1. Texto do Humberto Reis:
Demorou a abrir mas já consegui ver as fotos [do Luís Moreira]. Não me parece estar o Fernandes [ex-Fur. Mil. da CCAÇ 12, que também fora destacado, para trabalhar no reordenamento de Nhabijões com o Moreira] em nenhuma delas, apesar dos anos já passados.
© Luís Moreira(2005).
Uma autogrua, da engenharia militar, de marca Galion, a (des)embarcar vacas no cais de Bambadinca, rio Geba Estreito (L.G.).
Foto de 1970, gentilmente cedida pelo Luís Moreira, ex-Alf. Mil. Sapador da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).
A Galion a carregar vacas no cais fez-me lembrar o episódio dela no percurso do Xime para Bambadinca. A Galion veio numa LDG [ Lancha de Desembarque Grande] desde Bissau até ao Xime. E daí para Bambadinca ia pelos seus próprios meios (1). Passou bem pelo destacamento da Ponte do Rio Undunduma, mas quando chegou a meio da bolanha a estrada não aguentou o peso e cedeu. Resultado, a Galion desequilibrou-se e ficou meio enterrada na bolanha.
Julgo que isto se passou em Novembro de 69 (dia 24 ou 25 - aniversário do Tony) Tenho este episódio documentado mas, como era hábito naquele tempo, está em diapositivo (em português slide, como dizia o saudoso Fernando Peça) e não em fotografia.
© Luís Moreira(2005). A Galion a operar no cais (um pontão de madeira!) de Bambadinca... O Rio Geba era navegável até Bafatá, mas do Xime para cima o curso do rio, sinuoso e mais estreito, só permitia a navegação de pequenas embarcações militares (LDM, LDP, lanchas) ou civis (por exemplo, da Casa Gouveia) (L.G.)
Lembro-me que foi dos primeiros episódios a que assistiu o nosso amigo, na altura capitão periquito da CCS [do BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70], o Figueiras, (co-organizador do habitual almoço anual que este ano que teve lugar na ria Formosa) que alguns conheciam como tenente da carreira de tiro de Tavira.
[Enfim,] mais um recuerdo para o blogue e um abraço para a rapaziada.
2. Comentário meu (L.G.):
Humberto: O Tony diz que tu tens memória de elefante e eu rendo-me à evidência… Tu lembras-te de coisas do arco da velho que se passaram no cu de Judas… E se havia um sítio, no mundo, que podia ser o cu de Judas, a Guiné era seguramente esse sítio, esse buraco… Lá tudo se enterrava: na lama, no tarrafe, no rio, nas bolanhas e lalas, nas picadas, nos buracos das minas… E quase a sempre a cabeça... no chão! Até a mastodonte da Galion se enterrou no seu passeio do Xime a Bambadinca! … Essa estória merece ser contada no blogue. Se tiveres mais pormenores, acrescenta…
Mas já agora: lembras-te dos filhos da puta dos turras (ou eram tugas ?) que um dia te viraram o quarto do avesso, na tua ausência ? Só que nunca cheguei a saber porquê, e logo a ti… Este foi, seguramente, um casos mais graves de quebra de segurança de que tive conhecimento na Guiné: esses turras, mascarados de tugas, entraram pelo aquartelamento adentro, presumivelmente armados, dirigiram-se ao teu quarto (nas calmas, nas barbas das sentinelas!) e viraram tudo do avesso, deixaram tudo num pandemónio !... Só não atearam fogo à cama e aos lençóis!...
Será que terias a cabeça a prémio como o outro, o nosso camarada do outro lado do rio ? Mas quem é que não gostava de ti, em Bambadinca e arredores ?... Enfim, uma história que ficou mal contada ou está para contar ao fim destes decénios todos…
Mantenhas (Já não me lembrava do termo em crioulo para a nossa palavra saudações… Obrigado, Paulo).
3. Texto do Tony (António Levezinho), também da CCAÇ 12:
Que ninguém duvide! Na verdade o Humberto tem mesmo memória de elefante.
Foi todo o dia 24 de Novembro [de 1969]na tentativa desesperada de desatascar a Galion antes que a noite caísse. Os esforços revelaram-se infrutíferos e assim não tivemos outra alternativa que não a de convidar a mosquitada da bolanha a juntar-se a nós para comemorarmos todos (em silêncio, como a situação de emboscada impunha) o meu 22º aniversário.
À falta de Champanhe serviram-se rodadas de Repelente que, a julgar pela sua ineficácia, funcionou como uma iguaria de entrada para os mosquitos, antes que estes chegassem à nossa pele, já depois de perfurarem até aquela capa de borracha que, creio, chamávamos ponche.
Peço-vos que não me comparem com o Humberto em termos de capacidade de memória para estas coisas da guerra.
Recordo este episódio apenas porque se tratou da celebração mais picante que eu alguma vez tinha experimentado ao longo de toda a minha carreira.
Assim, o seu a seu dono. Quem tem mesmo memória de elefante é o Humberto (Reis).
Um abraço, Malta !
P.S. - Já relativamente ao que aconteceu ao seu quarto (que por acaso tambem era meu) não faço a menor ideia. Devolvo assim a pergunta ao Luís (Graça)...
© Luís Graça (2005)
Da esquerda para a direita: os ex-furriéis milicianos Levezinho, Reis e Henriques, da CCAÇ 12, no Bar de Sargentos, em Bambadinca. Uma velha amizade que, no meu caso, começou no Campo Militar de Santa Margarida... Fico feliz, por trinta e tal anos depois, estarmos aqui os três a blogar...
Aproveito para acrescentar que os aniversários do Tony (Levezinho), no TO da Guiné, foram sempre celebrados em condições, no mínimo, insólitas. Um dia destes, com tempo e vagar, prometo reconstituir os dias loucos (e trágicos) que se seguiram às copiosas celebrações do seu 23º aniversário (24 de Novembro de 1970, dois dias depois da invasão de Conacri e na véspera da Op Abencerragem Candente) (2) (L.G.).
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Nota de L.G.
(1) Tratava-se de autogrua da engenharia militar que, julgo, veio para reforçar os parcos meios portuários existentes no cais de Bambadinca, por ocasião do ambicioso projecto de reordenamento de Nhabijões.
(2) Vd. post de 25 de Abril de 2005 >
Guiné 69/71 - VII: Memórias do inferno do Xime (Novembro de 1970)
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