09 junho 2005

Guiné 63/74 - LIII: Notícias da CART 2339 ('Os Viriatos', Fá e Mansambo, 1968/69)

1. Telefonou-me o António dos Santos Almeida, natural de Lisboa e residente na região do Ribatejo (Samora Correia, se não me engano), a dizer que se sentia muito feliz por encontrar malta do tempo dele, da Guiné.

Esteve na Zona Leste, no Sector L1, em Fá Mandinga e depois em Mansambo, de Janeiro de 1968 a Dezembro de 1969 (Pediu-me para corrigir esta informação que vem na página referente a Mansambo, o que vou fazer em breve).

A sua companhia, de artilharia, a CART 2339, era também conhecida como "Os Viriatos". Hoje ele é advogado, trabalhou no sector dos seguros, está na situação de pré-reforma e gostaria de encontrar companheiros de viagem para voltar à Guiné. Deu-me o seu número de telemóvel (962601138) e o seu endereço de e-mail: asarute1@sapo.pt.

Recordou-me que um dos seus camaradas (ele disse-me o nome, mas não consegui fixar) foi apanhado, à unha, pelo PAIGC na famosa e perigosa fonte que abastecia de água o aquartelamento de Mansambo.


O pessoal da CART 2339 não se tem encontrado. Ou pelo menos o Almeida não tem tido notícias dessa malta. Prometi-lhe incluí-lo na nossa tertúlia de ex-combatentes da Guiné, de modo em ficar em rede e em contacto connosco...

2. O Almeida era, na altura, soldado de artilharia. Tinha habilitações literárias superiores à 4ª classe mas chumbou no curso de milicianos (sargentos ou oficiais, não sei ao certo).

Recorda-se de também haver em Bambadinca um médico que estava na mesma situação, como soldado raso, e com quem ele convivia, quando lá ia à sede de batalhão (BCAÇ 2852).

Lembra-se de ir beber, de vez em quando, um copo, acompanhado da boa mancarra, na esplanada do bar de um dos dois comerciantes brancos que havia em Bambadinca, com vista para o rio. Esse mesmo que era suspeito, no nosso tempo, de estar feito com os turras. Eu e malta da CCAÇ 12 íamos lá sempre que o homem arranjava uns camarões tigres, do Rio Geba, pescados em zona de risco... Fazia-nos pagá-los a preço de ouro (50 pesos o quilo, se a memória me não falha; o equivalente ao que te pedia uma "bajuda de mama firme" para "partir catota" contigo...).

Além disso, o Almeida deu aulas à população de Fá Mandinga. Recorde-se da estação agronómica onde trabalhou o Amílcar Cabral. O seu capitão, o da CART 2339, porém, nunca lhe facilitou muito a vida - a ele, Almeida -, mesmo sabendo que ele podia ser melhor aproveitado, graças às suas habilitações literárias.

Esse capitão era o tal, pequenino de estatura, que eu dia vi dar um enxerto de porrada a um gajo de transmissões, no regresso ao quartel, depois de uma operação na região... O Almeida disse-me o nome. Não o vou aqui mencionar, por razões óbvias. Não estamos aqui para julgar ninguém, e muitos os comportamentos no tempo de guerra.

Mas o ex-capitão da CART 2339, será bem vindo à nossa tertúlia, se um dia destes nos descobrir e tiver vontade de nos rever e partir mantenha. Se não me engano, ele era miliciano, como nós. Ou não ?

Aqui fica, no essencial, a conversa que tivemos ao telefone, eu e o Almeida. Ele decobriu-nos através do Castro (não sei se do Sousa, se do Manuel, ambos são Castro de apelido, trabalham nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo e pertencem ao nosso grupo, à nossa tertúlia).

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