Texto do Carlos Vinhal (ex-furrel miliciano da CART 2732, uma companhia de madeirenses aquartelada Mansabá, Região do Oio, 1970/72).
Caro Luis e camaradas:
Confesso que já estava a ficar triste, e ainda me considero periquito no blogue, por aceder diariamente ao Blogueforanada e vê-lo imutável. Que o Luís nos faz falta, isso é inquestionável.
Correspondendo ao repto do nosso camarada João Tunes (1), sou a comunicar que em 22 de Novembro de 1970 estava em Mansabá a digerir, ainda, os efeitos de um violentíssimo ataque ao aquartelamento e povoação, acontecido 10 dias antes desta data.
Em 12 de Novembro de 1970 Mansabá foi flagelada por numeroso grupo IN que utilizou Canhão s/r, morteiro 82 e 60, LGF e armas automáticas. O ataque durou cerca de 45 minutos e deixou-nos exaustos e sem munições.
As NT sofreram 1 morto e 4 feridos. Na população houve 14 mortos e 45 feridos. O fogo IN atingiu o Bar dos Praças e a Enfermaria Militar que ardeu. As imediações dos quartos dos Oficiais, a Secretaria, o Bar dos Sargentos e a Casa dos geradores também foram premiadas com morteiradas quase certeiras. Quem lhes teria fornecido as coordenadas?
O General Spínola visitou-nos no dia seguinte, porque, dias antes, tinha sido reactivado o COP6 no nosso quartel, para coordenar toda a actividade operacional com vista à protecção dos trabalhos de construção da estrada Mansabá-Farim, a partir do Bironque para Norte. A conclusão desta estrada era de primordial importância para o controle daquela zona utilizada pelo IN, como corredor de passagem para o Morés.
Voltando ao 22 de Novembro de 1970, só quando vim de férias à Metrópole em Fevereiro de 1971, soube mais pormenores sobre a Operação Mar Verde, pois tinha sido libertado um militar aqui de Leça da Palmeira que estava prisioneiro e por isso não se falava de outra coisa.
Se a operação foi em parte um fracasso, teve pelo menos o lado positivo da libertação dos nossos camaradas aprisionados. Quem sabe como teria evoluído a guerra, se tudo tivesse decorrido como o estabelecido no plano inicial. As implicações políticas seriam desastrosas para Portugal, pois não se conseguiria enganar a comunidade internacional durante muito tempo. A Guiné Conacri poderia retaliar e nós, que lá estávamos, podiamos ser sacrificados ainda mais.
Saudações para todos
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira
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Nota de L.G.
(1) Vd post nº 732, de 4 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXII: Onde é que vocês estavam em 22 de Novembro de 1970 ? (João Tunes)
(...) "Talvez fosse interessante conhecermos como cada um de nós, os que lá estávamos em 22 de Novembro de 1970, vivemos a tensão desse dia e seguintes. O que achas, Luís, da sugestão como desafio aos camaradas tertulianos?" (...)
blogue-fora-nada. homo socius ergo blogus [sum]. homem social logo blogador. em sociobloguês nos entendemos. o port(ug)al dos (por)tugas. a prova dos blogue-fora-nada. a guerra colonial. a guiné. do chacheu ao boe. de bissau a bambadinca. os cacimbados. o geba. o corubal. os rios. o macaréu da nossa revolta. o humor nosso de cada dia nos dai hoje.lá vamos blogando e rindo. e venham mais cinco (camaradas). e vieram tantos que isto se transformou numa caserna. a maior caserna virtual da Net!
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