matéria.

Como se compreenderá não podemos esperar nem admitir de V. Exª outra resposta que não seja o imediato e inequívoco desmentido público deste tipo de decisões e linha de conduta.

Se tal não se verificar, os subscritores deste comunicado, não pondo em causa os deveres institucionais e de respeito para com o Governo e o Ministério da Saúde, consideram estar irremediavelmente comprometida a confiança no titular da respectiva pasta, pelo que nenhum trabalho ou negociação poderá desenvolver-se enquanto num dos lados prevalecer uma sistemática cultura de ocultação de factos e propósitos.

Com os nossos melhores cumprimentos

Carlos Arroz
João Rodrigues
José Luís Gomes
Luís Pisco

25 fevereiro 2004

Blogantologia(s) - VIII: Medicina, Psiquiatria, Escrita & Outras Paixões (do Mia Couto)

"Medicina eu fiz até o segundo ano; estudei três anos, repeti o segundo ano e repetiria infinitamente o segundo ano. Eu tenho tantas profissões porque não quero ter nenhuma. É uma estratégia de não ser coisa nenhuma. Porque a partir do momento que eu me entendo a mim mesmo como sendo biólogo ou sendo escritor ou sendo jornalista ou sendo outra coisa qualquer, eu acho que fecho algumas janelas para o mundo e passo a ter uma relação que depois se encaminha sempre por aí, e eu não quero. Acho que é um empobrecimento.



" (...) eu tinha uma grande paixão. Era escrever. Desde menino que eu tenho essa ideia que uma parte da minha alma só se revela na escrita. Então, eu tinha uma certa idéia de que poderia ser psiquiatra. Esse era o meu desejo.



"Ia para a medicina para ser psiquiatra, mas depois apercebi-me de que a imagem que eu tinha de psiquiatria era muito romantizada. E aquilo que eu depois fui visitar era um mundo horrível, um mundo de prisão, e houve um grande desencantamento com isso. Segundo, eu era já membro da Frelimo, já era militante da causa da independência e isso para mim era muito mais empolgante.



Mia Couto (2002). In: Mia Couto e o exercício da humildade por Marilene Felinto (Folha de S. Paulo, 21 de Julho de 2002).



Comentário:



1. O que é um homem ? O que vale um homem ? Provavelmente nada fora do seu grupo de pertença, de referência e de identidade... O que é um homem sem pátria, sem língua, sem memória, sem circunstância ? Ou até sem bandeira ?



2. Curiosa esta paixão & repulsa dos escritores pela psiquiatria... A descida aos infernos da condição humana. Mia Couto quis ser médico psiquiatra, António Lobo Antunes exerce(u) a psiquiatria... Dois grandes escritores da língua portuguesa de quem eu particularmente gosto. Têm ambos, em comum, a paixão da escrita e a exploração dos labirintos da alma.

Blogantologia(s) - VIII: Medicina, Psiquiatria, Escrita & Outras Paixões (do Mia Couto)

"Medicina eu fiz até o segundo ano; estudei três anos, repeti o segundo ano e repetiria infinitamente o segundo ano. Eu tenho tantas profissões porque não quero ter nenhuma. É uma estratégia de não ser coisa nenhuma. Porque a partir do momento que eu me entendo a mim mesmo como sendo biólogo ou sendo escritor ou sendo jornalista ou sendo outra coisa qualquer, eu acho que fecho algumas janelas para o mundo e passo a ter uma relação que depois se encaminha sempre por aí, e eu não quero. Acho que é um empobrecimento.

" (...) eu tinha uma grande paixão. Era escrever. Desde menino que eu tenho essa ideia que uma parte da minha alma só se revela na escrita. Então, eu tinha uma certa idéia de que poderia ser psiquiatra. Esse era o meu desejo.

"Ia para a medicina para ser psiquiatra, mas depois apercebi-me de que a imagem que eu tinha de psiquiatria era muito romantizada. E aquilo que eu depois fui visitar era um mundo horrível, um mundo de prisão, e houve um grande desencantamento com isso. Segundo, eu era já membro da Frelimo, já era militante da causa da independência e isso para mim era muito mais empolgante.

Mia Couto (2002). In: Mia Couto e o exercício da humildade por Marilene Felinto (Folha de S. Paulo, 21 de Julho de 2002).

Comentário:

1. O que é um homem ? O que vale um homem ? Provavelmente nada fora do seu grupo de pertença, de referência e de identidade... O que é um homem sem pátria, sem língua, sem memória, sem circunstância ? Ou até sem bandeira ?

2. Curiosa esta paixão & repulsa dos escritores pela psiquiatria... A descida aos infernos da condição humana. Mia Couto quis ser médico psiquiatra, António Lobo Antunes exerce(u) a psiquiatria... Dois grandes escritores da língua portuguesa de quem eu particularmente gosto. Têm ambos, em comum, a paixão da escrita e a exploração dos labirintos da alma.

22 fevereiro 2004

Estórias com mural ao fundo - XXIII: Quem mente vai para o Inferno

1. Uma conhecida gestora de sucesso, Directora de Recursos Humanos de uma grande empresa ex-portuguesa, morreu de enfarte do miocárdio. Em plena for da idade (o que não é estranho, já que elas querem em tudo competir com os machos).



2. No outro mundo, dá de caras com São Pedro, ele próprio, em carne e osso. O Gestor do Paraíso!



- Sejas bem-vinda ao Paraíso, diz o São Pedro. Mas deixa-me desde já prevenir-te de uma coisa: não sei muito bem o que fazer contigo. Estive a ver o teu currículo e tens qualificações a mais: um bacharelato, uma licenciatura, um MBA, um doutoramento, um pós-doutoramento... Sabes, minha filha, os negócios celestiais são coisa fácil de gerir: nós somos o Estado, não há mercado, não há inovação, não há horizontes temporais, temos todo o tempo do mundo... E depois nós pagamos mal, não temos fringe benefits, não há comparticipação nos lucros nem no capital (profit-sharing e share ownership, como vocês dizem lá na terra)...

- Não há problema, patrãozinho, deixe-me só dar uma espreitadela para ver o clima organizacional, respondeu a doutora. Sabe como as mulheres são curiosas!

- Espera, tenho outra sugestão a fazer-te: vais passar um dia no Inferno e outro no Paraíso; e depois escolhes onde ficar para o resto da eternidade.



3. Chegada ao Inferno, a gestora viu abrir-se de par em par as portas de acesso a um luxuriante campo de golfe. Mais adiante, havia um esplêndido clube de vela. E logo a seguir outro, ainda mais luxuoso, de caça. E, lá longe, uma magnífica estação de esqui... Havia tudo do bom e do melhor: hotéis, jardins, condomínios fechados, lojas de perfumes, carros e homens bonitos, passagens de modelos, bailes de gala, chás de caridade, e por aí fora.



Depressa ela encontrou os gestores executivos com quem tinha trabalhado na terra, mais os seus gurus, os seus mestres e os seus professores... Todos aparentavam estar em grande forma, transparecendo saúde, felicidade, riqueza e glamour. As emoções do dia culminaram num dos melhores restaurantes do inferno, a que não faltaram o melhor champanhe francês, o melhor Porto Vintage e o melhor humor da corporação do management.



Contrariamente aos preconceitos que ela tinha sobre ele, o dono da casa mostrou-se um anfitrião de cinco estrelas, elegante, charmoso, educado, afável e até divertido, exprimindo-se num razoável inglês. A nossa executiva estava a sentir-se nas suas sete quintas quando recebeu ordens, pelo secretário particular do Diabo, para se preparar para partir para o céu.



4. Aqui o ambiente era outro: literalmente celestial ("Chato p'ra burro", pensou ela para com os seus botões). Nas 24 horas do programa, a mulher andou num monotóno carrossel, de nuvem para nuvem, ouvindo os anjinhos a tocar harpa e cantar melodias infantis... Até lhe fez lembrar o ambiente do seu departmento, nos últimos tempos das suas funções como gestora, quando teve que aplicar um programa de emagrecimento radical à sua empresa que depois viria a ser vendida aos espanhóis...



- Então, minha filha, qual é a tua impressão ?, perguntou o São Pedro no final da visita.

- Senhor São Pedro, não há dúvida que o Paraíso é maravilhoso, é a melhor empresa que eu já conheci: sem conflitos, sem problemas com o pessoal, os clientes, os bancos ou os fornecedores, sem um ai, sem um ui... Tudo rola sobre esferas de algodão! Mas, para lhe falar verdade (que foi coisa que eu nunca consegui fazer lá na terra), senti-me bem melhor no Inferno, com os meus antigos patrões e colegas de trabalho... Sabe, sinto falta de toda aquela intensa vida social que faz as delícias da gestão de recursos humanos...



5. O São Pedro, cavalheiresco mas já velho e cansado, acompanhou-a na descida até ao Inferno... Quando as portas do elevador se abriram, ela deparou-se com um lugar frio, inóspito, desolador, lunar... Viu todos os seus antigos amigos com os fatos dos melhores costureiros reduzidos a trapos, trabalhando como escravos, acorrentados e assediados por mil e um diabos e diabretes. Teve um arrepio: aquilo fez-lhe lembrar a sua primeira experiência profissional como agente de organização e métodos numa fábrica de metalomecânica da Amadora nos já idos anos de 1960!



O Diabo pegou na mulher por um braço e arrastou-a com brutalidade, enquanto o São Pedro voltava para o seu posto de trabalho, cabisbaixo...

- Não entendo, gritou ela. Ontem eu estava aqui e havia imensos espaços verdes, um campo de golfe, um restaurante francês... Comemos lagosta, bebemos champanhe, contámos anedotas, divertimo-nos. Prometeram-me um lugar em grande na eternidade!



O diabo olhou para ela e soltou uma gargalhada:

- Pois é, minha filha, nós utilizamos as mesmas técnicas de selecção e recrutamento de pessoal... Ontem a nossa empresa estava a seduzir-te e a contratar-te... Hoje já fazes parte da equipa do Inferno.



Moral da história:



(i) As políticas de gestão de recursos humanos e os seus gestores vão parar ao Inferno porque mentem...



(ii) Não há mais políticas de gestão de recursos humanos. Previsíveis e consistentes.



(iii) Não há mais recursos humanos...

Estórias com mural ao fundo - XXIII: Quem mente vai para o Inferno

1. Uma conhecida gestora de sucesso, Directora de Recursos Humanos de uma grande empresa ex-portuguesa, morreu de enfarte do miocárdio. Em plena for da idade (o que não é estranho, já que elas querem em tudo competir com os machos).

2. No outro mundo, dá de caras com São Pedro, ele próprio, em carne e osso. O Gestor do Paraíso!

- Sejas bem-vinda ao Paraíso, diz o São Pedro. Mas deixa-me desde já prevenir-te de uma coisa: não sei muito bem o que fazer contigo. Estive a ver o teu currículo e tens qualificações a mais: um bacharelato, uma licenciatura, um MBA, um doutoramento, um pós-doutoramento... Sabes, minha filha, os negócios celestiais são coisa fácil de gerir: nós somos o Estado, não há mercado, não há inovação, não há horizontes temporais, temos todo o tempo do mundo... E depois nós pagamos mal, não temos fringe benefits, não há comparticipação nos lucros nem no capital (profit-sharing e share ownership, como vocês dizem lá na terra)...
- Não há problema, patrãozinho, deixe-me só dar uma espreitadela para ver o clima organizacional, respondeu a doutora. Sabe como as mulheres são curiosas!
- Espera, tenho outra sugestão a fazer-te: vais passar um dia no Inferno e outro no Paraíso; e depois escolhes onde ficar para o resto da eternidade.

3. Chegada ao Inferno, a gestora viu abrir-se de par em par as portas de acesso a um luxuriante campo de golfe. Mais adiante, havia um esplêndido clube de vela. E logo a seguir outro, ainda mais luxuoso, de caça. E, lá longe, uma magnífica estação de esqui... Havia tudo do bom e do melhor: hotéis, jardins, condomínios fechados, lojas de perfumes, carros e homens bonitos, passagens de modelos, bailes de gala, chás de caridade, e por aí fora.

Depressa ela encontrou os gestores executivos com quem tinha trabalhado na terra, mais os seus gurus, os seus mestres e os seus professores... Todos aparentavam estar em grande forma, transparecendo saúde, felicidade, riqueza e glamour. As emoções do dia culminaram num dos melhores restaurantes do inferno, a que não faltaram o melhor champanhe francês, o melhor Porto Vintage e o melhor humor da corporação do management.

Contrariamente aos preconceitos que ela tinha sobre ele, o dono da casa mostrou-se um anfitrião de cinco estrelas, elegante, charmoso, educado, afável e até divertido, exprimindo-se num razoável inglês. A nossa executiva estava a sentir-se nas suas sete quintas quando recebeu ordens, pelo secretário particular do Diabo, para se preparar para partir para o céu.

4. Aqui o ambiente era outro: literalmente celestial ("Chato p'ra burro", pensou ela para com os seus botões). Nas 24 horas do programa, a mulher andou num monotóno carrossel, de nuvem para nuvem, ouvindo os anjinhos a tocar harpa e cantar melodias infantis... Até lhe fez lembrar o ambiente do seu departmento, nos últimos tempos das suas funções como gestora, quando teve que aplicar um programa de emagrecimento radical à sua empresa que depois viria a ser vendida aos espanhóis...

- Então, minha filha, qual é a tua impressão ?, perguntou o São Pedro no final da visita.
- Senhor São Pedro, não há dúvida que o Paraíso é maravilhoso, é a melhor empresa que eu já conheci: sem conflitos, sem problemas com o pessoal, os clientes, os bancos ou os fornecedores, sem um ai, sem um ui... Tudo rola sobre esferas de algodão! Mas, para lhe falar verdade (que foi coisa que eu nunca consegui fazer lá na terra), senti-me bem melhor no Inferno, com os meus antigos patrões e colegas de trabalho... Sabe, sinto falta de toda aquela intensa vida social que faz as delícias da gestão de recursos humanos...

5. O São Pedro, cavalheiresco mas já velho e cansado, acompanhou-a na descida até ao Inferno... Quando as portas do elevador se abriram, ela deparou-se com um lugar frio, inóspito, desolador, lunar... Viu todos os seus antigos amigos com os fatos dos melhores costureiros reduzidos a trapos, trabalhando como escravos, acorrentados e assediados por mil e um diabos e diabretes. Teve um arrepio: aquilo fez-lhe lembrar a sua primeira experiência profissional como agente de organização e métodos numa fábrica de metalomecânica da Amadora nos já idos anos de 1960!

O Diabo pegou na mulher por um braço e arrastou-a com brutalidade, enquanto o São Pedro voltava para o seu posto de trabalho, cabisbaixo...
- Não entendo, gritou ela. Ontem eu estava aqui e havia imensos espaços verdes, um campo de golfe, um restaurante francês... Comemos lagosta, bebemos champanhe, contámos anedotas, divertimo-nos. Prometeram-me um lugar em grande na eternidade!

O diabo olhou para ela e soltou uma gargalhada:
- Pois é, minha filha, nós utilizamos as mesmas técnicas de selecção e recrutamento de pessoal... Ontem a nossa empresa estava a seduzir-te e a contratar-te... Hoje já fazes parte da equipa do Inferno.

Moral da história:

(i) As políticas de gestão de recursos humanos e os seus gestores vão parar ao Inferno porque mentem...

(ii) Não há mais políticas de gestão de recursos humanos. Previsíveis e consistentes.

(iii) Não há mais recursos humanos...

Humor com humor se paga - XXIII: Um Carnaval Português

1. A frase mais carnavalesca do Rei do Carnaval Português deste ano da graça de 2004: “Se em 2003 até o Saddam saiu do buraco, não há razões para não acreditar que, em 2004, o Zé Portuga não consiga o mesmo”...



2. Ao chegar a casa, o marido vê com os seus próprios olhos o Diabo a violar a sua esposa. Horrorizado, a sua reacção imediata foi desatar a berrar a frase mágica que aprendera, em pequeno, nas aulas de catequese:

- Vade retro, Satanás!



Comenta o diabo entre dentes, enquanto muda de posição:

- Boa ideia, ó meu. Vê-se logo que já leste o Kamasutra!



3. No âmbito do novo programa de educação sexual em vigor nas escolas do ensino básico, pergunta a senhora professora ao menino Carlinhos:

- Quando um dos cônjuges morre o outro fica...?

- O outro fica viúvo, senhora professora.

- Muito bem, menino Carlinhos. E quando se trata de um casal de gays ?

- Nesse caso, o outro fica bicha solitária.



4. Só há dois motivos para se bater numa mulher, diz o machista para a feminista, a propósito do Dia Europeu contra a Vítima:

- Por tudo e por nada.



5. Pergunta a feminista para o machista:

-O que é que têm em comum o clitóris da mulher, o aniversário da sogra e o buraco da sanita da casa de banho ?

- Não faço ideia, diz o machista.



Resposta pronta e irónica da feminista:

- São três coisas em que o homem nunca acerta.



6. Piadas à volta do Viagra:



6.1. O Viagra para mulheres novas chama-se... Viagreta; para mulheres velhas... Viagruta; e para padres... Viassacra.



6.2. O Viagra tem existe em gotas... Para aqueles que comem.. com os olhos.



6.3. O Salazar está registado no Guiness como o homem que durante mais tempo tomou Viagra... e o que mais tempo conseguiu manter a dita...dura.



7. Um alentejano vai a um concurso da TVI e o apresentador pergunta-lhe:

- Diga lá, ó amigo, como é que se chamam os habitantes de Cuba do Alentejo?



Após um longo e embaraçoso silêncio, quase a esgotar o tempo de resposta, o alentejano respondeu, a gaguejar:

- Porra, todos, todos nã sei de cor...



PS - Esta semana o M. Madeira foi o principal ciberfornecedor da nossa loja do humor... Um ciberabraço para ele.

Humor com humor se paga - XXIII: Um Carnaval Português

1. A frase mais carnavalesca do Rei do Carnaval Português deste ano da graça de 2004: “Se em 2003 até o Saddam saiu do buraco, não há razões para não acreditar que, em 2004, o Zé Portuga não consiga o mesmo”...

2. Ao chegar a casa, o marido vê com os seus próprios olhos o Diabo a violar a sua esposa. Horrorizado, a sua reacção imediata foi desatar a berrar a frase mágica que aprendera, em pequeno, nas aulas de catequese:
- Vade retro, Satanás!

Comenta o diabo entre dentes, enquanto muda de posição:
- Boa ideia, ó meu. Vê-se logo que já leste o Kamasutra!

3. No âmbito do novo programa de educação sexual em vigor nas escolas do ensino básico, pergunta a senhora professora ao menino Carlinhos:
- Quando um dos cônjuges morre o outro fica...?
- O outro fica viúvo, senhora professora.
- Muito bem, menino Carlinhos. E quando se trata de um casal de gays ?
- Nesse caso, o outro fica bicha solitária.

4. Só há dois motivos para se bater numa mulher, diz o machista para a feminista, a propósito do Dia Europeu contra a Vítima:
- Por tudo e por nada.

5. Pergunta a feminista para o machista:
-O que é que têm em comum o clitóris da mulher, o aniversário da sogra e o buraco da sanita da casa de banho ?
- Não faço ideia, diz o machista.

Resposta pronta e irónica da feminista:
- São três coisas em que o homem nunca acerta.

6. Piadas à volta do Viagra:

6.1. O Viagra para mulheres novas chama-se... Viagreta; para mulheres velhas... Viagruta; e para padres... Viassacra.

6.2. O Viagra tem existe em gotas... Para aqueles que comem.. com os olhos.

6.3. O Salazar está registado no Guiness como o homem que durante mais tempo tomou Viagra... e o que mais tempo conseguiu manter a dita...dura.

7. Um alentejano vai a um concurso da TVI e o apresentador pergunta-lhe:
- Diga lá, ó amigo, como é que se chamam os habitantes de Cuba do Alentejo?

Após um longo e embaraçoso silêncio, quase a esgotar o tempo de resposta, o alentejano respondeu, a gaguejar:
- Porra, todos, todos nã sei de cor...

PS - Esta semana o M. Madeira foi o principal ciberfornecedor da nossa loja do humor... Um ciberabraço para ele.