16 junho 2004

Portugas que merecem os nossos assobios - III: Os avelinos

(i) Ah!, este Portugal caceteiro, reaccionário, castiço, afadistado, arrogante, prepotente, troglodita, fascistóide, psicótico!... O Portugal do Senhor Dom Miguel e do Remexido!...



(ii) Eu que fiz daquela terra a minha terceira terra, tenho pena que este primata antissocial ainda seja o pequeno rei & roque do Marco de Canaveses, a terra que é berço da artista Carmen Miranda, do Eng. Belmiro de Azevedo e de um bom lote dos meus amigos e familiares (gente de cinco estrelas, como por lá se diz!)



(iii) Castigat ridendo mores: Que ao menos seja pelo humor, pelo riso, que a gente castigue estes pouco brandos costumes ancestrais...



(iv) É expondo-os ao ridículo do écrã da televisão ou da grande pantalha da blogosfera, perante milhões de portugas, que estes energúmenos acabam por sair de cena... Pode levar o seu tempo, mas acabam por passar de moda... Eu sei que na próxima telenovela aparecerão outros com maneiras mais sofisticadas, com new look, com outra Kultura Democrática e outra Etiketa Social...



(v) O que é intrigante são as cumplicidades de que estes e outros avelinos parecem beneficiar, entre os tentáculos do Estado-polvo e as enguias do poder do dinheiro; são os diabretes que a democracia pós-abrilista acabou por gerar no seu ventre ubérrimo, generoso mas nem sempre lúcido e inteligente.

Portugas que merecem os nossos assobios - III: Os avelinos

(i) Ah!, este Portugal caceteiro, reaccionário, castiço, afadistado, arrogante, prepotente, troglodita, fascistóide, psicótico!... O Portugal do Senhor Dom Miguel e do Remexido!...

(ii) Eu que fiz daquela terra a minha terceira terra, tenho pena que este primata antissocial ainda seja o pequeno rei & roque do Marco de Canaveses, a terra que é berço da artista Carmen Miranda, do Eng. Belmiro de Azevedo e de um bom lote dos meus amigos e familiares (gente de cinco estrelas, como por lá se diz!)

(iii) Castigat ridendo mores: Que ao menos seja pelo humor, pelo riso, que a gente castigue estes pouco brandos costumes ancestrais...

(iv) É expondo-os ao ridículo do écrã da televisão ou da grande pantalha da blogosfera, perante milhões de portugas, que estes energúmenos acabam por sair de cena... Pode levar o seu tempo, mas acabam por passar de moda... Eu sei que na próxima telenovela aparecerão outros com maneiras mais sofisticadas, com new look, com outra Kultura Democrática e outra Etiketa Social...

(v) O que é intrigante são as cumplicidades de que estes e outros avelinos parecem beneficiar, entre os tentáculos do Estado-polvo e as enguias do poder do dinheiro; são os diabretes que a democracia pós-abrilista acabou por gerar no seu ventre ubérrimo, generoso mas nem sempre lúcido e inteligente.

Blogantologia(s) - XIII: Para ti

Para ti, A., em jeito de poemacção, de poemafeição, de poemamor, de poemagradecimento, de poemapoio ou tão só de poemassombração. Como quiseres, que em poesia não há relações lineares de causa-efeito.





Quanto é bom voltar a ver-te voar





gaivota deusa alada

cortas fundo o branco

da manhã

e até ao cabo mais ocidental

do meu corpo

quero-te e espero-te

a viajar

no último comboio da madrugada



até ao fim até ao sul

paro escuto e olho

os semáforos do nevoeiro no país verde-rubro

mas já a maré enche de azul

as praças da cidade

e tu amor sem arribar



porto seguro e encantatório

ilha secreta gruta radar

com uma palmeira à janela

e uma bandeira em cada promontório

dizem que és filha da liberdade

do rio e da foz do vulcão e da lava

e em dias de neblina também és oásis

aldeia palafita e ponto final

entre as arribas e a praia-mar



não olhei para o calendário

nas paredes da falésia

nem fixei o dia o mês o ano ou a era

mas hoje o teu voo é preclaro sinal

de primavera



ponho um cêdê do fado novo

paro escuto perscruto

o telefone os búzios a guitarra

mas tu amante sibila cartomante

sem aportar



frias são as estrias do poema

e hirto o sax-grito

do último navio na noite

mas a letra do fado me diz

que tu gaivota deusa alada

estás p’ra chegar.



quanto é bom voltar a ver-te

voar.



28.3.1985

16.6.2004



Blogantologia(s) - XIII: Para ti

Para ti, A., em jeito de poemacção, de poemafeição, de poemamor, de poemagradecimento, de poemapoio ou tão só de poemassombração. Como quiseres, que em poesia não há relações lineares de causa-efeito.


Quanto é bom voltar a ver-te voar


gaivota deusa alada
cortas fundo o branco
da manhã
e até ao cabo mais ocidental
do meu corpo
quero-te e espero-te
a viajar
no último comboio da madrugada

até ao fim até ao sul
paro escuto e olho
os semáforos do nevoeiro no país verde-rubro
mas já a maré enche de azul
as praças da cidade
e tu amor sem arribar

porto seguro e encantatório
ilha secreta gruta radar
com uma palmeira à janela
e uma bandeira em cada promontório
dizem que és filha da liberdade
do rio e da foz do vulcão e da lava
e em dias de neblina também és oásis
aldeia palafita e ponto final
entre as arribas e a praia-mar

não olhei para o calendário
nas paredes da falésia
nem fixei o dia o mês o ano ou a era
mas hoje o teu voo é preclaro sinal
de primavera

ponho um cêdê do fado novo
paro escuto perscruto
o telefone os búzios a guitarra
mas tu amante sibila cartomante
sem aportar

frias são as estrias do poema
e hirto o sax-grito
do último navio na noite
mas a letra do fado me diz
que tu gaivota deusa alada
estás p’ra chegar.

quanto é bom voltar a ver-te
voar.

28.3.1985
16.6.2004