O João Tunes volta à carga, ou não tivesse sido ele, nos idos tempo de Bissau, Pelundo e Catió (1969/71), um bravo, dedicado e competente homem das transmissões (logo, da comunicação):
Humberto,
Ora bem, que isso de porras cada um sabe da sua. E o orgulho nela é inversamente proporcional à progressão na idade. Mas, como dizia o outro, cada caso é um caso. Eu sei do meu e só desejo que o teu desconsolo seja menor que o meu com o qual vou lidando com a ajuda que a lembrança das bajudas me vai dando (a merda da idade é que um gajo cada vez vai vivendo mais de lembranças...).
A beleza (perturbante) das bajudas (balantas) de Nhabijões, perto de Bambadinca (1970).
© Luís Moreira (2005).
Foto gentilmente cedida pelo Luís Moreira, ex-alf. mil. sapador da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).
(...) É, pá, fica esclarecido que não sei quem era esse tal Capitão Moás [da companhia de Polícia Militar] (1). E que não o aturei, isso é mais que garantido. Eu, no Niassa, não aturei ninguém. Tinha a obsessão de esquecer que estava ali, apenas. Aturaram-me mas não devo ter dado muito trabalho pois pouco banzé fiz dado que estive sempre em estado semi-adormecido.
Deram-me uma messe de luxo (aquilo fiava fino com iguarias para os oficiais, lagosta para aqui e acepipes para acolá, até parecia um cruzeiro no Mar Egeu para as damas do MNF [Movimento Nacional Feminino]) e alcool etílico a granel.
Volta e meia, espreitava na amurada (como só via água e a água é favorável aos detestados batráquios, fazia meia volta volver) e dava uma piscadela de olho ao porão onde estava a malta soldada a roncar ou a vomitar com o enjoo e as cervejolas.
© Manuel Ferreira (2005) > A caminho da Guiné no Niassa (finais de 1971)
Foto gentilmente cedida por Manuel G. Ferreira, ex-soldado condutor auto, da CART 3494 (1972/74), aquartelada no Xime (1972/73) e depois em Mansambo (1973/74), pertencente ao BART 3873 (1972/1974), com sede em Bambadinca.
Depois, perguntava aos bacanos dos meus furriéis se estava tudo nos conformes, eles diziam sempre que sim (convencidos ou não, para o caso também não interessava porque nem se podia lerpar dali nem eu estava em condições de resolver ou ajudar fosse o que fosse e, apesar de semi-adormecido, dava para ver que os furriéis estavam, pelo menos, tão bebidos quanto eu, portanto estavam bem e, por extensão, os cabos e soldados ainda haviam de estar melhores) e regressava aos meus afazeres profissionais do king e das rodadas.
Quanto à minha perícia em transmissões, ela é um facto confirmável pelos anais lavrados quando da minha estadia na Guiné. É um facto que, lá, os rádios, por norma, funcionavam mal. Muito mal. E eu, mais que ninguém passava-me dos carretos com isso (sempre tive a mania de fazer tudo bem feitinho, vício perfeccionista que me vem de pequeno quando apanhava carolo por engatar a tabuada) mas havia sempre uma desculpa oficial que nos tirava de todas as enrascadelas - a merda da Guiné tinha água a mais e as massas de água lixavam os caminhos das ondas.
Assim, se as coisas estavam catitas, a malta das transmissões andava toda inchada; quando dava para a chiadeira sem atino na sintonização, a culpa era do excesso de água dos rios e das bolanhas. Pelo que, dados os descontos de vaidade, as coisas estavam bem por mérito nosso e mal por demérito alheio e devido aos caprichos da Natureza.
E tanto me convenci (isto dos caminhos da auto-estima é do caraças) que era bom em transmissões que, desde que existe a internet, me tornei fã cá da coisa. E, para mim, blogar é como se voltasse ao Bravo, Mike e Tango. Mal comparado, mas olha que é. A sério. Escuto.
Abraço do João Tunes
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Notas de L.G.:
(1) Referido pelo Humberto Reis num post anterior, com data de hoje > Guiné 63/74 - CXCII: Os nossos (des)encontros: do Niassa ao Pelundo, passando por Bissau .
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