1. Contra a depressão nacional que alguns senhores nos querem obrigar a comprar… E contra a nossa (e dos nossos políticos) distracção em relação às mudanças que se estão a operar no tabuleiro do xadrez mundial… É estranho não ter ouvido até agora, na pré-campanha eleitoral, uma única palavra sobre a importância estratégica da nossa língua na era da globalização… Importância para nós, portugueses e europeus, mas também para os angolanos, os brasileiros e oos demais lusófonos…
Há dias, na passado dia 3 de Fevereiro, o grande intelectual francês Alain Minc diz ao "Público" em entrevista que merece ser lida, relida e discutida:
"A derradeira forma de identidade num mundo globalizado é a língua - o último território, que já não é geográfico". A língua é uam vantagem comparativa. E dá o exemplod a Espanha:
" (...) A Espanha beneficia de uma dádiva da Providência que se chama Hispanidade. Os espanhóis sabem que, para além do seu papel na Europa, são o centro de uma comunidade de mais de 400 milhões de pessoas que vivem nas Américas e que falam castelhano, entre as quais 50 milhões de cidadãos dos EUA. E que isto é uma oportunidade, uma responsabilidade e um horizonte".
Isso nós não temos, muito menos os italianos ou os franceses. " (...) A Espanha sabe que é uma grande potência mundial. Penso que eles sabem serão a única potência europeia com a qual, em dez ou vinte anos, os EUA terão uma ligação específica. Deixará de ser o Reino Unido. Isso dá-lhes um sentimento de poder e de confiança muito particular".
Não estamos suficientemente atentos ao (nem queremos entender o) que se passa nos EUA do neoconservador Bush: "Hoje, assistimos à emergência das elites asiáticas - os chineses americanos que substituem os WASP ("white anglo-saxon people") e os indianos que substituirão os judeus... Mas, além disso, há a questão hispânica. Haverá 70 a 80 milhões de cidadãos norte-americanos que falarão espanhol e inglês. (...) E isso dá aos espanhóis uma oportunidade extraordinária".
Visto de Paris, Portugal é já ou pode dir a ser a ser "a embaixada do Brasil na Europa"... Nada mau!... Com o Basil temos de certa medida "a mesma oportunidade" que os espanhóis... "O problema é que Portugal parece pequeno no interior do mundo lusófono enquanto a Espanha é rica e grande no interior do mundo hispânico". Mas Alain Minc insiste: assumam esse papel de embaixada do Brasil na Europa, é um papel importante, não p subestimem!
2. Sobre o Portugal de hoje, Alain Minc disse duas coisas deliciosas e elegantes:
A primeira, sobre Santana Lopes e o populismo de direita: "O vosso primeiro-ministro gostaria de ser Berlusconi mas não tem nem os instrumentos, nem o talento, nem o "savoir-faire". Se um Berlusconi bem sucedido é, já de si, perturbador para um velho democrata, um Berlusconi que falha é ainda mais perturbador. Embora tenha a vantagem de ser passageiro".
A segunda, sobre a cíclica crise de confiança ou a depressão nacional que atinge os portugueses: "É comum a um outro país, a Itália, e por razões bastante parecidas. Portugal vive numa espécie de "depressão pós-parto". O esforço que fizeram para estar no "coração" da Europa, para entrar no euro, foi formidável. Semelhante ao que os italianos fizeram. Agora, que "deram à luz", entraram em depressão. Mas quem haveria de pensar há quinze anos que Portugal estaria hoje no primeiro círculo europeu? Vocês nem sequer se dão conta do que conseguiram".
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