08 novembro 2005

Guiné 63/74 - CCLXXIX: Crianças de Farim ou como o mundo é pequeno (2)

1. Comentário do Afonso M. F. Sousa, que foi furriel miliciano de transmissões na CART 2412, e que esteve na região do Cacheu (Bigene, Binta, Guidage e Barro) entre Agosto de 1968 e Maio de 1970:


Quase incrível! Fotografar alguém que apareceu espontaneamente à frente da máquina, em 1998, em Farim...

Hoje, sete anos depois, alguém que nasceu naquela terra da Guiné, pede a ex-militares portugueses que lhe falem da sua Farim.

E o que acontece ? Responde-lhe o António Marques Lopes (coronel na reserva) e envia-lhe duas fotografias de Farim.

Resultado: numa delas está um rapaz, de nome Alen, que é, nem mais nem menos, o afilhado deste senhor que queria saber coisas da sua terra.

Simplesmente maravilhoso! Uma prova do que é esta extraordinária comunicação electrónica que aproxima povos e mundos.

Coisas dos tempos !...

(Desculpem esta recapitulação que apenas teve o objectivo de dar a conhecer este episódio a outros amigos).

Fiquem todos bem.

Afonso Sousa
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Nota: Passei por Farim, em finais de 1968, depois de termos assentado arraiais em Binta e antes de partirmos para Guidage. Mas apenas estivemos lá numa visita rápida. Éramos periquitos na altura. Então pensei naquela Farim que já tínhamos ouvido falar na escola primária, mas fiquei um tanto desiludido!
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2. Texto do A. Marques Lopes > Ainda o O Anízio...

Olhem o que ele me escreveu hoje:

"Olá, querido amigo Marques!!

"O meu numero de Celular é (...). Podes ligar a qualquer momento que puder. O nome do meu afilhado é Alen, é isso mesmo você não esqueceu. E a menina da camisa é a irmã mais velha dele,ela se chama Fernanda(mais conhecida como Nanda); a outra é a Bebé,também irmã dele.

"Você acertou em cheio mesmo, sobre a minha idade [eu tinha-lhe perguntado se ele não estaria em Farim, em 1998, com 15 anos]. Na altura eu tinha 15 anos mesmo, pois foi no período da guerra civil, e naquele preciso momento eu estava também na cidade de Farim, estudei lá a 9ª classe. Depois da guerra, fui terminar o ensino complementar em Bissau.

"Falando verdade, eu não consigo me sentir bem em nenhum lugar como em Farim. Adoro aquela cidade... Espero, e tenho a certeza que Deus vai me ajudar a concretizar os meus sonhos [já me tinha dito que pensava voltar para ajudar a sua terra]. E estou sentindo isso cada dia que passa, embora enfrentando monte de dificuldades.

"Bom,vou estar aguardando a sua telefonema.

"Um forte abraço do seu grandíssimo amigo, Anízio"

3. Comentário de L.G.:

Agora aqui está uma história bonita e que acaba em bem. Pelo menos, para já. Todos nós, que pertencemos a esta tertúlia de amigos e camaradas, tendo por único ponto em comum a Guiné e o que ela representa (ou representou) para nós, sentimos uma pontinha de orgulho e de satisfação por também podermos contribuir para aproximar os guineenses da diáspora da sua terra, das suas gentes.

Não somos um mero clube de saudosistas ou de ex-combatentes ainda a contas com a liquidação dos fantasmas da guerra e do império colonial português.... Não, somos seres solidários e atentos às dificuldades, aos problemas e aos dramas dos nossos amigos da Guiné. Não é fácil (sobre)viver na Guiné, um dos países mais pobres do mundo. Mas também não é fácil a um guineense (sobre)viver fora da sua terra. Podemos ajudar este jovem, o Anízio, de muitas maneiras. Uma das mais efectivas é manter viva a sua relação umbilical com a sua terra e as suas gentes. Este blogue pode ajudá-lo. Seria bom que ele integrasse a nossa tertúlia. A decisão é dele e dos restantes tertulianos...

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