22 março 2004

Portugas que merecem as nossas palmas - VI: Aqueles que nos ajudam a fazer o luto

Cerca de 5000 portugueses, entre os zero e os trinta anos, morrem anualmente, em geral por causas violentas (acidentes de viação, de lazer ou de trabalho; homicídio, suicídio ou outras formas violentas, para além da doença), deixando destroçadas as suas famílias e inconsolados os seus amigos...



Apoiar e ajudar a fazer o luto aos pais, irmãos e amigos dos portugueses que morrem, em idade tão jovem, é justamente a missão de A Nossa Âncora, uma associação de entreajuda, com sede em Sintra, fundada em 1996, com o apoio do psiquiatra Dr. João Senfelt e da equipa de saúde mental comunitária de Sintra, pertencente ao Hospital Psiquiátrico Miguel Bombarda. À frente desta associação é de destacar o papel de Maria Emília Pires, sua fundadora e alma mater, e do poeta, engenheiro informático e doutorado em psicolopia social Abílio Oliveira (autor de Dar e Amar - Quando a Morte Invoca a Vida, 2003). Contactos: Tel. 21 910 57 50 / 21 910 57 55; fax 21 910 59 75.



Merece uma visita a página desta associação na Net, por ser interactiva e nela figurar a poesia em lugar de destaque.



Outra associação do género, mais recente e ainda em fase de instalação, é a Apelo - Apoio à Pessoa em Luta, com sede em Aveiro. Foi fundada e é dirigida por José Eduardo Rebelo, biólogo e mestre em psicologia, profesor da Universidade de Aveiro, autor do livro Desatar o Nó do Luto (Lisboa: Editorial Notícias, no prelo). Contactos: Tel. 234 34 17 09; telemóvel: 91 848 28 38 fax: 234 34 23 67; e-mail: apelo@iol.pt .



Tive há dias conhecimento do excelente trabalho que estas duas associações têm feito no apoio às pessoas em luto. Mais de mil e tal pessoas, a elas ligadas, estão hoje em condições de dar ajuda às famílias em luto, no caso da ocorrência de tragédias como a queda da ponte de Entre-os-Rios ou o ataque terrorista do 11 de Março em Madrid.



Infelizmente o nosso sistema de protecção civil e o próprio Serviço Nacional de Saúde parecem querer ignorar a sua existência e recusar os seus préstimos. Daí que as minhas palmas vão hoje para todos os membros, os técnicos e os dirigentes destas duas associações de grupos de auto-ajuda A Nossa Âncora e Apelo.



Estas palmas são tão mais merecidas quanto este tema (a morte e o luto) continua a ser tabu, tanto na nossa sociedade como nas nossas faculdades de medicina e demais escolas ligadas às formação de profissionais de saúde, para não falar já dos nossos hospitais e demais de serviços de saúde, onde, infelizmente, ainda é vulgar a morte dos nossos entes queridos ser comunicada anonimamente pela telefonista de serviço...



A nível internacional, destaque-se o papel de The Compassionate Friends, "an international self-help, mutual-support organization for bereaved parents, grandparents, and siblings of children who have died from any cause and at any age".

A sua missão é descrita como sendo a de " to assist families in the positive resolution of grief following the death of a child and to provide information to help others be supportive". Só nos EUA os Compassionate Friends têm cerca de 600 núcleos ("chapters").

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