05 fevereiro 2004

Portugal sacro-profano - XIV: Grande poeta é o Zé Portuga

A frase banalizou-se no tempo do Estado Novo, quando a recém nascida RTP tinha um concurso, nos idos tempos de 1967/68, de triste memória para mim (mancebo, em idade militar), que dava justamente pelo título de Grande Poeta é o Povo. Um programa, se bem me lembro, apresentado pelo Artur Agostinho.



Ora ainda hoje dizem que ele (o Zé Portuga), já na escola não gostava nem de português nem de matemática !!! Eu acho que não, a avaliar por este naco de poesia e de matemática, do melhor quilate, que me chegou às mãos:



Quem 60 ao teu lado

e 70 por ti,

vai certamente rezar 1/3

para arranjar 1/2 de te levar

para 1/4

e ter a coragem de te dizer:

20 comer!!!




Se fosse um poeta da nossa praça, consagrado, cota, chato pra burro, com assento na História da Literatura dos Portugas, ele escreveria assim na soletradíssima língua de Camões:



Quem se senta ao teu lado

e se tenta por ti

vai certamente rezar um terço

para arranjar um meio de te levar

para um quarto

e ter a coragem de te dizer:

vim-te comer!




Bem lidas e vistas as coisas, não há povo como o portuga para mandar a sua rima, o seu verso, a sua quadra ou até o seu soneto à parede. Aliás, basta ver as paredes de Lisboa & arredores, pintadas de fresco a seguir a um jogo da bola entre os grandes.

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