1. A razão é "A Costa dos Murmúrios", o romance de Lídia Jorge(Lisboa, D. Quixote, 1988) e o filme, de Margarida Cardoso (Distribuição: Atalanta Filmes, 2004). Um olhar duplamente feminino sobre a guerra colonial em África e o silêncio, incómodo, cúmplice, que se fez à volta dela.
2. Do filme direi que é comovente e perturbador. Sinopse: No final da década de 1960, Evita (Beatriz Batarda) desembarca na Beira, em Moçambique, para se casar com Luís (Filipe Duarte), um génio da matemática enquanto estudante que está agora a cumprir o serviço militar, como alferes miliciano numa companhia de paraquedistas. Evita dá conta, logo nos primeiros dias, que o seu noivo Luís já não é o mesmo homem que ela conhecera e amara em Lisboa. Marcado pela guerra, Luís vive obcecado pela imagem de herói, conquistada nas bolanhas da Guiné onde foi gravemente ferido, o capitão da sua companhia, o duro Forza Leal (Adriano Luz).
Depois do descanso do guerreiro, Luís e Forza Leal partem para para uma grande operação militar no norte que irá acabar ccom o 'terrorismo' e levar à independência dos brancos (não se faz referência explícita, mas trata-se da Operação Nó Górdio, sob o comando do general Kaulza de Arriaga, realizada entre 1 de Julho e 6 de Agosto de 1970)).
Evita fica sozinha mas não desiste de tentar perceber o que se havia passado com Luís e o que terá feito mudar os seus valores e comportamentos. Vai, por isso, procurar a companhia de Helena, mais conhecida por Helena de Tróia (Mónica Calle), a bela e perturbante mulher de Forza Leal.É ela quem vai revelar a Evita o que a guerra faz aos homens que a fazem. Humilhada pelo marido, Helena cumpre uma promessa, enclauradas em casa, contando os mortos e alimentando a secreta esperança de que entre eles venha o seu marido num caixão de chumbo...
3. Filmado em Moçambique, com uma belíssima fotografia, um magnífico som e uma sóbria direcção de actores, esta primeira obra de ficção de Margarida Cardoso, baseada no romance homónimo de Lídia Jorge, merece o meu entusiástico aplauso. Espero que o público (português) faça o mesmo...
Estamos longe de ter ultrapassado o tabu da guerra colonial, e de ter exorcizado os nossos fantasmas... Este olhar sobre a guerra e sobretudo sobre a violência psicológica da guerra é muito pessoal, muito feminino , muito subtil, e tem a marca de duas mulheres que, não tendo feito a guerra, estiveram em Moçambique e mais concretamente na Beira na época em que se desenrola a acção: Lídia Jorge, como professora na Beira, e Margarida Cardoso, como criança, filha de militar, tendo lá vivido entre os 2 e os 12 anos.
4. Gostei particularmente deste excerto de uma entrevista da realizadora, transcrita num dossiê para a a imprensa, organizado pela distribuidora Atalanta Filmes:
"Li o romance da Lídia Jorge, 'A Costa dos Murmúrios', no início dos anos 90 quando ainda não pensava em realizar. O livro tocou-me por razões muito pessoais: tudo se passava em sítios que eu conhecia, num ambiente em que eu vivera, o dos militares portugueses em África e das suas famílias, durante a guerra colonial. Vivi em Moçambique entre 1965 e 1975, dos 2 aos 12 anos, em Lourenço Marques [hoje Maputo] e depois na Beira já que o meu pai era militar, da Força Aérea. Só voltei a Moçambique em 96 e sofri um choque ao deparar com uma sociedade destruída e tão difícil de compreender, com um povo desfeito, sem dignidade nenhuma, uma dignidade que lhe tinha sido tirada, roubada... A minha história pessoal está para sempre ligada àquela terra, que foi afinal o local da minha infância, e penso que, por isso, é difícil não querer, com toda a força, responder à pergunta 'o que foi que correu tão mal nisto tudo?'. Correu mal para todos, para os africanos, para os portugueses, para todos os que sofreram com o absurdo que foi o colonialismo. Este 'absurdo' marcou muitas pessoas da minha idade e fez com que muitos de nós ficássemos para sempre sem pertencer realmente a lugar nenhum. O meu percurso mais íntimo está relacionado com factos históricos, com a guerra colonial, com a revolução de 1974 em Portugal, com o regresso de África, acontecimentos que marcaram e mudaram muitas vidas. Ainda hoje há coisas que me fazem chorar imenso, sem saber porquê, como ver pessoas a fugir, imagens de refugiados, gente a ter que sair das suas terras. Deixam-me desfeita. Acho que isso tem a ver com esse período, com uma perda que não é só emocional, é geográfica também. Em Moçambique, ainda por cima, a mudança foi dramática. Queres revisitar o sítio onde colocaste fisicamente as tuas memórias mas nunca o encontras... Parece que alguma coisa da tua vida ficou para sempre escondida, nas pregas da História, e isso é um pouco angustiante. Acho que foi esta necessidade de procura, que já está presente nos meus documentários anteriores, que me fez adaptar 'A Costa dos Murmúrios'. Percebi que aquilo que queria procurar estava ali, naquele tempo e naquele lugar".
blogue-fora-nada. homo socius ergo blogus [sum]. homem social logo blogador. em sociobloguês nos entendemos. o port(ug)al dos (por)tugas. a prova dos blogue-fora-nada. a guerra colonial. a guiné. do chacheu ao boe. de bissau a bambadinca. os cacimbados. o geba. o corubal. os rios. o macaréu da nossa revolta. o humor nosso de cada dia nos dai hoje.lá vamos blogando e rindo. e venham mais cinco (camaradas). e vieram tantos que isto se transformou numa caserna. a maior caserna virtual da Net!
02 dezembro 2004
Portugas que merecem as nossas palmas - XIII: Lídia Jorge e Margarida Cardoso
1. A razão é "A Costa dos Murmúrios", o romance de Lídia Jorge(Lisboa, D. Quixote, 1988) e o filme, de Margarida Cardoso (Distribuição: Atalanta Filmes, 2004). Um olhar duplamente feminino sobre a guerra colonial em África e o silêncio, incómodo, cúmplice, que se fez à volta dela.
2. Do filme direi que é comovente e perturbador. Sinopse: No final da década de 1960, Evita (Beatriz Batarda) desembarca na Beira, em Moçambique, para se casar com Luís (Filipe Duarte), um génio da matemática enquanto estudante que está agora a cumprir o serviço militar, como alferes miliciano numa companhia de paraquedistas. Evita dá conta, logo nos primeiros dias, que o seu noivo Luís já não é o mesmo homem que ela conhecera e amara em Lisboa. Marcado pela guerra, Luís vive obcecado pela imagem de herói, conquistada nas bolanhas da Guiné onde foi gravemente ferido, o capitão da sua companhia, o duro Forza Leal (Adriano Luz).
Depois do descanso do guerreiro, Luís e Forza Leal partem para para uma grande operação militar no norte que irá acabar ccom o 'terrorismo' e levar à independência dos brancos (não se faz referência explícita, mas trata-se da Operação Nó Górdio, sob o comando do general Kaulza de Arriaga, realizada entre 1 de Julho e 6 de Agosto de 1970)).
Evita fica sozinha mas não desiste de tentar perceber o que se havia passado com Luís e o que terá feito mudar os seus valores e comportamentos. Vai, por isso, procurar a companhia de Helena, mais conhecida por Helena de Tróia (Mónica Calle), a bela e perturbante mulher de Forza Leal.É ela quem vai revelar a Evita o que a guerra faz aos homens que a fazem. Humilhada pelo marido, Helena cumpre uma promessa, enclauradas em casa, contando os mortos e alimentando a secreta esperança de que entre eles venha o seu marido num caixão de chumbo...
3. Filmado em Moçambique, com uma belíssima fotografia, um magnífico som e uma sóbria direcção de actores, esta primeira obra de ficção de Margarida Cardoso, baseada no romance homónimo de Lídia Jorge, merece o meu entusiástico aplauso. Espero que o público (português) faça o mesmo...
Estamos longe de ter ultrapassado o tabu da guerra colonial, e de ter exorcizado os nossos fantasmas... Este olhar sobre a guerra e sobretudo sobre a violência psicológica da guerra é muito pessoal, muito feminino , muito subtil, e tem a marca de duas mulheres que, não tendo feito a guerra, estiveram em Moçambique e mais concretamente na Beira na época em que se desenrola a acção: Lídia Jorge, como professora na Beira, e Margarida Cardoso, como criança, filha de militar, tendo lá vivido entre os 2 e os 12 anos.
4. Gostei particularmente deste excerto de uma entrevista da realizadora, transcrita num dossiê para a a imprensa, organizado pela distribuidora Atalanta Filmes:
"Li o romance da Lídia Jorge, 'A Costa dos Murmúrios', no início dos anos 90 quando ainda não pensava em realizar. O livro tocou-me por razões muito pessoais: tudo se passava em sítios que eu conhecia, num ambiente em que eu vivera, o dos militares portugueses em África e das suas famílias, durante a guerra colonial. Vivi em Moçambique entre 1965 e 1975, dos 2 aos 12 anos, em Lourenço Marques [hoje Maputo] e depois na Beira já que o meu pai era militar, da Força Aérea. Só voltei a Moçambique em 96 e sofri um choque ao deparar com uma sociedade destruída e tão difícil de compreender, com um povo desfeito, sem dignidade nenhuma, uma dignidade que lhe tinha sido tirada, roubada... A minha história pessoal está para sempre ligada àquela terra, que foi afinal o local da minha infância, e penso que, por isso, é difícil não querer, com toda a força, responder à pergunta 'o que foi que correu tão mal nisto tudo?'. Correu mal para todos, para os africanos, para os portugueses, para todos os que sofreram com o absurdo que foi o colonialismo. Este 'absurdo' marcou muitas pessoas da minha idade e fez com que muitos de nós ficássemos para sempre sem pertencer realmente a lugar nenhum. O meu percurso mais íntimo está relacionado com factos históricos, com a guerra colonial, com a revolução de 1974 em Portugal, com o regresso de África, acontecimentos que marcaram e mudaram muitas vidas. Ainda hoje há coisas que me fazem chorar imenso, sem saber porquê, como ver pessoas a fugir, imagens de refugiados, gente a ter que sair das suas terras. Deixam-me desfeita. Acho que isso tem a ver com esse período, com uma perda que não é só emocional, é geográfica também. Em Moçambique, ainda por cima, a mudança foi dramática. Queres revisitar o sítio onde colocaste fisicamente as tuas memórias mas nunca o encontras... Parece que alguma coisa da tua vida ficou para sempre escondida, nas pregas da História, e isso é um pouco angustiante. Acho que foi esta necessidade de procura, que já está presente nos meus documentários anteriores, que me fez adaptar 'A Costa dos Murmúrios'. Percebi que aquilo que queria procurar estava ali, naquele tempo e naquele lugar".
2. Do filme direi que é comovente e perturbador. Sinopse: No final da década de 1960, Evita (Beatriz Batarda) desembarca na Beira, em Moçambique, para se casar com Luís (Filipe Duarte), um génio da matemática enquanto estudante que está agora a cumprir o serviço militar, como alferes miliciano numa companhia de paraquedistas. Evita dá conta, logo nos primeiros dias, que o seu noivo Luís já não é o mesmo homem que ela conhecera e amara em Lisboa. Marcado pela guerra, Luís vive obcecado pela imagem de herói, conquistada nas bolanhas da Guiné onde foi gravemente ferido, o capitão da sua companhia, o duro Forza Leal (Adriano Luz).
Depois do descanso do guerreiro, Luís e Forza Leal partem para para uma grande operação militar no norte que irá acabar ccom o 'terrorismo' e levar à independência dos brancos (não se faz referência explícita, mas trata-se da Operação Nó Górdio, sob o comando do general Kaulza de Arriaga, realizada entre 1 de Julho e 6 de Agosto de 1970)).
Evita fica sozinha mas não desiste de tentar perceber o que se havia passado com Luís e o que terá feito mudar os seus valores e comportamentos. Vai, por isso, procurar a companhia de Helena, mais conhecida por Helena de Tróia (Mónica Calle), a bela e perturbante mulher de Forza Leal.É ela quem vai revelar a Evita o que a guerra faz aos homens que a fazem. Humilhada pelo marido, Helena cumpre uma promessa, enclauradas em casa, contando os mortos e alimentando a secreta esperança de que entre eles venha o seu marido num caixão de chumbo...
3. Filmado em Moçambique, com uma belíssima fotografia, um magnífico som e uma sóbria direcção de actores, esta primeira obra de ficção de Margarida Cardoso, baseada no romance homónimo de Lídia Jorge, merece o meu entusiástico aplauso. Espero que o público (português) faça o mesmo...
Estamos longe de ter ultrapassado o tabu da guerra colonial, e de ter exorcizado os nossos fantasmas... Este olhar sobre a guerra e sobretudo sobre a violência psicológica da guerra é muito pessoal, muito feminino , muito subtil, e tem a marca de duas mulheres que, não tendo feito a guerra, estiveram em Moçambique e mais concretamente na Beira na época em que se desenrola a acção: Lídia Jorge, como professora na Beira, e Margarida Cardoso, como criança, filha de militar, tendo lá vivido entre os 2 e os 12 anos.
4. Gostei particularmente deste excerto de uma entrevista da realizadora, transcrita num dossiê para a a imprensa, organizado pela distribuidora Atalanta Filmes:
"Li o romance da Lídia Jorge, 'A Costa dos Murmúrios', no início dos anos 90 quando ainda não pensava em realizar. O livro tocou-me por razões muito pessoais: tudo se passava em sítios que eu conhecia, num ambiente em que eu vivera, o dos militares portugueses em África e das suas famílias, durante a guerra colonial. Vivi em Moçambique entre 1965 e 1975, dos 2 aos 12 anos, em Lourenço Marques [hoje Maputo] e depois na Beira já que o meu pai era militar, da Força Aérea. Só voltei a Moçambique em 96 e sofri um choque ao deparar com uma sociedade destruída e tão difícil de compreender, com um povo desfeito, sem dignidade nenhuma, uma dignidade que lhe tinha sido tirada, roubada... A minha história pessoal está para sempre ligada àquela terra, que foi afinal o local da minha infância, e penso que, por isso, é difícil não querer, com toda a força, responder à pergunta 'o que foi que correu tão mal nisto tudo?'. Correu mal para todos, para os africanos, para os portugueses, para todos os que sofreram com o absurdo que foi o colonialismo. Este 'absurdo' marcou muitas pessoas da minha idade e fez com que muitos de nós ficássemos para sempre sem pertencer realmente a lugar nenhum. O meu percurso mais íntimo está relacionado com factos históricos, com a guerra colonial, com a revolução de 1974 em Portugal, com o regresso de África, acontecimentos que marcaram e mudaram muitas vidas. Ainda hoje há coisas que me fazem chorar imenso, sem saber porquê, como ver pessoas a fugir, imagens de refugiados, gente a ter que sair das suas terras. Deixam-me desfeita. Acho que isso tem a ver com esse período, com uma perda que não é só emocional, é geográfica também. Em Moçambique, ainda por cima, a mudança foi dramática. Queres revisitar o sítio onde colocaste fisicamente as tuas memórias mas nunca o encontras... Parece que alguma coisa da tua vida ficou para sempre escondida, nas pregas da História, e isso é um pouco angustiante. Acho que foi esta necessidade de procura, que já está presente nos meus documentários anteriores, que me fez adaptar 'A Costa dos Murmúrios'. Percebi que aquilo que queria procurar estava ali, naquele tempo e naquele lugar".
28 novembro 2004
(Ex)citações de cada dia - XIV: A fortaleza da Europa
Notícia do El Pais on line, de hoje: "Dos muertos y 14 desaparecidos al naufragar una patera en las costas de Fuerteventura".
No desenvolvimento da notícia fico a saber que, pelo menos, dois imigrantes africanos morreram e outros 14 são dados como desaparecidos, numa das ilhas Canárias. "Embarcaciones y helicópteros de Salvamento Marítimo y Guardia Civil efectúan una búsqueda en la zona del naufragio desde el aviso recibido a las cinco de la madrugada".
Um fait-divers que em Espanha se tem vindo a repetir, com alguma frequência (corpos de imigrantes clandestinos a dar à costa), e que se procura esconder dos turistas estrangeiros. No suplemento semanal de El Pais, de hoje, leio uma reportagem feita pelo jornalista Grégoire Deniau e pelo fotógrafo Oliver Jobard sobre o drama das dezenas ou até centenas de africanos que em cada dia tentam alcançar Espanha, porta de entrada da fortaleza da Europa, através do Estreito de Gilbraltar (5 horas de travessia, cada vez mais arriscada devido ao sistema de vigilância montado quer pelos espanhóis que pelos marroquinos) ou através do Atlântico (20 horas, desde o Sara Ocidental até Fuerteventura, a mais próxima das ilhas Canárias).
Os dois jornalistas testemunham e documentam a odisseia de um grupo de trinta e tal africanos que tentam a sua sorte. Apenas 25 (incluindo os jornalistas) conseguem chegar às Canárias, onde são inevitavelmente interceptados pela Guardia Civil. Pelo caminho, há 10 que desistem e dois que morrem afogados. "Prefiro estar en una cárcel en Europa a seguir viviendo en África", diz um deles. A viagem, primeiro através do deserto até El Marsa, no Sará ocidental, e depois por mar em lancha precária de seis metros, a motor, é um perfeito suicídio. Há cada vez mais africanos a ficam enterrados, anonimamente, no cemitério local de Fuerteventura. Por outro lado, "el pasaje en patera cuesta 1000 euros, una fortuna para un africano". Pequenas mafias controlam este novo tráfico de homens e mulheres que fogem do pesadelo dos seus países...
O jornalista e realizador Grégoire Deniau é conhecido pelas suas "reportagens de imersão". E foi um dos raros jornalistas franceses e ocidentais que ficou ao lado dos insurrectos sunistas, quando a cidade iraquiana de Faluja foi tomada de assalto pelo exército americano em Abril passado.
A sua dramática aventura, em que partilhou a viagem até às Canárias do referido grupo de imigrantes africanos clandestinos, foi tema de uma reportagem, "Traversée clandestine", tendo passado recentemente, no dia 4 de Novembro, no programa de televisão "Envoyé spécial" da France 2.
No desenvolvimento da notícia fico a saber que, pelo menos, dois imigrantes africanos morreram e outros 14 são dados como desaparecidos, numa das ilhas Canárias. "Embarcaciones y helicópteros de Salvamento Marítimo y Guardia Civil efectúan una búsqueda en la zona del naufragio desde el aviso recibido a las cinco de la madrugada".
Um fait-divers que em Espanha se tem vindo a repetir, com alguma frequência (corpos de imigrantes clandestinos a dar à costa), e que se procura esconder dos turistas estrangeiros. No suplemento semanal de El Pais, de hoje, leio uma reportagem feita pelo jornalista Grégoire Deniau e pelo fotógrafo Oliver Jobard sobre o drama das dezenas ou até centenas de africanos que em cada dia tentam alcançar Espanha, porta de entrada da fortaleza da Europa, através do Estreito de Gilbraltar (5 horas de travessia, cada vez mais arriscada devido ao sistema de vigilância montado quer pelos espanhóis que pelos marroquinos) ou através do Atlântico (20 horas, desde o Sara Ocidental até Fuerteventura, a mais próxima das ilhas Canárias).
Os dois jornalistas testemunham e documentam a odisseia de um grupo de trinta e tal africanos que tentam a sua sorte. Apenas 25 (incluindo os jornalistas) conseguem chegar às Canárias, onde são inevitavelmente interceptados pela Guardia Civil. Pelo caminho, há 10 que desistem e dois que morrem afogados. "Prefiro estar en una cárcel en Europa a seguir viviendo en África", diz um deles. A viagem, primeiro através do deserto até El Marsa, no Sará ocidental, e depois por mar em lancha precária de seis metros, a motor, é um perfeito suicídio. Há cada vez mais africanos a ficam enterrados, anonimamente, no cemitério local de Fuerteventura. Por outro lado, "el pasaje en patera cuesta 1000 euros, una fortuna para un africano". Pequenas mafias controlam este novo tráfico de homens e mulheres que fogem do pesadelo dos seus países...
O jornalista e realizador Grégoire Deniau é conhecido pelas suas "reportagens de imersão". E foi um dos raros jornalistas franceses e ocidentais que ficou ao lado dos insurrectos sunistas, quando a cidade iraquiana de Faluja foi tomada de assalto pelo exército americano em Abril passado.
A sua dramática aventura, em que partilhou a viagem até às Canárias do referido grupo de imigrantes africanos clandestinos, foi tema de uma reportagem, "Traversée clandestine", tendo passado recentemente, no dia 4 de Novembro, no programa de televisão "Envoyé spécial" da France 2.
(Ex)citações de cada dia - XIV: A fortaleza da Europa
Notícia do El Pais on line, de hoje: "Dos muertos y 14 desaparecidos al naufragar una patera en las costas de Fuerteventura".
No desenvolvimento da notícia fico a saber que, pelo menos, dois imigrantes africanos morreram e outros 14 são dados como desaparecidos, numa das ilhas Canárias. "Embarcaciones y helicópteros de Salvamento Marítimo y Guardia Civil efectúan una búsqueda en la zona del naufragio desde el aviso recibido a las cinco de la madrugada".
Um fait-divers que em Espanha se tem vindo a repetir, com alguma frequência (corpos de imigrantes clandestinos a dar à costa), e que se procura esconder dos turistas estrangeiros. No suplemento semanal de El Pais, de hoje, leio uma reportagem feita pelo jornalista Grégoire Deniau e pelo fotógrafo Oliver Jobard sobre o drama das dezenas ou até centenas de africanos que em cada dia tentam alcançar Espanha, porta de entrada da fortaleza da Europa, através do Estreito de Gilbraltar (5 horas de travessia, cada vez mais arriscada devido ao sistema de vigilância montado quer pelos espanhóis que pelos marroquinos) ou através do Atlântico (20 horas, desde o Sara Ocidental até Fuerteventura, a mais próxima das ilhas Canárias).
Os dois jornalistas testemunham e documentam a odisseia de um grupo de trinta e tal africanos que tentam a sua sorte. Apenas 25 (incluindo os jornalistas) conseguem chegar às Canárias, onde são inevitavelmente interceptados pela Guardia Civil. Pelo caminho, há 10 que desistem e dois que morrem afogados. "Prefiro estar en una cárcel en Europa a seguir viviendo en África", diz um deles. A viagem, primeiro através do deserto até El Marsa, no Sará ocidental, e depois por mar em lancha precária de seis metros, a motor, é um perfeito suicídio. Há cada vez mais africanos a ficam enterrados, anonimamente, no cemitério local de Fuerteventura. Por outro lado, "el pasaje en patera cuesta 1000 euros, una fortuna para un africano". Pequenas mafias controlam este novo tráfico de homens e mulheres que fogem do pesadelo dos seus países...
O jornalista e realizador Grégoire Deniau é conhecido pelas suas "reportagens de imersão". E foi um dos raros jornalistas franceses e ocidentais que ficou ao lado dos insurrectos sunistas, quando a cidade iraquiana de Faluja foi tomada de assalto pelo exército americano em Abril passado.
A sua dramática aventura, em que partilhou a viagem até às Canárias do referido grupo de imigrantes africanos clandestinos, foi tema de uma reportagem, "Traversée clandestine", tendo passado recentemente, no dia 4 de Novembro, no programa de televisão "Envoyé spécial" da France 2.
No desenvolvimento da notícia fico a saber que, pelo menos, dois imigrantes africanos morreram e outros 14 são dados como desaparecidos, numa das ilhas Canárias. "Embarcaciones y helicópteros de Salvamento Marítimo y Guardia Civil efectúan una búsqueda en la zona del naufragio desde el aviso recibido a las cinco de la madrugada".
Um fait-divers que em Espanha se tem vindo a repetir, com alguma frequência (corpos de imigrantes clandestinos a dar à costa), e que se procura esconder dos turistas estrangeiros. No suplemento semanal de El Pais, de hoje, leio uma reportagem feita pelo jornalista Grégoire Deniau e pelo fotógrafo Oliver Jobard sobre o drama das dezenas ou até centenas de africanos que em cada dia tentam alcançar Espanha, porta de entrada da fortaleza da Europa, através do Estreito de Gilbraltar (5 horas de travessia, cada vez mais arriscada devido ao sistema de vigilância montado quer pelos espanhóis que pelos marroquinos) ou através do Atlântico (20 horas, desde o Sara Ocidental até Fuerteventura, a mais próxima das ilhas Canárias).
Os dois jornalistas testemunham e documentam a odisseia de um grupo de trinta e tal africanos que tentam a sua sorte. Apenas 25 (incluindo os jornalistas) conseguem chegar às Canárias, onde são inevitavelmente interceptados pela Guardia Civil. Pelo caminho, há 10 que desistem e dois que morrem afogados. "Prefiro estar en una cárcel en Europa a seguir viviendo en África", diz um deles. A viagem, primeiro através do deserto até El Marsa, no Sará ocidental, e depois por mar em lancha precária de seis metros, a motor, é um perfeito suicídio. Há cada vez mais africanos a ficam enterrados, anonimamente, no cemitério local de Fuerteventura. Por outro lado, "el pasaje en patera cuesta 1000 euros, una fortuna para un africano". Pequenas mafias controlam este novo tráfico de homens e mulheres que fogem do pesadelo dos seus países...
O jornalista e realizador Grégoire Deniau é conhecido pelas suas "reportagens de imersão". E foi um dos raros jornalistas franceses e ocidentais que ficou ao lado dos insurrectos sunistas, quando a cidade iraquiana de Faluja foi tomada de assalto pelo exército americano em Abril passado.
A sua dramática aventura, em que partilhou a viagem até às Canárias do referido grupo de imigrantes africanos clandestinos, foi tema de uma reportagem, "Traversée clandestine", tendo passado recentemente, no dia 4 de Novembro, no programa de televisão "Envoyé spécial" da France 2.
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