24 setembro 2005

Guiné 63/74 - CCX: Oficial do Estado Maior do 'Caco'... por duas horas

António Spínola (Estremoz, 1910- Lisboa, 1996), presidente da República (de 15 de Maio de a 30 de Setembro de 1974).

Retrato a óleo pelo pintor Jacinto Luís. Presidência da Repúblcsa Portuguesa.



Texto do João Tunes:

Por onde andei, o Spínola só era tratado por "caco" (por causa do vidrinho que ele segurava no olho e que estávamos sempre à espera quando é que se escaqueirava no meio do chão mas o sacana tinha artes de ginástica facial e nunca nos deu esse gozo). (...) Embora mesnos usado, também ouvi chamar-lhe o "gajo do pingalim" mas isso foi em Bissau que era malta mais finaça e quando estive no Estado Maior General (EMG).

Ui, reparo agora que na minha apresentação curricular não vos disse que fui Oficial do Estado Maior General do Comando Territorial Militar da Guiné. Fui, sim senhor. Por duas horas, mas fui.

Esta conta-se depressa. Quando levei a porrada no Pelundo (1) mandaram-me seguir para Bissau à espera de destino de colocação. Por lá estive uns dias a coçar o cú e os tomates pela Messe e Caserna de Oficiais em Santa Luzia mais tomar banho na bruta piscina para a oficialada.

Um dia de manhã, recebo ordem para me apresentar no EMG, na Repartição de Operações, onde tinha sido colocado. Apresentei-me a pensar para comigo "estes gajos tiveram pena, viram que meteram a pata na poça com a porrada que me deram e agora querem compensar a coisa dando-me vida de elite aqui ao pé do General, ora, ainda bem, isto afinal está-se a compôr e há males que vêm por bem" e outras filosofices de basófia (até já me estava a ver com mordomias e coisas que tais).

Apresentei-me e disseram-me para ler umas coisas para me identificar com o serviço, aquilo eram só mapas, mais mensagens e informações confidenciais e secretas sobre o IN, dicas dos pides, combinações em voz baixa, coisa e tal, mais uma data de majores e capitães cagões (por serem da elite do Spínola) e não me esqueço que encontrei lá pessoal que depois foi célebre como o Eanes, o Otelo, o Monge, o Lemos Pires e outros mais, e eu ali na nata das NT.

Ainda não tinha a manhã acabado aparece um dos majores, todo esbaforido (julgo que foi o Lemos Pires que esteve em Timor na descolonização), a dizer que tinha havido engano e que aquele lugar era para outro alferes (pelo nome, filho de boas famílias) e que eu tinha era que arrumar o saco e seguir de Dornier no outro dia pela fresquinha para Catió (2) que ali é que era o sítio certo para oficiais corrécios e punidos.

E desandei dali para fora com as minhas duas horas de serviço de Oficial de Estado Maior com Catió, Cacine, Guileje e Gadamael à minha espera. Lixaram-me o resto da comissão mas não me limpam o currículo. Pois foi aí que eles falavam do "pingalim" quando se referiam ao General (deviam achar que "caco" não era próprio do lugar).

_______

Notas de L.G.

(1) Vd. post de 15 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CXC: João Tunes, o novo tertuliano.

Vd. também post de 11 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXLIX: Antologia (15): Lembranças do chão manjaco (Do Pelundo ao Canchungo)

(2) Vd. post de 12 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CLXXXVI: No "reino do Nino": Catió, Cacine, Gadamael, Guileje (1970)

Guiné 63/74 - CCX: Oficial do Estado Maior do 'Caco'... por duas horas

António Spínola (Estremoz, 1910- Lisboa, 1996), presidente da República (de 15 de Maio de a 30 de Setembro de 1974).

Retrato a óleo pelo pintor Jacinto Luís. Presidência da Repúblcsa Portuguesa.



Texto do João Tunes:

Por onde andei, o Spínola só era tratado por "caco" (por causa do vidrinho que ele segurava no olho e que estávamos sempre à espera quando é que se escaqueirava no meio do chão mas o sacana tinha artes de ginástica facial e nunca nos deu esse gozo). (...) Embora mesnos usado, também ouvi chamar-lhe o "gajo do pingalim" mas isso foi em Bissau que era malta mais finaça e quando estive no Estado Maior General (EMG).

Ui, reparo agora que na minha apresentação curricular não vos disse que fui Oficial do Estado Maior General do Comando Territorial Militar da Guiné. Fui, sim senhor. Por duas horas, mas fui.

Esta conta-se depressa. Quando levei a porrada no Pelundo (1) mandaram-me seguir para Bissau à espera de destino de colocação. Por lá estive uns dias a coçar o cú e os tomates pela Messe e Caserna de Oficiais em Santa Luzia mais tomar banho na bruta piscina para a oficialada.

Um dia de manhã, recebo ordem para me apresentar no EMG, na Repartição de Operações, onde tinha sido colocado. Apresentei-me a pensar para comigo "estes gajos tiveram pena, viram que meteram a pata na poça com a porrada que me deram e agora querem compensar a coisa dando-me vida de elite aqui ao pé do General, ora, ainda bem, isto afinal está-se a compôr e há males que vêm por bem" e outras filosofices de basófia (até já me estava a ver com mordomias e coisas que tais).

Apresentei-me e disseram-me para ler umas coisas para me identificar com o serviço, aquilo eram só mapas, mais mensagens e informações confidenciais e secretas sobre o IN, dicas dos pides, combinações em voz baixa, coisa e tal, mais uma data de majores e capitães cagões (por serem da elite do Spínola) e não me esqueço que encontrei lá pessoal que depois foi célebre como o Eanes, o Otelo, o Monge, o Lemos Pires e outros mais, e eu ali na nata das NT.

Ainda não tinha a manhã acabado aparece um dos majores, todo esbaforido (julgo que foi o Lemos Pires que esteve em Timor na descolonização), a dizer que tinha havido engano e que aquele lugar era para outro alferes (pelo nome, filho de boas famílias) e que eu tinha era que arrumar o saco e seguir de Dornier no outro dia pela fresquinha para Catió (2) que ali é que era o sítio certo para oficiais corrécios e punidos.

E desandei dali para fora com as minhas duas horas de serviço de Oficial de Estado Maior com Catió, Cacine, Guileje e Gadamael à minha espera. Lixaram-me o resto da comissão mas não me limpam o currículo. Pois foi aí que eles falavam do "pingalim" quando se referiam ao General (deviam achar que "caco" não era próprio do lugar).

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Notas de L.G.

(1) Vd. post de 15 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CXC: João Tunes, o novo tertuliano.

Vd. também post de 11 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXLIX: Antologia (15): Lembranças do chão manjaco (Do Pelundo ao Canchungo)

(2) Vd. post de 12 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CLXXXVI: No "reino do Nino": Catió, Cacine, Gadamael, Guileje (1970)

Guiné 63/74 - CCIX: Luís Moreira, de alferes sapador a professor de matemática

Luís Moreira, Alf. Mili. Sapador, no Batalhão de Engenharia, em Bissau, já recuperado do acidente com a mina A/C, em Nhabijões (Bambadinca), a 13 de Janeiro de 1971

© Luís Moreira (2005)




Texto do Luís Moreira:

Depois de ler a prosa do João Tunes, dei-me conta de que, também eu, me não apresentei convenientemente aos camarigas que não me conheceram.

Nasci numa vila para os lados de Viseu, mais proprimente em Torredeita, que até vem em alguns mapas e tem uma Escola Superior de Agricultura (Politécnica), muito falada nos telejornais do Verão por o pessoal acampar à sua volta para garantir uma das poucas vagas que são postas à disposição.

Em 1969, com 25 anos e o curso de engenharia interrompido, entrei em Mafra para o curso de oficiais para canhão, onde terminei a especialidade em minas e armadilhas (éramos 16 no pelotão), curso que não terminámos sem que 15 de nós fossemos contemplados com 19 dias de detenção e 45 de dispensas cortadas por, segundo reza a ordem de serviço [texto incompleto] (Como percebem tive de ocultar os nomes dos restantes 15 ex-camaradas por motivos óbvios).

E a punição não foi mais severa porque com 20 dias iríamos todos parar ao contingente geral e não teriam oficiais sapadores para enviarem para os teatros de guerra. Se o pudessem fazer estavam-se a borrifar para a oportunidade de reorientarmos o nosso comportamento.

Já como aspirante miliciano fui para Bragança instruir soldados que iriam para a as ex-colónias. Terminada a instrução fiz uma passagem por Tancos onde, pretensamente, deveria aprender mais alguma coisa sobre minas e armadilhas mas fiquei convencido de que, com o que aprendemos em Mafra, sabíamos mais que os oficiais e sargentos nossos instrutores em Tancos.

Finalmente fui para Viana do Castelo onde me encontrei com todos os ex-camaradas de infortúnio e formámos o BART 2917.

Em princípios de Maio de 1970 embarcámos naquela que foi a última viagem do velho Carvalho Araújo e desembarcámos em Bissau a 17 do mesmo mês. Ainda me recordo da expressão do Capitão que foi o meu comandante de Companhia e de que não me recordo do nome (ajude-me quem souber - seria o Passos Marques ou esse foi o do Batalhão de Engemharia ?) quando viu um pequeno furo à proa do navio, cerca de um metro acima da linha de àgua, por onde saía um fio de óleo e que o deixou preocupado desconfiando que não chegaria ao destino. Mas chegou e nós também naquela que até foi uma viagem calma.

O resto foi igual ao que já todos sabem. Desembarque, alojamento no Quartel de Adidos em Brá, saída uns dias depois e embarque na LDG que nos levou ao Xime e daí para os outros destinos em coluna.

Em 13 de janeiro do ano seguinte, 1971, foi o acidente com a mina anticarro de que já se falou e se voltará a falar, precedida, na altura do Natal, por uma visita do "homem do caco" ao reordenamento dos Nhabijões, onde esperou 20 minutos pelo alferes sapador, eu, que tinha ido à lenha com umas bajudas, mas que foi encoberto pelo David Guimarães e restantes ex-camaradas que lhe disseram que tinha ido buscar bidões de água para oas obras que estávamos a fazer. A peta pegou pois quando fui almoçar a Bambadinca ninguém me perguntou por onde andei.

Luís Moreira, aos 59 anos, professor de matemática (hoje tem 61 e está à beira da reforma).

© Luís Moreira (2005)


Após o acidente e consequente evacuação para o Hospital de Bissau, fui logo no dia seguinte visitado pelo dito Senhor Comandante que me desejou as rápidas melhoras. Devia estar a fazer falta no reordenamento que, diziam, era a menina dos olhos dele. Mas os médicos trocaram-lhe as voltas pois passaram-me aos serviços auxiliares e depois de uma breve passagem por Bambadinca vim fazer mais 15 ou 16 meses de serviço até 7 de Junho de 1972, mas no Batalhão de Engenharia, com direito a ar condicionado e tudo na messe e no bar de oficiais.

Regressei, terminei a minha licenciatura em Matemática (resolvi mudar de
curso) e passei a ser mais um dos tão criticados professores do ensino secundário que todos acusam de nada fazer a não ser martirizar as ciancinhas. Gostava de ver esses críticos a dar aulas a algumas das turmas que me passaram pelas mãos. Iam parar mais depressa à psiquiatria do que os Bravos que sofreram morteiradas todos os dias na Guiné. Mas esta é outra história. Felizmente vou pedir a reforma para o mês que vem embora, por decisão desta ministra, tenha de aguentar a dar aulas todo o ano lectivo.

Como já vi as fotos de alguns camarigas no antes e no depois, junto também as minhas, uma aos 26 anos já no ar condicionado do BENG 447, e outra mais recente, teria os meus 59 anos (hoje estou com 61).

Mantenhas.

Luís Moreira

Guiné 63/74 - CCIX: Luís Moreira, de alferes sapador a professor de matemática

Luís Moreira, Alf. Mili. Sapador, no Batalhão de Engenharia, em Bissau, já recuperado do acidente com a mina A/C, em Nhabijões (Bambadinca), a 13 de Janeiro de 1971

© Luís Moreira (2005)




Texto do Luís Moreira:

Depois de ler a prosa do João Tunes, dei-me conta de que, também eu, me não apresentei convenientemente aos camarigas que não me conheceram.

Nasci numa vila para os lados de Viseu, mais proprimente em Torredeita, que até vem em alguns mapas e tem uma Escola Superior de Agricultura (Politécnica), muito falada nos telejornais do Verão por o pessoal acampar à sua volta para garantir uma das poucas vagas que são postas à disposição.

Em 1969, com 25 anos e o curso de engenharia interrompido, entrei em Mafra para o curso de oficiais para canhão, onde terminei a especialidade em minas e armadilhas (éramos 16 no pelotão), curso que não terminámos sem que 15 de nós fossemos contemplados com 19 dias de detenção e 45 de dispensas cortadas por, segundo reza a ordem de serviço [texto incompleto] (Como percebem tive de ocultar os nomes dos restantes 15 ex-camaradas por motivos óbvios).

E a punição não foi mais severa porque com 20 dias iríamos todos parar ao contingente geral e não teriam oficiais sapadores para enviarem para os teatros de guerra. Se o pudessem fazer estavam-se a borrifar para a oportunidade de reorientarmos o nosso comportamento.

Já como aspirante miliciano fui para Bragança instruir soldados que iriam para a as ex-colónias. Terminada a instrução fiz uma passagem por Tancos onde, pretensamente, deveria aprender mais alguma coisa sobre minas e armadilhas mas fiquei convencido de que, com o que aprendemos em Mafra, sabíamos mais que os oficiais e sargentos nossos instrutores em Tancos.

Finalmente fui para Viana do Castelo onde me encontrei com todos os ex-camaradas de infortúnio e formámos o BART 2917.

Em princípios de Maio de 1970 embarcámos naquela que foi a última viagem do velho Carvalho Araújo e desembarcámos em Bissau a 17 do mesmo mês. Ainda me recordo da expressão do Capitão que foi o meu comandante de Companhia e de que não me recordo do nome (ajude-me quem souber - seria o Passos Marques ou esse foi o do Batalhão de Engemharia ?) quando viu um pequeno furo à proa do navio, cerca de um metro acima da linha de àgua, por onde saía um fio de óleo e que o deixou preocupado desconfiando que não chegaria ao destino. Mas chegou e nós também naquela que até foi uma viagem calma.

O resto foi igual ao que já todos sabem. Desembarque, alojamento no Quartel de Adidos em Brá, saída uns dias depois e embarque na LDG que nos levou ao Xime e daí para os outros destinos em coluna.

Em 13 de janeiro do ano seguinte, 1971, foi o acidente com a mina anticarro de que já se falou e se voltará a falar, precedida, na altura do Natal, por uma visita do "homem do caco" ao reordenamento dos Nhabijões, onde esperou 20 minutos pelo alferes sapador, eu, que tinha ido à lenha com umas bajudas, mas que foi encoberto pelo David Guimarães e restantes ex-camaradas que lhe disseram que tinha ido buscar bidões de água para oas obras que estávamos a fazer. A peta pegou pois quando fui almoçar a Bambadinca ninguém me perguntou por onde andei.

Luís Moreira, aos 59 anos, professor de matemática (hoje tem 61 e está à beira da reforma).

© Luís Moreira (2005)


Após o acidente e consequente evacuação para o Hospital de Bissau, fui logo no dia seguinte visitado pelo dito Senhor Comandante que me desejou as rápidas melhoras. Devia estar a fazer falta no reordenamento que, diziam, era a menina dos olhos dele. Mas os médicos trocaram-lhe as voltas pois passaram-me aos serviços auxiliares e depois de uma breve passagem por Bambadinca vim fazer mais 15 ou 16 meses de serviço até 7 de Junho de 1972, mas no Batalhão de Engenharia, com direito a ar condicionado e tudo na messe e no bar de oficiais.

Regressei, terminei a minha licenciatura em Matemática (resolvi mudar de
curso) e passei a ser mais um dos tão criticados professores do ensino secundário que todos acusam de nada fazer a não ser martirizar as ciancinhas. Gostava de ver esses críticos a dar aulas a algumas das turmas que me passaram pelas mãos. Iam parar mais depressa à psiquiatria do que os Bravos que sofreram morteiradas todos os dias na Guiné. Mas esta é outra história. Felizmente vou pedir a reforma para o mês que vem embora, por decisão desta ministra, tenha de aguentar a dar aulas todo o ano lectivo.

Como já vi as fotos de alguns camarigas no antes e no depois, junto também as minhas, uma aos 26 anos já no ar condicionado do BENG 447, e outra mais recente, teria os meus 59 anos (hoje estou com 61).

Mantenhas.

Luís Moreira

23 setembro 2005

Guiné 63/74 - CCVIII: Antologia (20): A língua portuguesa e a sua dimensão africana

Por sugestão do tertuliano Afonso M.F. Sousa (que andou a fazer pesquisas sobre a Teixeira Pinto / Canchungo):

Texto de Carlos Lopes (1) > A dimensão africana


A relação entre um grafema e fonema é algo que me suscita as maiores curiosidades. Como qualquer intelectual globalizado, o meu cosmopolitismo manifesta-se pelo conhecimento de várias línguas. Já não é fácil saber qual é a mais apropriada para cada sujeito em discussão. Dependendo da vivência associada ao tópico pode ser o francês, espanhol, mas também o inglês ou rudimentarmente o italiano, o alemão e até o grego. Por ter sido exposto de uma maneira ou outra a este leque de criações europeias, sou obrigado a caracterizar-me como um europeizado.

Paradoxalmente é o português que me aproxima da minha dimensão africana, porque ele serve de alimento a uma outra língua -o kriol- que é a raiz da contemporaneidade guineense.

Do português interessam-me muitas coisas, a começar pela relação específica que existe em qualquer língua entre grafema e fonema. Em nenhuma outra língua, nem mesmo em kriol (devido à sua jovem normalização), me sinto tão à vontade. Aqui posso emprestar as palavras mais densas, os verbos mais aristocráticos, as sílabas mais estridentes, as expressões mais amargas, sem qualquer hesitação fonética. É um atributo que me aproxima da língua de tal forma que ela se torna minha, propriedade pessoal, privada, individualizada... capaz de projectar os sentimentos mais egoístas e introvertidos.

E, no entanto, eu sei... eu tenho plena consciência que ela também é propriedade de milhões de pessoas de Braga a Canchungo, de Londrina a Bakau, de Newark a Lobito, de S. Vicente à Beira, de Penang à Ilha do Príncipe, muito para além das capitais de quem se atribui a lusofonia. É essa riqueza, que atravessa firmemente todas estas civilizações da língua portuguesa, que me emociona e me permite reconhecer, aqui e ali, nos mais diferentes espaços e contextos, o sentimento de que não estou só... no mundo.

18/04/1997

Fonte: © 1998 Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
________________


(1) Sociólogo e escritor guineense, nascido em Teixeira Pinto/Canchungo, em 1960 . É um intectual africano de prestígio internacional. É actualmente um quadro superior das Nações Unidas.

Guiné 63/74 - CCVIII: Antologia (20): A língua portuguesa e a sua dimensão africana

Por sugestão do tertuliano Afonso M.F. Sousa (que andou a fazer pesquisas sobre a Teixeira Pinto / Canchungo):

Texto de Carlos Lopes (1) > A dimensão africana


A relação entre um grafema e fonema é algo que me suscita as maiores curiosidades. Como qualquer intelectual globalizado, o meu cosmopolitismo manifesta-se pelo conhecimento de várias línguas. Já não é fácil saber qual é a mais apropriada para cada sujeito em discussão. Dependendo da vivência associada ao tópico pode ser o francês, espanhol, mas também o inglês ou rudimentarmente o italiano, o alemão e até o grego. Por ter sido exposto de uma maneira ou outra a este leque de criações europeias, sou obrigado a caracterizar-me como um europeizado.

Paradoxalmente é o português que me aproxima da minha dimensão africana, porque ele serve de alimento a uma outra língua -o kriol- que é a raiz da contemporaneidade guineense.

Do português interessam-me muitas coisas, a começar pela relação específica que existe em qualquer língua entre grafema e fonema. Em nenhuma outra língua, nem mesmo em kriol (devido à sua jovem normalização), me sinto tão à vontade. Aqui posso emprestar as palavras mais densas, os verbos mais aristocráticos, as sílabas mais estridentes, as expressões mais amargas, sem qualquer hesitação fonética. É um atributo que me aproxima da língua de tal forma que ela se torna minha, propriedade pessoal, privada, individualizada... capaz de projectar os sentimentos mais egoístas e introvertidos.

E, no entanto, eu sei... eu tenho plena consciência que ela também é propriedade de milhões de pessoas de Braga a Canchungo, de Londrina a Bakau, de Newark a Lobito, de S. Vicente à Beira, de Penang à Ilha do Príncipe, muito para além das capitais de quem se atribui a lusofonia. É essa riqueza, que atravessa firmemente todas estas civilizações da língua portuguesa, que me emociona e me permite reconhecer, aqui e ali, nos mais diferentes espaços e contextos, o sentimento de que não estou só... no mundo.

18/04/1997

Fonte: © 1998 Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
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(1) Sociólogo e escritor guineense, nascido em Teixeira Pinto/Canchungo, em 1960 . É um intectual africano de prestígio internacional. É actualmente um quadro superior das Nações Unidas.

Guiné 63/74 - CCVII: Da tertúlia virtual ao encontro de carne e osso

Humberto (e demais tertulianos):

Fazes-me lembrar o nosso velho capitão (não se manda um cota para a guerra, já quase quarentão!), lá para os lados do Corubal, numa das muitas operações em que demos e levámos porrada de criar bicho... Ele, coitado, atrás de uma árvore e a dar ordens: "Companhia, avançar!... Companhia, recuar!"... Era (é) um homem afável e bom!

Tens razão: cá na nossa tertúlia, é assim, "para a frente é que é o caminho"...Felizmente, que já não temos de fugir dos tiros das costureinhas, das kalash, das roquetadas, canhoadas e morteiradas, nem muito menos das abelhas assassinas...

A ideia do João Tunes, secundada por ti, faz sentido. A nossa tertúlia é virtual: a maior parte de nós não se conhece, a não ser de fotografia (e só alguns)... Eu sei que no futuro cada vez mais gente vai ter colegas de trabalho ou clientes virtuais, ligados`em rede...


Mas nós queremos dar um abraço ao Lepoldo e sentir os seus ossos que sobreviveram às andanças por Catió e Bolama e sobretudo a essa coisa medomnha que é uam guerra (para mais quando se é criança)... Queremos dar-lhe aquele abraço que ele merece, quando ele, brilantemente, discutir a sua tese... A propósito ainda não sei onde é que ele está a fazer o seu mestrado (presumo, ou será doutoramento ?): é possível que seja no ISCSP (no polo universitário do Alto de Monsanto ou na Junqueira ?) ou então na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, ao Campo Grande... A menos que esteja numa universidade privada, não sei...

De qualquer modo, vai ser aqui em Lisboa, terra conquistada aos mouros... Ora como tu dizes e bem uma boa parte dos nossos tertulianos são... morcões (que é o termo carimnhos que uso quando falo com os meus cunhados, sobrinhso e amigos do Portucale, o Portugal primitivo e original, que ia do Minho ao Douro...

Eu tenho estruturas logísticas no Norte (Quinta de Candoz, no Marco de Caneveses, já no limite do Marco com o de Baião, perto da barragem do Carrapatelo, no Douro), e água de Lisboa (... boa e com fartura), que neste caso é branca e verde...

O sítio é fácil de encontar: de Lisboa, é seguir a A1 e depois a A3 (Vila Real), cortar para o Marco e seguir a estrada da Régua... A malta do Porto e arredores está em casa... Os do Alto Minho (Viana do cstelo...) também, ficam perto... Mais longe estamos nós aqui: mas não chega,m a 400 quilómetros, o meu sítio. Já convidei o Guimarães e o Marques Lopes, que são so que estão mais perto de lá (cerca de 60 km)... Eu hoje devia estar lá nas vindimas...

Havemos de arranjar qualquer coisa. Para um primeiro encontro, mais formal e académico, não será difícil de arranjar uma sala, com todos os meios de audiovisuais necessários (incluindo o data-show) na minha Escola, que fica na Av Cruz, a seguir ao estádio do Sporting e pegada ao Instituto Ricardo Jorge.

O objectivo é ouvir a charla do Leopoldo, admitindo que ele está disposto a fazer uma sessão só para VIP como nós... A almoçarada tem que ser a seguir (há aqui bons restaurantes na zona, no Lumiar e em Carnide). Outro encontro, mais alargado, terá que ser no Norte... De qualquer modo, o pretexto é sempre celebrar a vida, a amizade, a camaradagem...

Vejam as blogarias de ontem e a minha/nossa despedida ao Paulo que vai para Bissau um ano, com meia companhia, armas e bagagem. Parte no dia 30 deste mês.

Mantenhas para o pessoal todo, os camarigos (feliz invenção do João, que assim enriquece a nossa querida língua portuguesa, e sobretudo deixa de fazer a distinção, subtilmente discriminatória, entre amigos e camaradas, como fazem os militantes do PC...)

Luís


PS - Humberto, és um sortudo que vai de férias, de 4 a 9 de Outubro, a Cabo Verde (e eu ainda não fui lá, revisitar os sítios por onde andou o meu velhote na II Guerra Mundial...). Até lá a gente ainda se fala. Mas espero que faças umas "chapas" aqui para o blogue: vais à Ilha de São Vicente ? Se sim, vou-te fazer uma encomenda de fotos, para matar saudades (a mim e ao meu velhote)...

Guiné 63/74 - CCVII: Da tertúlia virtual ao encontro de carne e osso

Humberto (e demais tertulianos):

Fazes-me lembrar o nosso velho capitão (não se manda um cota para a guerra, já quase quarentão!), lá para os lados do Corubal, numa das muitas operações em que demos e levámos porrada de criar bicho... Ele, coitado, atrás de uma árvore e a dar ordens: "Companhia, avançar!... Companhia, recuar!"... Era (é) um homem afável e bom!

Tens razão: cá na nossa tertúlia, é assim, "para a frente é que é o caminho"...Felizmente, que já não temos de fugir dos tiros das costureinhas, das kalash, das roquetadas, canhoadas e morteiradas, nem muito menos das abelhas assassinas...

A ideia do João Tunes, secundada por ti, faz sentido. A nossa tertúlia é virtual: a maior parte de nós não se conhece, a não ser de fotografia (e só alguns)... Eu sei que no futuro cada vez mais gente vai ter colegas de trabalho ou clientes virtuais, ligados`em rede...


Mas nós queremos dar um abraço ao Lepoldo e sentir os seus ossos que sobreviveram às andanças por Catió e Bolama e sobretudo a essa coisa medomnha que é uam guerra (para mais quando se é criança)... Queremos dar-lhe aquele abraço que ele merece, quando ele, brilantemente, discutir a sua tese... A propósito ainda não sei onde é que ele está a fazer o seu mestrado (presumo, ou será doutoramento ?): é possível que seja no ISCSP (no polo universitário do Alto de Monsanto ou na Junqueira ?) ou então na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, ao Campo Grande... A menos que esteja numa universidade privada, não sei...

De qualquer modo, vai ser aqui em Lisboa, terra conquistada aos mouros... Ora como tu dizes e bem uma boa parte dos nossos tertulianos são... morcões (que é o termo carimnhos que uso quando falo com os meus cunhados, sobrinhso e amigos do Portucale, o Portugal primitivo e original, que ia do Minho ao Douro...

Eu tenho estruturas logísticas no Norte (Quinta de Candoz, no Marco de Caneveses, já no limite do Marco com o de Baião, perto da barragem do Carrapatelo, no Douro), e água de Lisboa (... boa e com fartura), que neste caso é branca e verde...

O sítio é fácil de encontar: de Lisboa, é seguir a A1 e depois a A3 (Vila Real), cortar para o Marco e seguir a estrada da Régua... A malta do Porto e arredores está em casa... Os do Alto Minho (Viana do cstelo...) também, ficam perto... Mais longe estamos nós aqui: mas não chega,m a 400 quilómetros, o meu sítio. Já convidei o Guimarães e o Marques Lopes, que são so que estão mais perto de lá (cerca de 60 km)... Eu hoje devia estar lá nas vindimas...

Havemos de arranjar qualquer coisa. Para um primeiro encontro, mais formal e académico, não será difícil de arranjar uma sala, com todos os meios de audiovisuais necessários (incluindo o data-show) na minha Escola, que fica na Av Cruz, a seguir ao estádio do Sporting e pegada ao Instituto Ricardo Jorge.

O objectivo é ouvir a charla do Leopoldo, admitindo que ele está disposto a fazer uma sessão só para VIP como nós... A almoçarada tem que ser a seguir (há aqui bons restaurantes na zona, no Lumiar e em Carnide). Outro encontro, mais alargado, terá que ser no Norte... De qualquer modo, o pretexto é sempre celebrar a vida, a amizade, a camaradagem...

Vejam as blogarias de ontem e a minha/nossa despedida ao Paulo que vai para Bissau um ano, com meia companhia, armas e bagagem. Parte no dia 30 deste mês.

Mantenhas para o pessoal todo, os camarigos (feliz invenção do João, que assim enriquece a nossa querida língua portuguesa, e sobretudo deixa de fazer a distinção, subtilmente discriminatória, entre amigos e camaradas, como fazem os militantes do PC...)

Luís


PS - Humberto, és um sortudo que vai de férias, de 4 a 9 de Outubro, a Cabo Verde (e eu ainda não fui lá, revisitar os sítios por onde andou o meu velhote na II Guerra Mundial...). Até lá a gente ainda se fala. Mas espero que faças umas "chapas" aqui para o blogue: vais à Ilha de São Vicente ? Se sim, vou-te fazer uma encomenda de fotos, para matar saudades (a mim e ao meu velhote)...

Guiné 63/74 - CCVI: Guerra colonial 'versus' guerra de libertação nacional: um estudo de caso

Guiné-Bissau > Zona Leste > Bambadinca > 1997:

O antigo edifício dos correios... A sigla (CTT) está lá inscrita na parede com as mesmas letras de há 35 anos... O Leopoldo Amado não passou por aqui, quando djubi, mas esteve em Catió e Bolama... O pai era chefe dos correios.


"Daqui telefonei para Lisboa umas 3 ou 4 vezes. In ilo tempore, em que se pedia a chamada com dois dias de antecedência e com hora marcada!" (Humberto Reis)...

© Humberto Reis (2005) (com a colaboração do Braima Samá, professor primário em Bambadina e improvisado fotógrafo em 1997)



1. Post de JoãoTunes:

Amigo Leopoldo (para o caso, camarada está a mais...)

Folgo que a tese vá com toda a tusa. O resultado só poderá ser brilhante, não tenho dúvidas.

Uma sugestão: porque não uma sessão já a seguir para os tertulianos, estilo treino, em que o meu caro amigo apresentava as linhas de força da sua tese e se submetia a fogo cerrado de artilharia, helicanhão, emboscadas e golpes de mãos dos combatentes velhinhos?

Não seria um bom ensaio de defesa de tese? Estou certo que os tertulianos ex-combatentes apreciariam esse duelo com a memória e a sua arrumação. Por mim falando, teria o maior prazer e acicate. Dito melhor, manga de ronco.

Se a ideia tivesse pés para andar, julgo que o Luís não teria dificuldade em arranjar uma sala de cenário adequado a que se seguiria zarpar para uma petiscada numa messe qualquer - a "Trindade" por exemplo, junto ao Largo Camões - onde se pudesse confraternizar... O que interessava seria, sobretudo, conhecermo-nos - ou revermo-nos para os que andaram juntos - passando ou regressando da amizade virtual para a real.

Escuto.
Mantenha pa nhos tudu.
João Tunes

2. Resposta, de imediato, do Leopoldo Amado:

Caro amigo Tunes,

Teria todo prazer em coligir uma notas e partilhar as linhas de força da minha tese: "Guerra Colonial versus guerra de libertação nacional (1963-1974): o caso da Guiné-Bissau". Seria igualmente importante para mim (e para todos, creio) o feedback que certamente tal ocasionaria.

Porém, não sei se a cervejaria Trindade serve para o propósito: muita gente, muita cerveja e, provavelmente algum barulho. Pelo menos era assim há uns 15 anos. Há muito que lá não vou. Como quer que seja, é-me indiferente o local, conquanto possamos (re)encontrar-nos, uma vez que estivemos juntos no mesmo Teatro de Operações, embora cada um na sua latitude.

Mas não espero encontrar combatentes velhinhos. Espero, isso sim, encontrar jovens bem dispostos, com uma média de idades a rondar os 60 anos, isto é, homens que se rejuvenesceram física espiritualmente. Afinal, fostes "soldados uma vez, sempre soldados”, parafraseando o titulo da obra do pára-quedista Nuno Mira Vaz.

Aquela guerra foi igualmente minha. O meu pai era chefe dos Correios, pelo que calcorreámos a Guiné toda. Calhava-nos, por cúmulo de azar, os sítios mais quentes. Tenho muitas lembranças desta vossa/minha guerra, porque vivi-a na infância e na adolescência, mas vivi-a de algum modo: os 122 mm e afins do PAIGC também passaram muita vez por cima da minha casa, quer em Catió, quer em Bolama...

Escuto. Leopoldo Amado


3. Intervenção do Humberto Reis:

Leopoldo Amado, meu amigo tertuliano:

Tiro o meu chapéu à sua disponibilidade para uma primeira conversa, de muitas esperemos, com estes rapazes novos da casa das +/- 60 Primaveras.

Estou disponível para quando quiserem, excepto de 4 a 9 de Outubro próximo, em que vou estar em Cabo Verde. Não é em serviço mas sim uns dias de vacances. Acontece que o Paulo Salgado vai à Guiné no dia 30 mas não disse quando voltava. Esperemos que seja rápida a resposta dele, para se poder organizar este encontro.

Pelo que o João Tunes escreve, a ideia do encontro é numa sala que consigamos arranjar (ele sugere que talvez o Luís tenha mais facilidade em conseguir lá na universidade) e no pós-sabatina, então sim, irmos beber uma bejeca à Trindade, ou outro lado qualquer.

Não quero deixar de chamar a atenção da rapaziada, de que isto através destas modernices dos computadores é fácil e prático, mas as presenças físicas já começam a dar que pensar. Temos tertulianos de todo o país e, se isto fosse pensado para o norte do país, por exemplo, eu gostaria de me deslocar lá.

Como o Leopoldo está em Lisboa, julgo que seria de aguardar pelas reacções dos restantes compagnons de route que residem mais afastados cá do burgo. Não quero dizer com isto que este(s) encontro(s) tenha(m) de ter a comparência de todos os tertulianos, nada disso (era utópico pensar em tal). Apenas sugiro que auscultemos as opiniões dos outros.

"Avancemos para a frente" pois não temos tempo de "recuar para trás".

Um abraço a todos
Humberto Reis

Guiné 63/74 - CCVI: Guerra colonial 'versus' guerra de libertação nacional: um estudo de caso

Guiné-Bissau > Zona Leste > Bambadinca > 1997:

O antigo edifício dos correios... A sigla (CTT) está lá inscrita na parede com as mesmas letras de há 35 anos... O Leopoldo Amado não passou por aqui, quando djubi, mas esteve em Catió e Bolama... O pai era chefe dos correios.


"Daqui telefonei para Lisboa umas 3 ou 4 vezes. In ilo tempore, em que se pedia a chamada com dois dias de antecedência e com hora marcada!" (Humberto Reis)...

© Humberto Reis (2005) (com a colaboração do Braima Samá, professor primário em Bambadina e improvisado fotógrafo em 1997)



1. Post de JoãoTunes:

Amigo Leopoldo (para o caso, camarada está a mais...)

Folgo que a tese vá com toda a tusa. O resultado só poderá ser brilhante, não tenho dúvidas.

Uma sugestão: porque não uma sessão já a seguir para os tertulianos, estilo treino, em que o meu caro amigo apresentava as linhas de força da sua tese e se submetia a fogo cerrado de artilharia, helicanhão, emboscadas e golpes de mãos dos combatentes velhinhos?

Não seria um bom ensaio de defesa de tese? Estou certo que os tertulianos ex-combatentes apreciariam esse duelo com a memória e a sua arrumação. Por mim falando, teria o maior prazer e acicate. Dito melhor, manga de ronco.

Se a ideia tivesse pés para andar, julgo que o Luís não teria dificuldade em arranjar uma sala de cenário adequado a que se seguiria zarpar para uma petiscada numa messe qualquer - a "Trindade" por exemplo, junto ao Largo Camões - onde se pudesse confraternizar... O que interessava seria, sobretudo, conhecermo-nos - ou revermo-nos para os que andaram juntos - passando ou regressando da amizade virtual para a real.

Escuto.
Mantenha pa nhos tudu.
João Tunes

2. Resposta, de imediato, do Leopoldo Amado:

Caro amigo Tunes,

Teria todo prazer em coligir uma notas e partilhar as linhas de força da minha tese: "Guerra Colonial versus guerra de libertação nacional (1963-1974): o caso da Guiné-Bissau". Seria igualmente importante para mim (e para todos, creio) o feedback que certamente tal ocasionaria.

Porém, não sei se a cervejaria Trindade serve para o propósito: muita gente, muita cerveja e, provavelmente algum barulho. Pelo menos era assim há uns 15 anos. Há muito que lá não vou. Como quer que seja, é-me indiferente o local, conquanto possamos (re)encontrar-nos, uma vez que estivemos juntos no mesmo Teatro de Operações, embora cada um na sua latitude.

Mas não espero encontrar combatentes velhinhos. Espero, isso sim, encontrar jovens bem dispostos, com uma média de idades a rondar os 60 anos, isto é, homens que se rejuvenesceram física espiritualmente. Afinal, fostes "soldados uma vez, sempre soldados”, parafraseando o titulo da obra do pára-quedista Nuno Mira Vaz.

Aquela guerra foi igualmente minha. O meu pai era chefe dos Correios, pelo que calcorreámos a Guiné toda. Calhava-nos, por cúmulo de azar, os sítios mais quentes. Tenho muitas lembranças desta vossa/minha guerra, porque vivi-a na infância e na adolescência, mas vivi-a de algum modo: os 122 mm e afins do PAIGC também passaram muita vez por cima da minha casa, quer em Catió, quer em Bolama...

Escuto. Leopoldo Amado


3. Intervenção do Humberto Reis:

Leopoldo Amado, meu amigo tertuliano:

Tiro o meu chapéu à sua disponibilidade para uma primeira conversa, de muitas esperemos, com estes rapazes novos da casa das +/- 60 Primaveras.

Estou disponível para quando quiserem, excepto de 4 a 9 de Outubro próximo, em que vou estar em Cabo Verde. Não é em serviço mas sim uns dias de vacances. Acontece que o Paulo Salgado vai à Guiné no dia 30 mas não disse quando voltava. Esperemos que seja rápida a resposta dele, para se poder organizar este encontro.

Pelo que o João Tunes escreve, a ideia do encontro é numa sala que consigamos arranjar (ele sugere que talvez o Luís tenha mais facilidade em conseguir lá na universidade) e no pós-sabatina, então sim, irmos beber uma bejeca à Trindade, ou outro lado qualquer.

Não quero deixar de chamar a atenção da rapaziada, de que isto através destas modernices dos computadores é fácil e prático, mas as presenças físicas já começam a dar que pensar. Temos tertulianos de todo o país e, se isto fosse pensado para o norte do país, por exemplo, eu gostaria de me deslocar lá.

Como o Leopoldo está em Lisboa, julgo que seria de aguardar pelas reacções dos restantes compagnons de route que residem mais afastados cá do burgo. Não quero dizer com isto que este(s) encontro(s) tenha(m) de ter a comparência de todos os tertulianos, nada disso (era utópico pensar em tal). Apenas sugiro que auscultemos as opiniões dos outros.

"Avancemos para a frente" pois não temos tempo de "recuar para trás".

Um abraço a todos
Humberto Reis

Guiné 63/74 - CCV: 1 morto e 6 feridos graves aos 20 meses (CCAÇ 12, Janeiro de 1971)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970: Da esquerda para a direita, os ex-furriéis milicianos Marques e Henriques da CCAÇ 12.

Os dois foram vítimas, juntamente com as suas secções (4º Grupo de Combate), da explosão de uma mina anti-carro na GMC em que seguiam (Estrada de Nhabijões-Bambadinca, 13 de Janeiro de 1971, a um m~es de acabarem a sua comissão de serviço).

O Marques foi gravemente ferido, tendo sido evacuado para a Metrópole. A sua reabilitação foi morosa e pensoa. É hoje mais um DFA (deficiente das forças armadasa).

© Luís Graça (2005)


História da CCAÇ 12 (1969/71)

(19) Janeiro de 1971: 1 morto de 6 feridos graves aos 20 meses


O dia 13 seria uma data fatídica para as NT, e em especial para a CCAÇ 12 cujos quadros metropolitanos estavam prestes a terminar a sua comissão de serviço em terras da Guiné. Eis o filme dos acontecimentos:

(i) Às 5.45h o 1º Gr Comb detectou, durante a batida à região de Ponta Coli, vestígios dum grupo IN de 20 elementos vindos em acção de reconhecimento aos trabalhos da TECNIL na estrada Bambadinca-Xime e locais de instalação das NT.

(ii) Às 11.25h, na estrada de Nhabijões-Bambadinca, uma viatura tipo Unimog 411, conduzida pelo Sold Soares (CCAÇ 12) que ia buscar [a Bambadinca] a 2ª refeição para o pessoal daquele destacamento, accionou uma mina A/C.

0 condutor teve morte instantânea. Ficaram gravemente feridos 1 Oficial (CCS / BART 2917)[Alf. Mil. Moreira] (a), 1 Sargento (Fur Mil Fernandes/CCAÇ 12) e 1 Praça (CCS / BART 2917).

(iii) Imediatamente alertadas as NT em Bambadinca, o Gr Comb de intervenção (4º, CCAÇ 12) recebeu a missão de seguir para o local a fim de fazer o reconhecimento da zona, enquanto outras forças acorriam a socorrer os sinistrados.

Ao chegar junto da viatura minada, o Cmdt do 4° Gr Comb [Alf. Mil. Rodrigues] (b) deixou duas praças a fazer a pesquisa, na estrada e imediações, de outros possíveis engenhos explosivos, no que foram apoiados por alguns elementos do destacamento, seguindo depois uma pista de peugadas recentes, detectadas nas proximidades, e que se dirigiam para a orla da mata.

Aqui, a 50 metros da estrada, atrás duma árvore incrustada num baga-baga, encontraram-se vestígios muito recentes. Seguindo os rastos através da mata, foi dar-se à antiga tabanca de Imbumbe [um dos cinco núcleos populacionais de Nhabijões (c), agora transferidos para o reordenamento], mas nas proximidades do reordenamento (Bolubate) aqueles passaram a confundir-se com os do pessoal que trabalha na bolanha.

(iv) Regressado ao local das viaturas, o Gr Comb pelas 13.30h recebeu ordens para recolher, tendo o pessoal tomado lugar no Unimog e na GMC em que tinha vindo. Esta última [onde vinham as secções, comandadas pelos Fur. Mil. Marques e Henriques] (d) , entretanto, ao fazer inversão de marcha, e tendo saído fora da estrada com o rodado trazeiro, accionaria uma outra mina A/C colocada na berma, a 10 metros da anterior, e que não havia sido detectada pelos picadores.

Em resultado de terem sido projectados, ficaram gravemente feridos o Fur Mil Marques e os Sold Quecuta, Sherifo, Tenen e Ussumane. Sofreram escoriações e traumatismos de menor grau o Alf. Mil. Rodrigues, o Sold TRMS Pereira e os Sold Cherno e Samba.

(v) No dia seguinte, às 5.45h, as forças de segurança à TECNIL (2º e 4º Gr Comb da CCAÇ 12) detectaram novos vestígios do mesmo grupo IN que seguiu na direcção de Lantar, vindo de Samba Silate, fazendo de passagem o reconhecimento das máquinas à entrada da bolanha do Xime. Uma inspecção cuidadosa não revelou estarem armadilhadas.

(vi) Às 18.30Oh, o IN flagelaria o Xime com mort 82 da direcção de Ponta Varela, à distância e sem consequências.

Durante o mês, a CCAÇ 12 continuou empenhada na segurança à TECNIL, tendo ainda levado a efeito duas colunas de reabastecimentos até ao Saltinho.

_____

Notas de L.G.

(a) O nosso tertulianoLuís Moreira

(b) Já falecido, depois do regresso a Portugal. O José António G. Rodrigues, ex-Al. Mil. Cav., era funcionário da Segurança Social, em Lisboa.

(c) O Fur. Mil. Henriques é o autor destas linhas.

(d) vd. post de 21 Setembro 2005 > Guiné 63/74 . CCII: O reordenamento de Nhabijões (1969/70) .

___________

Fonte: História da CCAÇ. 12: Guiné 1969/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores 12. 1971. Capítulo II. 44-45.


Guiné 63/74 - CCV: 1 morto e 6 feridos graves aos 20 meses (CCAÇ 12, Janeiro de 1971)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970: Da esquerda para a direita, os ex-furriéis milicianos Marques e Henriques da CCAÇ 12.

Os dois foram vítimas, juntamente com as suas secções (4º Grupo de Combate), da explosão de uma mina anti-carro na GMC em que seguiam (Estrada de Nhabijões-Bambadinca, 13 de Janeiro de 1971, a um m~es de acabarem a sua comissão de serviço).

O Marques foi gravemente ferido, tendo sido evacuado para a Metrópole. A sua reabilitação foi morosa e pensoa. É hoje mais um DFA (deficiente das forças armadasa).

© Luís Graça (2005)


História da CCAÇ 12 (1969/71)

(19) Janeiro de 1971: 1 morto de 6 feridos graves aos 20 meses


O dia 13 seria uma data fatídica para as NT, e em especial para a CCAÇ 12 cujos quadros metropolitanos estavam prestes a terminar a sua comissão de serviço em terras da Guiné. Eis o filme dos acontecimentos:

(i) Às 5.45h o 1º Gr Comb detectou, durante a batida à região de Ponta Coli, vestígios dum grupo IN de 20 elementos vindos em acção de reconhecimento aos trabalhos da TECNIL na estrada Bambadinca-Xime e locais de instalação das NT.

(ii) Às 11.25h, na estrada de Nhabijões-Bambadinca, uma viatura tipo Unimog 411, conduzida pelo Sold Soares (CCAÇ 12) que ia buscar [a Bambadinca] a 2ª refeição para o pessoal daquele destacamento, accionou uma mina A/C.

0 condutor teve morte instantânea. Ficaram gravemente feridos 1 Oficial (CCS / BART 2917)[Alf. Mil. Moreira] (a), 1 Sargento (Fur Mil Fernandes/CCAÇ 12) e 1 Praça (CCS / BART 2917).

(iii) Imediatamente alertadas as NT em Bambadinca, o Gr Comb de intervenção (4º, CCAÇ 12) recebeu a missão de seguir para o local a fim de fazer o reconhecimento da zona, enquanto outras forças acorriam a socorrer os sinistrados.

Ao chegar junto da viatura minada, o Cmdt do 4° Gr Comb [Alf. Mil. Rodrigues] (b) deixou duas praças a fazer a pesquisa, na estrada e imediações, de outros possíveis engenhos explosivos, no que foram apoiados por alguns elementos do destacamento, seguindo depois uma pista de peugadas recentes, detectadas nas proximidades, e que se dirigiam para a orla da mata.

Aqui, a 50 metros da estrada, atrás duma árvore incrustada num baga-baga, encontraram-se vestígios muito recentes. Seguindo os rastos através da mata, foi dar-se à antiga tabanca de Imbumbe [um dos cinco núcleos populacionais de Nhabijões (c), agora transferidos para o reordenamento], mas nas proximidades do reordenamento (Bolubate) aqueles passaram a confundir-se com os do pessoal que trabalha na bolanha.

(iv) Regressado ao local das viaturas, o Gr Comb pelas 13.30h recebeu ordens para recolher, tendo o pessoal tomado lugar no Unimog e na GMC em que tinha vindo. Esta última [onde vinham as secções, comandadas pelos Fur. Mil. Marques e Henriques] (d) , entretanto, ao fazer inversão de marcha, e tendo saído fora da estrada com o rodado trazeiro, accionaria uma outra mina A/C colocada na berma, a 10 metros da anterior, e que não havia sido detectada pelos picadores.

Em resultado de terem sido projectados, ficaram gravemente feridos o Fur Mil Marques e os Sold Quecuta, Sherifo, Tenen e Ussumane. Sofreram escoriações e traumatismos de menor grau o Alf. Mil. Rodrigues, o Sold TRMS Pereira e os Sold Cherno e Samba.

(v) No dia seguinte, às 5.45h, as forças de segurança à TECNIL (2º e 4º Gr Comb da CCAÇ 12) detectaram novos vestígios do mesmo grupo IN que seguiu na direcção de Lantar, vindo de Samba Silate, fazendo de passagem o reconhecimento das máquinas à entrada da bolanha do Xime. Uma inspecção cuidadosa não revelou estarem armadilhadas.

(vi) Às 18.30Oh, o IN flagelaria o Xime com mort 82 da direcção de Ponta Varela, à distância e sem consequências.

Durante o mês, a CCAÇ 12 continuou empenhada na segurança à TECNIL, tendo ainda levado a efeito duas colunas de reabastecimentos até ao Saltinho.

_____

Notas de L.G.

(a) O nosso tertulianoLuís Moreira

(b) Já falecido, depois do regresso a Portugal. O José António G. Rodrigues, ex-Al. Mil. Cav., era funcionário da Segurança Social, em Lisboa.

(c) O Fur. Mil. Henriques é o autor destas linhas.

(d) vd. post de 21 Setembro 2005 > Guiné 63/74 . CCII: O reordenamento de Nhabijões (1969/70) .

___________

Fonte: História da CCAÇ. 12: Guiné 1969/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores 12. 1971. Capítulo II. 44-45.


22 setembro 2005

Guiné 63/74 - CCIV: Lamparam, o blogue do Leopoldo Amado

© Leopoldo Amado(2005)

Post de Leopoldo Amado, nosso amigo de tertúlia, historiador, natural da Guiné-Bissau.

Caros amigos,

Não tenho tido tempo para partilhar convosco o que quer que seja, na medida em que estou mesmo na recta final da minha dissertação de tese. Porém, estou quase a acabar, na fase derradeira. Penso estar disponível para a semana, a fim de iniciar convosco uma intensa partilha.

Desde já, congratulo-me com o nível dos trabalhos e dos debates. Há textos fabulosos. O que se fará com tanta coisa boa assim? Tertúlia vai ter a sua própria Editora? Penso que se justifica plenamente. Fiquei igualmente alegre em saber que o meu amigo João Tunes é agora dos nossos, pois tem cabeça no lugar e uma escrita escorreita, que dá gozo ler.

Entretanto, convido os meus amigos a visitarem o meu blog [Lamparam] , apesar de estar completamente desactualizado, tal a intensidade de trabalho que agora tenho com a fase final da tese.É uma forma de nos conhecemos mutuamente. Penso.
Um abraço a todos. Até pr’a semana.

Leopoldo Amado

2. Comentário de L.G. :

Congratulo-me pelo fim (ou quase) dos trabalhos académicos do Leopoldo. Falta-lhe depois defender a sua tese de dissertação, justamente sobre os aspectos militares da guerra da Guiné (1963/74). E nós queremos lá estar nesse dia, para o ouvir, apoiar e dar um abraço (aqueles de nós que quisermos e pudermos). A sua tese deve ser fascinante e vai seguramnente querer ser conhecida e lida por estes tertulianos que, modéstia à parte, também foram actores naquele filme da guerra colonial versus guerra de libertação (actores, secundaríssimos, é certo, mas mais do que simples figurantes)...

O blogue do Lepoldo pretende ser um "espaço guineense de análises, divulgação de textos e comentários sobre a Guiné-Bissau e o mundo africano".

O termo lamparam designa, no crioulo da Guiné-Bissau, "um engenho tradicional de propulsão normalmente utilizado nas plantações e nas bolanhas da Guiné-Bissau para afugentar a acção predatória das aves sobre as culturas".

A escolha do título é muito apropriada e feliz. O Leopoldo convida todos os guineenses e amigos de África e da Guiné-Bissau para pegarem no seu lamparam e desta forma, "realizarmos livre e civilizadamente a propulsão do nosso ethos, individual ou colectivamente, independentemente das diferenças de opinião ou de pontos de vista, conquanto possamos afugentar a intolerância e forjarmos, pela via do diálogo e da confrontação de ideais, a tão almejada quanto necessária união na diversidade".

Bons augúrios, Leopoldo! Com o teu lamparam, vamos afujentar essas aves agoirentas que pairam sobre os céus da tua querida terra! Não me refiro aos feios e pobres djagudis a quem Deus deu a missão de limpar a terra, mas essas outras figuras sinistras que têm impedido o teu país de tirar o máximo de oportunidades da sua independência, a começar pela violência das armas, a descrença, o cinismo e a corrupção.

Guiné 63/74 - CCIV: Lamparam, o blogue do Leopoldo Amado

© Leopoldo Amado(2005)

Post de Leopoldo Amado, nosso amigo de tertúlia, historiador, natural da Guiné-Bissau.

Caros amigos,

Não tenho tido tempo para partilhar convosco o que quer que seja, na medida em que estou mesmo na recta final da minha dissertação de tese. Porém, estou quase a acabar, na fase derradeira. Penso estar disponível para a semana, a fim de iniciar convosco uma intensa partilha.

Desde já, congratulo-me com o nível dos trabalhos e dos debates. Há textos fabulosos. O que se fará com tanta coisa boa assim? Tertúlia vai ter a sua própria Editora? Penso que se justifica plenamente. Fiquei igualmente alegre em saber que o meu amigo João Tunes é agora dos nossos, pois tem cabeça no lugar e uma escrita escorreita, que dá gozo ler.

Entretanto, convido os meus amigos a visitarem o meu blog [Lamparam] , apesar de estar completamente desactualizado, tal a intensidade de trabalho que agora tenho com a fase final da tese.É uma forma de nos conhecemos mutuamente. Penso.
Um abraço a todos. Até pr’a semana.

Leopoldo Amado

2. Comentário de L.G. :

Congratulo-me pelo fim (ou quase) dos trabalhos académicos do Leopoldo. Falta-lhe depois defender a sua tese de dissertação, justamente sobre os aspectos militares da guerra da Guiné (1963/74). E nós queremos lá estar nesse dia, para o ouvir, apoiar e dar um abraço (aqueles de nós que quisermos e pudermos). A sua tese deve ser fascinante e vai seguramnente querer ser conhecida e lida por estes tertulianos que, modéstia à parte, também foram actores naquele filme da guerra colonial versus guerra de libertação (actores, secundaríssimos, é certo, mas mais do que simples figurantes)...

O blogue do Lepoldo pretende ser um "espaço guineense de análises, divulgação de textos e comentários sobre a Guiné-Bissau e o mundo africano".

O termo lamparam designa, no crioulo da Guiné-Bissau, "um engenho tradicional de propulsão normalmente utilizado nas plantações e nas bolanhas da Guiné-Bissau para afugentar a acção predatória das aves sobre as culturas".

A escolha do título é muito apropriada e feliz. O Leopoldo convida todos os guineenses e amigos de África e da Guiné-Bissau para pegarem no seu lamparam e desta forma, "realizarmos livre e civilizadamente a propulsão do nosso ethos, individual ou colectivamente, independentemente das diferenças de opinião ou de pontos de vista, conquanto possamos afugentar a intolerância e forjarmos, pela via do diálogo e da confrontação de ideais, a tão almejada quanto necessária união na diversidade".

Bons augúrios, Leopoldo! Com o teu lamparam, vamos afujentar essas aves agoirentas que pairam sobre os céus da tua querida terra! Não me refiro aos feios e pobres djagudis a quem Deus deu a missão de limpar a terra, mas essas outras figuras sinistras que têm impedido o teu país de tirar o máximo de oportunidades da sua independência, a começar pela violência das armas, a descrença, o cinismo e a corrupção.

Guiné 63/74 - CCIII: Leva-me contigo, Salgado!

Crianças internadas no Hospital Maria Pia / Josina Machel. Luanda, Maianga. 29 de Setembro de 2004.

© Luís Graça (2004)


1. Post do Paulo Salgado (que está em vias de voltar á Guiné, por um ano como cooperante):

Fico perfeitamente siderado pela capacidade de alguns camaradas, pelo entusiasmo que colocam nas cartas, no envio e na organização das fotos, e, sobretudo, pelo empenhamento em recordar o passado, mas sempre pensando que o futuro ainda está connosco, que podem contar connosco para "contar" e "narrar" estórias que farão história, feita de pedaços de cada um: noites indormidas; fome de comida e de amor; sede de água e de carinho; também das obusadas, dos canhões...

Meus caros camaradas, o que passámos ajuda-nos a explicar alguns factos que se vivem hoje e a compreender o futuro, o futuro do nossos filhos e netos. As guerras não conduzem a nada...
Tal como havia os marinheiros que bordejavam a costa no tempo das conquistas e descobertas, sofrendo muito, também nós apanhámos as doenças, a miséria - e vimos como o arame farpado cortava seres como nós...

Também quero deixar uma palavra amiga e respeitadora ao Leopoldo [Amado], ao Mussá [Biai], (nosso amigos, tertulianos], ao [Fernando] Casimiro [mais conhecido por Didinho] e outros guineenses que querem o bem da sua terra, da "nossa" terra.

Mas quero deixar uma palavra especial - perdoai-me se olvido algum de vós com merecimento que será tão grande - ao Luís Graça, um intelectual de mão cheia, que nos ajuda, a todos, a reunir os pedaços que temos dentro de nós. (Bolas, isto é quase um louvor, carago - eu vivo aqui, em Gaia, carago!). Obrigado pelo companheirismo aqui vertido graças à tecnologia, que só tinha igual nos aerogramas: carago, chegavam em três tempos...

Nota: O tempo foge-me. Queria digitalizar as centenas de fotos que tenho... Algumas vinham para cá e a minha namorada, hoje minha mulher e companheira de novas "lutas" em África, mandava revelar a cores e que reenviava... ai, o amor vertido nas cartas e nos aerogramas... aquele amor que nos alimentava, que nos fazia sobreviver

Queria enviar panfletos que o PAIGC deixava na estrada, queria contar-vos episódios verdadeiros...mas o tempo escasseia-me. Ainda vou tentar, antes de ir na TAP até Bissau, no próximo dia 30 do corrente.

Mantenhas para todos.

2. Comentário do Luís Graça (Alguns excertos da nossa mais recente correspondência, privada, minha e do Paulo):

Paulo: Não temos mais "ordem de serviço" desde que perdemos a guerra, desfizemos o Império, desmontámos a tenda, fizémos o espólio, entregámos a G3 e o camuflado, rumámos a casa e passámos à peluda... Pelo que já não há mais lugar a louvores, como o teu (à minha singela pessoa) nem muito menos piçadas ou, pior ainda, porradas, como aquela que o João Tunes apanhou no Pelundo por desobedecer á ordem do filho da mãe do tenente coronel que lhe mandou dar uma chapada a um dos seus cabos de transmissões... Desculpa a desbunda, mas vim da Guiné desbocado... E eu garanto-te que antes de ir para lá era um djubi bem comportado: na minha morança e no meu chão, era proibido dizer palavrões...

Louvores, apanhei um na tropa, nem sei como, ou sei: dava jeito ao meu capitão, em vésperas de ser promovido a major e de regressar a casa, mostrar-se grato e reconhecido aos seus rapazes, incluindo este "gajo porreiro", que era eu, que se dava bem com os "guinéus", e que era o seu "pião de nicas" (substituindo todos os camaradas furriéis, com baixa, lerpados, cacimbados, em férias em Lisboa, desenfiados em Bissau), embora alcunhado de Soviético...

Bem, o louvor não me envergonha por aí além... Pelo menos, hoje me dia. Não o escondi também não o emoldurei. Nunca me serviu para nada. Mas um dia destes fui à velha caderneta militar, copiei-o e escarrapachei-o no meu currículo... Quanto ao teu elogio, agradeço-o mas não o mereço...porque grandes somos todos nós, tertulianos...

Escreveu-me o Paulo o seguinte (e eu quero partilhar isto com o resto da tertúlia, porque a gente também tem que saber o que se passa hoje naquela terra, desde à saúde à economia):

"Irei estar em Bissau durante um ano - é muito! Para quem já conta 59 anos, não é brincadeira.
"Comigo irão o Eng.º João Faria (reformado), o Administrador Hospitalar Vítor Seabra (que já andou pela Guiné como cooperante e está também reformado) e a minha mulher, Conceição Salgado, economista, e que foi apanhada pela água do Pidjiguiti" [Adoerei esta expressão, Paulo!... Que ternura!].

(...) "Na verdade, parto no fim do mês e esperam-nos, à equipa que vai, de quatro elementos, um sistema de saúde paupérrimo em todos os aspectos, espartilhado por vícios antigos e adquiridos, vilipendiado pela falta de planificação e de coordenação (eu já vi isto em qualquer lado!), um hospital civil onde imperam a miséria, o conformismo, o amadorismo, uma população analfabeta, carente, ainda que saiba da corrupção que grassa (onde é que eu já vi isto?). Também a chuva, o calor, a viscosidade de alguns... É certo que há o povo sempre na busca e na esperança, as paisagens e os passeios"...

"Preciso, também, de sentir que posso contar com amigos daqui e que fazem uma leitura realista da saúde. Lá como cá, a saúde é mal tratada - e quem sofre é o povo.

"O meu mail de lá, a partir de 30 de Setembro será (...)".

(...) "Não me vou esquecer da outra componente: a catártica, embora eu já tenha feito a catarse no Olossato, e por várias vezes...lá onde os putos agora homens me pedem: leva-me contigo, Salgado!"...

E eu (e julgo que todos nós), só lhe posso desejar "boa saúde e bom trabalho":

"Quanto a ti, meu caro, louvo-te a coragem e a generosidade: um ano de Guiné, nas actuais circunstâncias (um país do quarto mundo, o dos “buracos negros do capitalismo informacional”, para usar uma expressão do sociólogo Manuel Castells), é de herói… Só posso desejar-te o melhor possível, para ti, para a tua mulher e para o resto da equipa. Se eu te puder ser útil, a ti e aos nossos guinéus, em alguma coisa das minhas áreas de competência, põe e dispõe. Aquele abraço. Luís".

Se puderes, vai dando notícias para o outro endereço.

Guiné 63/74 - CCIII: Leva-me contigo, Salgado!

Crianças internadas no Hospital Maria Pia / Josina Machel. Luanda, Maianga. 29 de Setembro de 2004.

© Luís Graça (2004)


1. Post do Paulo Salgado (que está em vias de voltar á Guiné, por um ano como cooperante):

Fico perfeitamente siderado pela capacidade de alguns camaradas, pelo entusiasmo que colocam nas cartas, no envio e na organização das fotos, e, sobretudo, pelo empenhamento em recordar o passado, mas sempre pensando que o futuro ainda está connosco, que podem contar connosco para "contar" e "narrar" estórias que farão história, feita de pedaços de cada um: noites indormidas; fome de comida e de amor; sede de água e de carinho; também das obusadas, dos canhões...

Meus caros camaradas, o que passámos ajuda-nos a explicar alguns factos que se vivem hoje e a compreender o futuro, o futuro do nossos filhos e netos. As guerras não conduzem a nada...
Tal como havia os marinheiros que bordejavam a costa no tempo das conquistas e descobertas, sofrendo muito, também nós apanhámos as doenças, a miséria - e vimos como o arame farpado cortava seres como nós...

Também quero deixar uma palavra amiga e respeitadora ao Leopoldo [Amado], ao Mussá [Biai], (nosso amigos, tertulianos], ao [Fernando] Casimiro [mais conhecido por Didinho] e outros guineenses que querem o bem da sua terra, da "nossa" terra.

Mas quero deixar uma palavra especial - perdoai-me se olvido algum de vós com merecimento que será tão grande - ao Luís Graça, um intelectual de mão cheia, que nos ajuda, a todos, a reunir os pedaços que temos dentro de nós. (Bolas, isto é quase um louvor, carago - eu vivo aqui, em Gaia, carago!). Obrigado pelo companheirismo aqui vertido graças à tecnologia, que só tinha igual nos aerogramas: carago, chegavam em três tempos...

Nota: O tempo foge-me. Queria digitalizar as centenas de fotos que tenho... Algumas vinham para cá e a minha namorada, hoje minha mulher e companheira de novas "lutas" em África, mandava revelar a cores e que reenviava... ai, o amor vertido nas cartas e nos aerogramas... aquele amor que nos alimentava, que nos fazia sobreviver

Queria enviar panfletos que o PAIGC deixava na estrada, queria contar-vos episódios verdadeiros...mas o tempo escasseia-me. Ainda vou tentar, antes de ir na TAP até Bissau, no próximo dia 30 do corrente.

Mantenhas para todos.

2. Comentário do Luís Graça (Alguns excertos da nossa mais recente correspondência, privada, minha e do Paulo):

Paulo: Não temos mais "ordem de serviço" desde que perdemos a guerra, desfizemos o Império, desmontámos a tenda, fizémos o espólio, entregámos a G3 e o camuflado, rumámos a casa e passámos à peluda... Pelo que já não há mais lugar a louvores, como o teu (à minha singela pessoa) nem muito menos piçadas ou, pior ainda, porradas, como aquela que o João Tunes apanhou no Pelundo por desobedecer á ordem do filho da mãe do tenente coronel que lhe mandou dar uma chapada a um dos seus cabos de transmissões... Desculpa a desbunda, mas vim da Guiné desbocado... E eu garanto-te que antes de ir para lá era um djubi bem comportado: na minha morança e no meu chão, era proibido dizer palavrões...

Louvores, apanhei um na tropa, nem sei como, ou sei: dava jeito ao meu capitão, em vésperas de ser promovido a major e de regressar a casa, mostrar-se grato e reconhecido aos seus rapazes, incluindo este "gajo porreiro", que era eu, que se dava bem com os "guinéus", e que era o seu "pião de nicas" (substituindo todos os camaradas furriéis, com baixa, lerpados, cacimbados, em férias em Lisboa, desenfiados em Bissau), embora alcunhado de Soviético...

Bem, o louvor não me envergonha por aí além... Pelo menos, hoje me dia. Não o escondi também não o emoldurei. Nunca me serviu para nada. Mas um dia destes fui à velha caderneta militar, copiei-o e escarrapachei-o no meu currículo... Quanto ao teu elogio, agradeço-o mas não o mereço...porque grandes somos todos nós, tertulianos...

Escreveu-me o Paulo o seguinte (e eu quero partilhar isto com o resto da tertúlia, porque a gente também tem que saber o que se passa hoje naquela terra, desde à saúde à economia):

"Irei estar em Bissau durante um ano - é muito! Para quem já conta 59 anos, não é brincadeira.
"Comigo irão o Eng.º João Faria (reformado), o Administrador Hospitalar Vítor Seabra (que já andou pela Guiné como cooperante e está também reformado) e a minha mulher, Conceição Salgado, economista, e que foi apanhada pela água do Pidjiguiti" [Adoerei esta expressão, Paulo!... Que ternura!].

(...) "Na verdade, parto no fim do mês e esperam-nos, à equipa que vai, de quatro elementos, um sistema de saúde paupérrimo em todos os aspectos, espartilhado por vícios antigos e adquiridos, vilipendiado pela falta de planificação e de coordenação (eu já vi isto em qualquer lado!), um hospital civil onde imperam a miséria, o conformismo, o amadorismo, uma população analfabeta, carente, ainda que saiba da corrupção que grassa (onde é que eu já vi isto?). Também a chuva, o calor, a viscosidade de alguns... É certo que há o povo sempre na busca e na esperança, as paisagens e os passeios"...

"Preciso, também, de sentir que posso contar com amigos daqui e que fazem uma leitura realista da saúde. Lá como cá, a saúde é mal tratada - e quem sofre é o povo.

"O meu mail de lá, a partir de 30 de Setembro será (...)".

(...) "Não me vou esquecer da outra componente: a catártica, embora eu já tenha feito a catarse no Olossato, e por várias vezes...lá onde os putos agora homens me pedem: leva-me contigo, Salgado!"...

E eu (e julgo que todos nós), só lhe posso desejar "boa saúde e bom trabalho":

"Quanto a ti, meu caro, louvo-te a coragem e a generosidade: um ano de Guiné, nas actuais circunstâncias (um país do quarto mundo, o dos “buracos negros do capitalismo informacional”, para usar uma expressão do sociólogo Manuel Castells), é de herói… Só posso desejar-te o melhor possível, para ti, para a tua mulher e para o resto da equipa. Se eu te puder ser útil, a ti e aos nossos guinéus, em alguma coisa das minhas áreas de competência, põe e dispõe. Aquele abraço. Luís".

Se puderes, vai dando notícias para o outro endereço.

21 setembro 2005

Guiné 63/74 - CCII: O reordenamento de Nhabijões (1969/70)

© Luís Moreira (2005).

Uma pausa nos trabalhos do reordenamento de Nhabijões (1970).

Foto gentilmente cedida por Luís Moreira, ex-Al. Mil. Sapador da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).




Em homenagem (póstuma) ao Soares (morto), da CCAÇ 12; em homenagem ao Moreira (da CCS/BART 2917), ao Fernandes, ao Marques, ao Ussumane Baldé, ao Tenen baldé, ao Sherifo Baldé, ao Sajuma Baldé (todos da CCAÇ 12) e ainda a um soldado da CCS do BART 2917 (cujo nome não sei), todos eles gravemente feridos em duas minas anticarro que explodiram no dia 13 de Janeiro de 1970, à saída de Nhabijões (a).

Eu também nunca mais esquecerei aquela data e aquele nome. Nunca mais esquecerei a correria louca que fiz com um Unimog 411, carregado de feridos, pela estrada fora, de Nhabijões até, Bambadinca, até ao nosso aeródromo aonde nos esperava o helicóptero para uma série de evacuações ipsilon. Ainda hoje não sei explicar por que fui eu, além do condutor, o único do meu Gr Comb (e de duas das secções) que fiquei praticamente incólume mas inoperacional: umas contusões na cabeça (por projecção contra a parte inferior do tejadilho da GMC); a G-3 danificada; tonto e cego de tanta poeira; etc.

(a) Há fotos de Nhabijões, sujeitas à lei do copyright, num sítio italiano que merece uma visita: Contrasto - Reportage (texto em inglês). Reportagem de Alessandro Tosatto. Obrigado ao nosso tertuliano Afonso M.F. Sousa, pela descoberta e pela sugestão.

_____

(5) Novembro de 1969: Início do reordenamento de Nhabijões

A partir deste mês, 1 Gr Comb da CCAÇ 12 passaria a patrulhar quase diariamente as tabancas de Nhabijões cujo projecto de reordenamento estava então em estudo, a cargo da CCS/BCAÇ 2852.

Nhabijões era considerado um centro de reabastecimento do IN ou pelo menos da população sob seu controle. As afinidades de etnia e parentesco, além da dispersão das tabancas, situadas junto à bolanha que confina com a margem sul do Rio Geba, tornava-se impraticável o controle populacional. Impunha-se, pois, reagrupar e reordenar os 5 núcleos populacionais, dos quais 4 balantas (Cau, Bulobate, Dedinca e Imbumbe) e 1 mandinga, e ao mesmo tempo criar "polos de atracção" com vista a quebrar a muralha de hostilidade passiva para com as NT, por parte da população que colabora com o IN.

A CCAÇ 12 participaria directamente neste projecto de recuperação psicológica e promoção social da população dos Nhabijões, fornecendo uma equipa de reordenamentos e autodefesa (constituída pelo Alf Mil Carlão, Fur Mil Fernandes, 1º Cabo At Encarnação e Sold Arv Alfa Baldé que foram tirar o respectivo estágio a Bissau, de 6 a 12 de Outubro de 1969) e ainda 2 carpinteiros (1º Cabo At Sousa e 1º Cabo Enf Rente). E indirectamente criando as condições de segurança aos trabalhos.

Numa primeira fase estava previsto levar a efeito a desmatação do terreno, a fabricação de blocos e a construção de 300 casas de habitação e 1 escola. Durante este período a CCAÇ 12 realizaria várias acções, montando nomeadamente linhas descontínuas de emboscadas entre os núcleos populacionais de Nhabijões, além de constantes patrulhas de reconhecimento e/ou contacto pop.

A partir de Janeiro/70 seria destacado um pelotão da CCS/BCAÇ 2852 a fim organizar a autodefesa de Nhabijões. Admitia-se a possibilidade do IN tentar sabotar o projecto de reordenamento, lançando acções de represália e intimidação contra a população devido à colaboração prestada às NT.

A partir de Abril de 1970, o reordenamento em curso passaria a ser guarnecido por 1 Gr Comb da CCAÇ 12. Na construção de novo destacamento estiveram empenhados o Pel Caç Nat 52 e a CCAÇ 12, a 3 Gr Comb, durante vários dias.

A segunda fase do reordenamento (colocação de portas e janelas e cobertura de zinco em todas as casas, abertura de furos para obtenção de água, etc.) começaria quando o BART 2917 passou a assumir a responsabilidade do Sector L1 (em 8 de Junho de 1970).
A partir de Julho, a CCAÇ 12 deixaria de guarnecer o destacamento de Nhabijões, tendo-se constituído um pelotão permanente da CCS/BART 2917 enquadrado por graduados da CCAÇ 12.
___________

Fonte: História da CCAÇ. 12: Guiné 1969/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores 12. 1971. Capítulo II. 17.

Guiné 63/74 - CCII: O reordenamento de Nhabijões (1969/70)

© Luís Moreira (2005).

Uma pausa nos trabalhos do reordenamento de Nhabijões (1970).

Foto gentilmente cedida por Luís Moreira, ex-Al. Mil. Sapador da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).




Em homenagem (póstuma) ao Soares (morto), da CCAÇ 12; em homenagem ao Moreira (da CCS/BART 2917), ao Fernandes, ao Marques, ao Ussumane Baldé, ao Tenen baldé, ao Sherifo Baldé, ao Sajuma Baldé (todos da CCAÇ 12) e ainda a um soldado da CCS do BART 2917 (cujo nome não sei), todos eles gravemente feridos em duas minas anticarro que explodiram no dia 13 de Janeiro de 1970, à saída de Nhabijões (a).

Eu também nunca mais esquecerei aquela data e aquele nome. Nunca mais esquecerei a correria louca que fiz com um Unimog 411, carregado de feridos, pela estrada fora, de Nhabijões até, Bambadinca, até ao nosso aeródromo aonde nos esperava o helicóptero para uma série de evacuações ipsilon. Ainda hoje não sei explicar por que fui eu, além do condutor, o único do meu Gr Comb (e de duas das secções) que fiquei praticamente incólume mas inoperacional: umas contusões na cabeça (por projecção contra a parte inferior do tejadilho da GMC); a G-3 danificada; tonto e cego de tanta poeira; etc.

(a) Há fotos de Nhabijões, sujeitas à lei do copyright, num sítio italiano que merece uma visita: Contrasto - Reportage (texto em inglês). Reportagem de Alessandro Tosatto. Obrigado ao nosso tertuliano Afonso M.F. Sousa, pela descoberta e pela sugestão.

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(5) Novembro de 1969: Início do reordenamento de Nhabijões

A partir deste mês, 1 Gr Comb da CCAÇ 12 passaria a patrulhar quase diariamente as tabancas de Nhabijões cujo projecto de reordenamento estava então em estudo, a cargo da CCS/BCAÇ 2852.

Nhabijões era considerado um centro de reabastecimento do IN ou pelo menos da população sob seu controle. As afinidades de etnia e parentesco, além da dispersão das tabancas, situadas junto à bolanha que confina com a margem sul do Rio Geba, tornava-se impraticável o controle populacional. Impunha-se, pois, reagrupar e reordenar os 5 núcleos populacionais, dos quais 4 balantas (Cau, Bulobate, Dedinca e Imbumbe) e 1 mandinga, e ao mesmo tempo criar "polos de atracção" com vista a quebrar a muralha de hostilidade passiva para com as NT, por parte da população que colabora com o IN.

A CCAÇ 12 participaria directamente neste projecto de recuperação psicológica e promoção social da população dos Nhabijões, fornecendo uma equipa de reordenamentos e autodefesa (constituída pelo Alf Mil Carlão, Fur Mil Fernandes, 1º Cabo At Encarnação e Sold Arv Alfa Baldé que foram tirar o respectivo estágio a Bissau, de 6 a 12 de Outubro de 1969) e ainda 2 carpinteiros (1º Cabo At Sousa e 1º Cabo Enf Rente). E indirectamente criando as condições de segurança aos trabalhos.

Numa primeira fase estava previsto levar a efeito a desmatação do terreno, a fabricação de blocos e a construção de 300 casas de habitação e 1 escola. Durante este período a CCAÇ 12 realizaria várias acções, montando nomeadamente linhas descontínuas de emboscadas entre os núcleos populacionais de Nhabijões, além de constantes patrulhas de reconhecimento e/ou contacto pop.

A partir de Janeiro/70 seria destacado um pelotão da CCS/BCAÇ 2852 a fim organizar a autodefesa de Nhabijões. Admitia-se a possibilidade do IN tentar sabotar o projecto de reordenamento, lançando acções de represália e intimidação contra a população devido à colaboração prestada às NT.

A partir de Abril de 1970, o reordenamento em curso passaria a ser guarnecido por 1 Gr Comb da CCAÇ 12. Na construção de novo destacamento estiveram empenhados o Pel Caç Nat 52 e a CCAÇ 12, a 3 Gr Comb, durante vários dias.

A segunda fase do reordenamento (colocação de portas e janelas e cobertura de zinco em todas as casas, abertura de furos para obtenção de água, etc.) começaria quando o BART 2917 passou a assumir a responsabilidade do Sector L1 (em 8 de Junho de 1970).
A partir de Julho, a CCAÇ 12 deixaria de guarnecer o destacamento de Nhabijões, tendo-se constituído um pelotão permanente da CCS/BART 2917 enquadrado por graduados da CCAÇ 12.
___________

Fonte: História da CCAÇ. 12: Guiné 1969/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores 12. 1971. Capítulo II. 17.

20 setembro 2005

Guiné 63/74 - CCI: CCAV 2712 (Olossato e Nhacra, 1970/72)

© Paulo Salgado (2005)

O cais do Pidjiguiti, em Bissau.



1. O Paulo Salgado confirma que a sua companhia não era de caçadores (como chegou a ser indicado, inicialmente neste blogue) mas de cavalaria.



A CCAV 2721 (Olosato e Nhacra, 1970/72)era então comandada pelo capitão de cavalaria Mário Tomé. E tinha um jornal de caserna chamado Tabanca (SPM 1318, 1970). Essa informação já figura nas nossas páginas: Subsídios para a História da Guerra Colonial > Guiné (9). Seria interessante se o Paulo nos conseguisse arranjar fotocópia (ou versão digitalizada) de algum ou alguns exemplares do Tabanca.


2. Aqui vai um excerto da mensagem do Paulo:

(...) De resto, de cavalaria ou de caçadores, o que contava eram os homens e a forma como, dando tiros, os davam; [ou] como andando no mato, em emboscadas e golpes de mão, o faziam.

Além disso, há tantas estórias para contar (a verdade - o que é a verdade?...Quem detinha a verdade?!). Mas, como diz o Luís Graça, mais ou menos: é preciso olhar o passado para compreender o futuro...

Esse jornal de caserna - TABANCA - era lindo um pouco por toda a Guiné. Há quem tenha exeplares...

Aliás, o Mário Tomé era um tipo (é um tipo) extrarodinário - digo-o com muita segurança e conhecimento de causa. E dizem-no os camaradas que não gostam que ele falte aos encontros da companhia.

Havemos de voltar a falar do Olossato, de então, e do Olossato de agora. (Olossato é um nome giro, com sonoridade...aquele rio ao fundo...).

3. O Paulo Salgado já tinha, enternato, mandado uma anterior mensagem à tertúlia com algumas fotos da Guiné-Bissau de hoje. Aqui fica:

Ao Luís
Ao João Tunes
Ao Manuel Ferreira
A tantos!

A estes, e outros bloguistas, nos quais revejo os meus camaradas do Olossato, quero dizer, muito claramente, que naquela Guiné tão bela, tão cheia de encantos, as crianças brincam nos regatos com barquinhos de papelão, enquanto os senhores da guerra brincam com as Kalachnikovs…

Por causa das crianças, das mulheres e dos velhos – afinal não os temos aqui connosco sofrendo? – temos que gritar bem alto, em nome da solidariedade: BASTA!

Aqueles camaradas (da foto) que punham a G3 de lado para ajudarem os aldeões [em Nhabijões, Bambadinca], estavam ou não a ajudar as populações, com a sua energia, a sua coragem – com a guerra ali ao lado, e quantas vezes, ao outro dia ou na outra noite caíam crivados de balas… Que exemplo de homens bons, que exemplo de grandeza! Quanta coragem, camaradas e quanta solidariedade!

Vou fazer força junto do Graça e de todos quantos queiram, para começarmos a conseguir uma pequenina ajuda para uma tabanca qualquer: Olossato, Bigene, Fulacunda, tanto faz…

O tempo passou, meus caros. O que hoje ocorre e decorre na Guiné-Bissau toca-nos, tem que nos tocar, forçosamente. A indiferença é a pior inimiga da solidariedade.

Nós, ao escrevermos, ao relatarmos as coisas que sofremos, estamos a ser solidários, estamos a ser homens. Mesmo com os nossos pecados, com as nossas malandrices…

© Paulo Salgado (2005) Criança em tratamento mo no Hospital Simão Mendes, Bissau.

Quero deixar-vos quatro fotos actuais:

(i) avenida que vai da Chapa 3 até ao palácio (agora desfeito);

(ii) criança em recuperação no Hospital Simão Mendes (o Hospital Militar desapareceu);

(iii) vista do cais do Pidjiguiti;

(iv) cortejo de carnaval em Bissau.

Peço-vos desculpa se estou a maçar-vos. Obrigado, Camaradas. Salgado

Guiné 63/74 - CCI: CCAV 2712 (Olossato e Nhacra, 1970/72)

© Paulo Salgado (2005)

O cais do Pidjiguiti, em Bissau.



1. O Paulo Salgado confirma que a sua companhia não era de caçadores (como chegou a ser indicado, inicialmente neste blogue) mas de cavalaria.



A CCAV 2721 (Olosato e Nhacra, 1970/72)era então comandada pelo capitão de cavalaria Mário Tomé. E tinha um jornal de caserna chamado Tabanca (SPM 1318, 1970). Essa informação já figura nas nossas páginas: Subsídios para a História da Guerra Colonial > Guiné (9). Seria interessante se o Paulo nos conseguisse arranjar fotocópia (ou versão digitalizada) de algum ou alguns exemplares do Tabanca.


2. Aqui vai um excerto da mensagem do Paulo:

(...) De resto, de cavalaria ou de caçadores, o que contava eram os homens e a forma como, dando tiros, os davam; [ou] como andando no mato, em emboscadas e golpes de mão, o faziam.

Além disso, há tantas estórias para contar (a verdade - o que é a verdade?...Quem detinha a verdade?!). Mas, como diz o Luís Graça, mais ou menos: é preciso olhar o passado para compreender o futuro...

Esse jornal de caserna - TABANCA - era lindo um pouco por toda a Guiné. Há quem tenha exeplares...

Aliás, o Mário Tomé era um tipo (é um tipo) extrarodinário - digo-o com muita segurança e conhecimento de causa. E dizem-no os camaradas que não gostam que ele falte aos encontros da companhia.

Havemos de voltar a falar do Olossato, de então, e do Olossato de agora. (Olossato é um nome giro, com sonoridade...aquele rio ao fundo...).

3. O Paulo Salgado já tinha, enternato, mandado uma anterior mensagem à tertúlia com algumas fotos da Guiné-Bissau de hoje. Aqui fica:

Ao Luís
Ao João Tunes
Ao Manuel Ferreira
A tantos!

A estes, e outros bloguistas, nos quais revejo os meus camaradas do Olossato, quero dizer, muito claramente, que naquela Guiné tão bela, tão cheia de encantos, as crianças brincam nos regatos com barquinhos de papelão, enquanto os senhores da guerra brincam com as Kalachnikovs…

Por causa das crianças, das mulheres e dos velhos – afinal não os temos aqui connosco sofrendo? – temos que gritar bem alto, em nome da solidariedade: BASTA!

Aqueles camaradas (da foto) que punham a G3 de lado para ajudarem os aldeões [em Nhabijões, Bambadinca], estavam ou não a ajudar as populações, com a sua energia, a sua coragem – com a guerra ali ao lado, e quantas vezes, ao outro dia ou na outra noite caíam crivados de balas… Que exemplo de homens bons, que exemplo de grandeza! Quanta coragem, camaradas e quanta solidariedade!

Vou fazer força junto do Graça e de todos quantos queiram, para começarmos a conseguir uma pequenina ajuda para uma tabanca qualquer: Olossato, Bigene, Fulacunda, tanto faz…

O tempo passou, meus caros. O que hoje ocorre e decorre na Guiné-Bissau toca-nos, tem que nos tocar, forçosamente. A indiferença é a pior inimiga da solidariedade.

Nós, ao escrevermos, ao relatarmos as coisas que sofremos, estamos a ser solidários, estamos a ser homens. Mesmo com os nossos pecados, com as nossas malandrices…

© Paulo Salgado (2005) Criança em tratamento mo no Hospital Simão Mendes, Bissau.

Quero deixar-vos quatro fotos actuais:

(i) avenida que vai da Chapa 3 até ao palácio (agora desfeito);

(ii) criança em recuperação no Hospital Simão Mendes (o Hospital Militar desapareceu);

(iii) vista do cais do Pidjiguiti;

(iv) cortejo de carnaval em Bissau.

Peço-vos desculpa se estou a maçar-vos. Obrigado, Camaradas. Salgado

Guiné 63/74 - CC: Imagens de Bissorã e da CCAÇ 13 - Os Leões Negros (1969/71)

© Carlos Fortunato (2005).

Militar da CCAÇ 13 (Os Leões Negros) a desmontar uma mina, na estrada Bissorã-Olossato.


Uma primeira versão da prometida página sobre Bissorã já está disponível. Podem consultá-la directamente, a partir da minha página pessoal ou através de um link neste blogue (Memórias dos lugares > Bissorã ).

Já temos, até à data, páginas sobres as seguintes localidades, povoações, vilas ou cidades, que eram importantes no nosso tempo sob o ponto de vista administrativo e militar. Foram sítios em que vivemos e/ou onde combatemos, ou por onde passámos, constituindopor isso parte das nossas memórias da Guiné, no período que coresponde à guerra colonial (1963/74). Nalguns casos, voltámos - já depois da independência e do fim da guerra - ao novo país irmão que se chama hoje Guiné-Bissau. Há também imagens de algusn lugares que foram revisitados nos anos dez anos.

Esses lugares são, por ordem alfabética: Bafatá, Bambadinca, Banjara, Barro, Bissau, Bissorã, Cansissé (Nova Lamego ou Gabu), Cantacunda, Contuboel, Geba, Mansambo, Saltinho, Xime, Xitole... Mas aguardamos imagens de outros sítios, onde estiveram alguns de nós, como por exemplo o Paulo Salgado (Olossato e Nhacra), o João Tunes (Pelundo e Catió)ou o Afonso Sousa (Bigene, Binta, Guidage). Eles não prometeram nada, com excepção do Paulo Salgado. Mas entretanto há novas caras que, como o Luís Moreira, irão aparecer, remexer no baú da tropa e trazer mais novidades... Que isto de remexer no baú da tropa é como abrir a caixa de Pandora: nunca se sabe quais são os fantasmas, irãs e demónios que lá estão, a dormir há mais de trinta anos...

No nosso blogue também há já links para os blogues ou as páginas pessoais dos nossos amigos e camaradas:

João Tunes > Agua Lisa (3)
Jorge Santos > Guerra Colonial Portuguesa
Fernando Chapouto > Guiné > CCAÇ 1421 (1965/67)
Carlos Fortunato > CCAÇ 13 (Os Leões Negros)
Luís Graça & Camaradas > Subsídios para a História da Guerra Colonial > Guiné (1963/74)

Agradeço, mais uma vez, a amabilidade do Carlos Fortunato que pôs à nossa disposição o seu “álbum de fotos”. Faltam inserior duas ou três imagens. Ficam para uma próxima actualização. Peço ao carlos para dar uma vista de olhos e mandar sugetsões e correcções.

O Carlos pode acrescentar mais notas nas legendas de modo a criar o apetite a quem quiser saber mais sobre a CCAÇ 13 - Os Leões Negros, cujos soldados eram do recrutamento local (balantas e felupes: uma mistura explosiva!). Este têm um belíssimo hsitorial, pelo que se sugere uma visita mais demorada à respectiva página, de que o nosso tertuliano Carlos Fortunato é o guardião ( ou o webmaster).

Como já tive oportunidade de dizer, considero esta página da Net uma das mais bem documentadas relativamente a unidades de intervenção ou companhias (de caçadores, de cavalaria,de artilharia, etc.) que operaram no TO da Guiné, entre 1963 e 1974.

PS - Como repararam, atingimos hoje o post 200 (CC, em numeração romana). Não me dá jeito dizer postagem, à brasileira...

Guiné 63/74 - CC: Imagens de Bissorã e da CCAÇ 13 - Os Leões Negros (1969/71)

© Carlos Fortunato (2005).

Militar da CCAÇ 13 (Os Leões Negros) a desmontar uma mina, na estrada Bissorã-Olossato.


Uma primeira versão da prometida página sobre Bissorã já está disponível. Podem consultá-la directamente, a partir da minha página pessoal ou através de um link neste blogue (Memórias dos lugares > Bissorã ).

Já temos, até à data, páginas sobres as seguintes localidades, povoações, vilas ou cidades, que eram importantes no nosso tempo sob o ponto de vista administrativo e militar. Foram sítios em que vivemos e/ou onde combatemos, ou por onde passámos, constituindopor isso parte das nossas memórias da Guiné, no período que coresponde à guerra colonial (1963/74). Nalguns casos, voltámos - já depois da independência e do fim da guerra - ao novo país irmão que se chama hoje Guiné-Bissau. Há também imagens de algusn lugares que foram revisitados nos anos dez anos.

Esses lugares são, por ordem alfabética: Bafatá, Bambadinca, Banjara, Barro, Bissau, Bissorã, Cansissé (Nova Lamego ou Gabu), Cantacunda, Contuboel, Geba, Mansambo, Saltinho, Xime, Xitole... Mas aguardamos imagens de outros sítios, onde estiveram alguns de nós, como por exemplo o Paulo Salgado (Olossato e Nhacra), o João Tunes (Pelundo e Catió)ou o Afonso Sousa (Bigene, Binta, Guidage). Eles não prometeram nada, com excepção do Paulo Salgado. Mas entretanto há novas caras que, como o Luís Moreira, irão aparecer, remexer no baú da tropa e trazer mais novidades... Que isto de remexer no baú da tropa é como abrir a caixa de Pandora: nunca se sabe quais são os fantasmas, irãs e demónios que lá estão, a dormir há mais de trinta anos...

No nosso blogue também há já links para os blogues ou as páginas pessoais dos nossos amigos e camaradas:

João Tunes > Agua Lisa (3)
Jorge Santos > Guerra Colonial Portuguesa
Fernando Chapouto > Guiné > CCAÇ 1421 (1965/67)
Carlos Fortunato > CCAÇ 13 (Os Leões Negros)
Luís Graça & Camaradas > Subsídios para a História da Guerra Colonial > Guiné (1963/74)

Agradeço, mais uma vez, a amabilidade do Carlos Fortunato que pôs à nossa disposição o seu “álbum de fotos”. Faltam inserior duas ou três imagens. Ficam para uma próxima actualização. Peço ao carlos para dar uma vista de olhos e mandar sugetsões e correcções.

O Carlos pode acrescentar mais notas nas legendas de modo a criar o apetite a quem quiser saber mais sobre a CCAÇ 13 - Os Leões Negros, cujos soldados eram do recrutamento local (balantas e felupes: uma mistura explosiva!). Este têm um belíssimo hsitorial, pelo que se sugere uma visita mais demorada à respectiva página, de que o nosso tertuliano Carlos Fortunato é o guardião ( ou o webmaster).

Como já tive oportunidade de dizer, considero esta página da Net uma das mais bem documentadas relativamente a unidades de intervenção ou companhias (de caçadores, de cavalaria,de artilharia, etc.) que operaram no TO da Guiné, entre 1963 e 1974.

PS - Como repararam, atingimos hoje o post 200 (CC, em numeração romana). Não me dá jeito dizer postagem, à brasileira...