28 novembro 2004

(Ex)citações de cada dia - XIV: A fortaleza da Europa

Notícia do El Pais on line, de hoje: "Dos muertos y 14 desaparecidos al naufragar una patera en las costas de Fuerteventura".



No desenvolvimento da notícia fico a saber que, pelo menos, dois imigrantes africanos morreram e outros 14 são dados como desaparecidos, numa das ilhas Canárias. "Embarcaciones y helicópteros de Salvamento Marítimo y Guardia Civil efectúan una búsqueda en la zona del naufragio desde el aviso recibido a las cinco de la madrugada".



Um fait-divers que em Espanha se tem vindo a repetir, com alguma frequência (corpos de imigrantes clandestinos a dar à costa), e que se procura esconder dos turistas estrangeiros. No suplemento semanal de El Pais, de hoje, leio uma reportagem feita pelo jornalista Grégoire Deniau e pelo fotógrafo Oliver Jobard sobre o drama das dezenas ou até centenas de africanos que em cada dia tentam alcançar Espanha, porta de entrada da fortaleza da Europa, através do Estreito de Gilbraltar (5 horas de travessia, cada vez mais arriscada devido ao sistema de vigilância montado quer pelos espanhóis que pelos marroquinos) ou através do Atlântico (20 horas, desde o Sara Ocidental até Fuerteventura, a mais próxima das ilhas Canárias).



Os dois jornalistas testemunham e documentam a odisseia de um grupo de trinta e tal africanos que tentam a sua sorte. Apenas 25 (incluindo os jornalistas) conseguem chegar às Canárias, onde são inevitavelmente interceptados pela Guardia Civil. Pelo caminho, há 10 que desistem e dois que morrem afogados. "Prefiro estar en una cárcel en Europa a seguir viviendo en África", diz um deles. A viagem, primeiro através do deserto até El Marsa, no Sará ocidental, e depois por mar em lancha precária de seis metros, a motor, é um perfeito suicídio. Há cada vez mais africanos a ficam enterrados, anonimamente, no cemitério local de Fuerteventura. Por outro lado, "el pasaje en patera cuesta 1000 euros, una fortuna para un africano". Pequenas mafias controlam este novo tráfico de homens e mulheres que fogem do pesadelo dos seus países...



O jornalista e realizador Grégoire Deniau é conhecido pelas suas "reportagens de imersão". E foi um dos raros jornalistas franceses e ocidentais que ficou ao lado dos insurrectos sunistas, quando a cidade iraquiana de Faluja foi tomada de assalto pelo exército americano em Abril passado.



A sua dramática aventura, em que partilhou a viagem até às Canárias do referido grupo de imigrantes africanos clandestinos, foi tema de uma reportagem, "Traversée clandestine", tendo passado recentemente, no dia 4 de Novembro, no programa de televisão "Envoyé spécial" da France 2.

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