24 junho 2004

Portugas que merecem as nossas palmas - IX: João Lobo Antunes e a ciência (a)moral

A ciência é amoral ? Puro engano, isso não existe. A amoralidade em ciência. Não há tecnologia nem ciência(s) puras. Temos que fazer escolhas, quase sempre difíceis e por vezes dilacerantes. Agora o que não podemos é proibir o conhecimento. O acesso à informação e ao conhecimento é, hoje, um dado civilizacional, um valor democrático.



Corremos o risco de abrir a caixa de Pandora ? Mas a aventura humana não é outra coisa senão essa oportunidade e esse desafio.



Perguntam: mas as novas tecnologias (por exemplo, as da saúde) são igualizadoras, garantem a igualdade de oportunidades, ou não passam de “brinquedos para os ricos” ? É como a história do aborto: não se pode fazer em Portugal ? Dá-se uma salto a Badajoz, ali mesmo ao aldo, onde há clínicas abortivas para quem pode pagar...



Foram estas e outras perguntas (muito mnais do que as respostas) que constituíram a excelente, estimulante e amena cavaqueira que o Prof. João Lobo Antunes manteve, no passado dia 22, com dúzia e meia de privilegiad@s no Salão Nobre da Escola Nacional de Saúde Pública, das 17 às 18 horas, a propósito das novas tecnologias da saúde, da prática clínica e da administração de cuidados.



Nada como juntar o papel de médico que manipula uma alta tecnologia (a neurocirurgia) com o do membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, sem esquecer, o professor, o cidadão, o escritor, o humanista (no sentido renascentista do termo), o Prémio Pessoa 1996, etc.



Que implicações éticas têm as novas tecnologias ? Muitas, a começar pelos custos e benefícios. Veja-se o discurso dos políticos sobre a investigação em células estaminais humanas: os mais conservadores (v.g., Bush, Agosto de 2001) têm acentuado (i) o princípio dos riscos morais; e (ii) a negação do princípio (erradamente atribuído a Maquiavel) de que os fins (e sobretudo os mais nobres...) justificam os meios. E que fins mais nobres do que o de prevenir e curar a doença (v.g., Alzeimher) ou até de melhorar a espécie humana ?!



O drama é que a ciência não é mais pura... A ciência tornou-se pura com o iluminismo. Mas ela começou por ser pragmática (por exemplo, na Idade Média, nos conventos). Hoje tende a desaparecer o gap entre a ciência académica (individual, teórica, desinteressada, pura...) e a ciência industrial (grupal, prática, pragmática, produzindo valor acrescentado...). Há uma tremenda pressão para que a ciência se transforma em tecnologia, essa filha sexy da ciência...



O que temos hoje é a apploid science: (i) colectiva, em rede; (ii) aplicável, logo rentável; (iii) propensa ao conflito (há sempre conflito de interesses; e, por fim, com (iv) consequências éticas... Veja-se o que se passou cokm o grupo de cientistas que esteve na origem na construção da bomba atómica (J. Robert Oppenhieimer, Einstein, Leo Szilard...).



As novas tecnologias começam por exercer em nós uma enorme surpresa e encanto (i); há depois uma segunda fase, que é de refluxo, de receios pelos riscos (“a acaixa de Pandora”); e, +por fim, (iii) a preessão do Estado e da socieade civcil para a regulamantação.



No campo da a saúde, pode-se falar há muito de um complexo médico-industrial, com particulares interesses nos tipos de tecnologia: (i) as de suporte à vida; (ii) as diagnósticas; e, por fim, (iii) as cirúrgicas.



(...)

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