11 setembro 2004

Car@s ciberamig@s - V: De luto, pelo portal Terràvista

1. Em 23 de Junho de 1999 criei, no portal Terràvista, a minha página pessoal, subordinada ao tópico Saúde e Trabalho (http://www.terravista.pt/meco/5531). Devo confessar que acabei por ter um certo orgulho, uma pontinha de orgulho, neste cantinho, lusófono, do ciberespaço.

Recorde-se que o portal tinha sido lançado dois anos antes e que, de então para cá, se haviam criado dezenas de milhares de páginas nas mais desvairadas "praias" onde se falava português, desde Portugal (vg. Meco) ao Brasil (vg.,Praia Brava) e de Cabo Verde (vg., Baía das Gatas)a Angola (vg., Mussulo).

Até à data a minha página teve mais de 40 mil visitantes, o que não é nada mau.
Entretanto, o Terràvista mudou de mãos e perdeu o acento grave (Terravista), sinal quiça dos movos tempos globalizadores e padronizadores. Mas o mais grave não foi isso: Há dias fui/fomos surpreendido(s)pelo seguinte aviso no Portal Terravista: "Dada a antiguidade dos sistemas de alojamento de páginas pessoais disponibilizados pelo Terravista.pt, a Administração do Terravista.pt decidiu dar por terminada a disponibilização do serviço de páginas pessoais (www.terravista.pt/praia/número e 7mares.terravista.pt)". Convenhamos que é uma justificação pouco ou nada convincente. Era preferível não serem cínicos e correrem connosco como hóspedes indesejáveis...

Acrescentava-se a seguir: "No sentido de permitir a todos os utilizadores recuperar as suas páginas e conteúdos, o Terravista.pt criou um sistema simples e rápido: basta colocar o endereço da sua página e um endereço de correio electrónico (válido) e todos os ficheiros correspondentes que estejam alojados nos nossos servidores ser-lhe-ão devolvidos". Enfim: era o mínimo que se podia esperar do senhorio...

Em resumo: o actual dono do portal (a empresa T-online)vai pôr fim ao serviço de alojamento de páginas pessoais no dia 20 de Setembro próximo. Muitos cibernautas como eu fomos surpreendidos por esta ordem de despejo, em plenas férias, ao ler um artigo no jornal "Público", no suplemento "Computadores (6 de Setembro de 2004).

2. A primeira reacção é de revolta e de desalento. Senti-me como um náufrago, destroçado e despejado pela borda fora. Mas a seguir recompus-me e tratei de procurar outro porto de abrigo. De qualquer modo, os economistas já me tinham vindo a avisar, ao longo de todos estes anos, que, no planeta azul, nesta terra que é nossa (mas é sobretudo mais de alguns), "não há almoços de borla".

Segundo o "Público" nos lembra, "o Terràvista foi, de início, um projecto estatal, que (...) acabou por ser vendido à operadora de telecomunicações Jazztel - para vir a ser mais tarde adquirido pela Ya.com".

E davam-se mais pormenores: "O projecto foi idealizado no seio da iniciativa Mosaico - A Cultura Portuguesa na Sociedade da Informação, do Ministério da Cultura, e lançado a 23 de Março de 1997, visando facultar a milhares de cidadãos o alojamento gratuito de conteúdos e a criação de uma vasta comunidade virtual de língua portuguesa, fomentando a produção de conteúdos nacionais para a rede das redes".

A vida deste portal foi, desde o início, atribulada: por exemplo, em Julho de 1998, na sequência de uma notícia que denunciava a persistência de páginas pornográficas, o senhor ministro da Cultura de então, Manuel Maria Carrilho, decidiu encerrar o portal, no meio de um coro de protestos de que ainda hoje há ecos na Net.

Uma semana depois, era "constituída uma associação com o mesmo nome, para a qual foram transferidos os activos e a marca Terràvista - uma solução arranjada para afastar o Ministério da Cultura da responsabilidade dos conteúdos alojados no projecto Terràvista". Nem o Estado nem o ministério da cultura nem muito menos o filósoo Manuel Maia Carrilho têm vocação para gestores. A solução encontrada não era menos desastrada: amanhem-se para aí...

Não admira, por isso, que a Associação Terràvista seja obrigado a vender o portal, apesar da sua popularidade tanto no Velho como no Novo Mundo lusófono, alegando "dificuldades financeiras com os custos de manutenção da sua infra-estrutura" na ausência ou impossibilidade de uma exploração comercial do Terràvista (continuo a citar o artigo do "Público" de 6 de Setembro último).

A venda é feita em Fevereiro de 2000 à Jazztel Internet Factory, do grupo de telecomunicações Jazztel, que a integra "na Ya.com, a sua divisão para a Internet". Dá-se então início a "uma mudança de identidade do projecto, transformando-o num portal com conteúdos próprios mas mantendo as comunidades de cibernautas e o serviço de alojamento gratuito".

Mal passados seis meses, logo em Setembro de 2000, as páginas pessoais alojadas no Terràvista passaram a ter "banners" publicitários. A marujada (como o pessoal era carinhosamente tratado nos primórdios) foi confrontada com a política do facto consumado, tendo sido avisada com apenas dois dias de antecedência (!). Mas quem mandava já falava noutra língua, a castelhana... A polémica rebentou mais uma vez mas de pouco valeram os (fracos) protestos dos marujos.

Dois anos depois, em Setembro de 2002, o Terràvista muda novamente de mãos, "quando a Jazztel anunciou a venda da Ya.com Internet Factory - que integrava os portais português Terràvista e o espanhol Ya.com - por 414,3 milhões de euros à T-online, uma empresa fornecedora de acesso à Internet, subsidiária da operadora alemã Deutsche Telekom". Não sei se foi ou não um mau negócio, mas tenho que reconhecer que era uma pipa de massa.

Foi nessa altura que o Terràvista perdeu o acento grave no primeiro "a"... Um pequeno detalhe que não deixava de ser simbólico... Entretanto, em 20 de Setembro de 2004 (mais uma vez no mês de Setembro, de má memória!) lá irão matar e enterrar o Terràvista. O grande perdedor é seguramente a língua portuguesa e a comunidade lusófona.


3.O que me apetece dizer, em sinal de luto e de protesto, é apenas o seguinte: O projecto original do Terràvista morreu, viva o Terràvista! E vivam todos os cibernautas lusófonos que puseram a sua criatividade em marcha!

De qualquer ao último e aos anteriores senhorios deste espaço no ciberespaço, eu tenho que endereçar os meus agradecimentos. Afinal, sou um cavalheiro civilizado, atento e obrigado. Só tenho pena é que muitas e belíssimas páginas em português se percam, nomeadamente por falta de alternativas de alojamento (gratuito). Estou a pensar nos nossos companheiros lusófonos de países com menos recursos que o nosso em matéria de novas tecnologias da informação, de Cabo verde a Timor, de São Tomé Príncipe ao Brasil...

Pela minha parte, estou grato ao Terràvista por estes cinco anos de utilização de um serviço de que não fui o único beneficiário e que, na prática, não era inteiramente gartuita. É bom recordar que desde há quatro anos a minha página exibia "banners" publicitários, devidamente seleccionados em função da sua temática principal (a saúde e a segurança do trabalho)e do seu público-alvo. De qualquer modo, foi graças ao projecto Terràvista que eu me atrevi a fazer a minha primeira página na Net. Isso não posso negar nem esquecer.

Na hora da despedida, o meu muito obrigado vai sobretudo para os ciberamigos (e foram bastantes) que ganhei. Vou/vamos continuar noutro cantinho do ciberespaço, agora cada vez mais globalizado...

Para os que quiserem continuar a visitar-me, aqui fica o novo endereço da minha página a partir de 10 de Setembro de 2004:

http://www.ensp.unl.pt/luis.graca

É caso para dizer que, a partir de agora, não preciso de atravessar a rua e ser atropelado: fico em casa, o mesmo é dizer que a minha página pessoal está alojada no sítio da instituição onde trabalho, a Escola Nacional de Saúde PÚblica, da Universidade Nova de Lisboa.

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