A Marinha Portuguesa procedeu à monumentalização da LDM 119, construída em 1973 no Arsenal do Alfeite e abatida em 1997, em homenagem às guarnições das Lanchas de Desembarque que serviram em África (10961/74).
O monumento foi erigido, em 2005, na Base Naval de Lisboa, à entrada da Base de Fuzileiros.
Fonte: © Revista da Armada (2005)
O Jorge Santos, sempre atento ao que se escreve sobre a guerra no ultramar, fez-me chegar um excerto do último número da Revista da Armada (nº 391, Novembro de 2005, p. 15), com uma reportagem em que se relata a homenagem, feita pela Marinha Portuguesa, em 16 de Setembro último, a todos os Marinheiros que em África (1961 - 1974) serviram nas Lanchas de Desembarque, tendo-se implantado para tal uma LDM na vizinhança da unidade operacional dos Fuzileiros, "tropa especial que conheceu como ninguém o esforço e o valor das tripulações das LDM".
Desse número da excelente Revista da Armadada publicamos, com a devida vénia, dois excertos, da autoria do comandante de fragata, na reserva, Abel Melo e Sousa. É, também da parte da nossa tertúlia, uma pequena homenagem aos valentes marinheiros que conhecemos na Guiné.
1. As Lanchas de Desembarque Pequenas e Médias
O arranque das primeiras unidades de fuzileiros, na sequência do eclodir da guerra em África em 1961, veio criar a necessidade da construção de lanchas de desembarque. Depois de adquiridas algumas embarcações em segunda mão, foram adquiridos os planos de construção das lanchas utilizadas no último conflito mundial, e desenvolvidos os projectos de execução em estaleiros nacionais.
Foram construídos então três modelos de lanchas: pequenas (LDP), médias (LDM) e grandes (LDG), estas últimas fora do contexto deste artigo. As classes pequenas abrangeram as classes LDP 100, LDP 200 e LDP 300. Nas lanchas médias foram criadas as classes LDM 100, LDM 200, LDM 300 e LDM 400. No total foram, entre 1961 e 1976, construídas 26 LDP e 65 LDM, o que para a altura se podia considerar um esforço verdadeiramente excepcional.
A sua distribuição pelo Ultramar foi a seguinte: Guiné - 51, Angola - 15 e Moçambique - 7, ficando algumas na Metrópole para treino dos fuzileiros. As LDM dispunham de uma peça Oerlinkon Mk II de 20 mm e duas metralhadoras MG 42, a sua velocidade máxima era na ordem dos 9 nós e podiam transportar uma força de 80 homens.
O esforço de guerra para estas lanchas, nos três teatros ultramarinos, atingiu a sua maior expressão na Guiné, não só pelo maior volume de patrulhas e acções, mas também porque registaram as únicas baixas em combate. Dada a especificidade daquela ex-província – recortada por inúmeros rios – as lanchas eram primordiais na ligação entre os diversos pontos do território, essenciais no patrulhamento e fiscalização das vias fluviais, e insubstituíveis em desembarques operacionais de unidades militares. Uma das mais nobres missões destes pequenos grandes navios consistia ainda no apoio logístico às unidades militares estacionadas fora de Bissau, que não teriam sobrevivido sem as suas visitas regulares, muitas vezes integradas em comboios civis de reabastecimento.
LDM 302, um caso raro
Na Guiné destaque ainda para a LDM 302, que registou oito ataques graves durante a sua vida. Os dois primeiros verificaram-se em 1964, sem consequências, ocorrendo nova flagelação em 1965, da qual resultaram 30 impactes no costado, não se registando baixas no seu pessoal, para o que muito contribuiu a resposta imediata e eficiente da sua guarnição. Nesse ano foi atacada de novo por mais duas vezes, sendo na última feridos 10 militares de uma unidade do Exército embarcada na lancha.
No dia 16 de Dezembro de 1967 foi atacada e afundada no rio Cacheu, incidente que ocasionou a morte do seu patrão, MAR M Domingos Lopes Medeiros, e do GRT A Manuel Santos Carvalho. Foram ambos condecorados a título póstumo na cerimónia do 10 de Junho de 1968, com a medalha de Cruz de Guerra de 3ª classe.
Trazida à superfície, a LDM 302 foi reparada em Bissau, e posta de novo a navegar. Logo no primeiro cruzeiro, seis meses depois e no mesmo local onde tinha sido anteriormente atacada - Porto Coco, no rio Cacheu - foi de novo atingida com violência, o que teve como consequência a morte do GRT A António Manuel, e ferimentos noutra praça.
De novo reparada, a lancha já não voltou mais ao Cacheu, passando a actuar no rio Grande de Buba, onde mais uma vez sofreu em Fevereiro de 1969 novo ataque, que causaram três feridos. Seria abatida em 30 de Novembro de 1972.
Abel Melo e Sousa
CFR RES
2. Cabo M Pereira, um patrão exemplar
Ainda hoje recordo o Cabo M Pereira, que me apareceu na Base de Patrulhas de Ganturé na Guiné, com a sua LDM 113. Tinha pouco mais de quatro meses de permanência naquela ex-Província, e vinha fazer o primeiro cruzeiro no rio Cacheu. Como Imediato do Destacamento de Fuzileiros Especiais Nº 1 (DFE1), fiz-lhe um «briefing» da zona, tendo efectuado com ele algumas patrulhas no rio para o inteirar das zonas mais perigosas. Dias depois lá fez o seu cruzeiro Cacheu acima, mas no regresso, em 7 de Agosto de 1973 já perto de Ganturé. é atacado numa clareira por fogo IN. Em poucos minutos chegámos à LDM 113, onde fomos encontrar o patrão e outra praça gravemente feridos. Socorridos que foram os sinistrados, de imediato foram conduzidos para o local onde os esperavam a evacuação aérea. O CAB M Pereira haveria de se despedir desta vida nos meus braços, enquanto que seis dias depois o MAR CM Silva veio igualmente a falecer em Bissau.
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xime> 1969:
A LDG (Lancha de Desembarque Grande) 105 pronta a descarregar mais um contingente de tropas no cais do Xime, a caminho da Zona leste.
Ou, como diz o fotógrafo de serviço, "LDG a abicar no cais do Xime em Novembro de 1969 com mais uma carga de carne para canhão"
© Humberto Reis (2005)
É de elementar justiça transcrever o louvor dado em 21 de Setembro de 1973, pelo então Comandante da Esquadrilha de Lanchas da Guiné, 1º Tenente António Maria Catarino da Silva: «Após cerca de cinco meses em serviço na Província da Guiné faleceu em combate o patrão da LDM 113, Cabo M nº 2404 - Jorge António Pereira.
Navegava a LDM 113 num dos rios do norte da Província, quando ao atravessar uma clareira foi emboscada por forte grupo IN armado de RPG`s e armas automáticas.
O patrão da lancha Cabo M Nº 1404 Jorge António Pereira que ia ao leme deu ordem de fogo tendo a guarnição reagido de forma notável. A certa altura um RPG disparado pelo Inimigo atravessou a chapa blindada da cabine, e os estilhaços feriram o patrão mortalmente e o telegrafista com gravidade.
Cônscio da importância que o governo da lancha representava no desenrolar do combate, a última preocupação que o patrão já quase sem vida mostrou, foi entregar o governo ao Marinheiro Telegrafista que a seu lado se encontrava ferido.
Por em todas as missões que lhe foram incumbidas e particularmente na que acaba de ser relatada, ter mostrado coragem, decisão, grande espírito de sacrifício e elevada noção do dever militar, é de toda a justiça, ao abrigo do Artº 120 do RDM, louvar a Título Póstumo o Cabo M nº 2404 - Jorge António Pereira pelas excepcionais qualidades demonstradas».
A.M.S.
blogue-fora-nada. homo socius ergo blogus [sum]. homem social logo blogador. em sociobloguês nos entendemos. o port(ug)al dos (por)tugas. a prova dos blogue-fora-nada. a guerra colonial. a guiné. do chacheu ao boe. de bissau a bambadinca. os cacimbados. o geba. o corubal. os rios. o macaréu da nossa revolta. o humor nosso de cada dia nos dai hoje.lá vamos blogando e rindo. e venham mais cinco (camaradas). e vieram tantos que isto se transformou numa caserna. a maior caserna virtual da Net!
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1 comentário:
Felicito este magnífico blogue. Não haverá nunca palavras para quem se vai lembrando daqueles que deixaram parte da sua juventude em África.
Bem hajam!
Abel Melo e Sousa
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