17 outubro 2003

Estórias com mural ao fundo - XII: Engenheiros e gestores

Um turista caminha, sozinho, por uma rua numa típica vila do Baixo Alentejo, de casas térreas, obsessivamente caiadas de branco. Ao desembocar na praça central, deserta, dá conta da inesperada presença de um balão de ar quente, alguns metros acima da sua cabeça. No cesto desse balão há alguém que lhe acena, alvoraçadamente.



Perante o insólito da cena, e movido pela curiosidade e pelo pedido de ajuda, ele aproxima-se do balão, procurando ouvir o piloto que lhe grita:



- Desculpe, senhor, acha que poderia ajudar-me? Prometi a um amigo que me encontraria com ele às duas da tarde, porém já são duas e meia e o problema é que nem sei onde me encontro!



O homem, com ar de turista, respondeu ao do balão, com cortesia:

- Claro que posso ajudá-lo! Você encontra-se num balão de ar quente, flutuando a uns vinte metros acima duma praça, com jardim e calçada portuguesa. Está a trinta e oito graus de latitude norte e a oito graus de longitude oeste...



O homem do balão responde-lhe com um sorriso:

- Amigo, você por acaso não é Engenheiro ?!

- Sou, sim senhor, ao seu dispor! Mas já agora... como conseguiu adivinhar logo à primeira?

- Porque tudo o que você me disse está matemática e tecnicamente correcto; e, no entanto, essa informação é-me totalmente inútil, pois continuo perdido e atrasado para o meu encontro!...



O engenheiro ficou calado, por alguns breves segundos, para logo a seguir retorquir:

- E você, por acaso, não é Gestor ?

- Como descobriu ? E eu a pensar que passava incólume e anónimo...

- Ah!, foi muito fácil! Em primeiro lugar, o sr. Gestor não sabe onde está nem para onde vai; em segundo lugar, fez uma promessa da qual não tem a mínima ideia de como a irá cumprir; em terceiro lugar, está à espera que outra pessoa resolva o seu problema. E, last but not the least, fez do Engenheiro o bode expiatório. De facto, continua exactamente tão perdido quanto estava antes de me encontrar; porém agora, por um estranho capricho, a culpa passou a ser toda minha!...



Moral da história:



A falta de produtividade e competividade das empresas portuguesas não é, seguramente, um problema nem de engenharia nem de gestão, o mesmo é dizer, de hardware e software... Por exclusão de partes, só pode ser um problema de humanware.

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