Amigos e camaradas da Guiné, do tempo da guerra colonial:
Lembram-se do aerograma ou, mais prosaicamente,do "corta-capim" ? A partir de agora vamos publicar nesta secção as vossas mensagens, desde que não estejam directamente relacionadas com o triângulo Xime-Bambadinca-Xitole, o nosso triângulo da morte, o sector L1. Malta de outros sectores, dentro ou fora da Zona Leste, podem-me fazer chegar as vossas mensagens, que eu prometo divulgá-las, neste blogue e nesta secção (Aerogramas de amigos e camaradas). Cliquem no nome que assina a mensagem: encontrarão o respectivo endereço de e-mail, sempre útil para futuros contactos. E não se esqueçam: tragam mais cinco (amigos e camaradas daqueles tempos e daquelas paragens).
25 de Maio de 2005:
Amigos, algum de vocês conhece alguém que tenha feito parte da CART 6254 "Os presentes de Olossato", Março de 73/Agosto 74 ? Se, por acaso, conhecerem alguém, agradecia contacto.
Manuel Castro (Viana do Castelo)
25 de Maio de 2005:
Manuel Castro, indico-lhe dois contactos:
(i) António Pedras (seripbar@sapo.pt);
e (ii) o ex-furriel miliciano João Ferreira (ilferreira@net.sapo.pt)
Certamente que os conhecerá. Eram seus ex-camaradas da CART 6254.
Afonso M. F. Sousa
24 de Maio de 2005:
Caro amigo: Antes do mais, os meus parabéns pelo óptimo trabalho do seu sítio "Subsídios para a história da guerra colonial". É bom que se saiba o que foi [essa guerra], sobretudo as gerações mais novas. Daí que eu lhe esteja a dar a minha colaboração nos seus objectivos.
Queria, agora, dizer-lhe que eu não me chamo A. Américo Marques mas, sim, A. Marques Lopes e que não sou tenente-coronel na reserva, mas, sim, coronel (DFA) na situação de reforma.
Peço-lhe desculpa pela trapalhada do envio das "fotografias de Banjara". O que sucede é que não me dou bem com estas coisas da informática...
Um abraço e bom trabalho.
A. Marques Lopes
Nota de L.G. - O A. Marques Lopes não foi capitão da CART 1690, aquartelada em Geba, com destacamentos em Cantacunda e Banjara. Os relatos que ele publica, neste blogue, sobre o ataque a Cantacunda e depois a Banjara, remonta a acontecimentos passados em meados de 1968. Nessa altura ele era apenas alferes miliciano. Como terá ocasião de explicar melhor, neste sítio, o povo da Guiné ganhou um amigo. Em 1998, trinta anos depois, ele voltou lá... E sobretudo continua a escrever sobre os encontros, felizes e menos felizes, que ele teve com os povos guinéus. Na Net fui encontrar um fabuloso texto (presumivelmente, excertos de um livro que ele anda a escrever). Tomem nota:
Na bolanha, dá para pensar... (13.02.2005)
18 de Maio de 2005:
Amigo David Guimarães:
Cá recebi o seu e-mail, fiquei muito sensibilizado pela sua gentileza. Como todos os que passaram por aquela guerra, naqueles vinte e quatro meses, a Guiné-Bissau é hoje uma terra mítica, algo inesquecível que vive presente para todo o sempre na nossa cabeça. Daí a necessidade de buscar algo sobre aquele tempo passado relacionado com a guerra, o que se torna para nós uma forma de dizer que estamos vivos.
Meu bom amigo, também fui companheiro de luta na nossa querida Guiné, como elemento da CCAC 2636 (companhia açoreana) e fizemos o percurso coroa com o seu início em Brá-Có (fizemos a segurança da estrada alcatroada para Pelundo e ligação a Teixeira Pinto).
O Pelundo era a região onde, em 20 de Abril de 1970, o comando de zona do PAIGC traíu as negociações que decorriam com o grande Chefe General Spínola para a rendição das forças do PAIGC que operavam naquela zona e a respectiva população), fazendo o PAIGC o assassinato dos três majores, Passos Ramos, Pereira da Silva e Magalhães Osório.
Depois saltámos para a zona leste, para Bafatá, ficando metade da companhia adstrita ao Batalhão de Caçadores 2856, e a outra metade ao Esquadrão de Cavalaria 2640. No leste e naquela altura o homem grande da guerra o era o Carlos de Almada, o célebre Chefe Gazela.Um grupo de combate entrou em auto-defesa em Ualicunda, outro em Sare Uale na linha limite da fronteira do Senegal, ficando a base do comando destes dois grupos sedeada em Contuboel. Os outros grupos ficaram em actividade operacional no sector leste com sede em Bafatá, para cortar a eficácia de ataque do PAIGC,
assim tudo o que era risco foi batido em operações de sector como sejam Fá Mandinga, Xime, Bambadinca, Porto Cole, Capé e Mansomine (Mansomine, de má memória, na durissíma Operação Fareja Melhor onde tivemos a primeira baixa, que foi um voluntário que, em acto de coragem e bravura, quis dar solidariedade ao grupo a procurar, detectar e aniquilar quaisquer elementos inimigos, destruindo todos os meios de vida e recuperar as populações civis sob controlo inimigo.
No leste tudo quanto foi matas, rios ou bolanhas foi por nós calcorreado à procura de quem não prometeu vir até nós, para tudo quanto mais não fosse dialogar os caminhos da paz. Por fim, assentamos arraiais em Sare Bacar, a pouco mais de cem metros da linha limite com o Senegal.
Operacionalmente estivemos em exercício em Pirada e Paunca, ficando com dois grupos de combate estacionados em Sare Aliu, Sene e Sora (corredores de infiltração do PAIGC para selecção de guerrilheiros e por onde infiltravam o armamento pesado).
Meu bom amigo, muitas peripécias se passaram fizemos a guerra sem querer, enfim agora isto faz parte da história que está pouco passada para o papel. Temos de unir esforços e todos contar o que foram aqueles dias, não podemos deixar para trás o que foram esses tempos e deixá-los esfumar-se como o fumo de um cigarro.
Meu bom amigo vou deixar-lhe os meus contactos:
(i) Casa: João José Braga neves Varanda, Rua Dr. Paulo Quintela nº 169, 1º.C
3030-393 Coimbra;
(ii) Serviço: João José Braga Neves Varanda, Serviços Académicos da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (Secção de Alunos), Porta Férrea - Paços da Escola, 3004 - 545 Coimbra.
Deixo-lhe os meus préstimos para tudo o que desejar de Coimbra. Não quero findar este e-mail sem dizer ao meu bom amigo que estou a escrever um livro de memórias sobre a nossa passagem pela guerra colonial na Guiné-Bissau.
Com um grande abraço.
Varanda
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