31 outubro 2003

Humor com humor se paga - V: A verdade (portista) vem sempre ao de cima

Do meu amigo Joaquim Mário, portista dos quatro costados e mais versado que todos nós em matéria teológica por razões de ofício:



Caro Amigo,



Como me desafia em “questões de Fé” (e quem sou eu para me pronunciar acerca disso!), venho contestar, dentro da minha humildade (que pretendo não ser falsa), as afirmações contidas no seu e-mail.



1. Quanto à mulher dar à luz é um facto indesmentível na comum linguagem de Camões, mas como se explicará que a criança chore tanto (quase poderíamos dizer, como o simples concidadão, desalmadamente!) quando é objecto de ter sido dada à luz?



2. Quanto à razão bíblica ela encontra-se completamente infundada visto que nem sequer um apócrifo aceitaria macular a sua pretensão de ser verdadeiro com tamanha e óbvia irrealidade, quanto mais um texto inspirado!



Para memória futura (como agora é hábito dizer) e para que não restem dúvidas, a imagem que no livro do Apocalipse nos é apresentada refere-se a uma besta cor de fogo (que alguns apelidam de dragão – mas também se fala na maçã de Adão e a Bíblia nunca fala de maçã!) com sete cabeças e dez chifres, que, tanto pela cor (mais próxima do encarnado!) como pela configuração, não tem a mínima equiparação com aquele querido e simpático dragão azul que encontra apenas paralelo mais próximo num ursinho de peluche tão benquisto e espontaneamente amado por qualquer criança.



3. O facto de Deus através de Jesus Cristo se ter tornado carne não significa que, grosseiramente, se tenha tornado vermelho!!!



Aliás, a tez característica do povo semita é bastante escura, o que levará a ser considerada uma desvirtuação abjecta querer confundir a incarnação com qualquer coloração mais ou menos clubística.



É com espírito despretensioso que lhe respondo, caro Amigo, apenas para glosar no seu agradável estilo e, claro, para repor a verdade que, sem falsas modéstias, é a que está do meu lado!!!



Para complementar envio, com toda a simpatia, um texto em anexo há tempos recebido e que nos fala sobre Einstein e as suas invulgares capacidades!



Um abraço e até sempre.



Joaquim Mário

(Enviado por e-mail: 30.10.2003)





Albert Einstein, foi a uma festa, e não conhecia ninguém... Logo tentou misturar-se aos convidados:

- Olá, como vai? - Perguntou ele.

- Vou muito bem, obrigado!

- Qual o seu Q.I.?

- 250.

Então logo começou a conversar sobre física quântica, teoria da relatividade, bombas de hidrogénio, etc.



Andou mais um pouco e encontrou outra pessoa:

- Olá, como vai? - Perguntou ele, novamente.

- Eu vou bem, muito obrigado.

- Qual o seu Q.I.?

- 150.

Então, novamente começou a conversar, só que desta vez sobre política, desigualdade social, reforma agrária, etc.



Andou mais um pouco e encontrou uma terceira pessoa:

- Olá, como vai? - Perguntou ele.

- Tô bem!

- Qual o seu Q.I.?

- 100.

Então começou a conversar sobre desemprego, aumento dos combustíveis, Bin Laden, terrorismo, etc.



Andou mais um pouco e encontrou outra pessoa:

- Como está, tudo bem?

- Tá-se!

- Qual o seu Q.I.?

- 50.!!!???

Então começou a falar sobre o Masterplan, Big-brother, Gisela, etc.



Deu mais uma volta e encontrou outra pessoa e perguntou:

- Com vai, tudo bem?

- Iá ...

- Qual o seu Q.I.?

- 10.

- E o seu Benfica, hein??





Humor com humor se paga - V: A verdade (portista) vem sempre ao de cima

Do meu amigo Joaquim Mário, portista dos quatro costados e mais versado que todos nós em matéria teológica por razões de ofício:

Caro Amigo,

Como me desafia em “questões de Fé” (e quem sou eu para me pronunciar acerca disso!), venho contestar, dentro da minha humildade (que pretendo não ser falsa), as afirmações contidas no seu e-mail.

1. Quanto à mulher dar à luz é um facto indesmentível na comum linguagem de Camões, mas como se explicará que a criança chore tanto (quase poderíamos dizer, como o simples concidadão, desalmadamente!) quando é objecto de ter sido dada à luz?

2. Quanto à razão bíblica ela encontra-se completamente infundada visto que nem sequer um apócrifo aceitaria macular a sua pretensão de ser verdadeiro com tamanha e óbvia irrealidade, quanto mais um texto inspirado!

Para memória futura (como agora é hábito dizer) e para que não restem dúvidas, a imagem que no livro do Apocalipse nos é apresentada refere-se a uma besta cor de fogo (que alguns apelidam de dragão – mas também se fala na maçã de Adão e a Bíblia nunca fala de maçã!) com sete cabeças e dez chifres, que, tanto pela cor (mais próxima do encarnado!) como pela configuração, não tem a mínima equiparação com aquele querido e simpático dragão azul que encontra apenas paralelo mais próximo num ursinho de peluche tão benquisto e espontaneamente amado por qualquer criança.

3. O facto de Deus através de Jesus Cristo se ter tornado carne não significa que, grosseiramente, se tenha tornado vermelho!!!

Aliás, a tez característica do povo semita é bastante escura, o que levará a ser considerada uma desvirtuação abjecta querer confundir a incarnação com qualquer coloração mais ou menos clubística.

É com espírito despretensioso que lhe respondo, caro Amigo, apenas para glosar no seu agradável estilo e, claro, para repor a verdade que, sem falsas modéstias, é a que está do meu lado!!!

Para complementar envio, com toda a simpatia, um texto em anexo há tempos recebido e que nos fala sobre Einstein e as suas invulgares capacidades!

Um abraço e até sempre.

Joaquim Mário
(Enviado por e-mail: 30.10.2003)


Albert Einstein, foi a uma festa, e não conhecia ninguém... Logo tentou misturar-se aos convidados:
- Olá, como vai? - Perguntou ele.
- Vou muito bem, obrigado!
- Qual o seu Q.I.?
- 250.
Então logo começou a conversar sobre física quântica, teoria da relatividade, bombas de hidrogénio, etc.

Andou mais um pouco e encontrou outra pessoa:
- Olá, como vai? - Perguntou ele, novamente.
- Eu vou bem, muito obrigado.
- Qual o seu Q.I.?
- 150.
Então, novamente começou a conversar, só que desta vez sobre política, desigualdade social, reforma agrária, etc.

Andou mais um pouco e encontrou uma terceira pessoa:
- Olá, como vai? - Perguntou ele.
- Tô bem!
- Qual o seu Q.I.?
- 100.
Então começou a conversar sobre desemprego, aumento dos combustíveis, Bin Laden, terrorismo, etc.

Andou mais um pouco e encontrou outra pessoa:
- Como está, tudo bem?
- Tá-se!
- Qual o seu Q.I.?
- 50.!!!???
Então começou a falar sobre o Masterplan, Big-brother, Gisela, etc.

Deu mais uma volta e encontrou outra pessoa e perguntou:
- Com vai, tudo bem?
- Iá ...
- Qual o seu Q.I.?
- 10.
- E o seu Benfica, hein??


Estórias com mural ao fundo - XV: A nova filosofia de gestão

Na última empresa em que trabalhei, uma multinacional do sector da indústria alimentar, alguém decidiu um dia que estava na altura de fazer um upgrade do software sócio-organizacional. Contratou-se um novo Chief Executive Officer (CEO) com provas dadas na concorrência. Um tipo duro e duro, ainda jovem, com muito sangue na guelra. A palavra de ordem passou a ser: “Novo estilo de gestão, novo incentivo à produção”.



Mal chegou, fez logo uma minuciosa visita à área fabril, acompanhado do engenheiro de produção e mais os restantes quadros superiores. No armazém encontrou toda a gente a trabalhar, excepto um rapaz, que estava encostado à parede, com as mãos nos bolsos e brinquinho na orelha. O nosso Chief Executive Officer viu logo ali uma boa oportunidade para demonstrar aos colaboradores a sua nova filosofia de gestão em acção, pelo que perguntou ao rapaz:

- Quanto é que você ganha por mês?

- Quatrocentos euros, tirando as gorjetas - respondeu o jovem sem saber do que se tratava. Porquê?



O CEO tirou quatrocentos euros do bolso e deu-os ao rapaz, dizendo:

- Aqui estão o seu salário deste mês. Agora desapareça e nunca mais cá ponha os pés!



O rapaz guardou o dinheiro e arrancou na sua motorizada, sem perceber a razão de ser da sua sorte grande. O nosso administrador, enchendo o peito, perguntou ao grupo de operários, com ar triunfador:

- Afinal o que é este tipo fazia aqui?

- É da pizaria aqui do bairro, senhor engenheiro. Ele veio cá trazer-nos uma piza para o almoço e ficou a ver-nos trabalhar - respondeu um dos operários.



Moral da história: Nada como ver um gestor em acção! Mas em gestão há que prevenir a ejaculação precoce, como diria o mais famoso dos pipis lusos.

Estórias com mural ao fundo - XV: A nova filosofia de gestão

Na última empresa em que trabalhei, uma multinacional do sector da indústria alimentar, alguém decidiu um dia que estava na altura de fazer um upgrade do software sócio-organizacional. Contratou-se um novo Chief Executive Officer (CEO) com provas dadas na concorrência. Um tipo duro e duro, ainda jovem, com muito sangue na guelra. A palavra de ordem passou a ser: “Novo estilo de gestão, novo incentivo à produção”.

Mal chegou, fez logo uma minuciosa visita à área fabril, acompanhado do engenheiro de produção e mais os restantes quadros superiores. No armazém encontrou toda a gente a trabalhar, excepto um rapaz, que estava encostado à parede, com as mãos nos bolsos e brinquinho na orelha. O nosso Chief Executive Officer viu logo ali uma boa oportunidade para demonstrar aos colaboradores a sua nova filosofia de gestão em acção, pelo que perguntou ao rapaz:
- Quanto é que você ganha por mês?
- Quatrocentos euros, tirando as gorjetas - respondeu o jovem sem saber do que se tratava. Porquê?

O CEO tirou quatrocentos euros do bolso e deu-os ao rapaz, dizendo:
- Aqui estão o seu salário deste mês. Agora desapareça e nunca mais cá ponha os pés!

O rapaz guardou o dinheiro e arrancou na sua motorizada, sem perceber a razão de ser da sua sorte grande. O nosso administrador, enchendo o peito, perguntou ao grupo de operários, com ar triunfador:
- Afinal o que é este tipo fazia aqui?
- É da pizaria aqui do bairro, senhor engenheiro. Ele veio cá trazer-nos uma piza para o almoço e ficou a ver-nos trabalhar - respondeu um dos operários.

Moral da história: Nada como ver um gestor em acção! Mas em gestão há que prevenir a ejaculação precoce, como diria o mais famoso dos pipis lusos.

28 outubro 2003

Estórias com mural ao fundo - XIV: País de merda que era aquele!

Esta é uma história absolutamente deliciosa que repesquei do Terravista > Fóruns > Saúde > Saúde & Segurança no Trabalho. Foi escrita pelo Jota Lourenço (também conhecido por JL), em 29/5/2000. Na altura salvei-a do ciberlixo ao guardá-la, provisoriamente, na minha página, numa pequena antologia de citações... O JL era outro cibercidadão que eu gostaria de voltar a (re)encontrar. Lembrei-me dele, desse alentejano do Barreiro, reformado das lides sindicais, animador sociocultural nas horas vagas, neto de ganhão e de anarcossindicalista, a propósito desta história de agora quererem empurrar o ambiente para a agricultura, o mesmo é dizer... para a fileira do eucalipto e para a companhia da celulose. Na altura o JL estava indignado com a triste história da incineração... O resto da intervenção ainda pode ser lida em (Ex)citações de cada dia (Letras O-R) > Portugal. Protugeses.



_____



(...) Um país que não consegue resolver como tratar a merda que todos os dias caga, é um país sem futuro, é um país de merda ! ... Eu estou como aquele gajo que ia pela Av da Liberdade acima, a ler o Diário de Notícias (a primeira página tinha um título de caixa com um destaque do último discurso de Salazar: Para Angola, rapidamente e em força!). O homem comentava em voz alta:



- Que país de merda!...



Estávamos nos anos 60, como imaginam! Um Pide (ainda se lembram o que era a Pide ?, já não se lembram!) que vinha atrás do fulano, ouviu o insulto e deu-lhe ordem de prisão:



- Preso, eu ? , retorquiu o ruidoso cidadão.



- Pois, está a insultar a Pátria e o Governo da Nação!, respondeu o Pide.



- Ó senhor agente, não tire conclusões apressadas. P'ra já, eu sou da situação, não sou do reviralho... E depois estou a ler esta notícia de três linhas sobre Cuba, aqui no canto inferior direito. Imagine quem lá manda agora... um tal barbudo de nome Fidel Castro. Ao que isto chegou!



- Ah!, tá bem, se é assim, tá bém... Siga o seu caminho!



Passados cinco minutos, o Pide que tinha reflexos lentos, voltou a abordar o fulano do jornal e, desta vez, intimou-o, com modos mais violentos:



- Venha comigo!, temos muito que conversar na António Maria Cardoso (lembram-se ?, era a sede da Pide, para os lado do Chiado). Eu 'tive cá a pensar, a pensar, e o tal país de merda só pode ser... o nosso!



Jota Lourenço

______



Moral da história: Felizmente que o Pide afinal não tinha razão! Os portugas acabaram por provar, anos mais tarde, que não eram nenhuns merdosos...

Estórias com mural ao fundo - XIV: País de merda que era aquele!

Esta é uma história absolutamente deliciosa que repesquei do Terravista > Fóruns > Saúde > Saúde & Segurança no Trabalho. Foi escrita pelo Jota Lourenço (também conhecido por JL), em 29/5/2000. Na altura salvei-a do ciberlixo ao guardá-la, provisoriamente, na minha página, numa pequena antologia de citações... O JL era outro cibercidadão que eu gostaria de voltar a (re)encontrar. Lembrei-me dele, desse alentejano do Barreiro, reformado das lides sindicais, animador sociocultural nas horas vagas, neto de ganhão e de anarcossindicalista, a propósito desta história de agora quererem empurrar o ambiente para a agricultura, o mesmo é dizer... para a fileira do eucalipto e para a companhia da celulose. Na altura o JL estava indignado com a triste história da incineração... O resto da intervenção ainda pode ser lida em (Ex)citações de cada dia (Letras O-R) > Portugal. Protugeses.

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(...) Um país que não consegue resolver como tratar a merda que todos os dias caga, é um país sem futuro, é um país de merda ! ... Eu estou como aquele gajo que ia pela Av da Liberdade acima, a ler o Diário de Notícias (a primeira página tinha um título de caixa com um destaque do último discurso de Salazar: Para Angola, rapidamente e em força!). O homem comentava em voz alta:

- Que país de merda!...

Estávamos nos anos 60, como imaginam! Um Pide (ainda se lembram o que era a Pide ?, já não se lembram!) que vinha atrás do fulano, ouviu o insulto e deu-lhe ordem de prisão:

- Preso, eu ? , retorquiu o ruidoso cidadão.

- Pois, está a insultar a Pátria e o Governo da Nação!, respondeu o Pide.

- Ó senhor agente, não tire conclusões apressadas. P'ra já, eu sou da situação, não sou do reviralho... E depois estou a ler esta notícia de três linhas sobre Cuba, aqui no canto inferior direito. Imagine quem lá manda agora... um tal barbudo de nome Fidel Castro. Ao que isto chegou!

- Ah!, tá bem, se é assim, tá bém... Siga o seu caminho!

Passados cinco minutos, o Pide que tinha reflexos lentos, voltou a abordar o fulano do jornal e, desta vez, intimou-o, com modos mais violentos:

- Venha comigo!, temos muito que conversar na António Maria Cardoso (lembram-se ?, era a sede da Pide, para os lado do Chiado). Eu 'tive cá a pensar, a pensar, e o tal país de merda só pode ser... o nosso!

Jota Lourenço
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Moral da história: Felizmente que o Pide afinal não tinha razão! Os portugas acabaram por provar, anos mais tarde, que não eram nenhuns merdosos...

(Ex)citações de cada dia - VI: Os 'portugueses normais'

Presidente da República, Jorge Sampaio: "(...) há uma coisa que é preciso dar a este país: segurança. As pessoas têm medo do desemprego, a vida da maior parte dos portugueses é muito dura, começa às sete da manhã e às vezes acaba às dez, onze da noite. Os portugueses normais, os que são empregados por conta de outrem, os que fazem as fábricas, têm de ter algum carinho. Porque é que são sempre os culpados de tudo? Até porque em Portugal há pobreza, há exclusão. Não vamos dramatizar, mas temos de trazer as pessoas aos mínimos de desenvolvimento, quando o crescimento é negativo temos de lhes assegurar o mínimo..." (Público, 28.10.2003)

(Ex)citações de cada dia - VI: Os 'portugueses normais'

Presidente da República, Jorge Sampaio: "(...) há uma coisa que é preciso dar a este país: segurança. As pessoas têm medo do desemprego, a vida da maior parte dos portugueses é muito dura, começa às sete da manhã e às vezes acaba às dez, onze da noite. Os portugueses normais, os que são empregados por conta de outrem, os que fazem as fábricas, têm de ter algum carinho. Porque é que são sempre os culpados de tudo? Até porque em Portugal há pobreza, há exclusão. Não vamos dramatizar, mas temos de trazer as pessoas aos mínimos de desenvolvimento, quando o crescimento é negativo temos de lhes assegurar o mínimo..." (Público, 28.10.2003)

27 outubro 2003

Humor com humor se paga - IV : O benfiquismo é uma questão de fé ?

Há um humor (saudavelmente) benfiquista... Tal como há um humor (saudavelmente) sportinguista, portista ou boavisteiro. Que me perdõem todos os demais adeptos dos outros clubes, grandes, médios e pequenos. O meu pluralismo desportivo é grande, para não dizer total, mas não pode extravasar as dimensões regulamentares do blogue-fora-nada.

Estou grato ao meu amigo Anacleto M., por me ter revelado o (bom) humor benfiquista. Resta-me, um dia destes, ver para crer e descer ao já famoso inferno da luz... Para já fico a saber que o benfiquismo seria sobretudo (i) um estado de alma, (ii) uma questão de fé ou até (iii) uma verdadeira religião...

Haveria três razões lógicas para se ser benfiquista, diz-me o meu amigo Anacleto M., com a sua conhecida capacidade de fazer prosélitos:

(i) a razão natural, biológica: a mulher dá à luz, não dá às antas nem a alvalade nem ao bessa;

(ii) a razão bíblica, histórica: há uma passagem nas Sagradas Escrituras que diz: "Dominarei os leões e os dragões e voarei para o ceú sobre as asas de uma águia" (sic);

(iii) e, por fim, a razão teológica, definitiva: Jesus Cristo encarnou (sic), não escureceu, não branqueou, não azulou nem... esverdeou!

Em questões de fé, eu não me meto... Em relação à segunda razão invocada, gostaria apenas que o meu amigo tivesse sido mais preciso, e citasse o livro e o capítulo, para os sportinguistas e os portistas não ficarem a pensar que esta versão da Bíblia pode ser apócrifa. Ou, pior ainda, que foi reeditada, ampliada e actualizada por Deus, a pedido dos benfiquistas...

Humor com humor se paga - IV : O benfiquismo é uma questão de fé ?

Há um humor (saudavelmente) benfiquista... Tal como há um humor (saudavelmente) sportinguista, portista ou boavisteiro. Que me perdõem todos os demais adeptos dos outros clubes, grandes, médios e pequenos. O meu pluralismo desportivo é grande, para não dizer total, mas não pode extravasar as dimensões regulamentares do blogue-fora-nada.

Estou grato ao meu amigo Anacleto M., por me ter revelado o (bom) humor benfiquista. Resta-me, um dia destes, ver para crer e descer ao já famoso inferno da luz... Para já fico a saber que o benfiquismo seria sobretudo (i) um estado de alma, (ii) uma questão de fé ou até (iii) uma verdadeira religião...

Haveria três razões lógicas para se ser benfiquista, diz-me o meu amigo Anacleto M., com a sua conhecida capacidade de fazer prosélitos:

(i) a razão natural, biológica: a mulher dá à luz, não dá às antas nem a alvalade nem ao bessa;

(ii) a razão bíblica, histórica: há uma passagem nas Sagradas Escrituras que diz: "Dominarei os leões e os dragões e voarei para o ceú sobre as asas de uma águia" (sic);

(iii) e, por fim, a razão teológica, definitiva: Jesus Cristo encarnou (sic), não escureceu, não branqueou, não azulou nem... esverdeou!

Em questões de fé, eu não me meto... Em relação à segunda razão invocada, gostaria apenas que o meu amigo tivesse sido mais preciso, e citasse o livro e o capítulo, para os sportinguistas e os portistas não ficarem a pensar que esta versão da Bíblia pode ser apócrifa. Ou, pior ainda, que foi reeditada, ampliada e actualizada por Deus, a pedido dos benfiquistas...

26 outubro 2003

Portugal sacro-profano - IX: O que é feito da Barbarian Girl ? E das operárias de Castelo de Paiva ?

Clarks ou: as multinacionais têm alma ?



Uma das habituais perguntas da Bárbara, e esta por sinal muito pouca metafísica. Perdi-lhe o rasto, à Bárbara, aliás, Barbarian Girl. Só lhe conhecia o nickname ou o nome de guerra, além de uns escassos dados biográficos que ela deixava transparecer nos seus posts, habitualmente escritos em letra minúscula, em estilo telegráfico: lembro-me, por exemplo, que morava em Lisboa, tinha uma avô galega e morava nas Avenidas Novas; pelas minhas contas, hoje deve andar no 3º ano de biologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, se é que não chumbou nenhum ano. Nunca nos cruzámos por aquelas ou outras bandas. Trocámos apenas alguns e-mails. Simpatisante bloquista confessa (se bem me recordo) e feminista militante (tanto quanto me foi dado deduzir das ideias que expunha), participou em alguns temas de discussão que eu próprio suscitei ou em que intervi, nos saudosos Fóruns do Publico.pt > Cidadania. Um desses temas de discussão foi sobre a "Clarks: ou as multinacionais têm alma?".



Revisitei ontem aquele cantinho do ciberespaço, como eu lhe chamava. Com alguma saudade, diga-se de passagem... Dela e doutros cibercidadãos: a Isabel Coutinho, o Migoma, o Jota Lourenço, o Cibernocturno, o Dr. Hipócrates, o Fiatux, a Megane, a Raquel, o Eugénio Rosa, a Eva Luna, o J.B. Mendes, o Queirós, o Eljump, o Deus das Moscas, o Bafo de Nuca e outr@s...



Reproduzo aqui uma das intervenções da Bárbara (14.01.2003). Incisiva, contundente, agressiva como sempre. Mas também generosa, como sempre, uma generosidade que é(era) própria dos verdes anos mas sobretudo de um já maduro sentido de cidadania...



Confesso que gostaria de saber por onde pára ela, a Barbarian Girl. E já agora pergunto a quem me souber responder: o que é feito daquelas mulheres (e homens) que a Clarks mandou para a rua ? Na voragem mediática dos acontecimentos do dia-a-dia, Castelo de Paiva e a sua gente só ainda hoje são notícia nos media por causa da tragédia da Ponte de Entre-os-Rios e do julgamento dos seus presumíveis responsáveis... Sei que perder o emprego ou a vida não é a mesma coisa. Em todo o caso, pelo seu impacto social e económico, o despedimento colectivo do pessoal da Clarks, em Castelo de Paiva, foi notícia nacional por uns breves dias. L.G.

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castelo de paiva ? sabes onde fica ? eu não...



uma desgraça nunca vem só, dizia há dias uma operária da multinacional do calçado que, depois de arouca, decidiu fechar a sua segunda unidade fabril em castelo de paiva, estando em vias de mandar para o desemprego cerca 600 trabalhadores. a acrescentar aos outros 300 e tal de há dois anos. primeiro, foram as minas do pejão que encerraram de vez; depois foi a tragédia de entre-os-rios; e agora é a clarks que se muda, de máquinas e bagagens forradas a euros, para outro paraíso capitalista. para outra terreola qualquer, talvez parecida com castelo de paiva. talvez do leste europeu, com tabuleta escrita em caracteres eslavos; não importa onde, desde que haja sempre gente disposta a vender a sua força de trabalho por um punhado de cêntimos. é o circo trágico-cómico das multinacionais que montam e desmontam fábricas, em qualquer parte do mundo. faz-me lembrar os recintos das touradas desmontáveis no verão.



não creio que as multinacionais tenham alma. não creio que os tecnocratas que as governam tenham alma. ou que saibam, no mínimo, compreender a raiva das pobres mulheres operárias que entraram tarde para o mundo do trabalho. e que agora se sentem usadas, abusadas, deitadas fora, velhas, traídas. deve ser esse o sentimento de se ser despedido colectivamente. e no entanto o mundo é assim, dizem-nos os brilhantes teóricos neoliberais. e não há volta a dar-lhe. os cães ladram e a circo das multinacionais passa. são elas que governam este mundo. são elas que dão e baralham as cartas. são elas que nos vestem e calçam e criam os mitos que nos alimentam. são elas que são donos do destino de milhões e milhões de pessoas. pobres diabos e diabas, contentes hoje por terem pão para a boca. desesperados amanhã porque já não sabem onde vão buscar com que pagar as prestações da casa e do carro.



fiquei impressionada ao ouvir o presidente da câmara de castelo paiva dizer que o total de despedidos são 25% da força de trabalho industrial do concelho, 3% da população do concelho. e onde estão os líderes do meu país, levando um pouco de conforto e de esperança àquela pobre gente, como há dois anos atrás? eu não sei onde fica castelo de paiva, mas o presidente da república, o primeiro ministro, o ministro do trabalho, o novo patrão do investimento estrangeiro, o senhor miguel cadilhe, deve saber onde fica. dizem que a esperança é a última coisa a morrer. mas a verdade é que também morre. e infelizmente vai morrer para os trabalhadores da clarks, uma multinacional sem alma.



fui espreitar o site” dos gajos. nem uma palavra em português. nem uma palavra em qualquer língua para os seus “colaboradores”. lá dentro (do sítio), dizem-me, “a world of comfort and style awaits you”… valores como a responsabilidade social, o respeito pelos direitos de quem trabalha ou o cumprimento da palavra dada a uma comunidade inteira, parece que são coisas que não constam dos “core values” desta multinacional. valores ? são para pisar pelas botas altas das manequins no estrado da alta moda... e depois quem sabe onde fica castelo de paiva, uma minúscula peça do puzzle da europa das multinacionais ?



barbara(mente) revoltada e deprimida.





Portugal sacro-profano - IX: O que é feito da Barbarian Girl ? E das operárias de Castelo de Paiva ?

Clarks ou: as multinacionais têm alma ?

Uma das habituais perguntas da Bárbara, e esta por sinal muito pouca metafísica. Perdi-lhe o rasto, à Bárbara, aliás, Barbarian Girl. Só lhe conhecia o nickname ou o nome de guerra, além de uns escassos dados biográficos que ela deixava transparecer nos seus posts, habitualmente escritos em letra minúscula, em estilo telegráfico: lembro-me, por exemplo, que morava em Lisboa, tinha uma avô galega e morava nas Avenidas Novas; pelas minhas contas, hoje deve andar no 3º ano de biologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, se é que não chumbou nenhum ano. Nunca nos cruzámos por aquelas ou outras bandas. Trocámos apenas alguns e-mails. Simpatisante bloquista confessa (se bem me recordo) e feminista militante (tanto quanto me foi dado deduzir das ideias que expunha), participou em alguns temas de discussão que eu próprio suscitei ou em que intervi, nos saudosos Fóruns do Publico.pt > Cidadania. Um desses temas de discussão foi sobre a "Clarks: ou as multinacionais têm alma?".

Revisitei ontem aquele cantinho do ciberespaço, como eu lhe chamava. Com alguma saudade, diga-se de passagem... Dela e doutros cibercidadãos: a Isabel Coutinho, o Migoma, o Jota Lourenço, o Cibernocturno, o Dr. Hipócrates, o Fiatux, a Megane, a Raquel, o Eugénio Rosa, a Eva Luna, o J.B. Mendes, o Queirós, o Eljump, o Deus das Moscas, o Bafo de Nuca e outr@s...

Reproduzo aqui uma das intervenções da Bárbara (14.01.2003). Incisiva, contundente, agressiva como sempre. Mas também generosa, como sempre, uma generosidade que é(era) própria dos verdes anos mas sobretudo de um já maduro sentido de cidadania...

Confesso que gostaria de saber por onde pára ela, a Barbarian Girl. E já agora pergunto a quem me souber responder: o que é feito daquelas mulheres (e homens) que a Clarks mandou para a rua ? Na voragem mediática dos acontecimentos do dia-a-dia, Castelo de Paiva e a sua gente só ainda hoje são notícia nos media por causa da tragédia da Ponte de Entre-os-Rios e do julgamento dos seus presumíveis responsáveis... Sei que perder o emprego ou a vida não é a mesma coisa. Em todo o caso, pelo seu impacto social e económico, o despedimento colectivo do pessoal da Clarks, em Castelo de Paiva, foi notícia nacional por uns breves dias. L.G.
_____________

castelo de paiva ? sabes onde fica ? eu não...

uma desgraça nunca vem só, dizia há dias uma operária da multinacional do calçado que, depois de arouca, decidiu fechar a sua segunda unidade fabril em castelo de paiva, estando em vias de mandar para o desemprego cerca 600 trabalhadores. a acrescentar aos outros 300 e tal de há dois anos. primeiro, foram as minas do pejão que encerraram de vez; depois foi a tragédia de entre-os-rios; e agora é a clarks que se muda, de máquinas e bagagens forradas a euros, para outro paraíso capitalista. para outra terreola qualquer, talvez parecida com castelo de paiva. talvez do leste europeu, com tabuleta escrita em caracteres eslavos; não importa onde, desde que haja sempre gente disposta a vender a sua força de trabalho por um punhado de cêntimos. é o circo trágico-cómico das multinacionais que montam e desmontam fábricas, em qualquer parte do mundo. faz-me lembrar os recintos das touradas desmontáveis no verão.

não creio que as multinacionais tenham alma. não creio que os tecnocratas que as governam tenham alma. ou que saibam, no mínimo, compreender a raiva das pobres mulheres operárias que entraram tarde para o mundo do trabalho. e que agora se sentem usadas, abusadas, deitadas fora, velhas, traídas. deve ser esse o sentimento de se ser despedido colectivamente. e no entanto o mundo é assim, dizem-nos os brilhantes teóricos neoliberais. e não há volta a dar-lhe. os cães ladram e a circo das multinacionais passa. são elas que governam este mundo. são elas que dão e baralham as cartas. são elas que nos vestem e calçam e criam os mitos que nos alimentam. são elas que são donos do destino de milhões e milhões de pessoas. pobres diabos e diabas, contentes hoje por terem pão para a boca. desesperados amanhã porque já não sabem onde vão buscar com que pagar as prestações da casa e do carro.

fiquei impressionada ao ouvir o presidente da câmara de castelo paiva dizer que o total de despedidos são 25% da força de trabalho industrial do concelho, 3% da população do concelho. e onde estão os líderes do meu país, levando um pouco de conforto e de esperança àquela pobre gente, como há dois anos atrás? eu não sei onde fica castelo de paiva, mas o presidente da república, o primeiro ministro, o ministro do trabalho, o novo patrão do investimento estrangeiro, o senhor miguel cadilhe, deve saber onde fica. dizem que a esperança é a última coisa a morrer. mas a verdade é que também morre. e infelizmente vai morrer para os trabalhadores da clarks, uma multinacional sem alma.

fui espreitar o site” dos gajos. nem uma palavra em português. nem uma palavra em qualquer língua para os seus “colaboradores”. lá dentro (do sítio), dizem-me, “a world of comfort and style awaits you”… valores como a responsabilidade social, o respeito pelos direitos de quem trabalha ou o cumprimento da palavra dada a uma comunidade inteira, parece que são coisas que não constam dos “core values” desta multinacional. valores ? são para pisar pelas botas altas das manequins no estrado da alta moda... e depois quem sabe onde fica castelo de paiva, uma minúscula peça do puzzle da europa das multinacionais ?

barbara(mente) revoltada e deprimida.


Portugal sacro-profano - VIII: Os pedopapagaios

Portuga, trapalhão mas sabichão





O alijar a carga ao mar, o invectivar os deuses que mandam a borrasca ou o praguejar contra o patrão do barco que se livrou desta porque ficou em terra... isso, é muito nosso. vem do nosso lado de marinheiros-das-setes-partidas que acreditam no destino. Má sorte, má fortuna!... E os erros meus ? Essa parte omite-se....



Não somos anglo-saxónicos, não somos germânicos, não somos nórdicos, somos latinos, somos mediterrânicos, somos portugas. Podemos invejá-los, aos outros. Há povos invejosos. Os portugueses estão a ficá-lo: invejam os vizinhos e os vizinhos dos vizinhos, o seu sucesso, os seus índices de desenvolvimento... Por boas e más razões. Um dia foram grandes por um dia.... Como (triste) consolo direi que não seremos únicos no pecado da inveja.



A Alemanha e em geral os países de cultura protestante, luterana ou calvinista, exercem, sempre exerceram, um certo fascínio nalgumas das nossas elites que lutam, desde o Séc. das Luzes, contra o lastro escolástico, sebenteiro, fidalgote, retórico, gongórico, da nossa cultura aborígena: os tipos seriam, por oposição a nós, metódicos, organizados, racionais, frios, competentes, empenhados, disciplinados, trabalhólicos, compulsivos em relação à eficiência, à eficácia e à qualidade... Velhos estereótipos, claro!



Quando vamos a Alemanha, tudo parece girar sobre rodas, por isso os gajos são (ou têm sido) a locomotiva da economia da Europa. Será assim ? Outros perguntam: Por que razão o Zé Portuga não há-de ter também essas qualidades que são próprias dos vencedores sem perder os traços únicos que fazem dele isso mesmo, o Zé Portuga ?



Não sei qual é a poção mágica (à parte a "pool" genética e as mil e uma combinações como a economia, a cultura, a história, a ecologia, a psicologia dos líderes, a sociologia das elites, etc.) a misturar no caldeirão, mas devo acrescentar que a educação, só por si, não chega...



Precisamos de uma nova alquimia. E quando falo em educação refiro-me às actividades de ensino e formação p.d. (propriamente ditas): a escola (no sentido lato) continua a ser, em larga media, uma redoma de vidro (ao menos que fosse um torre de marfim, sempre seria algo de mais robusto), uma actividade-meio, e não uma actividade-fim que serve para alimentar o sistema...



Talvez o nosso erro esteja justamente aí: ensinamos para as pessoas, não ensinamos com e através das pessoas e sobretudo não aprendemos com elas. E isso só será possível que conseguirmos pôr, definitivamente, em cima da mesa a questão da participação organizacional (na escola, na empresa, na administração, nos sindicatos, nas associações)...



Nós, espécie híbrida de pedagogos-papagaios, pedopapagaios, adoramos ensinar, formar, blá-blá... Todo o português tem um pouco essa costela e essas penas de pavão ou de pedopapagaio, de lobo do mar contador de histórias, viajado, sabendo de tudo um pouco. Trapalhão mas sabichão, eis o portuga.



E no entanto somos maus a aprender a aprender... com os simples, os mais desastrados, os irresponsáveis, os loucos, os marginais, os desviantes, as vítimas, os doentes, os fracos, os perdedores... Já nos pusemos do outro lado da barricada ? Já nos sentámos no lugar do morto ? Já tentámos compreender por que é que os operários e as operárias deste país têm, às vezes, atitudes e comportamentos que são claramente de risco, do género está-se-mesmo-a-ver-que-vai-dar-merda...



Uma pouco mais de humildade, de imaginação, de saber ver e ouvir os outros, de saber pôr a falar os outros, não nos ficará mal, a nós, pedopapagaios. Ás vezes receio que a educação e a formação neste país sirvam apenas para justificar a nossa existência de pedopapagaios, sem que com isto eu esteja a querer minimizar a classe dos pedagogos (de que faço parte) nem, muito menos, a denegrir a corporação dos inocentes, pobres e alegres papagaios em vias de extinção.



Talvez o nosso erro esteja justamente aí: ensinamos para as pessoas, não ensinamos com e através das pessoas e sobretudo não aprendemos com elas. E isso só será possível se conseguirmos pôr, definitivamente, em cima da mesa a questão das vantagens da participação organizacional (na escola, na empresa, na administração, nos sindicatos, nas associações)...



Essas vantagens são de longe superiores aos seus custos. Sem participação não há educação que nos valhe. A razão é simples: a educação é uma co-actividade.

Portugal sacro-profano - VIII: Os pedopapagaios

Portuga, trapalhão mas sabichão


O alijar a carga ao mar, o invectivar os deuses que mandam a borrasca ou o praguejar contra o patrão do barco que se livrou desta porque ficou em terra... isso, é muito nosso. vem do nosso lado de marinheiros-das-setes-partidas que acreditam no destino. Má sorte, má fortuna!... E os erros meus ? Essa parte omite-se....

Não somos anglo-saxónicos, não somos germânicos, não somos nórdicos, somos latinos, somos mediterrânicos, somos portugas. Podemos invejá-los, aos outros. Há povos invejosos. Os portugueses estão a ficá-lo: invejam os vizinhos e os vizinhos dos vizinhos, o seu sucesso, os seus índices de desenvolvimento... Por boas e más razões. Um dia foram grandes por um dia.... Como (triste) consolo direi que não seremos únicos no pecado da inveja.

A Alemanha e em geral os países de cultura protestante, luterana ou calvinista, exercem, sempre exerceram, um certo fascínio nalgumas das nossas elites que lutam, desde o Séc. das Luzes, contra o lastro escolástico, sebenteiro, fidalgote, retórico, gongórico, da nossa cultura aborígena: os tipos seriam, por oposição a nós, metódicos, organizados, racionais, frios, competentes, empenhados, disciplinados, trabalhólicos, compulsivos em relação à eficiência, à eficácia e à qualidade... Velhos estereótipos, claro!

Quando vamos a Alemanha, tudo parece girar sobre rodas, por isso os gajos são (ou têm sido) a locomotiva da economia da Europa. Será assim ? Outros perguntam: Por que razão o Zé Portuga não há-de ter também essas qualidades que são próprias dos vencedores sem perder os traços únicos que fazem dele isso mesmo, o Zé Portuga ?

Não sei qual é a poção mágica (à parte a "pool" genética e as mil e uma combinações como a economia, a cultura, a história, a ecologia, a psicologia dos líderes, a sociologia das elites, etc.) a misturar no caldeirão, mas devo acrescentar que a educação, só por si, não chega...

Precisamos de uma nova alquimia. E quando falo em educação refiro-me às actividades de ensino e formação p.d. (propriamente ditas): a escola (no sentido lato) continua a ser, em larga media, uma redoma de vidro (ao menos que fosse um torre de marfim, sempre seria algo de mais robusto), uma actividade-meio, e não uma actividade-fim que serve para alimentar o sistema...

Talvez o nosso erro esteja justamente aí: ensinamos para as pessoas, não ensinamos com e através das pessoas e sobretudo não aprendemos com elas. E isso só será possível que conseguirmos pôr, definitivamente, em cima da mesa a questão da participação organizacional (na escola, na empresa, na administração, nos sindicatos, nas associações)...

Nós, espécie híbrida de pedagogos-papagaios, pedopapagaios, adoramos ensinar, formar, blá-blá... Todo o português tem um pouco essa costela e essas penas de pavão ou de pedopapagaio, de lobo do mar contador de histórias, viajado, sabendo de tudo um pouco. Trapalhão mas sabichão, eis o portuga.

E no entanto somos maus a aprender a aprender... com os simples, os mais desastrados, os irresponsáveis, os loucos, os marginais, os desviantes, as vítimas, os doentes, os fracos, os perdedores... Já nos pusemos do outro lado da barricada ? Já nos sentámos no lugar do morto ? Já tentámos compreender por que é que os operários e as operárias deste país têm, às vezes, atitudes e comportamentos que são claramente de risco, do género está-se-mesmo-a-ver-que-vai-dar-merda...

Uma pouco mais de humildade, de imaginação, de saber ver e ouvir os outros, de saber pôr a falar os outros, não nos ficará mal, a nós, pedopapagaios. Ás vezes receio que a educação e a formação neste país sirvam apenas para justificar a nossa existência de pedopapagaios, sem que com isto eu esteja a querer minimizar a classe dos pedagogos (de que faço parte) nem, muito menos, a denegrir a corporação dos inocentes, pobres e alegres papagaios em vias de extinção.

Talvez o nosso erro esteja justamente aí: ensinamos para as pessoas, não ensinamos com e através das pessoas e sobretudo não aprendemos com elas. E isso só será possível se conseguirmos pôr, definitivamente, em cima da mesa a questão das vantagens da participação organizacional (na escola, na empresa, na administração, nos sindicatos, nas associações)...

Essas vantagens são de longe superiores aos seus custos. Sem participação não há educação que nos valhe. A razão é simples: a educação é uma co-actividade.