1. Há anedotas estúpidas, sexistas, racistas, xenófobas, homofóbicas, fascistas, fundamentalistas, terroristas, internacionalistas, revolucionárias e contra-revolucionárias... Mesmo assim tu és capaz de esboçar um (sor)riso... De que nos rimos, afinal ? Porque nos rimos ? Ao fazer uma antologia da estupidez será que eu estou a reabilitar a estupidez e a pô-la ao mesmo nível da inteligência ?
Aproveito para deixar os meus (pesados) votos de agradecimento aos muitos contribuintes (líquidos) do nosso anedotário nacional, incluindo o Manel Madeira, o Luís Lopes, a Paula C., o Carlos Malarranha, o Anacleto M., o senhor ministro, o porteiro, o avelino, o bibi & pipi, e por aí fora...
De vez em quando não resisto a mandar-vos umas anedotas (preferencialmente estúpidas) no pressuposto de que a faculdade (que não a vontade) de rir, é, apesar de tudo, a última coisa de que o Zé Portuga deve abdicar, o mesmo é dizer, titularizar, hipotecar, vender em hasta pública, alienar, ceder, transacionar, privatizar...
Em suma, vá-se a Bombardier para o raio que a parta, fiquem as bombas (inteligentes) do nacional-humorismo lusitano!
2. Pergunta a jovem mãe, de novo grávida, ao seu rebento de seis aninhos (um típico pestinha mimado, egocêntrico, da nova geração de portugas que há-de uma dia chegar ao metro e noventa de altura):
- Então, meu querido, o que é que tu preferes? Um mano ou uma mana?
- Ó mamã, se não te fizer muito dói-dói, o que eu queria mesmo era um pónei para brincar e andar a cavalo...
3. Mensagem portuga de solidariedade aos terroristas informáticos que todos os dias nos atacam na globoesfera: "I am a Portuguese virus, but because of poor technology and no money in my pocket and in my country I am unable to damage your computer. So, please be kind and cooperate with me, by deleting a big file on your system and then forward me to other users. Many Euro thanks, obrigadinho. You are in my heart".
4. Introdução à economia para o Zé Portugal (Parte I): "Ó Zé, se tu tivesses comprado, há um ano atrás, mil dólares em acções da Nortel Networks (que é um dos gigantes da área das telecomunicações, para quem não lê os jornais de negócios), hoje terias 59 dólares. Se pelo contrário tivesses comprado mil dólares em acções da Lucent Technologies, outro gigante da área de telecomunicações (de que nunca ouviste falar e eu também não), hoje essas (más) acções só valeriam 79 dólares. Vê lá tu como são as coisas!
"Agora, se tu tivesses comprado, há um ano, mil dólares de Super Bock (em bejecas, não em acções), se tivesses bebido tudo e vendido as garrafas vazias, hoje terias 80 dólares no bolso...
"Conclusão: Ó Zé, ouve o que te digo, no cenário económico actual, que é o da retoma-não-retoma-dá-cá-o-meu, tu perdes menos graveto se ficares sentado, à porta de casa (admitindo que ainda não tens o estatuto de sem-abrigo), a beber umas bejecas valentes e a receber o subsídio (social) de desemprego... Tens é de ter cuidado com a bófia: para já se conduzires, não bebas! (ao menos sempre dás o bom exemplo às autoridades deste país)"...
5. Diz o terrorista, disfarçado de turista cheio de petrodólares, à vítima (indígena): "Ameaça de bomba no teu país ? Take easy, é tudo boato, meu irmaozinho (leia-se: ó cruzado, filho de cruzado, neto, bisneto, tetraneto de cruzados)!... E olha que o boato é como a bala perdida: entra por um ouvido e sai pelo outro".
6. Confidências e fraquezas de uma conhecida tia da nossa praça cor de rosa, em entrevista à televisão: (i) casei-me por falta de maturidade; (ii) separei-me por falta de paciência; e (iii) voltei a casar por falta de memória (ou terá sido já por causa do Alzheimer ?).
7. "O Zé Portuga não tem medo do fim do mundo que está para vir, tem é medo do fim de cada mês do calendário que, esse, sim, vem inexoravelmente, just in time, juntamente com a factura da luz, da água, do gás, da renda de casa, etc.", confirmam em uníssono o seu (dele) contabilista, o seu (dele) revisor oficial de contas, o seu (dele) gerente de conta no Banco e o seu (dele) fornecedor de roupa de marca na feira do Relógio...
8. Pergunta a esposa ao marido, delicadíssima:
- Querido, queres que eu vá preparar o pequeno-almoço e que to traga à cama?
- Não, obrigado! O raio do Viagra tirou-me o apetite!
À hora do almoço, de novo a pergunta sacramental:
- Meu amor, para o almoço, queres que eu te faça alguma coisa de especial ?
- Não, também não quero nada. Aquele sacana do Viagra tirou-me o apetite!
Chegada a hora jantar, a pacientíssima esposa volta a insistir:
- E para o jantar que é que tu queres, meu benzinho?
O marido mostra um ar de enfado:
- Ainda não me apetece nada. Aquele maldito Viagra tirou-me o apetite!
- Ah, não! Agora, tem lá santa paciência, sai de cima de mim que eu estou a morrer de fome!
9. A loira encontra a amiga (morena) que não via há muito tempo...
- Ai, querida, como estás diferente!...Toda modernaça...
- É que...
- Tás mais magra, rapaste o cabelo...
- É que...
- Mas conta-me lá: o que é que andas a fazer agora?
- Tou a fazer... quimioterapia...
- Ah que giro!... Na Católica ou na Moderna?
10. Um isqueiro publicitário que a Agência Funerária Central da Charneca da Caparica distribui aos seus clientes, fornecedores e amigos, tem os seguintes dizeres, gravados a branco, sob fundo preto:
- Vai fumando que eu à volta cá te espero...
11.Protestam os sindicatos dos professores frente ao Ministério da Educação: "A situação no nosso país está tão má que até as universitárias se tornaram prostitutas". Responde o ministro da educação, do alto da varanda do seu gabinete: "Pelo contrário, meus senhores!... A situação no nosso país é tão boa que até as prostitutas frequentam a Universidade”.
12. O marido, bêbedo que nem um cacho, depois de uma noitada numa conhecida discoteca africana da Venda Nova-Amadora, chega a casa às cinco da manhã e grita para a mulher:
- Chi, mulher, ti pripara pra levar três queca!
- Ó desgraçado, tu vens outra vez com a bebedeira !?
- Não, não, meu crecheu, eu hoje vir com dois amigo preto!
13. Assim se escreve em bom português:
"Se Maneta é quem não tem mão e Perneta é quem não tem perna, então Careta é quem não tem cara e Punheta é quem não tem punho".
14. Durante um comício político em Cuba, um assessor de Fidel vira-se para o povo e exclama:
- Mira, pueblo de Cuba! Acá está Fidel! Fidel no tiene la barba de Cristo?
E o povo:
- La tiene!
- Fidel no tiene los pelos de Cristo? - Los tiene!
- Fidel no tiene lo ojos de Cristo?
- Los tiene!
O assessor dá-se por satisfeito, fazendo sinal para o povo se acalmar e se preparar para ouvir o supremo comandante. É nessa altura que um bêbado grita, no meio da multidão:
- Entonces, porque no crucificá-lo?
15. A mulher: (i) se fosse boa, Deus tinha uma; e (ii) se fosse de confiança, o Diabo não tinha cornos.
16.
A oração que mais se reza em Portugal: por exemplo, (i) antes da febre de sexta-feira à noite; (ii) na véspera da semana da queima das fitas; (iii) nas festas de despedida de solteira/a; (iv)nos casamentos e baptizados; (v) nos derbies de futebol...
Whisky e Vodka que estão no bar,
Alcoolatrado seja o nosso fígado,
Venha a nós o copo cheio,
Nunca pelo meio.
Seja feita a nossa bagaçada,
Assim na taberna como na calçada,
A bjeca nossa de cada dia nos dai hoje.
Perdoai as nossas bebedeiras
Assim como nós perdoamos
A quem nunca tenha bebido.
Mas não nos deixeis cair na Coca Light
E livrai-nos da água e da bílis.
(B)a(r)men!!!
blogue-fora-nada. homo socius ergo blogus [sum]. homem social logo blogador. em sociobloguês nos entendemos. o port(ug)al dos (por)tugas. a prova dos blogue-fora-nada. a guerra colonial. a guiné. do chacheu ao boe. de bissau a bambadinca. os cacimbados. o geba. o corubal. os rios. o macaréu da nossa revolta. o humor nosso de cada dia nos dai hoje.lá vamos blogando e rindo. e venham mais cinco (camaradas). e vieram tantos que isto se transformou numa caserna. a maior caserna virtual da Net!
18 março 2004
Humor com humor se paga - XXIV: O nacional-humorismo lusitano
1. Há anedotas estúpidas, sexistas, racistas, xenófobas, homofóbicas, fascistas, fundamentalistas, terroristas, internacionalistas, revolucionárias e contra-revolucionárias... Mesmo assim tu és capaz de esboçar um (sor)riso... De que nos rimos, afinal ? Porque nos rimos ? Ao fazer uma antologia da estupidez será que eu estou a reabilitar a estupidez e a pô-la ao mesmo nível da inteligência ?
Aproveito para deixar os meus (pesados) votos de agradecimento aos muitos contribuintes (líquidos) do nosso anedotário nacional, incluindo o Manel Madeira, o Luís Lopes, a Paula C., o Carlos Malarranha, o Anacleto M., o senhor ministro, o porteiro, o avelino, o bibi & pipi, e por aí fora...
De vez em quando não resisto a mandar-vos umas anedotas (preferencialmente estúpidas) no pressuposto de que a faculdade (que não a vontade) de rir, é, apesar de tudo, a última coisa de que o Zé Portuga deve abdicar, o mesmo é dizer, titularizar, hipotecar, vender em hasta pública, alienar, ceder, transacionar, privatizar...
Em suma, vá-se a Bombardier para o raio que a parta, fiquem as bombas (inteligentes) do nacional-humorismo lusitano!
2. Pergunta a jovem mãe, de novo grávida, ao seu rebento de seis aninhos (um típico pestinha mimado, egocêntrico, da nova geração de portugas que há-de uma dia chegar ao metro e noventa de altura):
- Então, meu querido, o que é que tu preferes? Um mano ou uma mana?
- Ó mamã, se não te fizer muito dói-dói, o que eu queria mesmo era um pónei para brincar e andar a cavalo...
3. Mensagem portuga de solidariedade aos terroristas informáticos que todos os dias nos atacam na globoesfera: "I am a Portuguese virus, but because of poor technology and no money in my pocket and in my country I am unable to damage your computer. So, please be kind and cooperate with me, by deleting a big file on your system and then forward me to other users. Many Euro thanks, obrigadinho. You are in my heart".
4. Introdução à economia para o Zé Portugal (Parte I): "Ó Zé, se tu tivesses comprado, há um ano atrás, mil dólares em acções da Nortel Networks (que é um dos gigantes da área das telecomunicações, para quem não lê os jornais de negócios), hoje terias 59 dólares. Se pelo contrário tivesses comprado mil dólares em acções da Lucent Technologies, outro gigante da área de telecomunicações (de que nunca ouviste falar e eu também não), hoje essas (más) acções só valeriam 79 dólares. Vê lá tu como são as coisas!
"Agora, se tu tivesses comprado, há um ano, mil dólares de Super Bock (em bejecas, não em acções), se tivesses bebido tudo e vendido as garrafas vazias, hoje terias 80 dólares no bolso...
"Conclusão: Ó Zé, ouve o que te digo, no cenário económico actual, que é o da retoma-não-retoma-dá-cá-o-meu, tu perdes menos graveto se ficares sentado, à porta de casa (admitindo que ainda não tens o estatuto de sem-abrigo), a beber umas bejecas valentes e a receber o subsídio (social) de desemprego... Tens é de ter cuidado com a bófia: para já se conduzires, não bebas! (ao menos sempre dás o bom exemplo às autoridades deste país)"...
5. Diz o terrorista, disfarçado de turista cheio de petrodólares, à vítima (indígena): "Ameaça de bomba no teu país ? Take easy, é tudo boato, meu irmaozinho (leia-se: ó cruzado, filho de cruzado, neto, bisneto, tetraneto de cruzados)!... E olha que o boato é como a bala perdida: entra por um ouvido e sai pelo outro".
6. Confidências e fraquezas de uma conhecida tia da nossa praça cor de rosa, em entrevista à televisão: (i) casei-me por falta de maturidade; (ii) separei-me por falta de paciência; e (iii) voltei a casar por falta de memória (ou terá sido já por causa do Alzheimer ?).
7. "O Zé Portuga não tem medo do fim do mundo que está para vir, tem é medo do fim de cada mês do calendário que, esse, sim, vem inexoravelmente, just in time, juntamente com a factura da luz, da água, do gás, da renda de casa, etc.", confirmam em uníssono o seu (dele) contabilista, o seu (dele) revisor oficial de contas, o seu (dele) gerente de conta no Banco e o seu (dele) fornecedor de roupa de marca na feira do Relógio...
8. Pergunta a esposa ao marido, delicadíssima:
- Querido, queres que eu vá preparar o pequeno-almoço e que to traga à cama?
- Não, obrigado! O raio do Viagra tirou-me o apetite!
À hora do almoço, de novo a pergunta sacramental:
- Meu amor, para o almoço, queres que eu te faça alguma coisa de especial ?
- Não, também não quero nada. Aquele sacana do Viagra tirou-me o apetite!
Chegada a hora jantar, a pacientíssima esposa volta a insistir:
- E para o jantar que é que tu queres, meu benzinho?
O marido mostra um ar de enfado:
- Ainda não me apetece nada. Aquele maldito Viagra tirou-me o apetite!
- Ah, não! Agora, tem lá santa paciência, sai de cima de mim que eu estou a morrer de fome!
9. A loira encontra a amiga (morena) que não via há muito tempo...
- Ai, querida, como estás diferente!...Toda modernaça...
- É que...
- Tás mais magra, rapaste o cabelo...
- É que...
- Mas conta-me lá: o que é que andas a fazer agora?
- Tou a fazer... quimioterapia...
- Ah que giro!... Na Católica ou na Moderna?
10. Um isqueiro publicitário que a Agência Funerária Central da Charneca da Caparica distribui aos seus clientes, fornecedores e amigos, tem os seguintes dizeres, gravados a branco, sob fundo preto:
- Vai fumando que eu à volta cá te espero...
11.Protestam os sindicatos dos professores frente ao Ministério da Educação: "A situação no nosso país está tão má que até as universitárias se tornaram prostitutas". Responde o ministro da educação, do alto da varanda do seu gabinete: "Pelo contrário, meus senhores!... A situação no nosso país é tão boa que até as prostitutas frequentam a Universidade”.
12. O marido, bêbedo que nem um cacho, depois de uma noitada numa conhecida discoteca africana da Venda Nova-Amadora, chega a casa às cinco da manhã e grita para a mulher:
- Chi, mulher, ti pripara pra levar três queca!
- Ó desgraçado, tu vens outra vez com a bebedeira !?
- Não, não, meu crecheu, eu hoje vir com dois amigo preto!
13. Assim se escreve em bom português:
"Se Maneta é quem não tem mão e Perneta é quem não tem perna, então Careta é quem não tem cara e Punheta é quem não tem punho".
14. Durante um comício político em Cuba, um assessor de Fidel vira-se para o povo e exclama:
- Mira, pueblo de Cuba! Acá está Fidel! Fidel no tiene la barba de Cristo?
E o povo:
- La tiene!
- Fidel no tiene los pelos de Cristo? - Los tiene!
- Fidel no tiene lo ojos de Cristo?
- Los tiene!
O assessor dá-se por satisfeito, fazendo sinal para o povo se acalmar e se preparar para ouvir o supremo comandante. É nessa altura que um bêbado grita, no meio da multidão:
- Entonces, porque no crucificá-lo?
15. A mulher: (i) se fosse boa, Deus tinha uma; e (ii) se fosse de confiança, o Diabo não tinha cornos.
16.
A oração que mais se reza em Portugal: por exemplo, (i) antes da febre de sexta-feira à noite; (ii) na véspera da semana da queima das fitas; (iii) nas festas de despedida de solteira/a; (iv)nos casamentos e baptizados; (v) nos derbies de futebol...
Whisky e Vodka que estão no bar,
Alcoolatrado seja o nosso fígado,
Venha a nós o copo cheio,
Nunca pelo meio.
Seja feita a nossa bagaçada,
Assim na taberna como na calçada,
A bjeca nossa de cada dia nos dai hoje.
Perdoai as nossas bebedeiras
Assim como nós perdoamos
A quem nunca tenha bebido.
Mas não nos deixeis cair na Coca Light
E livrai-nos da água e da bílis.
(B)a(r)men!!!
Aproveito para deixar os meus (pesados) votos de agradecimento aos muitos contribuintes (líquidos) do nosso anedotário nacional, incluindo o Manel Madeira, o Luís Lopes, a Paula C., o Carlos Malarranha, o Anacleto M., o senhor ministro, o porteiro, o avelino, o bibi & pipi, e por aí fora...
De vez em quando não resisto a mandar-vos umas anedotas (preferencialmente estúpidas) no pressuposto de que a faculdade (que não a vontade) de rir, é, apesar de tudo, a última coisa de que o Zé Portuga deve abdicar, o mesmo é dizer, titularizar, hipotecar, vender em hasta pública, alienar, ceder, transacionar, privatizar...
Em suma, vá-se a Bombardier para o raio que a parta, fiquem as bombas (inteligentes) do nacional-humorismo lusitano!
2. Pergunta a jovem mãe, de novo grávida, ao seu rebento de seis aninhos (um típico pestinha mimado, egocêntrico, da nova geração de portugas que há-de uma dia chegar ao metro e noventa de altura):
- Então, meu querido, o que é que tu preferes? Um mano ou uma mana?
- Ó mamã, se não te fizer muito dói-dói, o que eu queria mesmo era um pónei para brincar e andar a cavalo...
3. Mensagem portuga de solidariedade aos terroristas informáticos que todos os dias nos atacam na globoesfera: "I am a Portuguese virus, but because of poor technology and no money in my pocket and in my country I am unable to damage your computer. So, please be kind and cooperate with me, by deleting a big file on your system and then forward me to other users. Many Euro thanks, obrigadinho. You are in my heart".
4. Introdução à economia para o Zé Portugal (Parte I): "Ó Zé, se tu tivesses comprado, há um ano atrás, mil dólares em acções da Nortel Networks (que é um dos gigantes da área das telecomunicações, para quem não lê os jornais de negócios), hoje terias 59 dólares. Se pelo contrário tivesses comprado mil dólares em acções da Lucent Technologies, outro gigante da área de telecomunicações (de que nunca ouviste falar e eu também não), hoje essas (más) acções só valeriam 79 dólares. Vê lá tu como são as coisas!
"Agora, se tu tivesses comprado, há um ano, mil dólares de Super Bock (em bejecas, não em acções), se tivesses bebido tudo e vendido as garrafas vazias, hoje terias 80 dólares no bolso...
"Conclusão: Ó Zé, ouve o que te digo, no cenário económico actual, que é o da retoma-não-retoma-dá-cá-o-meu, tu perdes menos graveto se ficares sentado, à porta de casa (admitindo que ainda não tens o estatuto de sem-abrigo), a beber umas bejecas valentes e a receber o subsídio (social) de desemprego... Tens é de ter cuidado com a bófia: para já se conduzires, não bebas! (ao menos sempre dás o bom exemplo às autoridades deste país)"...
5. Diz o terrorista, disfarçado de turista cheio de petrodólares, à vítima (indígena): "Ameaça de bomba no teu país ? Take easy, é tudo boato, meu irmaozinho (leia-se: ó cruzado, filho de cruzado, neto, bisneto, tetraneto de cruzados)!... E olha que o boato é como a bala perdida: entra por um ouvido e sai pelo outro".
6. Confidências e fraquezas de uma conhecida tia da nossa praça cor de rosa, em entrevista à televisão: (i) casei-me por falta de maturidade; (ii) separei-me por falta de paciência; e (iii) voltei a casar por falta de memória (ou terá sido já por causa do Alzheimer ?).
7. "O Zé Portuga não tem medo do fim do mundo que está para vir, tem é medo do fim de cada mês do calendário que, esse, sim, vem inexoravelmente, just in time, juntamente com a factura da luz, da água, do gás, da renda de casa, etc.", confirmam em uníssono o seu (dele) contabilista, o seu (dele) revisor oficial de contas, o seu (dele) gerente de conta no Banco e o seu (dele) fornecedor de roupa de marca na feira do Relógio...
8. Pergunta a esposa ao marido, delicadíssima:
- Querido, queres que eu vá preparar o pequeno-almoço e que to traga à cama?
- Não, obrigado! O raio do Viagra tirou-me o apetite!
À hora do almoço, de novo a pergunta sacramental:
- Meu amor, para o almoço, queres que eu te faça alguma coisa de especial ?
- Não, também não quero nada. Aquele sacana do Viagra tirou-me o apetite!
Chegada a hora jantar, a pacientíssima esposa volta a insistir:
- E para o jantar que é que tu queres, meu benzinho?
O marido mostra um ar de enfado:
- Ainda não me apetece nada. Aquele maldito Viagra tirou-me o apetite!
- Ah, não! Agora, tem lá santa paciência, sai de cima de mim que eu estou a morrer de fome!
9. A loira encontra a amiga (morena) que não via há muito tempo...
- Ai, querida, como estás diferente!...Toda modernaça...
- É que...
- Tás mais magra, rapaste o cabelo...
- É que...
- Mas conta-me lá: o que é que andas a fazer agora?
- Tou a fazer... quimioterapia...
- Ah que giro!... Na Católica ou na Moderna?
10. Um isqueiro publicitário que a Agência Funerária Central da Charneca da Caparica distribui aos seus clientes, fornecedores e amigos, tem os seguintes dizeres, gravados a branco, sob fundo preto:
- Vai fumando que eu à volta cá te espero...
11.Protestam os sindicatos dos professores frente ao Ministério da Educação: "A situação no nosso país está tão má que até as universitárias se tornaram prostitutas". Responde o ministro da educação, do alto da varanda do seu gabinete: "Pelo contrário, meus senhores!... A situação no nosso país é tão boa que até as prostitutas frequentam a Universidade”.
12. O marido, bêbedo que nem um cacho, depois de uma noitada numa conhecida discoteca africana da Venda Nova-Amadora, chega a casa às cinco da manhã e grita para a mulher:
- Chi, mulher, ti pripara pra levar três queca!
- Ó desgraçado, tu vens outra vez com a bebedeira !?
- Não, não, meu crecheu, eu hoje vir com dois amigo preto!
13. Assim se escreve em bom português:
"Se Maneta é quem não tem mão e Perneta é quem não tem perna, então Careta é quem não tem cara e Punheta é quem não tem punho".
14. Durante um comício político em Cuba, um assessor de Fidel vira-se para o povo e exclama:
- Mira, pueblo de Cuba! Acá está Fidel! Fidel no tiene la barba de Cristo?
E o povo:
- La tiene!
- Fidel no tiene los pelos de Cristo? - Los tiene!
- Fidel no tiene lo ojos de Cristo?
- Los tiene!
O assessor dá-se por satisfeito, fazendo sinal para o povo se acalmar e se preparar para ouvir o supremo comandante. É nessa altura que um bêbado grita, no meio da multidão:
- Entonces, porque no crucificá-lo?
15. A mulher: (i) se fosse boa, Deus tinha uma; e (ii) se fosse de confiança, o Diabo não tinha cornos.
16.
A oração que mais se reza em Portugal: por exemplo, (i) antes da febre de sexta-feira à noite; (ii) na véspera da semana da queima das fitas; (iii) nas festas de despedida de solteira/a; (iv)nos casamentos e baptizados; (v) nos derbies de futebol...
Whisky e Vodka que estão no bar,
Alcoolatrado seja o nosso fígado,
Venha a nós o copo cheio,
Nunca pelo meio.
Seja feita a nossa bagaçada,
Assim na taberna como na calçada,
A bjeca nossa de cada dia nos dai hoje.
Perdoai as nossas bebedeiras
Assim como nós perdoamos
A quem nunca tenha bebido.
Mas não nos deixeis cair na Coca Light
E livrai-nos da água e da bílis.
(B)a(r)men!!!
15 março 2004
Em Lisboa nem sangria má nem purga boa - IV: Deitar fora a criancinha com a água do banho
Há sempre um grande risco, nas reformas de tipo topdown e por decreto que os políticos tendem a protagonizar no nosso país, de deitar fora a(s) criancinha(s) com a água do banho. No caso da saúde, isso pode vir a acontecer com a reforma do subsistema de cuidados de saúde primários. O Decreto-Lei nº 60/2003, de 1 de Abril, veio criar a chamada rede de cuidados de saúde primários, e revogar o Decreto-Lei nº 157/99, de 10 de Maio (Regime de criação, organização e funcionamento dos centros de saúde).
Uma das criancinhas é o médico de família, o mesmo é dizar, a especificidade e a identidade da medicina geral e familiar. Os cerca de 1500 médicos de família, reunidos no 21º Encontro Nacional de Clínica Geral (Vilamoura, 10-13 de Março de 2004), estavam inquietos e, mais do que inquietos, receosos em relação aos possíveis efeitos perversos da implementação do novo diploma.
A entrevista que o Ministro da Saúde deu, na sua presença, no dia 12 de Março, não me parece que os tenha tranquilizado nem muito menos convenceu. Louve-se a atitude (intelectual) e até a coragem (física) do ministro, ao aceitar dar uma entrevista em terreno hostil, perante uma plateia de centenas de médicos de família reunidos no seu congresso anual.
Os compromissos assumidos publicamente pelo titular da pasta da saúde vão implicar alterações ao D. L. nº 60/2003, de 1 de Abril, dizem as estruturas representativas dos médicos de família (Ordem dos Médicos, Associação Portuguesa de Clínica Geral, sindicatos médicos). Mas uma coisa é a negociação, de boa fé, e outra coisa o discurso político para consumo interno e/ou externo.
A criancinha não é apenas o prestador de cuidados de saúde ou a "equipa de saúde multiprofissional", como se lê no preâmbulo do contestado diploma legal (o médico, “preferencialmente” da carreira de clínica geral; o médico de saúde pública, se o houver; o enfermeiro, o técnico de serviço social, o psicólogo, o pessoal de apoio administrativo, etc.). A criancinha é também, e sobretudo, o utente, o cidadão, a pessoa, no seu contexto sociofamiliar...
Para os médicos de família e os seus representantes, a questão é a seguinte: (i) este decreto-lei não acautelaria a gestão integrada da saúde e dos serviços de saúde; (ii) a carreira médica de clínica geral seria destruída; e (iii) os cuidados de saúde primários ficariam inexoravelmente na órbita centrípeta e trituradora da medicina hospitalar e da "gestão mercantilista da saúde"...
Trata-se de um parti-pris ideológico ? De uma reacção de defesa corporativa ? De uma forma de resistência à mudança ? Mesmo que assim fosse, seria sempre uma reacção saudável e necessária em qualquer sistema e em qualquer mudança, justamente para evitar que os reformadores, ofuscados pela sua agenda e pressionados pelo seu timing, acabem por esquecer o essencial, a missão, os valores, os princípios, os resultados... Ou até que façam mudanças que, embora tecnicamente bem conceptualizadas, redundem em estrondoso fracasso do ponto de vista sócio-organizacional... Infelizmente, a história dos cuidados de saúde primários em Portugal é, também ela, um sucessão de tentativas de mudança que não têm passado do papel, independentemente da cor política do ministro da tutela...
Partilho as preocupações do Senhor Presidente da República, manifestada num encontro de economistas no Palácio de Belém, no mesmíssimo dia 12 de Março de 2004, quanto aos riscos de a empresarialização dos hospitais e demais serviços de saúde e a consequente lógica de mercado não garantirem, devidamente, a equidade (ou a igualdade de oportunidades), que é essencial à operacionalização do conceito de direito à saúde, consagrado na nossa Constituição.
Seria trágico que, mais de 30 trinta anos depois da consagração portuguesa do conceito de cuidados de saúde primários (com vários anos de avanço em relação a instâncias internacionais como a OMS), nós voltássemos à estaca zero, ou seja, à caixificação da saúde/doença, ao modelo de prestação de cuidados dominante nos Serviços Médico-Sociais das Caixas da Previdência.
Ora este risco é real, e eu partilho as preocupações da minha médica de família que, o ano passado, me explicou, detalhadamente, por que razão é que ela, pela primeira vez na sua vida, fazia uma greve no seu centro de saúde. Ela não tinha nada que se justificar perante mim, simples utente da sua grossa lista, mas eu achei bonito o seu gesto. Ao sair do seu gabinete, pensei cá com os meus botões quão privilegiado era eu por ter esta mulher como minha médica de família!
Uma das criancinhas é o médico de família, o mesmo é dizar, a especificidade e a identidade da medicina geral e familiar. Os cerca de 1500 médicos de família, reunidos no 21º Encontro Nacional de Clínica Geral (Vilamoura, 10-13 de Março de 2004), estavam inquietos e, mais do que inquietos, receosos em relação aos possíveis efeitos perversos da implementação do novo diploma.
A entrevista que o Ministro da Saúde deu, na sua presença, no dia 12 de Março, não me parece que os tenha tranquilizado nem muito menos convenceu. Louve-se a atitude (intelectual) e até a coragem (física) do ministro, ao aceitar dar uma entrevista em terreno hostil, perante uma plateia de centenas de médicos de família reunidos no seu congresso anual.
Os compromissos assumidos publicamente pelo titular da pasta da saúde vão implicar alterações ao D. L. nº 60/2003, de 1 de Abril, dizem as estruturas representativas dos médicos de família (Ordem dos Médicos, Associação Portuguesa de Clínica Geral, sindicatos médicos). Mas uma coisa é a negociação, de boa fé, e outra coisa o discurso político para consumo interno e/ou externo.
A criancinha não é apenas o prestador de cuidados de saúde ou a "equipa de saúde multiprofissional", como se lê no preâmbulo do contestado diploma legal (o médico, “preferencialmente” da carreira de clínica geral; o médico de saúde pública, se o houver; o enfermeiro, o técnico de serviço social, o psicólogo, o pessoal de apoio administrativo, etc.). A criancinha é também, e sobretudo, o utente, o cidadão, a pessoa, no seu contexto sociofamiliar...
Para os médicos de família e os seus representantes, a questão é a seguinte: (i) este decreto-lei não acautelaria a gestão integrada da saúde e dos serviços de saúde; (ii) a carreira médica de clínica geral seria destruída; e (iii) os cuidados de saúde primários ficariam inexoravelmente na órbita centrípeta e trituradora da medicina hospitalar e da "gestão mercantilista da saúde"...
Trata-se de um parti-pris ideológico ? De uma reacção de defesa corporativa ? De uma forma de resistência à mudança ? Mesmo que assim fosse, seria sempre uma reacção saudável e necessária em qualquer sistema e em qualquer mudança, justamente para evitar que os reformadores, ofuscados pela sua agenda e pressionados pelo seu timing, acabem por esquecer o essencial, a missão, os valores, os princípios, os resultados... Ou até que façam mudanças que, embora tecnicamente bem conceptualizadas, redundem em estrondoso fracasso do ponto de vista sócio-organizacional... Infelizmente, a história dos cuidados de saúde primários em Portugal é, também ela, um sucessão de tentativas de mudança que não têm passado do papel, independentemente da cor política do ministro da tutela...
Partilho as preocupações do Senhor Presidente da República, manifestada num encontro de economistas no Palácio de Belém, no mesmíssimo dia 12 de Março de 2004, quanto aos riscos de a empresarialização dos hospitais e demais serviços de saúde e a consequente lógica de mercado não garantirem, devidamente, a equidade (ou a igualdade de oportunidades), que é essencial à operacionalização do conceito de direito à saúde, consagrado na nossa Constituição.
Seria trágico que, mais de 30 trinta anos depois da consagração portuguesa do conceito de cuidados de saúde primários (com vários anos de avanço em relação a instâncias internacionais como a OMS), nós voltássemos à estaca zero, ou seja, à caixificação da saúde/doença, ao modelo de prestação de cuidados dominante nos Serviços Médico-Sociais das Caixas da Previdência.
Ora este risco é real, e eu partilho as preocupações da minha médica de família que, o ano passado, me explicou, detalhadamente, por que razão é que ela, pela primeira vez na sua vida, fazia uma greve no seu centro de saúde. Ela não tinha nada que se justificar perante mim, simples utente da sua grossa lista, mas eu achei bonito o seu gesto. Ao sair do seu gabinete, pensei cá com os meus botões quão privilegiado era eu por ter esta mulher como minha médica de família!
Em Lisboa nem sangria má nem purga boa - IV: Deitar fora a criancinha com a água do banho
Há sempre um grande risco, nas reformas de tipo topdown e por decreto que os políticos tendem a protagonizar no nosso país, de deitar fora a(s) criancinha(s) com a água do banho. No caso da saúde, isso pode vir a acontecer com a reforma do subsistema de cuidados de saúde primários. O Decreto-Lei nº 60/2003, de 1 de Abril, veio criar a chamada rede de cuidados de saúde primários, e revogar o Decreto-Lei nº 157/99, de 10 de Maio (Regime de criação, organização e funcionamento dos centros de saúde).
Uma das criancinhas é o médico de família, o mesmo é dizar, a especificidade e a identidade da medicina geral e familiar. Os cerca de 1500 médicos de família, reunidos no 21º Encontro Nacional de Clínica Geral (Vilamoura, 10-13 de Março de 2004), estavam inquietos e, mais do que inquietos, receosos em relação aos possíveis efeitos perversos da implementação do novo diploma.
A entrevista que o Ministro da Saúde deu, na sua presença, no dia 12 de Março, não me parece que os tenha tranquilizado nem muito menos convenceu. Louve-se a atitude (intelectual) e até a coragem (física) do ministro, ao aceitar dar uma entrevista em terreno hostil, perante uma plateia de centenas de médicos de família reunidos no seu congresso anual.
Os compromissos assumidos publicamente pelo titular da pasta da saúde vão implicar alterações ao D. L. nº 60/2003, de 1 de Abril, dizem as estruturas representativas dos médicos de família (Ordem dos Médicos, Associação Portuguesa de Clínica Geral, sindicatos médicos). Mas uma coisa é a negociação, de boa fé, e outra coisa o discurso político para consumo interno e/ou externo.
A criancinha não é apenas o prestador de cuidados de saúde ou a "equipa de saúde multiprofissional", como se lê no preâmbulo do contestado diploma legal (o médico, “preferencialmente” da carreira de clínica geral; o médico de saúde pública, se o houver; o enfermeiro, o técnico de serviço social, o psicólogo, o pessoal de apoio administrativo, etc.). A criancinha é também, e sobretudo, o utente, o cidadão, a pessoa, no seu contexto sociofamiliar...
Para os médicos de família e os seus representantes, a questão é a seguinte: (i) este decreto-lei não acautelaria a gestão integrada da saúde e dos serviços de saúde; (ii) a carreira médica de clínica geral seria destruída; e (iii) os cuidados de saúde primários ficariam inexoravelmente na órbita centrípeta e trituradora da medicina hospitalar e da "gestão mercantilista da saúde"...
Trata-se de um parti-pris ideológico ? De uma reacção de defesa corporativa ? De uma forma de resistência à mudança ? Mesmo que assim fosse, seria sempre uma reacção saudável e necessária em qualquer sistema e em qualquer mudança, justamente para evitar que os reformadores, ofuscados pela sua agenda e pressionados pelo seu timing, acabem por esquecer o essencial, a missão, os valores, os princípios, os resultados... Ou até que façam mudanças que, embora tecnicamente bem conceptualizadas, redundem em estrondoso fracasso do ponto de vista sócio-organizacional... Infelizmente, a história dos cuidados de saúde primários em Portugal é, também ela, um sucessão de tentativas de mudança que não têm passado do papel, independentemente da cor política do ministro da tutela...
Partilho as preocupações do Senhor Presidente da República, manifestada num encontro de economistas no Palácio de Belém, no mesmíssimo dia 12 de Março de 2004, quanto aos riscos de a empresarialização dos hospitais e demais serviços de saúde e a consequente lógica de mercado não garantirem, devidamente, a equidade (ou a igualdade de oportunidades), que é essencial à operacionalização do conceito de direito à saúde, consagrado na nossa Constituição.
Seria trágico que, mais de 30 trinta anos depois da consagração portuguesa do conceito de cuidados de saúde primários (com vários anos de avanço em relação a instâncias internacionais como a OMS), nós voltássemos à estaca zero, ou seja, à caixificação da saúde/doença, ao modelo de prestação de cuidados dominante nos Serviços Médico-Sociais das Caixas da Previdência.
Ora este risco é real, e eu partilho as preocupações da minha médica de família que, o ano passado, me explicou, detalhadamente, por que razão é que ela, pela primeira vez na sua vida, fazia uma greve no seu centro de saúde. Ela não tinha nada que se justificar perante mim, simples utente da sua grossa lista, mas eu achei bonito o seu gesto. Ao sair do seu gabinete, pensei cá com os meus botões quão privilegiado era eu por ter esta mulher como minha médica de família!
Uma das criancinhas é o médico de família, o mesmo é dizar, a especificidade e a identidade da medicina geral e familiar. Os cerca de 1500 médicos de família, reunidos no 21º Encontro Nacional de Clínica Geral (Vilamoura, 10-13 de Março de 2004), estavam inquietos e, mais do que inquietos, receosos em relação aos possíveis efeitos perversos da implementação do novo diploma.
A entrevista que o Ministro da Saúde deu, na sua presença, no dia 12 de Março, não me parece que os tenha tranquilizado nem muito menos convenceu. Louve-se a atitude (intelectual) e até a coragem (física) do ministro, ao aceitar dar uma entrevista em terreno hostil, perante uma plateia de centenas de médicos de família reunidos no seu congresso anual.
Os compromissos assumidos publicamente pelo titular da pasta da saúde vão implicar alterações ao D. L. nº 60/2003, de 1 de Abril, dizem as estruturas representativas dos médicos de família (Ordem dos Médicos, Associação Portuguesa de Clínica Geral, sindicatos médicos). Mas uma coisa é a negociação, de boa fé, e outra coisa o discurso político para consumo interno e/ou externo.
A criancinha não é apenas o prestador de cuidados de saúde ou a "equipa de saúde multiprofissional", como se lê no preâmbulo do contestado diploma legal (o médico, “preferencialmente” da carreira de clínica geral; o médico de saúde pública, se o houver; o enfermeiro, o técnico de serviço social, o psicólogo, o pessoal de apoio administrativo, etc.). A criancinha é também, e sobretudo, o utente, o cidadão, a pessoa, no seu contexto sociofamiliar...
Para os médicos de família e os seus representantes, a questão é a seguinte: (i) este decreto-lei não acautelaria a gestão integrada da saúde e dos serviços de saúde; (ii) a carreira médica de clínica geral seria destruída; e (iii) os cuidados de saúde primários ficariam inexoravelmente na órbita centrípeta e trituradora da medicina hospitalar e da "gestão mercantilista da saúde"...
Trata-se de um parti-pris ideológico ? De uma reacção de defesa corporativa ? De uma forma de resistência à mudança ? Mesmo que assim fosse, seria sempre uma reacção saudável e necessária em qualquer sistema e em qualquer mudança, justamente para evitar que os reformadores, ofuscados pela sua agenda e pressionados pelo seu timing, acabem por esquecer o essencial, a missão, os valores, os princípios, os resultados... Ou até que façam mudanças que, embora tecnicamente bem conceptualizadas, redundem em estrondoso fracasso do ponto de vista sócio-organizacional... Infelizmente, a história dos cuidados de saúde primários em Portugal é, também ela, um sucessão de tentativas de mudança que não têm passado do papel, independentemente da cor política do ministro da tutela...
Partilho as preocupações do Senhor Presidente da República, manifestada num encontro de economistas no Palácio de Belém, no mesmíssimo dia 12 de Março de 2004, quanto aos riscos de a empresarialização dos hospitais e demais serviços de saúde e a consequente lógica de mercado não garantirem, devidamente, a equidade (ou a igualdade de oportunidades), que é essencial à operacionalização do conceito de direito à saúde, consagrado na nossa Constituição.
Seria trágico que, mais de 30 trinta anos depois da consagração portuguesa do conceito de cuidados de saúde primários (com vários anos de avanço em relação a instâncias internacionais como a OMS), nós voltássemos à estaca zero, ou seja, à caixificação da saúde/doença, ao modelo de prestação de cuidados dominante nos Serviços Médico-Sociais das Caixas da Previdência.
Ora este risco é real, e eu partilho as preocupações da minha médica de família que, o ano passado, me explicou, detalhadamente, por que razão é que ela, pela primeira vez na sua vida, fazia uma greve no seu centro de saúde. Ela não tinha nada que se justificar perante mim, simples utente da sua grossa lista, mas eu achei bonito o seu gesto. Ao sair do seu gabinete, pensei cá com os meus botões quão privilegiado era eu por ter esta mulher como minha médica de família!
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