18 dezembro 2003

Portugal sacro-profano - XII: Cem anos de solidão

Pergunta um velhote alentejano ao seu médico de família, no primeiro exame de saúde que este lhe fez:
- Sô doutor, acha que eu ainda terei a sorte de viver até aos cem anos ?
- Bom, depende das asneiras que o meu amigo tem feito... Ora, diga-me lá: você fuma ?
- Ná, nunca me puxou prá aí.
- E beber, bebe o seu copo ?!...
- Ná, na gosto de álcool.
- E o comer ?
- Só o que a terra dá, pão, azeite, alho e coentros... Carne, pouca!
- O senhor é casado ? Tem filhos ?
- Ná, nunca tive.
- Então... e não tem mais nenhum vício ? Quero eu dizer: jogo, mulheres... ?
- Ná, sô doutor. Nada disso! Fui pastor, ‘tou reformado, vivo sozinho no monte...

O médico ficou uns largos segundos pensativo, e depois perguntou, em tom de brincadeira:
- Diga-me cá uma coisa: o senhor quer viver até aos cem anos... para quê??

O alentejano, quase ofendido, muito sério, deu uma resposta que fez corar o jovem clínico geral, acabado de chegar há pouco tempo ao centro de saúde:
- Atão porque a vida é a única coisa que pertence a um home e que um home pode tirar a ele próprio...

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