21 maio 2004

O tripaliu(m) que mata a gente - V: Grande América, onde a violência, é pura e dura!

1. Nos Estados Unidos, que são uma sociedade violenta, a taxa de vitimização por crime violento no local de trabalho é de 12.5 por cada 1000 trabalhadores.



Baseado nas respostas ao National Crime Victimization Survey, um relatório do célebre FBI (Federal Bureau of Investigation, pertencente ao U.S. Department of Justice) estimou em mais de 1.7 milhões o número médio anual de crimes violentos que ocorreram no local de trabalho no período de 1993-1999, respeitando 95% deles a assaltos simples, sem armas (mais de 1.3 milhões), ou agravados, com armas (325 mil).



Há um número médio anual de 900 homicídios, 40 vezes mais violações e outros crimes violentos de natureza sexual (36.5 mil)e 80 vezes mais roubos (70.1 mil).



2. Mas esta é apenas a ponta do icebergue. O crime violento (do homicídio ao simples assalto) faz parte de um continuum onde ainda se inclui a violência doméstica, as ameaças, as intimidações, as perseguições, o assédio sexual, o assédio moral e outras formas de violência, verbal e psicológica, que criam ansiedade e medo, a par de um clima de desconfiança no local de trabalho. Calcula-se que por cada acto de violência física, haja três actos de violêncioa verbal ou psicológica (nomeadamente casos de assédio sexual ou moral).



Na União Europeia dos 15, em 2000, havia cerca de 6% de trabalhadores (9 milhões, num total de 159 milhões), vítimas de violência física, com origem dentro (v.g., colegas) ou fora do local de trabalho (v.g., clientes). O número de casos de violência verbal (assédio sexual, assédio moral, discriminação com base na idade, no sexo, na etnia e na doença crónica ou deficiência) eram três vezes mais (cerca de 18% ou 27 milhões).





3. De acordo com o supracitado relatório, que está disponível na página oficial do FBI, cerca de 84% dos homicídios ocorridos nos EUA, no local de trabalho, no período de 1993/99, foram perpetrados por pessoas estranhas, armadas, cujo móbil era quase sempre o roubo. Os grupos ocupacionais que correm um maior risco de serem vítimas da violência de tipo I (homicídio) são os taxistas e os empregados de estações de serviço no horário nocturno.





4. Repare-se que, em geral, são trabalhadores isolados. A automação, a subcontratação, o teletrabalho, o funcionamento em rede e as novas formas atípicas de emprego por conta própria estão a levar a um progressivo aumento do número de trabalhadores isolados.



Nalguns casos, trabalhar sozinho (e ter à sua guarda valores, dinheiro, etc.) aumenta o risco de exposição à violência: para além dos táxis e das estações de serviço, as boutiques, os quiosques, as pequenas lojas e locais de comércio ambulante são outros exemplos de alvos relativamente fáceis de atacar ou assaltar. O trabalho nocturno é outro risco acrescido.



Segundo Di Martino (2000), perito da OIT, para os taxistas o turno da noite é o de maior risco e tal como noutras ocupações, o consumo de álcool e de droga por parte dos clientes está muitas vezes associado à violência de que são vítimas os taxistas.



Um estudo australiano, embora já antigo (1990), mostrava que os taxistas tinham 28 vezes mais riscos de ataque de natureza não-sexual e quase 67 vezes mais riscos de serem assaltos por motivo de roubo por comparação com o resto da população.



5. O que me chateia, às vezes, é que a sociedade americana pode ser violenta, mas sabe que o é, ou pelo menos tem informação estatística ad nauseam sobre tudo ou quase tudo... E socializa essa informação! Na terra dos portugas, um portuga vê-se e deseja-se para obter uma taxa ou um índice, ou até para recolher meia dúzia de dados brutos. É por isso é que me apetece escrever, quando lá voltar, num qualquer muro de um arranha-céus em ruínas, o seguinte grafito: "Grande América, onde a violência é pura e dura!"...

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