01 abril 2004

Estórias com mural ao fundo - XXIV: A sorte protege os audazesl

Uma empresa, uma daquelas novas empresas do Século XXI, pôs um anúncio num dos novos jornais de negócios on line, com oferta de emprego para uma importante função na área comercial.



Ainda à moda antiga (ou não estivéssemos em Lisboa), chegaram 830 currículos à mesa do director. Em suporte de papel, tal como era exigido no anúncio. O homem não se impressionou com o número de candidatos e ordenou à sua secretária:

- Escolha trinta à sorte e chame os candidatos para as entrevistas. As restantes oitocentas respostas podem mandá-las para o caixote do lixo.

O director de pessoal ainda ensaiou um gesto de protesto:

- Desculpe, senhor director, mas são 800 pessoas que responderam ao nosso anúncio e que querem mostrar o que valem. Quem sabe se nesse grupo não estará o melhor dos melhores!

- Oiça, eu tenho mais do que fazer e só preciso de gente com sorte!...



Moral da história: Tal como na guerra ou nos jogos de fortuna e azar, ter ou não ter sorte, eis a questão... Do meu tempo de jovem miliciano, contestatário da guerra colonial, recordo ainda a famosa divisa dos Comandos, Audaces Fortuna Juvat ou A Sorte Protege os Audazes. Infelizmente para os comandos africanos na Guiné a sorte foi-lhes madrasta, acabando a maior parte deles na vala comum dos ajustes de contas do pós-guerra.



Hoje no mercado como ontem na guerra, a sorte é o critério fundamental para se triunfar ou não na vida, no amor, na saúde, no amor, nos negócios, na riqueza, em tudo... Nunca como hoje a leitura matinal do horóscopo foi tão importante. Se eu fosse o director daquela empresa, já há muito que tinha despedido o gestor de recursos humanos, substituindo-o por um croupier e por uma tabela de números aleatórios...

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