blogue-fora-nada. homo socius ergo blogus [sum]. homem social logo blogador. em sociobloguês nos entendemos. o port(ug)al dos (por)tugas. a prova dos blogue-fora-nada. a guerra colonial. a guiné. do chacheu ao boe. de bissau a bambadinca. os cacimbados. o geba. o corubal. os rios. o macaréu da nossa revolta. o humor nosso de cada dia nos dai hoje.lá vamos blogando e rindo. e venham mais cinco (camaradas). e vieram tantos que isto se transformou numa caserna. a maior caserna virtual da Net!
18 agosto 2005
Blogantologia(s) - XXIX: Viagens nas minhas praias imaginárias
Para a Alice,
Filha de Hiroshima.
Numa data muito especial para ela
E para mim,
Para nós, os dois,
Que há trinta anos fazemos, juntos,
Esta viagem real
Por este lugares imaginários.
Alfragide e Lourinhã, 18 de Agosto de 2005
Viagens nas minhas praias imaginárias.
Praia de Paiomogo.
Estas pedras estão aqui
Há milhões de anos.
E eu não sei dizer-te
Por que é que estas pedras
Estão aqui
Há milhões de anos.
Uma enseada, uma cratera, um lago.
A Praia de Paimogo foi talhada
A ferro e fogo.
Mas se eu fosse deus,
Todo poderoso senhor
Ou até vulcão,
Tê-la-ia desenhado,
Com muita ternura,
Sob a forma de coração.
Só para ti, meu amor.
Estas pedras estão aqui
Muito antes dos dinossauros
Evoluírem e dominarem
O planeta azul.
Que afinal não era assim tão azul
Quanto o pintavam.
Visto da janela do teu quarto,
Em Candoz,
O mundo era verde,
Tal como em A Cidade e as Serras,
Do Eça de Queiroz.
Muito antes do mar,
E do pôr do sol sobre o mar,
Muito antes de saberes
Onde ficava a praia da minha infância.
Nem vale.
Nem pombas.
Nem praia.
Na Praia do Vale de Pombas,
À maré cheia, à praia-mar,
Há apenas um fio de água doce
Que mantém os cordões umbilicais
Do infinitamente pequeno da vida
Ligados ao infinitamente grande
Dos corpos celestiais.
Vale de Pombas:
Aqui caiu uma chuva de meteoritos.
Um dia hei-de lá levar-te.
Praia de Vale de Frades.
Mas que sei eu de cronogeologia
Para te dizer que estas pedras estão aqui
Há tantos milhões de anos ?!
Sei apenas que, de acordo
Com a teoria das probabilidades,
Estas pedras vão ficar aqui,
Muito depois da minha morte,
Muito depois da extinção da minha espécie.
Praia da Peralta.
O melhor do mês de Agosto
É enterrar a cabeça na areia
E escutar.
O mar.
A voz rouca do mar.
Que chegou até aqui,
Muito antes de mim e de ti,
E que vai ficar aqui
Muito depois de mim e de ti.
Não há farol
Na Peralta,
Para eu poder avisar a malta.
Enquanto o teu país arde
Ou o que resta dele.
Na Peralta passam navios ao largo.
Porto Dinheiro
Um espesso nevoeiro
Cobre as falésias
Em Agosto.
Até aqui chegavam
As galés romanas.
E os barcos dos piratas.
Não sei se o sítio tem padroeiro
Ou orago.
Nem sei se por aqui passava
O teu caminho de Santiago.
Praia de Vale de Frades.
À volta de um prato de sardinhas,
A vida pode não ter
Metafísica nenhuma
E mesmo assim ser
Pura,
Emoção pura,
E simples,
Prazer simples.
Mandei pôr mais um prato
Na mesa, sem toalha,
Virada para o Mar do Serro.
Não me esqueci do pão,
Das sardinhas, das batatas,
Dos pimentos, da salada e do vinho...
Esperava por ti,
Que eras a oficiante da vida.
Na Peralta,
Na malhada grande,
Eu poderia ter sido feliz
Entre apanhadores de lapas e de ouriços.
Mesmo sabendo
Que estas pedras estão aqui
Muito antes de mim,
Há milhões de anos.
Mesmo não tendo
Todas as respostas
A todos os porquês.
No Porto das Barcas
Não há ciência,
Apenas sapiência,
Que é a mais antiga das virtudes.
Porto das Barcas:
Um navio fantasmagórico
Entra pela terra adentro.
Praia do Caniçal:
Podia trepar
Pela minha árvore genealógica
Até ao paleolítico superior.
Pelo leito dos rios
Que sobem, secos,
Até às grandes fossas marinhas.
Porto das Barcas.
Daqui avistamos as Berlengas.
E a Nau Catrineta
Que já nada tem para nos contar.
Porto Dinheiro.
Aqui deito contas à vida.
Aqui conto as marcas
Do tempo.
Aqui lanço a âncora.
Aqui fui carpinteiro de naus.
Aqui, Plínio, o Velho,
Poderia ter fundado a paleontologia.
Mas, não:
Morreu em 69 a observar
A erupção do Vesúvio.
Praia do Valmitão
Podia ter sido ilha de corsário
Ou baía de tubarão.
A ter bandeira,
Só a preta,
Com caveira.
Praia da Areia Branca:
Não te conseguiram amar
Sem te possuir e violar.
Livro Sexto, de Sophia.
Praia do Areal:
Há uma seta
Que indica o sul.
O sol.
A zona dos chapéus.
O espaço rigorosamente vigiado
Dos amantes.
O risco de cancro da pele.
A rota da seda.
A sede.
Os amores de verão.
A morte.
Saio noutra estação.
Volto à Peralta
Para partilhar contigo
A magia do pôr do sol
No Atlântico norte.
Fotos: Praias do concelho da Lourinhã
© Luís Graça (2004-2005)
Blogantologia(s) - XXIX: Viagens nas minhas praias imaginárias
Para a Alice,
Filha de Hiroshima.
Numa data muito especial para ela
E para mim,
Para nós, os dois,
Que há trinta anos fazemos, juntos,
Esta viagem real
Por este lugares imaginários.
Alfragide e Lourinhã, 18 de Agosto de 2005
Viagens nas minhas praias imaginárias.
Praia de Paiomogo.
Estas pedras estão aqui
Há milhões de anos.
E eu não sei dizer-te
Por que é que estas pedras
Estão aqui
Há milhões de anos.
Uma enseada, uma cratera, um lago.
A Praia de Paimogo foi talhada
A ferro e fogo.
Mas se eu fosse deus,
Todo poderoso senhor
Ou até vulcão,
Tê-la-ia desenhado,
Com muita ternura,
Sob a forma de coração.
Só para ti, meu amor.
Estas pedras estão aqui
Muito antes dos dinossauros
Evoluírem e dominarem
O planeta azul.
Que afinal não era assim tão azul
Quanto o pintavam.
Visto da janela do teu quarto,
Em Candoz,
O mundo era verde,
Tal como em A Cidade e as Serras,
Do Eça de Queiroz.
Muito antes do mar,
E do pôr do sol sobre o mar,
Muito antes de saberes
Onde ficava a praia da minha infância.
Nem vale.
Nem pombas.
Nem praia.
Na Praia do Vale de Pombas,
À maré cheia, à praia-mar,
Há apenas um fio de água doce
Que mantém os cordões umbilicais
Do infinitamente pequeno da vida
Ligados ao infinitamente grande
Dos corpos celestiais.
Vale de Pombas:
Aqui caiu uma chuva de meteoritos.
Um dia hei-de lá levar-te.
Praia de Vale de Frades.
Mas que sei eu de cronogeologia
Para te dizer que estas pedras estão aqui
Há tantos milhões de anos ?!
Sei apenas que, de acordo
Com a teoria das probabilidades,
Estas pedras vão ficar aqui,
Muito depois da minha morte,
Muito depois da extinção da minha espécie.
Praia da Peralta.
O melhor do mês de Agosto
É enterrar a cabeça na areia
E escutar.
O mar.
A voz rouca do mar.
Que chegou até aqui,
Muito antes de mim e de ti,
E que vai ficar aqui
Muito depois de mim e de ti.
Não há farol
Na Peralta,
Para eu poder avisar a malta.
Enquanto o teu país arde
Ou o que resta dele.
Na Peralta passam navios ao largo.
Porto Dinheiro
Um espesso nevoeiro
Cobre as falésias
Em Agosto.
Até aqui chegavam
As galés romanas.
E os barcos dos piratas.
Não sei se o sítio tem padroeiro
Ou orago.
Nem sei se por aqui passava
O teu caminho de Santiago.
Praia de Vale de Frades.
À volta de um prato de sardinhas,
A vida pode não ter
Metafísica nenhuma
E mesmo assim ser
Pura,
Emoção pura,
E simples,
Prazer simples.
Mandei pôr mais um prato
Na mesa, sem toalha,
Virada para o Mar do Serro.
Não me esqueci do pão,
Das sardinhas, das batatas,
Dos pimentos, da salada e do vinho...
Esperava por ti,
Que eras a oficiante da vida.
Na Peralta,
Na malhada grande,
Eu poderia ter sido feliz
Entre apanhadores de lapas e de ouriços.
Mesmo sabendo
Que estas pedras estão aqui
Muito antes de mim,
Há milhões de anos.
Mesmo não tendo
Todas as respostas
A todos os porquês.
No Porto das Barcas
Não há ciência,
Apenas sapiência,
Que é a mais antiga das virtudes.
Porto das Barcas:
Um navio fantasmagórico
Entra pela terra adentro.
Praia do Caniçal:
Podia trepar
Pela minha árvore genealógica
Até ao paleolítico superior.
Pelo leito dos rios
Que sobem, secos,
Até às grandes fossas marinhas.
Porto das Barcas.
Daqui avistamos as Berlengas.
E a Nau Catrineta
Que já nada tem para nos contar.
Porto Dinheiro.
Aqui deito contas à vida.
Aqui conto as marcas
Do tempo.
Aqui lanço a âncora.
Aqui fui carpinteiro de naus.
Aqui, Plínio, o Velho,
Poderia ter fundado a paleontologia.
Mas, não:
Morreu em 69 a observar
A erupção do Vesúvio.
Praia do Valmitão
Podia ter sido ilha de corsário
Ou baía de tubarão.
A ter bandeira,
Só a preta,
Com caveira.
Praia da Areia Branca:
Não te conseguiram amar
Sem te possuir e violar.
Livro Sexto, de Sophia.
Praia do Areal:
Há uma seta
Que indica o sul.
O sol.
A zona dos chapéus.
O espaço rigorosamente vigiado
Dos amantes.
O risco de cancro da pele.
A rota da seda.
A sede.
Os amores de verão.
A morte.
Saio noutra estação.
Volto à Peralta
Para partilhar contigo
A magia do pôr do sol
No Atlântico norte.
Fotos: Praias do concelho da Lourinhã
© Luís Graça (2004-2005)
16 agosto 2005
Guiné 63/74 - CLXXV: Antologia (16): Op Ametista Real (Senegal, 1973)
1. Texto seleccionado e enviado pelo Américo Marques, membro da tertúlia dos ex-combatentes da Guiné (Foi operador de transmissões, na 3ª CART do BART 6523 , Cansissé, Gabu, entre Junho de 1973 e Setembro de 1974).
O Américo, que hoje estou ligado à segurança do trabalho numa grande empresa de Viana do Castelo, mandou-me a seguinte mensagem, que agradeço, juntamente com o texto que abaixo se reproduz, com a devida vénia:
"Amigo Luis, espero que estejas viver umas férias reconfortantes! Se a tua opção for fazer uns passeios peripatéticos pela montanha, tem cuidado que nas nossas florestas existe um turra muito poderoso. Que é o FOGO!
"Depois destas palavrinhas preventivas, vou enviar-te um relato de uma intensa batalha. Não interessa quem mais Vidas destruiu. O que interessa é que os Homens novos reforcem a sua sabedoria e conhecimento sobre o anteontem. Para que se transformem e gerem amanhã um NOVO HOMEM!"
Ametista Real, por João de Almeida Bruno (1995)(a):
A operação mais importante que comandei foi, no entanto, na Guiné. O nome de código foi Ametista Real - eu sempre dei nomes de pedras preciosas às operações que comandei. Penso que, na altura, foi a operação de maior envergadura daquele tipo, fora do território nacional. Comandava então o Batalhão de Comandos Africanos que foi, julgo, uma das unidades que ganharam o Guião de Mérito, um estandarte especial que penso só ter sido também atribuído à unidade do então capitão de Infantaria Maurício Saraiva, meu grande amigo. De qualquer modo esses guiões estão hoje na Amadora.
A 16 de Maio de 1973 fui chamado de urgência ao Comandante-Chefe; o então general António de Spínola, que me traçou um panorama geral da guarnição militar de Guidage, junto à fronteira com o Senegal. Estava isolada por terra por causa dos fortíssimos campos de minas lançados pelo inimigo. As colunas logísticas, enquadradas por forças pára-quedistas, não conseguiram romper. Era difícil o reabastecimento aéreo e a evacuação de feridos, por causa dos mísseis terra¬ar Strella de que dispunha o PAIGC. E era grande o desgaste físico e psicológico da guarnição.
Tudo indicava que o inimigo pretendia lançar um assalto final a Guidage para tirar dividendos internos e externos. E, por isso, era necessário aliviar a pressão: o único caminho possível era pelo Norte, pelo território senegalês.
A missão foi dada de forma clara e simples: atacar a base inimiga de Kumbamory, que ficava uns cinco quilómetros a norte da fronteira. Era preciso, no mínimo, desarticular o dispositivo inimigo. Se possível, destruir a base ou, pelo menos, causar o maior número possível de baixas e destruir a maior quantidade possível de material.
Foi decidido transportar a força, em meios navais, de Bissau para Bigene. E lançar depois uma operação de curta duração, em terra, por forma a atacar a base inimiga a partir de uma base de ataque já instalada em território senegalês. "Limpar", por fim, a região de acesso a Guidage, recolhendo as nossas forças a essa povoação.
O apoio de fogos ficaria a cargo de seis baterias fixas de 10,5 e de heli-canhões. Verificou-se que não eram possíveis reabastecimentos e evacuações por helicóptero. Os mortos e os feridos teriam de ser transportados para Guidage sem meios auxiliares, e a haver reabastecimento de munições ele teria de ser feito nos paióis inimigos detectados. Nada se sabia quanto à localização exacta do objectivo, a não ser que era na área da povoação senegalesa de Kumbamory.
Na tarde de 19 de Maio o batalhão embarcou para Bigene, onde chegou pouco antes do pôr-do-sol. Foram constituídos três agrupamentos, com uma companhia de comandos cada um. Eram comandados pelos capitães Raúl Folques (que ficaria gravemente ferido) e Matos Gomes e pelo capitão pára-quedista António Ramos. Este comandava o agrupamento a que ficou adstrito o grupo especial comandado pelo alferes Marcelino da Mata, especializado em demolições.
Nele me integrei, o batalhão entrou em território senegalês pelas seis da manhã do dia 20. A artilharia de Bigene concentrava entretanto o seu fogo sobre o objectivo, mais como manobra de diversão do que como forma de destruição, uma vez que não era conhecida com rigor a localização da base inimiga. Hora e meia depois os agrupamentos estavam dispostos na base de ataque, a sul da povoação senegalesa.
Foi necessário cortar a estrada que corria paralela à fronteira e «reter» o comandante de um batalhão de pára-quedistas senegalês que chegara entretanto em missão de reconhecimento. A conversa entre mim e ele foi cordial e amistosa. E franca, claro. O comandante senegalês sabia perfeitamente da existência da base do PAIGC, mas argumentava que ela ficava em território português. Pedia assim que abandonássemos rapidamente o Senegal e garantia que não iria haver nenhum incidente diplomático. E não houve.
Pelas oito horas a Força Aérea iniciou um pesado bombardeamento, a que se seguiu o assalto. Um pouco à sorte, já que não se sabia onde ficava a base. E a sorte foi decisiva.
Quase de imediato os dois agrupamentos que iam à frente detectaram vários depósitos de material de guerra. O terceiro agrupamento, que estava em reserva e logo deixou de estar, envolveu-se em violento combate com um forte grupo inimigo que dispunha de canhões sem recuo e de metralhadoras pesadas: defendia o depósito principal, o de foguetões de 122 mm.
Não é fácil descrever a acção. A tónica principal deve ter sido a confusão, não só a própria da batalha, como a decorrente do facto de se enfrentarem adversários da mesma cor e com armamento semelhante, e de ser impossível delimitar claramente a frente. E foi nesta grande confusão que o posto de comando aéreo teve um papel decisivo: os agrupamentos, correndo embora o risco de serem referenciados, iam indicando a sua posição com sinais pirotécnicos. Pela rádio, o posto de comando aéreo ia-me informando do movimento das tropas. Pelo meio-dia, a missão estava cumprida.
O agrupamento, que era comandado pelo capitão Folques ficou, a dada altura, praticamente sem munições. Foi então dada ordem de retirada, o que equivalia a continuar na direcção de Guidage. Foi um movimento lento, interrompido por vários e violentos combates, até que, pelas quatro da tarde, o inimigo abandonou o terreno.
Pelas seis da tarde as nossas tropas chegaram a Guidage. Depois continuaram a pé, até serem recolhidas, no dia seguinte, pela Marinha de Guerra, no rio Cacheu.
Os resultados conseguidos foram assinaláveis e foi aliviada a pressão sobre Guidage, cuja guarnição militar recuperou a iniciativa depois de rendidos os seus efectivos.
Não é sem uma ponta de orgulho que me vejo forçado a afirmar que nesta operação ficou patente o alto espírito agressivo dos Comandos Africanos, a sua capacidade excepcional de orientação na selva e a sua invulgar resistência física. Ficou também patente que os quatro oficiais europeus que comandaram a acção foram decisivos nos momentos mais difíceis, sobretudo pelo bom senso e capacidade de decisão que revelaram.
O inimigo sofreu 67 mortos. As nossas tropas 14 mortos (dos quais dois alferes), onze desaparecidos, mais tarde confirmados como mortos, e 23 feridos graves (dos quais três oficiais e sete sargentos). Ao inimigo foram destruídos 22 depósitos de material de guerra.
Fonte: Autores vários: Os Últimos Guerreiros do Império. Lisboa: Edições Erasmos. 1995. 72-75.
_____
(a) O Comandante da operação e autor do texto: João de Almeida Bruno, na altura tenente-coronel, hoje general.
O Américo, que hoje estou ligado à segurança do trabalho numa grande empresa de Viana do Castelo, mandou-me a seguinte mensagem, que agradeço, juntamente com o texto que abaixo se reproduz, com a devida vénia:
"Amigo Luis, espero que estejas viver umas férias reconfortantes! Se a tua opção for fazer uns passeios peripatéticos pela montanha, tem cuidado que nas nossas florestas existe um turra muito poderoso. Que é o FOGO!
"Depois destas palavrinhas preventivas, vou enviar-te um relato de uma intensa batalha. Não interessa quem mais Vidas destruiu. O que interessa é que os Homens novos reforcem a sua sabedoria e conhecimento sobre o anteontem. Para que se transformem e gerem amanhã um NOVO HOMEM!"
Ametista Real, por João de Almeida Bruno (1995)(a):
A operação mais importante que comandei foi, no entanto, na Guiné. O nome de código foi Ametista Real - eu sempre dei nomes de pedras preciosas às operações que comandei. Penso que, na altura, foi a operação de maior envergadura daquele tipo, fora do território nacional. Comandava então o Batalhão de Comandos Africanos que foi, julgo, uma das unidades que ganharam o Guião de Mérito, um estandarte especial que penso só ter sido também atribuído à unidade do então capitão de Infantaria Maurício Saraiva, meu grande amigo. De qualquer modo esses guiões estão hoje na Amadora.
A 16 de Maio de 1973 fui chamado de urgência ao Comandante-Chefe; o então general António de Spínola, que me traçou um panorama geral da guarnição militar de Guidage, junto à fronteira com o Senegal. Estava isolada por terra por causa dos fortíssimos campos de minas lançados pelo inimigo. As colunas logísticas, enquadradas por forças pára-quedistas, não conseguiram romper. Era difícil o reabastecimento aéreo e a evacuação de feridos, por causa dos mísseis terra¬ar Strella de que dispunha o PAIGC. E era grande o desgaste físico e psicológico da guarnição.
Tudo indicava que o inimigo pretendia lançar um assalto final a Guidage para tirar dividendos internos e externos. E, por isso, era necessário aliviar a pressão: o único caminho possível era pelo Norte, pelo território senegalês.
A missão foi dada de forma clara e simples: atacar a base inimiga de Kumbamory, que ficava uns cinco quilómetros a norte da fronteira. Era preciso, no mínimo, desarticular o dispositivo inimigo. Se possível, destruir a base ou, pelo menos, causar o maior número possível de baixas e destruir a maior quantidade possível de material.
Foi decidido transportar a força, em meios navais, de Bissau para Bigene. E lançar depois uma operação de curta duração, em terra, por forma a atacar a base inimiga a partir de uma base de ataque já instalada em território senegalês. "Limpar", por fim, a região de acesso a Guidage, recolhendo as nossas forças a essa povoação.
O apoio de fogos ficaria a cargo de seis baterias fixas de 10,5 e de heli-canhões. Verificou-se que não eram possíveis reabastecimentos e evacuações por helicóptero. Os mortos e os feridos teriam de ser transportados para Guidage sem meios auxiliares, e a haver reabastecimento de munições ele teria de ser feito nos paióis inimigos detectados. Nada se sabia quanto à localização exacta do objectivo, a não ser que era na área da povoação senegalesa de Kumbamory.
Na tarde de 19 de Maio o batalhão embarcou para Bigene, onde chegou pouco antes do pôr-do-sol. Foram constituídos três agrupamentos, com uma companhia de comandos cada um. Eram comandados pelos capitães Raúl Folques (que ficaria gravemente ferido) e Matos Gomes e pelo capitão pára-quedista António Ramos. Este comandava o agrupamento a que ficou adstrito o grupo especial comandado pelo alferes Marcelino da Mata, especializado em demolições.
Nele me integrei, o batalhão entrou em território senegalês pelas seis da manhã do dia 20. A artilharia de Bigene concentrava entretanto o seu fogo sobre o objectivo, mais como manobra de diversão do que como forma de destruição, uma vez que não era conhecida com rigor a localização da base inimiga. Hora e meia depois os agrupamentos estavam dispostos na base de ataque, a sul da povoação senegalesa.
Foi necessário cortar a estrada que corria paralela à fronteira e «reter» o comandante de um batalhão de pára-quedistas senegalês que chegara entretanto em missão de reconhecimento. A conversa entre mim e ele foi cordial e amistosa. E franca, claro. O comandante senegalês sabia perfeitamente da existência da base do PAIGC, mas argumentava que ela ficava em território português. Pedia assim que abandonássemos rapidamente o Senegal e garantia que não iria haver nenhum incidente diplomático. E não houve.
Pelas oito horas a Força Aérea iniciou um pesado bombardeamento, a que se seguiu o assalto. Um pouco à sorte, já que não se sabia onde ficava a base. E a sorte foi decisiva.
Quase de imediato os dois agrupamentos que iam à frente detectaram vários depósitos de material de guerra. O terceiro agrupamento, que estava em reserva e logo deixou de estar, envolveu-se em violento combate com um forte grupo inimigo que dispunha de canhões sem recuo e de metralhadoras pesadas: defendia o depósito principal, o de foguetões de 122 mm.
Não é fácil descrever a acção. A tónica principal deve ter sido a confusão, não só a própria da batalha, como a decorrente do facto de se enfrentarem adversários da mesma cor e com armamento semelhante, e de ser impossível delimitar claramente a frente. E foi nesta grande confusão que o posto de comando aéreo teve um papel decisivo: os agrupamentos, correndo embora o risco de serem referenciados, iam indicando a sua posição com sinais pirotécnicos. Pela rádio, o posto de comando aéreo ia-me informando do movimento das tropas. Pelo meio-dia, a missão estava cumprida.
O agrupamento, que era comandado pelo capitão Folques ficou, a dada altura, praticamente sem munições. Foi então dada ordem de retirada, o que equivalia a continuar na direcção de Guidage. Foi um movimento lento, interrompido por vários e violentos combates, até que, pelas quatro da tarde, o inimigo abandonou o terreno.
Pelas seis da tarde as nossas tropas chegaram a Guidage. Depois continuaram a pé, até serem recolhidas, no dia seguinte, pela Marinha de Guerra, no rio Cacheu.
Os resultados conseguidos foram assinaláveis e foi aliviada a pressão sobre Guidage, cuja guarnição militar recuperou a iniciativa depois de rendidos os seus efectivos.
Não é sem uma ponta de orgulho que me vejo forçado a afirmar que nesta operação ficou patente o alto espírito agressivo dos Comandos Africanos, a sua capacidade excepcional de orientação na selva e a sua invulgar resistência física. Ficou também patente que os quatro oficiais europeus que comandaram a acção foram decisivos nos momentos mais difíceis, sobretudo pelo bom senso e capacidade de decisão que revelaram.
O inimigo sofreu 67 mortos. As nossas tropas 14 mortos (dos quais dois alferes), onze desaparecidos, mais tarde confirmados como mortos, e 23 feridos graves (dos quais três oficiais e sete sargentos). Ao inimigo foram destruídos 22 depósitos de material de guerra.
Fonte: Autores vários: Os Últimos Guerreiros do Império. Lisboa: Edições Erasmos. 1995. 72-75.
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(a) O Comandante da operação e autor do texto: João de Almeida Bruno, na altura tenente-coronel, hoje general.
Guiné 63/74 - CLXXV: Antologia (16): Op Ametista Real (Senegal, 1973)
1. Texto seleccionado e enviado pelo Américo Marques, membro da tertúlia dos ex-combatentes da Guiné (Foi operador de transmissões, na 3ª CART do BART 6523 , Cansissé, Gabu, entre Junho de 1973 e Setembro de 1974).
O Américo, que hoje estou ligado à segurança do trabalho numa grande empresa de Viana do Castelo, mandou-me a seguinte mensagem, que agradeço, juntamente com o texto que abaixo se reproduz, com a devida vénia:
"Amigo Luis, espero que estejas viver umas férias reconfortantes! Se a tua opção for fazer uns passeios peripatéticos pela montanha, tem cuidado que nas nossas florestas existe um turra muito poderoso. Que é o FOGO!
"Depois destas palavrinhas preventivas, vou enviar-te um relato de uma intensa batalha. Não interessa quem mais Vidas destruiu. O que interessa é que os Homens novos reforcem a sua sabedoria e conhecimento sobre o anteontem. Para que se transformem e gerem amanhã um NOVO HOMEM!"
Ametista Real, por João de Almeida Bruno (1995)(a):
A operação mais importante que comandei foi, no entanto, na Guiné. O nome de código foi Ametista Real - eu sempre dei nomes de pedras preciosas às operações que comandei. Penso que, na altura, foi a operação de maior envergadura daquele tipo, fora do território nacional. Comandava então o Batalhão de Comandos Africanos que foi, julgo, uma das unidades que ganharam o Guião de Mérito, um estandarte especial que penso só ter sido também atribuído à unidade do então capitão de Infantaria Maurício Saraiva, meu grande amigo. De qualquer modo esses guiões estão hoje na Amadora.
A 16 de Maio de 1973 fui chamado de urgência ao Comandante-Chefe; o então general António de Spínola, que me traçou um panorama geral da guarnição militar de Guidage, junto à fronteira com o Senegal. Estava isolada por terra por causa dos fortíssimos campos de minas lançados pelo inimigo. As colunas logísticas, enquadradas por forças pára-quedistas, não conseguiram romper. Era difícil o reabastecimento aéreo e a evacuação de feridos, por causa dos mísseis terra¬ar Strella de que dispunha o PAIGC. E era grande o desgaste físico e psicológico da guarnição.
Tudo indicava que o inimigo pretendia lançar um assalto final a Guidage para tirar dividendos internos e externos. E, por isso, era necessário aliviar a pressão: o único caminho possível era pelo Norte, pelo território senegalês.
A missão foi dada de forma clara e simples: atacar a base inimiga de Kumbamory, que ficava uns cinco quilómetros a norte da fronteira. Era preciso, no mínimo, desarticular o dispositivo inimigo. Se possível, destruir a base ou, pelo menos, causar o maior número possível de baixas e destruir a maior quantidade possível de material.
Foi decidido transportar a força, em meios navais, de Bissau para Bigene. E lançar depois uma operação de curta duração, em terra, por forma a atacar a base inimiga a partir de uma base de ataque já instalada em território senegalês. "Limpar", por fim, a região de acesso a Guidage, recolhendo as nossas forças a essa povoação.
O apoio de fogos ficaria a cargo de seis baterias fixas de 10,5 e de heli-canhões. Verificou-se que não eram possíveis reabastecimentos e evacuações por helicóptero. Os mortos e os feridos teriam de ser transportados para Guidage sem meios auxiliares, e a haver reabastecimento de munições ele teria de ser feito nos paióis inimigos detectados. Nada se sabia quanto à localização exacta do objectivo, a não ser que era na área da povoação senegalesa de Kumbamory.
Na tarde de 19 de Maio o batalhão embarcou para Bigene, onde chegou pouco antes do pôr-do-sol. Foram constituídos três agrupamentos, com uma companhia de comandos cada um. Eram comandados pelos capitães Raúl Folques (que ficaria gravemente ferido) e Matos Gomes e pelo capitão pára-quedista António Ramos. Este comandava o agrupamento a que ficou adstrito o grupo especial comandado pelo alferes Marcelino da Mata, especializado em demolições.
Nele me integrei, o batalhão entrou em território senegalês pelas seis da manhã do dia 20. A artilharia de Bigene concentrava entretanto o seu fogo sobre o objectivo, mais como manobra de diversão do que como forma de destruição, uma vez que não era conhecida com rigor a localização da base inimiga. Hora e meia depois os agrupamentos estavam dispostos na base de ataque, a sul da povoação senegalesa.
Foi necessário cortar a estrada que corria paralela à fronteira e «reter» o comandante de um batalhão de pára-quedistas senegalês que chegara entretanto em missão de reconhecimento. A conversa entre mim e ele foi cordial e amistosa. E franca, claro. O comandante senegalês sabia perfeitamente da existência da base do PAIGC, mas argumentava que ela ficava em território português. Pedia assim que abandonássemos rapidamente o Senegal e garantia que não iria haver nenhum incidente diplomático. E não houve.
Pelas oito horas a Força Aérea iniciou um pesado bombardeamento, a que se seguiu o assalto. Um pouco à sorte, já que não se sabia onde ficava a base. E a sorte foi decisiva.
Quase de imediato os dois agrupamentos que iam à frente detectaram vários depósitos de material de guerra. O terceiro agrupamento, que estava em reserva e logo deixou de estar, envolveu-se em violento combate com um forte grupo inimigo que dispunha de canhões sem recuo e de metralhadoras pesadas: defendia o depósito principal, o de foguetões de 122 mm.
Não é fácil descrever a acção. A tónica principal deve ter sido a confusão, não só a própria da batalha, como a decorrente do facto de se enfrentarem adversários da mesma cor e com armamento semelhante, e de ser impossível delimitar claramente a frente. E foi nesta grande confusão que o posto de comando aéreo teve um papel decisivo: os agrupamentos, correndo embora o risco de serem referenciados, iam indicando a sua posição com sinais pirotécnicos. Pela rádio, o posto de comando aéreo ia-me informando do movimento das tropas. Pelo meio-dia, a missão estava cumprida.
O agrupamento, que era comandado pelo capitão Folques ficou, a dada altura, praticamente sem munições. Foi então dada ordem de retirada, o que equivalia a continuar na direcção de Guidage. Foi um movimento lento, interrompido por vários e violentos combates, até que, pelas quatro da tarde, o inimigo abandonou o terreno.
Pelas seis da tarde as nossas tropas chegaram a Guidage. Depois continuaram a pé, até serem recolhidas, no dia seguinte, pela Marinha de Guerra, no rio Cacheu.
Os resultados conseguidos foram assinaláveis e foi aliviada a pressão sobre Guidage, cuja guarnição militar recuperou a iniciativa depois de rendidos os seus efectivos.
Não é sem uma ponta de orgulho que me vejo forçado a afirmar que nesta operação ficou patente o alto espírito agressivo dos Comandos Africanos, a sua capacidade excepcional de orientação na selva e a sua invulgar resistência física. Ficou também patente que os quatro oficiais europeus que comandaram a acção foram decisivos nos momentos mais difíceis, sobretudo pelo bom senso e capacidade de decisão que revelaram.
O inimigo sofreu 67 mortos. As nossas tropas 14 mortos (dos quais dois alferes), onze desaparecidos, mais tarde confirmados como mortos, e 23 feridos graves (dos quais três oficiais e sete sargentos). Ao inimigo foram destruídos 22 depósitos de material de guerra.
Fonte: Autores vários: Os Últimos Guerreiros do Império. Lisboa: Edições Erasmos. 1995. 72-75.
_____
(a) O Comandante da operação e autor do texto: João de Almeida Bruno, na altura tenente-coronel, hoje general.
O Américo, que hoje estou ligado à segurança do trabalho numa grande empresa de Viana do Castelo, mandou-me a seguinte mensagem, que agradeço, juntamente com o texto que abaixo se reproduz, com a devida vénia:
"Amigo Luis, espero que estejas viver umas férias reconfortantes! Se a tua opção for fazer uns passeios peripatéticos pela montanha, tem cuidado que nas nossas florestas existe um turra muito poderoso. Que é o FOGO!
"Depois destas palavrinhas preventivas, vou enviar-te um relato de uma intensa batalha. Não interessa quem mais Vidas destruiu. O que interessa é que os Homens novos reforcem a sua sabedoria e conhecimento sobre o anteontem. Para que se transformem e gerem amanhã um NOVO HOMEM!"
Ametista Real, por João de Almeida Bruno (1995)(a):
A operação mais importante que comandei foi, no entanto, na Guiné. O nome de código foi Ametista Real - eu sempre dei nomes de pedras preciosas às operações que comandei. Penso que, na altura, foi a operação de maior envergadura daquele tipo, fora do território nacional. Comandava então o Batalhão de Comandos Africanos que foi, julgo, uma das unidades que ganharam o Guião de Mérito, um estandarte especial que penso só ter sido também atribuído à unidade do então capitão de Infantaria Maurício Saraiva, meu grande amigo. De qualquer modo esses guiões estão hoje na Amadora.
A 16 de Maio de 1973 fui chamado de urgência ao Comandante-Chefe; o então general António de Spínola, que me traçou um panorama geral da guarnição militar de Guidage, junto à fronteira com o Senegal. Estava isolada por terra por causa dos fortíssimos campos de minas lançados pelo inimigo. As colunas logísticas, enquadradas por forças pára-quedistas, não conseguiram romper. Era difícil o reabastecimento aéreo e a evacuação de feridos, por causa dos mísseis terra¬ar Strella de que dispunha o PAIGC. E era grande o desgaste físico e psicológico da guarnição.
Tudo indicava que o inimigo pretendia lançar um assalto final a Guidage para tirar dividendos internos e externos. E, por isso, era necessário aliviar a pressão: o único caminho possível era pelo Norte, pelo território senegalês.
A missão foi dada de forma clara e simples: atacar a base inimiga de Kumbamory, que ficava uns cinco quilómetros a norte da fronteira. Era preciso, no mínimo, desarticular o dispositivo inimigo. Se possível, destruir a base ou, pelo menos, causar o maior número possível de baixas e destruir a maior quantidade possível de material.
Foi decidido transportar a força, em meios navais, de Bissau para Bigene. E lançar depois uma operação de curta duração, em terra, por forma a atacar a base inimiga a partir de uma base de ataque já instalada em território senegalês. "Limpar", por fim, a região de acesso a Guidage, recolhendo as nossas forças a essa povoação.
O apoio de fogos ficaria a cargo de seis baterias fixas de 10,5 e de heli-canhões. Verificou-se que não eram possíveis reabastecimentos e evacuações por helicóptero. Os mortos e os feridos teriam de ser transportados para Guidage sem meios auxiliares, e a haver reabastecimento de munições ele teria de ser feito nos paióis inimigos detectados. Nada se sabia quanto à localização exacta do objectivo, a não ser que era na área da povoação senegalesa de Kumbamory.
Na tarde de 19 de Maio o batalhão embarcou para Bigene, onde chegou pouco antes do pôr-do-sol. Foram constituídos três agrupamentos, com uma companhia de comandos cada um. Eram comandados pelos capitães Raúl Folques (que ficaria gravemente ferido) e Matos Gomes e pelo capitão pára-quedista António Ramos. Este comandava o agrupamento a que ficou adstrito o grupo especial comandado pelo alferes Marcelino da Mata, especializado em demolições.
Nele me integrei, o batalhão entrou em território senegalês pelas seis da manhã do dia 20. A artilharia de Bigene concentrava entretanto o seu fogo sobre o objectivo, mais como manobra de diversão do que como forma de destruição, uma vez que não era conhecida com rigor a localização da base inimiga. Hora e meia depois os agrupamentos estavam dispostos na base de ataque, a sul da povoação senegalesa.
Foi necessário cortar a estrada que corria paralela à fronteira e «reter» o comandante de um batalhão de pára-quedistas senegalês que chegara entretanto em missão de reconhecimento. A conversa entre mim e ele foi cordial e amistosa. E franca, claro. O comandante senegalês sabia perfeitamente da existência da base do PAIGC, mas argumentava que ela ficava em território português. Pedia assim que abandonássemos rapidamente o Senegal e garantia que não iria haver nenhum incidente diplomático. E não houve.
Pelas oito horas a Força Aérea iniciou um pesado bombardeamento, a que se seguiu o assalto. Um pouco à sorte, já que não se sabia onde ficava a base. E a sorte foi decisiva.
Quase de imediato os dois agrupamentos que iam à frente detectaram vários depósitos de material de guerra. O terceiro agrupamento, que estava em reserva e logo deixou de estar, envolveu-se em violento combate com um forte grupo inimigo que dispunha de canhões sem recuo e de metralhadoras pesadas: defendia o depósito principal, o de foguetões de 122 mm.
Não é fácil descrever a acção. A tónica principal deve ter sido a confusão, não só a própria da batalha, como a decorrente do facto de se enfrentarem adversários da mesma cor e com armamento semelhante, e de ser impossível delimitar claramente a frente. E foi nesta grande confusão que o posto de comando aéreo teve um papel decisivo: os agrupamentos, correndo embora o risco de serem referenciados, iam indicando a sua posição com sinais pirotécnicos. Pela rádio, o posto de comando aéreo ia-me informando do movimento das tropas. Pelo meio-dia, a missão estava cumprida.
O agrupamento, que era comandado pelo capitão Folques ficou, a dada altura, praticamente sem munições. Foi então dada ordem de retirada, o que equivalia a continuar na direcção de Guidage. Foi um movimento lento, interrompido por vários e violentos combates, até que, pelas quatro da tarde, o inimigo abandonou o terreno.
Pelas seis da tarde as nossas tropas chegaram a Guidage. Depois continuaram a pé, até serem recolhidas, no dia seguinte, pela Marinha de Guerra, no rio Cacheu.
Os resultados conseguidos foram assinaláveis e foi aliviada a pressão sobre Guidage, cuja guarnição militar recuperou a iniciativa depois de rendidos os seus efectivos.
Não é sem uma ponta de orgulho que me vejo forçado a afirmar que nesta operação ficou patente o alto espírito agressivo dos Comandos Africanos, a sua capacidade excepcional de orientação na selva e a sua invulgar resistência física. Ficou também patente que os quatro oficiais europeus que comandaram a acção foram decisivos nos momentos mais difíceis, sobretudo pelo bom senso e capacidade de decisão que revelaram.
O inimigo sofreu 67 mortos. As nossas tropas 14 mortos (dos quais dois alferes), onze desaparecidos, mais tarde confirmados como mortos, e 23 feridos graves (dos quais três oficiais e sete sargentos). Ao inimigo foram destruídos 22 depósitos de material de guerra.
Fonte: Autores vários: Os Últimos Guerreiros do Império. Lisboa: Edições Erasmos. 1995. 72-75.
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(a) O Comandante da operação e autor do texto: João de Almeida Bruno, na altura tenente-coronel, hoje general.
Guiné 63/74 - CLXXIV: CCAÇ 13 - Os Leões Negros, página de Carlos Fortunato
1. Texto do Carlos Fortunato:
Como ex-combatente da Guiné (ex-furriel miliciano, CCAÇ 13, Bolama, Bissorã, Binar, Encheia, Biambi, 1969/71), venho deixar aqui uma breve nota sobre o site que elaborei sobre a Guiné.
O site CCAÇ 13 -Os Leões Negros: Memórias da Guerra na Guiné (1969/71) é um repositório de alguns dos momentos vividos pela CCAÇ 13, companhia constituída por balantas, enquadrados por oficiais, furriéis, cabos e especialistas vindos da metrópole, que os treinaram e depois conduziram em operações, nomeadamente no seu chão.
Um Grupo de Combate da CCAÇ 13. © Carlos Fortunao (2005).
Em narrativas curtas, contam-se algumas das acções que ocorreram neste período, tentando dar uma imagem do que era a guerra na Guiné, não esquecendo o contributo dos soldados africanos nem o seu abandono.
A CCAÇ 13 era uma companhia de intervenção e, como tal, passou o seu tempo saltitando de um lado para o outro em operações. O site descreve alguns dos eventos, que se passaram quando da sua passagem por Bissau, Bolama, Bissorã, Binar, Biambi, e Encheia, que incluíram uma visita ao pelo mítico Morés, e a deslocação a Bissau para participarem na famosa Operação Mar Verde.
Sempre documentado com fotos e curiosidades, umas vezes com humor, outras com mágoa, é um site que procura dar o seu pequeno contributo, para a constituição da nossa memória colectiva, e para que a verdade seja consolidada. Este site é actualizado anualmente.
Lista dos títulos dos artigos do site:
Bissau
Um mundo diferente
A boneca de osso
A invasão da Guiné Conackry (Operação Mar Verde)
A 13ª Companhia de Comandos
Bolama
A ilha de Bolama
O desembarque do dia "D"
Os felupes e os balantas
Realizando o impossível
Quem é melhor ? Manjaco, manjaco, manjaco
Inimigo à vista
Bissorã
A vila de Bissorã
A defesa de Bissorã
A equipa maravilha
O morto mata 4
Visita ao QG do PAIGC no Morés
Curiosidades sobre algum material capturado ao PAIGC
O ataques da bicharada
Presentes de guerra
Fotografando o inimigo
Binar
O quartel de Binar
Ataque a Binar
Os construtores de quartéis
Cubano capturado nos arredores de Binar
A morte vem de avião
Os periquitos
Encheia
A localidade de Encheia
O falso abrigo
Biambi
O quartel de Biambi
A "conquista" do Queré
A velhinha e o galo
Ataque ao Biambi
Os comandos do PAIGC
A morte dos 3 majores
Carlos Fortunato
2. Comentário de L.G., enviado à malta da tertúlia:
Amigos & Camaradas de Tertúlia da Guiné:
O Carlos Fortunato, que pertence à nossa tertúlia, acabou de rever e actualizar a sua página, que é uma das poucas que existem na Net só sobre uma unidade de intervenção que tenha operada no teatro de operações da Guiné, durante a guerra colonial (1963/74). A página abre com uma conhecida música dos Beach Boys (lembram-se deles ?)... I get around é uma forma bastante feliz de descrever as andanças ou a errância da CCAÇ 13.
As estórias do Carlos estão bem contadas, são simples, coloquiais… Até acho que dariam para desenvolver um pouco mais… Faltam talvez links para fazer melhor a articulação entre as diversas partes do texto… Mas isto são pequenos aspectos a rever na próxima actualização. Outra coisa: arranja um mapa da região, para o visitante se localizar melhor…
Também já disse ao Carlos que gostei muito de ler as suas observações sobre os balantas e os felupes… Infelizmente, eu não tive o privilégio de conviver, como ele, com estes dois grupos étnicos. Tínhamos (falo do Sector L1 e da CCAÇ 12) população balanta, mas era-nos hostil… E o único felupe que eu conheci, era pouco recomendável…
Amigos & camaradas, façam o favor de visitar a página do Carlos, de a divulgar e dar o respectivo feedback ao webmaster. É muito importante, como incentivo e reforço da motivação do autor. Ele tinha-nos prometido mandar um resumo para o blogue e aqui está. Também está a elaborar uam página sobre Bissorã, onde a CCAÇ 13 passou mais tempo. Mas, para já, os meus parabéns pelo esforço que ele fez, nesta tarefa comum de reconstruir o puzzle da guerra da Guiné.
O Carlos joga em casa: é especialista em Sistemas de Informação, Sistemas de Gestão da Qualidade e Web Design... Se precisarem dos serviços dele, de certo ele vos dará uma mãozinha... Não se esqueçam que estamos todos a aprender coisas novas, a falar uma nova linguagem, a comunicar de uma maneira que era impensável no tempo que andávamos por Bissorã, Geba, Cantacunda, Barro, Cansissé, Bambadinca, Xitole ou Xime.
3. Vê-se que o Carlos Fortunato continua a ter uma grande admiração tanto pelos balantas como pelos felupes. Diz ele há dias numa das últimas mensagens:
"Os felupes devem ser os mais extraordinários guerreiros da Guiné, o alferes que me deu o curso de minas e armadilhas esteve com eles no mato, e contava que eram uma coisa incrível. O felupe que ia sempre à frente chamava-se Cowboy, e por vezes parava e dizia está ali uma mina, ali outra e ali outra. E estavam mesmo!...
"Fizemos uma pequena competição de luta corpo a corpo entre balantas e felupes, e os balantas não ganharam uma luta ... ".
Como ex-combatente da Guiné (ex-furriel miliciano, CCAÇ 13, Bolama, Bissorã, Binar, Encheia, Biambi, 1969/71), venho deixar aqui uma breve nota sobre o site que elaborei sobre a Guiné.
O site CCAÇ 13 -Os Leões Negros: Memórias da Guerra na Guiné (1969/71) é um repositório de alguns dos momentos vividos pela CCAÇ 13, companhia constituída por balantas, enquadrados por oficiais, furriéis, cabos e especialistas vindos da metrópole, que os treinaram e depois conduziram em operações, nomeadamente no seu chão.
Um Grupo de Combate da CCAÇ 13. © Carlos Fortunao (2005).
Em narrativas curtas, contam-se algumas das acções que ocorreram neste período, tentando dar uma imagem do que era a guerra na Guiné, não esquecendo o contributo dos soldados africanos nem o seu abandono.
A CCAÇ 13 era uma companhia de intervenção e, como tal, passou o seu tempo saltitando de um lado para o outro em operações. O site descreve alguns dos eventos, que se passaram quando da sua passagem por Bissau, Bolama, Bissorã, Binar, Biambi, e Encheia, que incluíram uma visita ao pelo mítico Morés, e a deslocação a Bissau para participarem na famosa Operação Mar Verde.
Sempre documentado com fotos e curiosidades, umas vezes com humor, outras com mágoa, é um site que procura dar o seu pequeno contributo, para a constituição da nossa memória colectiva, e para que a verdade seja consolidada. Este site é actualizado anualmente.
Lista dos títulos dos artigos do site:
Bissau
Um mundo diferente
A boneca de osso
A invasão da Guiné Conackry (Operação Mar Verde)
A 13ª Companhia de Comandos
Bolama
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O desembarque do dia "D"
Os felupes e os balantas
Realizando o impossível
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O morto mata 4
Visita ao QG do PAIGC no Morés
Curiosidades sobre algum material capturado ao PAIGC
O ataques da bicharada
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Binar
O quartel de Binar
Ataque a Binar
Os construtores de quartéis
Cubano capturado nos arredores de Binar
A morte vem de avião
Os periquitos
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A localidade de Encheia
O falso abrigo
Biambi
O quartel de Biambi
A "conquista" do Queré
A velhinha e o galo
Ataque ao Biambi
Os comandos do PAIGC
A morte dos 3 majores
Carlos Fortunato
2. Comentário de L.G., enviado à malta da tertúlia:
Amigos & Camaradas de Tertúlia da Guiné:
O Carlos Fortunato, que pertence à nossa tertúlia, acabou de rever e actualizar a sua página, que é uma das poucas que existem na Net só sobre uma unidade de intervenção que tenha operada no teatro de operações da Guiné, durante a guerra colonial (1963/74). A página abre com uma conhecida música dos Beach Boys (lembram-se deles ?)... I get around é uma forma bastante feliz de descrever as andanças ou a errância da CCAÇ 13.
As estórias do Carlos estão bem contadas, são simples, coloquiais… Até acho que dariam para desenvolver um pouco mais… Faltam talvez links para fazer melhor a articulação entre as diversas partes do texto… Mas isto são pequenos aspectos a rever na próxima actualização. Outra coisa: arranja um mapa da região, para o visitante se localizar melhor…
Também já disse ao Carlos que gostei muito de ler as suas observações sobre os balantas e os felupes… Infelizmente, eu não tive o privilégio de conviver, como ele, com estes dois grupos étnicos. Tínhamos (falo do Sector L1 e da CCAÇ 12) população balanta, mas era-nos hostil… E o único felupe que eu conheci, era pouco recomendável…
Amigos & camaradas, façam o favor de visitar a página do Carlos, de a divulgar e dar o respectivo feedback ao webmaster. É muito importante, como incentivo e reforço da motivação do autor. Ele tinha-nos prometido mandar um resumo para o blogue e aqui está. Também está a elaborar uam página sobre Bissorã, onde a CCAÇ 13 passou mais tempo. Mas, para já, os meus parabéns pelo esforço que ele fez, nesta tarefa comum de reconstruir o puzzle da guerra da Guiné.
O Carlos joga em casa: é especialista em Sistemas de Informação, Sistemas de Gestão da Qualidade e Web Design... Se precisarem dos serviços dele, de certo ele vos dará uma mãozinha... Não se esqueçam que estamos todos a aprender coisas novas, a falar uma nova linguagem, a comunicar de uma maneira que era impensável no tempo que andávamos por Bissorã, Geba, Cantacunda, Barro, Cansissé, Bambadinca, Xitole ou Xime.
3. Vê-se que o Carlos Fortunato continua a ter uma grande admiração tanto pelos balantas como pelos felupes. Diz ele há dias numa das últimas mensagens:
"Os felupes devem ser os mais extraordinários guerreiros da Guiné, o alferes que me deu o curso de minas e armadilhas esteve com eles no mato, e contava que eram uma coisa incrível. O felupe que ia sempre à frente chamava-se Cowboy, e por vezes parava e dizia está ali uma mina, ali outra e ali outra. E estavam mesmo!...
"Fizemos uma pequena competição de luta corpo a corpo entre balantas e felupes, e os balantas não ganharam uma luta ... ".
Guiné 63/74 - CLXXIV: CCAÇ 13 - Os Leões Negros, página de Carlos Fortunato
1. Texto do Carlos Fortunato:
Como ex-combatente da Guiné (ex-furriel miliciano, CCAÇ 13, Bolama, Bissorã, Binar, Encheia, Biambi, 1969/71), venho deixar aqui uma breve nota sobre o site que elaborei sobre a Guiné.
O site CCAÇ 13 -Os Leões Negros: Memórias da Guerra na Guiné (1969/71) é um repositório de alguns dos momentos vividos pela CCAÇ 13, companhia constituída por balantas, enquadrados por oficiais, furriéis, cabos e especialistas vindos da metrópole, que os treinaram e depois conduziram em operações, nomeadamente no seu chão.
Um Grupo de Combate da CCAÇ 13. © Carlos Fortunao (2005).
Em narrativas curtas, contam-se algumas das acções que ocorreram neste período, tentando dar uma imagem do que era a guerra na Guiné, não esquecendo o contributo dos soldados africanos nem o seu abandono.
A CCAÇ 13 era uma companhia de intervenção e, como tal, passou o seu tempo saltitando de um lado para o outro em operações. O site descreve alguns dos eventos, que se passaram quando da sua passagem por Bissau, Bolama, Bissorã, Binar, Biambi, e Encheia, que incluíram uma visita ao pelo mítico Morés, e a deslocação a Bissau para participarem na famosa Operação Mar Verde.
Sempre documentado com fotos e curiosidades, umas vezes com humor, outras com mágoa, é um site que procura dar o seu pequeno contributo, para a constituição da nossa memória colectiva, e para que a verdade seja consolidada. Este site é actualizado anualmente.
Lista dos títulos dos artigos do site:
Bissau
Um mundo diferente
A boneca de osso
A invasão da Guiné Conackry (Operação Mar Verde)
A 13ª Companhia de Comandos
Bolama
A ilha de Bolama
O desembarque do dia "D"
Os felupes e os balantas
Realizando o impossível
Quem é melhor ? Manjaco, manjaco, manjaco
Inimigo à vista
Bissorã
A vila de Bissorã
A defesa de Bissorã
A equipa maravilha
O morto mata 4
Visita ao QG do PAIGC no Morés
Curiosidades sobre algum material capturado ao PAIGC
O ataques da bicharada
Presentes de guerra
Fotografando o inimigo
Binar
O quartel de Binar
Ataque a Binar
Os construtores de quartéis
Cubano capturado nos arredores de Binar
A morte vem de avião
Os periquitos
Encheia
A localidade de Encheia
O falso abrigo
Biambi
O quartel de Biambi
A "conquista" do Queré
A velhinha e o galo
Ataque ao Biambi
Os comandos do PAIGC
A morte dos 3 majores
Carlos Fortunato
2. Comentário de L.G., enviado à malta da tertúlia:
Amigos & Camaradas de Tertúlia da Guiné:
O Carlos Fortunato, que pertence à nossa tertúlia, acabou de rever e actualizar a sua página, que é uma das poucas que existem na Net só sobre uma unidade de intervenção que tenha operada no teatro de operações da Guiné, durante a guerra colonial (1963/74). A página abre com uma conhecida música dos Beach Boys (lembram-se deles ?)... I get around é uma forma bastante feliz de descrever as andanças ou a errância da CCAÇ 13.
As estórias do Carlos estão bem contadas, são simples, coloquiais… Até acho que dariam para desenvolver um pouco mais… Faltam talvez links para fazer melhor a articulação entre as diversas partes do texto… Mas isto são pequenos aspectos a rever na próxima actualização. Outra coisa: arranja um mapa da região, para o visitante se localizar melhor…
Também já disse ao Carlos que gostei muito de ler as suas observações sobre os balantas e os felupes… Infelizmente, eu não tive o privilégio de conviver, como ele, com estes dois grupos étnicos. Tínhamos (falo do Sector L1 e da CCAÇ 12) população balanta, mas era-nos hostil… E o único felupe que eu conheci, era pouco recomendável…
Amigos & camaradas, façam o favor de visitar a página do Carlos, de a divulgar e dar o respectivo feedback ao webmaster. É muito importante, como incentivo e reforço da motivação do autor. Ele tinha-nos prometido mandar um resumo para o blogue e aqui está. Também está a elaborar uam página sobre Bissorã, onde a CCAÇ 13 passou mais tempo. Mas, para já, os meus parabéns pelo esforço que ele fez, nesta tarefa comum de reconstruir o puzzle da guerra da Guiné.
O Carlos joga em casa: é especialista em Sistemas de Informação, Sistemas de Gestão da Qualidade e Web Design... Se precisarem dos serviços dele, de certo ele vos dará uma mãozinha... Não se esqueçam que estamos todos a aprender coisas novas, a falar uma nova linguagem, a comunicar de uma maneira que era impensável no tempo que andávamos por Bissorã, Geba, Cantacunda, Barro, Cansissé, Bambadinca, Xitole ou Xime.
3. Vê-se que o Carlos Fortunato continua a ter uma grande admiração tanto pelos balantas como pelos felupes. Diz ele há dias numa das últimas mensagens:
"Os felupes devem ser os mais extraordinários guerreiros da Guiné, o alferes que me deu o curso de minas e armadilhas esteve com eles no mato, e contava que eram uma coisa incrível. O felupe que ia sempre à frente chamava-se Cowboy, e por vezes parava e dizia está ali uma mina, ali outra e ali outra. E estavam mesmo!...
"Fizemos uma pequena competição de luta corpo a corpo entre balantas e felupes, e os balantas não ganharam uma luta ... ".
Como ex-combatente da Guiné (ex-furriel miliciano, CCAÇ 13, Bolama, Bissorã, Binar, Encheia, Biambi, 1969/71), venho deixar aqui uma breve nota sobre o site que elaborei sobre a Guiné.
O site CCAÇ 13 -Os Leões Negros: Memórias da Guerra na Guiné (1969/71) é um repositório de alguns dos momentos vividos pela CCAÇ 13, companhia constituída por balantas, enquadrados por oficiais, furriéis, cabos e especialistas vindos da metrópole, que os treinaram e depois conduziram em operações, nomeadamente no seu chão.
Um Grupo de Combate da CCAÇ 13. © Carlos Fortunao (2005).
Em narrativas curtas, contam-se algumas das acções que ocorreram neste período, tentando dar uma imagem do que era a guerra na Guiné, não esquecendo o contributo dos soldados africanos nem o seu abandono.
A CCAÇ 13 era uma companhia de intervenção e, como tal, passou o seu tempo saltitando de um lado para o outro em operações. O site descreve alguns dos eventos, que se passaram quando da sua passagem por Bissau, Bolama, Bissorã, Binar, Biambi, e Encheia, que incluíram uma visita ao pelo mítico Morés, e a deslocação a Bissau para participarem na famosa Operação Mar Verde.
Sempre documentado com fotos e curiosidades, umas vezes com humor, outras com mágoa, é um site que procura dar o seu pequeno contributo, para a constituição da nossa memória colectiva, e para que a verdade seja consolidada. Este site é actualizado anualmente.
Lista dos títulos dos artigos do site:
Bissau
Um mundo diferente
A boneca de osso
A invasão da Guiné Conackry (Operação Mar Verde)
A 13ª Companhia de Comandos
Bolama
A ilha de Bolama
O desembarque do dia "D"
Os felupes e os balantas
Realizando o impossível
Quem é melhor ? Manjaco, manjaco, manjaco
Inimigo à vista
Bissorã
A vila de Bissorã
A defesa de Bissorã
A equipa maravilha
O morto mata 4
Visita ao QG do PAIGC no Morés
Curiosidades sobre algum material capturado ao PAIGC
O ataques da bicharada
Presentes de guerra
Fotografando o inimigo
Binar
O quartel de Binar
Ataque a Binar
Os construtores de quartéis
Cubano capturado nos arredores de Binar
A morte vem de avião
Os periquitos
Encheia
A localidade de Encheia
O falso abrigo
Biambi
O quartel de Biambi
A "conquista" do Queré
A velhinha e o galo
Ataque ao Biambi
Os comandos do PAIGC
A morte dos 3 majores
Carlos Fortunato
2. Comentário de L.G., enviado à malta da tertúlia:
Amigos & Camaradas de Tertúlia da Guiné:
O Carlos Fortunato, que pertence à nossa tertúlia, acabou de rever e actualizar a sua página, que é uma das poucas que existem na Net só sobre uma unidade de intervenção que tenha operada no teatro de operações da Guiné, durante a guerra colonial (1963/74). A página abre com uma conhecida música dos Beach Boys (lembram-se deles ?)... I get around é uma forma bastante feliz de descrever as andanças ou a errância da CCAÇ 13.
As estórias do Carlos estão bem contadas, são simples, coloquiais… Até acho que dariam para desenvolver um pouco mais… Faltam talvez links para fazer melhor a articulação entre as diversas partes do texto… Mas isto são pequenos aspectos a rever na próxima actualização. Outra coisa: arranja um mapa da região, para o visitante se localizar melhor…
Também já disse ao Carlos que gostei muito de ler as suas observações sobre os balantas e os felupes… Infelizmente, eu não tive o privilégio de conviver, como ele, com estes dois grupos étnicos. Tínhamos (falo do Sector L1 e da CCAÇ 12) população balanta, mas era-nos hostil… E o único felupe que eu conheci, era pouco recomendável…
Amigos & camaradas, façam o favor de visitar a página do Carlos, de a divulgar e dar o respectivo feedback ao webmaster. É muito importante, como incentivo e reforço da motivação do autor. Ele tinha-nos prometido mandar um resumo para o blogue e aqui está. Também está a elaborar uam página sobre Bissorã, onde a CCAÇ 13 passou mais tempo. Mas, para já, os meus parabéns pelo esforço que ele fez, nesta tarefa comum de reconstruir o puzzle da guerra da Guiné.
O Carlos joga em casa: é especialista em Sistemas de Informação, Sistemas de Gestão da Qualidade e Web Design... Se precisarem dos serviços dele, de certo ele vos dará uma mãozinha... Não se esqueçam que estamos todos a aprender coisas novas, a falar uma nova linguagem, a comunicar de uma maneira que era impensável no tempo que andávamos por Bissorã, Geba, Cantacunda, Barro, Cansissé, Bambadinca, Xitole ou Xime.
3. Vê-se que o Carlos Fortunato continua a ter uma grande admiração tanto pelos balantas como pelos felupes. Diz ele há dias numa das últimas mensagens:
"Os felupes devem ser os mais extraordinários guerreiros da Guiné, o alferes que me deu o curso de minas e armadilhas esteve com eles no mato, e contava que eram uma coisa incrível. O felupe que ia sempre à frente chamava-se Cowboy, e por vezes parava e dizia está ali uma mina, ali outra e ali outra. E estavam mesmo!...
"Fizemos uma pequena competição de luta corpo a corpo entre balantas e felupes, e os balantas não ganharam uma luta ... ".
Guiné 63/74 - CLXXIII: Informação & Propaganda: os 'grandes' repórteres de guerra
1. Selecção e notas de A. Marques Lopes, membro da tertúlia dos ex-combatentes da Guiné:
A propaganda a favor da guerra colonial foi intensa da parte do regime, que tinha em Amândio César um dos seus corifeus. Em 1965, a Editora Pax, de Braga, publicou o seu livro Guiné 1965: contra-ataque.
O texto seguinte vem nas badanas da capa, juntamente com a fotografia do autor (grande repórter de guerra...), e diz bem do esforço que era feito em meios para a propaganda e defesa da guerra:
«Em Março e Abril de 1935, Amândio César visitou a Guiné a fim de efectuar umna reportagem sobre aquela Província para a Emissora Nacional. O convite fora-lhe dirigido pelo Ministério da Defesa Nacional, através do Serviço de Informação das Forças Armadas.
"Essa reportagem prolongou-se por espaço de tempo suficiente para que ele pudesse ter e pudesse dar uma ideia exacta da luta que naquela parcela de território nacional se processa contra a guerra subversiva. Depois da reportagem de Angola em 1961, era a segunda vez que Amândio César voltava a um seu tema favorito: a luta que o Exército e o Povo de Portugal sustentam contra os elementos da guerra revolucionária.
Amândio César, "grande repórter
de guerra" da Emissora Nacional.
Na Guiné, em 1965.
"Durante dias e dias as crónicas foram ouvidas nos microfones da Emissora Nacional. Posteriormente, essas páginas de reportagem foram publicadas, no Diário do Norte. No entanto, quisemos arquivar na «Colecção Metrópole e Ultramar» este depoimento que dá a exacta medida da grandiosidade da luta em que estamos empenhados. Por outro lado, com a objectividade que lhe é peculiar, Amândio César deu-nos uma panorâmica da Guiné de nossos dias que abrande toda a sua vida e a dos povos, que a constituem.
Porém, mais do que as nossas palavras fala o oficio que o Ministro da Defesa enviou ao Presidente da Emissora Nacional e que, aqui, nos permitimos transcrever:
Título: Guiné 1965: contra-ataque
Autor: Amândio César.
Editora e local: Pax, Braga
Ano: 1965
Capa feita sobre uma fotografia do Coronel Pinto Soares.
(1). A equipa da Emissora Nacional constituída pelso Exmos. Srs. Dr. Amândio César, Fernando Garcia e Bento Feliz, realizou na Guiné num prazo de tempo muito reduzido, um trabalho de valor no qual evidenciou elevado espírito de missão.
(2). Assim, em 29 dias, a equipa visitou e realizou reportagens em Bissau (Liceu, Escola Técnica Mocidade Portuguesa, Escola Teixeira Pinto, Escola das Missões, Pigiguiti, Ponte Cais, Museu e Biblioteca, Jardim Escola, Missão da Doença do Sono, Aeródromos Militar e Civil, Pára-quedistas), Safim, Nhacra, Mansoa, Mansabá, Prabis, Asilo de Bor, Leprosaria de Cumura, Bijagós, Bubaque, Nova Lamego, Buruntuma, fronteira, Canquelifá, Bafatá, Bambadinca, Amedalai, Bolama, Nova Ofir, Cachil (Ilha de Como), Cacine, Caneca, fronteira, Tanene, Guileje, Aldeia Formosa, Teixeira Pinto, Susana, Bula, Binar, Olossato, Farim, Binta, Guidage, Pessubé.
(3). Efectuou simultaneamente numerosas entrevistas e, no conjunto, colheu grande quantidade de material com muito interesse para o público.
(4). Colaborou ainda e a título gracioso, com um operador militar, na realização de um filme documentário.
(5). A equipa deixou na Província a melhor das impressões e, no relatório do Gabinete Militar do Comando-Chefe, agora recebido, pode ler-se: «O cumprimento do programa elaborado foi extenuante e a equipa ressentiu-se deste facto — aliado ao clima na sua pior estacão — o que a fez emagrecer e até dormirem nos aviões. Porém, conseguiu-se percorrer praticamente toda a Província».
(6). É muito grato dar a conhecer a V. Ex.ª estes factos que são testemunho fia muita dedicação dos funcionários da Emissora Nacional e às Forças Armadas.
Sua Ex.ª o Ministro encarrega-me ainda de agradecer a V. Ex.ª, Senhor Presidente, em nome das Forças Armadas da Guiné e no seu próprio, o esplêndido trabalho efectuado, bem como o esforço generosamente dispendido pelos componentes da dedicada equipa de reportagem da Emissora Nacional.
3. A. Marques Lopes: Dou-vos a seguir alguns excertos que dizem bem da preocupação em minimizar a guerrilha e o problema por ela levantado bem como da admiração pelos ideais fascistas:
Esta sequência de reportagem permanece no Óio, ou melhor, continua em Mansabá. O estar-se numa terra, muito ou pouco tempo, não é razão para que se saia dela tudo imediatamente. O meu caso é esse: a região do Óio é vasta e lá decorreram alguns motivos fundamentais desta guerra que os nossos soldados sustentam na Guiné. Ora são esses soldados que me arrastam para uma sala onde está um trofeu de guerra: a farda do célebre facínora Inocêncio Ken. Ele era um dos elementos mais notórios do terrorismo. Parecia invulnerável às balas dos combates que sustentou com a nossa tropa. No final acabou por ceder, acabou por cair - coisa que sucede a todos os facínoras que se metem numa guerra ilegal, feita contra a natureza das coisas e dos homens.
Diante de mim, pendurado numa parede branca, alva de pureza, está a nódoa do capacete de Inocêncio Ken, feito de pele de macaco ... A regressão é notória e nem o feiticismo zoológico o salvou de prestar contas aos soldados portugueses: brancos ou pretos, porque todos representam Portugal.
Ao lado deste troféu de guerra encontra-se a camisola do facínora com os mezinhas que o deviam salvaguardar do ajuste de contas que estava à vista. Com efeito, dez quadradinhos, cosidos ao tecido eram outros tantos motivos de tranquilidade para quem fazia uma guerra revolucionária, para quem praticava, impunemente, uma guerra de terrorismo.
Mas o seu dia último chegou. O último dia chega sempre para os facínoras ... Bem sei que os feiticeiros podem dizer que os soldados de Portugal deitam água quente pelo cano e não matam ninguém ... Nessa mentira embarcaram os bacongos de Angola e a resposta viu-se. Com mentira idêntica — desta vez com mezinhas locais — levaram estes povos à indisciplina.
E o resultado está à vista: Amílcar Cabral a esmolar auxílio pelos centros de subversão, a ver se alguém deita uma esmola para uma guerra de que ele há-de ser um dia vítima. Até porque não é, verdadeiramente, guineense e, para mais está casado com uma mulher branca, da região transmontana. Nem sequer é africana a mulher de Amílcar Cabral! E isso é um grave impedimento para se ser alguma coisa de provável nesta confusão demoníaco-marxista ...
Mas voltemos ao facínora que é o camarada de Amílcar Cabra — engenheiro-agrónomo, com o curso tirado em Lisboa, capital de uma Pátria onde lançou as sementes mais sangrentas do terror. Efectivamente, a camisola de Inocêncio Ken, companheiro de Amílcar Cabral e de sua esposa branca, lá estava pendurada, depois de tirada ao corpo do facínora morto. A coisa não meteu agência funerária e os mezinhas não serviram para nada.
Os dez quadradinhos, os dez quadradinhos pretos não salvaram o terrorista do ajuste de contas. Repouse em paz, se é que um assassino pode repousar em paz!
(...) Chegou o momento de a autoridade administrativa não nos deixar partir sem molharmos a palavra, ao bom jeito português. E pronto: caímos em casa do Administrador Pimentel e fizemos gala ao jantar volante que nos serviu, com requintes que não podemos esquecer. Sim: ficaríamos mais tempo se pudéssemos. Mas tínhamos de cobrir a distância de Mansoa a Bissau no mesmo automóvel que nos trouxera, guiado pelo mesmo balanta que nos servira de condutor em toda a nossa estada na Guiné.
Noite alta partimos e, na estrada asfaltada, fomos revendo toda esta jornada ao Óio, centro efervescente de terrorismo, agora em franca pacificação. As imagens não se esbatem na memória. Lá fizemos amigos e conhecemos novas gentes e novos soldados. Lá confirmámos uma ideia que dia a dia se tornaria mais nítida: a sorte da guerra virava-se para o nosso lado. Nós venceríamos esta guerra.
(...) Depois aparece no nosso convívio um recuperado da luta contra nós. Arranjou também um patrono, como cartão de apresentação: nada menos do que Viriato! E, quando o capitão lhe perguntou diante de nós quem era Viriato, com um sorriso a sublinhar a dignidade da resposta, ele definiu desta maneira o pastor dos Hermínios:
—Viriato foi homem grande, português, que deu manga de porrada em pessoal bandido! Assim disse. E acreditava no que dizia. A imaginação dos povos submetidos à disciplina do Islão é maravilhosa. E não direi aqui a resposta de Viriato do Gabu, quando lhe perguntaram quem era o «Chefe da Tabanca Grande de Lisboa». Claro que esse Chefe é o Doutor Oliveira Salazar. Mas, pela resposta, para Viriato de Nova Lamego o Presidente do Conselho é uma espécie de super-boxeur, que bate que se farta no pessoal bandido! ...
Legenda original: "Monumento que o Duce, Benito Mussolini, amdou erguer na antiga capital da Guiné aos "caduti di Bolama". Dele escreveu Dons Rachelle Mussolini ao Autor desta reportagem: 'Ammiro veramente i portighesi che non l' hanno distrutto comme ésuscesso cuá in Itália' [Admiro verdadeiramente os portugueses que o não destruiram como aconteceu cá em Itália"
(...) Finalmente: Bolama que tem em si um dos raros monumentos ao esforço fascista de paz, quando Mussolini e Ítalo Balbo tentaram o cruzeiro aéreo para unir Roma ao Brasil. Com efeito, dois dos aparelhos despenharam-se em Bolama e a missão esteve em riscos de se malograr. Tal não aconteceu porque a tenacidade de Ítalo Balbo a isso se opoz. Resta desse desastre o belo monumento aos «Caduti di Bolama» no qual se reproduz um aspecto dos destroços dos aviões — duas asas, uma das quais ainda erguida aos céus e a outra quebrada e caída em terra.
O monumento foi feito por italianos e com pedra italiana, vinda de Itália, para esse fim. Mandou-o erguer Mussolini e na sua base lá se encontra a coroa de bronze por ele oferecida, com estes dizeres — Mussolini ai cadutti di Bolama. Ao lado, a águia da fábrica de hidro-aviões Savoia, uma coroa com fáscios da Isotta-Fraschini e a coroa de louros da Fiat. É curioso notar que este será um dos raros monumentos do fascismo, no mundo, que no fim de 1945 não foi apeado. Virado para diante e no alto, o distintivo dos fáscios olha ainda com alienaria o futuro, no seu feixe de varas e no seu machado, a lembrar a grandeza da Roma do passado.
(...) Falámos com alguns dos que regressaram e eles ficavam contentes de contactarem connosco: um disse-me, com orgulho, que tinha fugido e que a população portuguesa tinha batido os bandidos. É curioso que, com orgulho, pôde também dizer-me que o terrorista português era o melhor e o mais valente; o outro, da Guiné ou do Senegal não valia nada, mesmo nada. Sorri para dentro: a nossa presença é tão profunda que até tínhamos a primazia no campo terrorista: eram eles os melhores e os mais valentes! E devo acrescentar que eles usam o português como língua e não o crioulo ou a língua da sua raça. É um motivo de orgulho e de superioridade. As próprias instruções e os próprios livros de aprendisato são impressos em português. Que espantoso acto de contrição tudo isto significa para o sociólogo que quiser ver e nos quiser julgar!
Fonte: Extractos de: César, A. (1965): Guiné 1965: contra-ataque. Braga: Pax.
A propaganda a favor da guerra colonial foi intensa da parte do regime, que tinha em Amândio César um dos seus corifeus. Em 1965, a Editora Pax, de Braga, publicou o seu livro Guiné 1965: contra-ataque.
O texto seguinte vem nas badanas da capa, juntamente com a fotografia do autor (grande repórter de guerra...), e diz bem do esforço que era feito em meios para a propaganda e defesa da guerra:
«Em Março e Abril de 1935, Amândio César visitou a Guiné a fim de efectuar umna reportagem sobre aquela Província para a Emissora Nacional. O convite fora-lhe dirigido pelo Ministério da Defesa Nacional, através do Serviço de Informação das Forças Armadas.
"Essa reportagem prolongou-se por espaço de tempo suficiente para que ele pudesse ter e pudesse dar uma ideia exacta da luta que naquela parcela de território nacional se processa contra a guerra subversiva. Depois da reportagem de Angola em 1961, era a segunda vez que Amândio César voltava a um seu tema favorito: a luta que o Exército e o Povo de Portugal sustentam contra os elementos da guerra revolucionária.
Amândio César, "grande repórter
de guerra" da Emissora Nacional.
Na Guiné, em 1965.
"Durante dias e dias as crónicas foram ouvidas nos microfones da Emissora Nacional. Posteriormente, essas páginas de reportagem foram publicadas, no Diário do Norte. No entanto, quisemos arquivar na «Colecção Metrópole e Ultramar» este depoimento que dá a exacta medida da grandiosidade da luta em que estamos empenhados. Por outro lado, com a objectividade que lhe é peculiar, Amândio César deu-nos uma panorâmica da Guiné de nossos dias que abrande toda a sua vida e a dos povos, que a constituem.
Porém, mais do que as nossas palavras fala o oficio que o Ministro da Defesa enviou ao Presidente da Emissora Nacional e que, aqui, nos permitimos transcrever:
Título: Guiné 1965: contra-ataque
Autor: Amândio César.
Editora e local: Pax, Braga
Ano: 1965
Capa feita sobre uma fotografia do Coronel Pinto Soares.
(1). A equipa da Emissora Nacional constituída pelso Exmos. Srs. Dr. Amândio César, Fernando Garcia e Bento Feliz, realizou na Guiné num prazo de tempo muito reduzido, um trabalho de valor no qual evidenciou elevado espírito de missão.
(2). Assim, em 29 dias, a equipa visitou e realizou reportagens em Bissau (Liceu, Escola Técnica Mocidade Portuguesa, Escola Teixeira Pinto, Escola das Missões, Pigiguiti, Ponte Cais, Museu e Biblioteca, Jardim Escola, Missão da Doença do Sono, Aeródromos Militar e Civil, Pára-quedistas), Safim, Nhacra, Mansoa, Mansabá, Prabis, Asilo de Bor, Leprosaria de Cumura, Bijagós, Bubaque, Nova Lamego, Buruntuma, fronteira, Canquelifá, Bafatá, Bambadinca, Amedalai, Bolama, Nova Ofir, Cachil (Ilha de Como), Cacine, Caneca, fronteira, Tanene, Guileje, Aldeia Formosa, Teixeira Pinto, Susana, Bula, Binar, Olossato, Farim, Binta, Guidage, Pessubé.
(3). Efectuou simultaneamente numerosas entrevistas e, no conjunto, colheu grande quantidade de material com muito interesse para o público.
(4). Colaborou ainda e a título gracioso, com um operador militar, na realização de um filme documentário.
(5). A equipa deixou na Província a melhor das impressões e, no relatório do Gabinete Militar do Comando-Chefe, agora recebido, pode ler-se: «O cumprimento do programa elaborado foi extenuante e a equipa ressentiu-se deste facto — aliado ao clima na sua pior estacão — o que a fez emagrecer e até dormirem nos aviões. Porém, conseguiu-se percorrer praticamente toda a Província».
(6). É muito grato dar a conhecer a V. Ex.ª estes factos que são testemunho fia muita dedicação dos funcionários da Emissora Nacional e às Forças Armadas.
Sua Ex.ª o Ministro encarrega-me ainda de agradecer a V. Ex.ª, Senhor Presidente, em nome das Forças Armadas da Guiné e no seu próprio, o esplêndido trabalho efectuado, bem como o esforço generosamente dispendido pelos componentes da dedicada equipa de reportagem da Emissora Nacional.
3. A. Marques Lopes: Dou-vos a seguir alguns excertos que dizem bem da preocupação em minimizar a guerrilha e o problema por ela levantado bem como da admiração pelos ideais fascistas:
Esta sequência de reportagem permanece no Óio, ou melhor, continua em Mansabá. O estar-se numa terra, muito ou pouco tempo, não é razão para que se saia dela tudo imediatamente. O meu caso é esse: a região do Óio é vasta e lá decorreram alguns motivos fundamentais desta guerra que os nossos soldados sustentam na Guiné. Ora são esses soldados que me arrastam para uma sala onde está um trofeu de guerra: a farda do célebre facínora Inocêncio Ken. Ele era um dos elementos mais notórios do terrorismo. Parecia invulnerável às balas dos combates que sustentou com a nossa tropa. No final acabou por ceder, acabou por cair - coisa que sucede a todos os facínoras que se metem numa guerra ilegal, feita contra a natureza das coisas e dos homens.
Diante de mim, pendurado numa parede branca, alva de pureza, está a nódoa do capacete de Inocêncio Ken, feito de pele de macaco ... A regressão é notória e nem o feiticismo zoológico o salvou de prestar contas aos soldados portugueses: brancos ou pretos, porque todos representam Portugal.
Ao lado deste troféu de guerra encontra-se a camisola do facínora com os mezinhas que o deviam salvaguardar do ajuste de contas que estava à vista. Com efeito, dez quadradinhos, cosidos ao tecido eram outros tantos motivos de tranquilidade para quem fazia uma guerra revolucionária, para quem praticava, impunemente, uma guerra de terrorismo.
Mas o seu dia último chegou. O último dia chega sempre para os facínoras ... Bem sei que os feiticeiros podem dizer que os soldados de Portugal deitam água quente pelo cano e não matam ninguém ... Nessa mentira embarcaram os bacongos de Angola e a resposta viu-se. Com mentira idêntica — desta vez com mezinhas locais — levaram estes povos à indisciplina.
E o resultado está à vista: Amílcar Cabral a esmolar auxílio pelos centros de subversão, a ver se alguém deita uma esmola para uma guerra de que ele há-de ser um dia vítima. Até porque não é, verdadeiramente, guineense e, para mais está casado com uma mulher branca, da região transmontana. Nem sequer é africana a mulher de Amílcar Cabral! E isso é um grave impedimento para se ser alguma coisa de provável nesta confusão demoníaco-marxista ...
Mas voltemos ao facínora que é o camarada de Amílcar Cabra — engenheiro-agrónomo, com o curso tirado em Lisboa, capital de uma Pátria onde lançou as sementes mais sangrentas do terror. Efectivamente, a camisola de Inocêncio Ken, companheiro de Amílcar Cabral e de sua esposa branca, lá estava pendurada, depois de tirada ao corpo do facínora morto. A coisa não meteu agência funerária e os mezinhas não serviram para nada.
Os dez quadradinhos, os dez quadradinhos pretos não salvaram o terrorista do ajuste de contas. Repouse em paz, se é que um assassino pode repousar em paz!
(...) Chegou o momento de a autoridade administrativa não nos deixar partir sem molharmos a palavra, ao bom jeito português. E pronto: caímos em casa do Administrador Pimentel e fizemos gala ao jantar volante que nos serviu, com requintes que não podemos esquecer. Sim: ficaríamos mais tempo se pudéssemos. Mas tínhamos de cobrir a distância de Mansoa a Bissau no mesmo automóvel que nos trouxera, guiado pelo mesmo balanta que nos servira de condutor em toda a nossa estada na Guiné.
Noite alta partimos e, na estrada asfaltada, fomos revendo toda esta jornada ao Óio, centro efervescente de terrorismo, agora em franca pacificação. As imagens não se esbatem na memória. Lá fizemos amigos e conhecemos novas gentes e novos soldados. Lá confirmámos uma ideia que dia a dia se tornaria mais nítida: a sorte da guerra virava-se para o nosso lado. Nós venceríamos esta guerra.
(...) Depois aparece no nosso convívio um recuperado da luta contra nós. Arranjou também um patrono, como cartão de apresentação: nada menos do que Viriato! E, quando o capitão lhe perguntou diante de nós quem era Viriato, com um sorriso a sublinhar a dignidade da resposta, ele definiu desta maneira o pastor dos Hermínios:
—Viriato foi homem grande, português, que deu manga de porrada em pessoal bandido! Assim disse. E acreditava no que dizia. A imaginação dos povos submetidos à disciplina do Islão é maravilhosa. E não direi aqui a resposta de Viriato do Gabu, quando lhe perguntaram quem era o «Chefe da Tabanca Grande de Lisboa». Claro que esse Chefe é o Doutor Oliveira Salazar. Mas, pela resposta, para Viriato de Nova Lamego o Presidente do Conselho é uma espécie de super-boxeur, que bate que se farta no pessoal bandido! ...
Legenda original: "Monumento que o Duce, Benito Mussolini, amdou erguer na antiga capital da Guiné aos "caduti di Bolama". Dele escreveu Dons Rachelle Mussolini ao Autor desta reportagem: 'Ammiro veramente i portighesi che non l' hanno distrutto comme ésuscesso cuá in Itália' [Admiro verdadeiramente os portugueses que o não destruiram como aconteceu cá em Itália"
(...) Finalmente: Bolama que tem em si um dos raros monumentos ao esforço fascista de paz, quando Mussolini e Ítalo Balbo tentaram o cruzeiro aéreo para unir Roma ao Brasil. Com efeito, dois dos aparelhos despenharam-se em Bolama e a missão esteve em riscos de se malograr. Tal não aconteceu porque a tenacidade de Ítalo Balbo a isso se opoz. Resta desse desastre o belo monumento aos «Caduti di Bolama» no qual se reproduz um aspecto dos destroços dos aviões — duas asas, uma das quais ainda erguida aos céus e a outra quebrada e caída em terra.
O monumento foi feito por italianos e com pedra italiana, vinda de Itália, para esse fim. Mandou-o erguer Mussolini e na sua base lá se encontra a coroa de bronze por ele oferecida, com estes dizeres — Mussolini ai cadutti di Bolama. Ao lado, a águia da fábrica de hidro-aviões Savoia, uma coroa com fáscios da Isotta-Fraschini e a coroa de louros da Fiat. É curioso notar que este será um dos raros monumentos do fascismo, no mundo, que no fim de 1945 não foi apeado. Virado para diante e no alto, o distintivo dos fáscios olha ainda com alienaria o futuro, no seu feixe de varas e no seu machado, a lembrar a grandeza da Roma do passado.
(...) Falámos com alguns dos que regressaram e eles ficavam contentes de contactarem connosco: um disse-me, com orgulho, que tinha fugido e que a população portuguesa tinha batido os bandidos. É curioso que, com orgulho, pôde também dizer-me que o terrorista português era o melhor e o mais valente; o outro, da Guiné ou do Senegal não valia nada, mesmo nada. Sorri para dentro: a nossa presença é tão profunda que até tínhamos a primazia no campo terrorista: eram eles os melhores e os mais valentes! E devo acrescentar que eles usam o português como língua e não o crioulo ou a língua da sua raça. É um motivo de orgulho e de superioridade. As próprias instruções e os próprios livros de aprendisato são impressos em português. Que espantoso acto de contrição tudo isto significa para o sociólogo que quiser ver e nos quiser julgar!
Fonte: Extractos de: César, A. (1965): Guiné 1965: contra-ataque. Braga: Pax.
Guiné 63/74 - CLXXIII: Informação & Propaganda: os 'grandes' repórteres de guerra
1. Selecção e notas de A. Marques Lopes, membro da tertúlia dos ex-combatentes da Guiné:
A propaganda a favor da guerra colonial foi intensa da parte do regime, que tinha em Amândio César um dos seus corifeus. Em 1965, a Editora Pax, de Braga, publicou o seu livro Guiné 1965: contra-ataque.
O texto seguinte vem nas badanas da capa, juntamente com a fotografia do autor (grande repórter de guerra...), e diz bem do esforço que era feito em meios para a propaganda e defesa da guerra:
«Em Março e Abril de 1935, Amândio César visitou a Guiné a fim de efectuar umna reportagem sobre aquela Província para a Emissora Nacional. O convite fora-lhe dirigido pelo Ministério da Defesa Nacional, através do Serviço de Informação das Forças Armadas.
"Essa reportagem prolongou-se por espaço de tempo suficiente para que ele pudesse ter e pudesse dar uma ideia exacta da luta que naquela parcela de território nacional se processa contra a guerra subversiva. Depois da reportagem de Angola em 1961, era a segunda vez que Amândio César voltava a um seu tema favorito: a luta que o Exército e o Povo de Portugal sustentam contra os elementos da guerra revolucionária.
Amândio César, "grande repórter
de guerra" da Emissora Nacional.
Na Guiné, em 1965.
"Durante dias e dias as crónicas foram ouvidas nos microfones da Emissora Nacional. Posteriormente, essas páginas de reportagem foram publicadas, no Diário do Norte. No entanto, quisemos arquivar na «Colecção Metrópole e Ultramar» este depoimento que dá a exacta medida da grandiosidade da luta em que estamos empenhados. Por outro lado, com a objectividade que lhe é peculiar, Amândio César deu-nos uma panorâmica da Guiné de nossos dias que abrande toda a sua vida e a dos povos, que a constituem.
Porém, mais do que as nossas palavras fala o oficio que o Ministro da Defesa enviou ao Presidente da Emissora Nacional e que, aqui, nos permitimos transcrever:
Título: Guiné 1965: contra-ataque
Autor: Amândio César.
Editora e local: Pax, Braga
Ano: 1965
Capa feita sobre uma fotografia do Coronel Pinto Soares.
(1). A equipa da Emissora Nacional constituída pelso Exmos. Srs. Dr. Amândio César, Fernando Garcia e Bento Feliz, realizou na Guiné num prazo de tempo muito reduzido, um trabalho de valor no qual evidenciou elevado espírito de missão.
(2). Assim, em 29 dias, a equipa visitou e realizou reportagens em Bissau (Liceu, Escola Técnica Mocidade Portuguesa, Escola Teixeira Pinto, Escola das Missões, Pigiguiti, Ponte Cais, Museu e Biblioteca, Jardim Escola, Missão da Doença do Sono, Aeródromos Militar e Civil, Pára-quedistas), Safim, Nhacra, Mansoa, Mansabá, Prabis, Asilo de Bor, Leprosaria de Cumura, Bijagós, Bubaque, Nova Lamego, Buruntuma, fronteira, Canquelifá, Bafatá, Bambadinca, Amedalai, Bolama, Nova Ofir, Cachil (Ilha de Como), Cacine, Caneca, fronteira, Tanene, Guileje, Aldeia Formosa, Teixeira Pinto, Susana, Bula, Binar, Olossato, Farim, Binta, Guidage, Pessubé.
(3). Efectuou simultaneamente numerosas entrevistas e, no conjunto, colheu grande quantidade de material com muito interesse para o público.
(4). Colaborou ainda e a título gracioso, com um operador militar, na realização de um filme documentário.
(5). A equipa deixou na Província a melhor das impressões e, no relatório do Gabinete Militar do Comando-Chefe, agora recebido, pode ler-se: «O cumprimento do programa elaborado foi extenuante e a equipa ressentiu-se deste facto — aliado ao clima na sua pior estacão — o que a fez emagrecer e até dormirem nos aviões. Porém, conseguiu-se percorrer praticamente toda a Província».
(6). É muito grato dar a conhecer a V. Ex.ª estes factos que são testemunho fia muita dedicação dos funcionários da Emissora Nacional e às Forças Armadas.
Sua Ex.ª o Ministro encarrega-me ainda de agradecer a V. Ex.ª, Senhor Presidente, em nome das Forças Armadas da Guiné e no seu próprio, o esplêndido trabalho efectuado, bem como o esforço generosamente dispendido pelos componentes da dedicada equipa de reportagem da Emissora Nacional.
3. A. Marques Lopes: Dou-vos a seguir alguns excertos que dizem bem da preocupação em minimizar a guerrilha e o problema por ela levantado bem como da admiração pelos ideais fascistas:
Esta sequência de reportagem permanece no Óio, ou melhor, continua em Mansabá. O estar-se numa terra, muito ou pouco tempo, não é razão para que se saia dela tudo imediatamente. O meu caso é esse: a região do Óio é vasta e lá decorreram alguns motivos fundamentais desta guerra que os nossos soldados sustentam na Guiné. Ora são esses soldados que me arrastam para uma sala onde está um trofeu de guerra: a farda do célebre facínora Inocêncio Ken. Ele era um dos elementos mais notórios do terrorismo. Parecia invulnerável às balas dos combates que sustentou com a nossa tropa. No final acabou por ceder, acabou por cair - coisa que sucede a todos os facínoras que se metem numa guerra ilegal, feita contra a natureza das coisas e dos homens.
Diante de mim, pendurado numa parede branca, alva de pureza, está a nódoa do capacete de Inocêncio Ken, feito de pele de macaco ... A regressão é notória e nem o feiticismo zoológico o salvou de prestar contas aos soldados portugueses: brancos ou pretos, porque todos representam Portugal.
Ao lado deste troféu de guerra encontra-se a camisola do facínora com os mezinhas que o deviam salvaguardar do ajuste de contas que estava à vista. Com efeito, dez quadradinhos, cosidos ao tecido eram outros tantos motivos de tranquilidade para quem fazia uma guerra revolucionária, para quem praticava, impunemente, uma guerra de terrorismo.
Mas o seu dia último chegou. O último dia chega sempre para os facínoras ... Bem sei que os feiticeiros podem dizer que os soldados de Portugal deitam água quente pelo cano e não matam ninguém ... Nessa mentira embarcaram os bacongos de Angola e a resposta viu-se. Com mentira idêntica — desta vez com mezinhas locais — levaram estes povos à indisciplina.
E o resultado está à vista: Amílcar Cabral a esmolar auxílio pelos centros de subversão, a ver se alguém deita uma esmola para uma guerra de que ele há-de ser um dia vítima. Até porque não é, verdadeiramente, guineense e, para mais está casado com uma mulher branca, da região transmontana. Nem sequer é africana a mulher de Amílcar Cabral! E isso é um grave impedimento para se ser alguma coisa de provável nesta confusão demoníaco-marxista ...
Mas voltemos ao facínora que é o camarada de Amílcar Cabra — engenheiro-agrónomo, com o curso tirado em Lisboa, capital de uma Pátria onde lançou as sementes mais sangrentas do terror. Efectivamente, a camisola de Inocêncio Ken, companheiro de Amílcar Cabral e de sua esposa branca, lá estava pendurada, depois de tirada ao corpo do facínora morto. A coisa não meteu agência funerária e os mezinhas não serviram para nada.
Os dez quadradinhos, os dez quadradinhos pretos não salvaram o terrorista do ajuste de contas. Repouse em paz, se é que um assassino pode repousar em paz!
(...) Chegou o momento de a autoridade administrativa não nos deixar partir sem molharmos a palavra, ao bom jeito português. E pronto: caímos em casa do Administrador Pimentel e fizemos gala ao jantar volante que nos serviu, com requintes que não podemos esquecer. Sim: ficaríamos mais tempo se pudéssemos. Mas tínhamos de cobrir a distância de Mansoa a Bissau no mesmo automóvel que nos trouxera, guiado pelo mesmo balanta que nos servira de condutor em toda a nossa estada na Guiné.
Noite alta partimos e, na estrada asfaltada, fomos revendo toda esta jornada ao Óio, centro efervescente de terrorismo, agora em franca pacificação. As imagens não se esbatem na memória. Lá fizemos amigos e conhecemos novas gentes e novos soldados. Lá confirmámos uma ideia que dia a dia se tornaria mais nítida: a sorte da guerra virava-se para o nosso lado. Nós venceríamos esta guerra.
(...) Depois aparece no nosso convívio um recuperado da luta contra nós. Arranjou também um patrono, como cartão de apresentação: nada menos do que Viriato! E, quando o capitão lhe perguntou diante de nós quem era Viriato, com um sorriso a sublinhar a dignidade da resposta, ele definiu desta maneira o pastor dos Hermínios:
—Viriato foi homem grande, português, que deu manga de porrada em pessoal bandido! Assim disse. E acreditava no que dizia. A imaginação dos povos submetidos à disciplina do Islão é maravilhosa. E não direi aqui a resposta de Viriato do Gabu, quando lhe perguntaram quem era o «Chefe da Tabanca Grande de Lisboa». Claro que esse Chefe é o Doutor Oliveira Salazar. Mas, pela resposta, para Viriato de Nova Lamego o Presidente do Conselho é uma espécie de super-boxeur, que bate que se farta no pessoal bandido! ...
Legenda original: "Monumento que o Duce, Benito Mussolini, amdou erguer na antiga capital da Guiné aos "caduti di Bolama". Dele escreveu Dons Rachelle Mussolini ao Autor desta reportagem: 'Ammiro veramente i portighesi che non l' hanno distrutto comme ésuscesso cuá in Itália' [Admiro verdadeiramente os portugueses que o não destruiram como aconteceu cá em Itália"
(...) Finalmente: Bolama que tem em si um dos raros monumentos ao esforço fascista de paz, quando Mussolini e Ítalo Balbo tentaram o cruzeiro aéreo para unir Roma ao Brasil. Com efeito, dois dos aparelhos despenharam-se em Bolama e a missão esteve em riscos de se malograr. Tal não aconteceu porque a tenacidade de Ítalo Balbo a isso se opoz. Resta desse desastre o belo monumento aos «Caduti di Bolama» no qual se reproduz um aspecto dos destroços dos aviões — duas asas, uma das quais ainda erguida aos céus e a outra quebrada e caída em terra.
O monumento foi feito por italianos e com pedra italiana, vinda de Itália, para esse fim. Mandou-o erguer Mussolini e na sua base lá se encontra a coroa de bronze por ele oferecida, com estes dizeres — Mussolini ai cadutti di Bolama. Ao lado, a águia da fábrica de hidro-aviões Savoia, uma coroa com fáscios da Isotta-Fraschini e a coroa de louros da Fiat. É curioso notar que este será um dos raros monumentos do fascismo, no mundo, que no fim de 1945 não foi apeado. Virado para diante e no alto, o distintivo dos fáscios olha ainda com alienaria o futuro, no seu feixe de varas e no seu machado, a lembrar a grandeza da Roma do passado.
(...) Falámos com alguns dos que regressaram e eles ficavam contentes de contactarem connosco: um disse-me, com orgulho, que tinha fugido e que a população portuguesa tinha batido os bandidos. É curioso que, com orgulho, pôde também dizer-me que o terrorista português era o melhor e o mais valente; o outro, da Guiné ou do Senegal não valia nada, mesmo nada. Sorri para dentro: a nossa presença é tão profunda que até tínhamos a primazia no campo terrorista: eram eles os melhores e os mais valentes! E devo acrescentar que eles usam o português como língua e não o crioulo ou a língua da sua raça. É um motivo de orgulho e de superioridade. As próprias instruções e os próprios livros de aprendisato são impressos em português. Que espantoso acto de contrição tudo isto significa para o sociólogo que quiser ver e nos quiser julgar!
Fonte: Extractos de: César, A. (1965): Guiné 1965: contra-ataque. Braga: Pax.
A propaganda a favor da guerra colonial foi intensa da parte do regime, que tinha em Amândio César um dos seus corifeus. Em 1965, a Editora Pax, de Braga, publicou o seu livro Guiné 1965: contra-ataque.
O texto seguinte vem nas badanas da capa, juntamente com a fotografia do autor (grande repórter de guerra...), e diz bem do esforço que era feito em meios para a propaganda e defesa da guerra:
«Em Março e Abril de 1935, Amândio César visitou a Guiné a fim de efectuar umna reportagem sobre aquela Província para a Emissora Nacional. O convite fora-lhe dirigido pelo Ministério da Defesa Nacional, através do Serviço de Informação das Forças Armadas.
"Essa reportagem prolongou-se por espaço de tempo suficiente para que ele pudesse ter e pudesse dar uma ideia exacta da luta que naquela parcela de território nacional se processa contra a guerra subversiva. Depois da reportagem de Angola em 1961, era a segunda vez que Amândio César voltava a um seu tema favorito: a luta que o Exército e o Povo de Portugal sustentam contra os elementos da guerra revolucionária.
Amândio César, "grande repórter
de guerra" da Emissora Nacional.
Na Guiné, em 1965.
"Durante dias e dias as crónicas foram ouvidas nos microfones da Emissora Nacional. Posteriormente, essas páginas de reportagem foram publicadas, no Diário do Norte. No entanto, quisemos arquivar na «Colecção Metrópole e Ultramar» este depoimento que dá a exacta medida da grandiosidade da luta em que estamos empenhados. Por outro lado, com a objectividade que lhe é peculiar, Amândio César deu-nos uma panorâmica da Guiné de nossos dias que abrande toda a sua vida e a dos povos, que a constituem.
Porém, mais do que as nossas palavras fala o oficio que o Ministro da Defesa enviou ao Presidente da Emissora Nacional e que, aqui, nos permitimos transcrever:
Título: Guiné 1965: contra-ataque
Autor: Amândio César.
Editora e local: Pax, Braga
Ano: 1965
Capa feita sobre uma fotografia do Coronel Pinto Soares.
(1). A equipa da Emissora Nacional constituída pelso Exmos. Srs. Dr. Amândio César, Fernando Garcia e Bento Feliz, realizou na Guiné num prazo de tempo muito reduzido, um trabalho de valor no qual evidenciou elevado espírito de missão.
(2). Assim, em 29 dias, a equipa visitou e realizou reportagens em Bissau (Liceu, Escola Técnica Mocidade Portuguesa, Escola Teixeira Pinto, Escola das Missões, Pigiguiti, Ponte Cais, Museu e Biblioteca, Jardim Escola, Missão da Doença do Sono, Aeródromos Militar e Civil, Pára-quedistas), Safim, Nhacra, Mansoa, Mansabá, Prabis, Asilo de Bor, Leprosaria de Cumura, Bijagós, Bubaque, Nova Lamego, Buruntuma, fronteira, Canquelifá, Bafatá, Bambadinca, Amedalai, Bolama, Nova Ofir, Cachil (Ilha de Como), Cacine, Caneca, fronteira, Tanene, Guileje, Aldeia Formosa, Teixeira Pinto, Susana, Bula, Binar, Olossato, Farim, Binta, Guidage, Pessubé.
(3). Efectuou simultaneamente numerosas entrevistas e, no conjunto, colheu grande quantidade de material com muito interesse para o público.
(4). Colaborou ainda e a título gracioso, com um operador militar, na realização de um filme documentário.
(5). A equipa deixou na Província a melhor das impressões e, no relatório do Gabinete Militar do Comando-Chefe, agora recebido, pode ler-se: «O cumprimento do programa elaborado foi extenuante e a equipa ressentiu-se deste facto — aliado ao clima na sua pior estacão — o que a fez emagrecer e até dormirem nos aviões. Porém, conseguiu-se percorrer praticamente toda a Província».
(6). É muito grato dar a conhecer a V. Ex.ª estes factos que são testemunho fia muita dedicação dos funcionários da Emissora Nacional e às Forças Armadas.
Sua Ex.ª o Ministro encarrega-me ainda de agradecer a V. Ex.ª, Senhor Presidente, em nome das Forças Armadas da Guiné e no seu próprio, o esplêndido trabalho efectuado, bem como o esforço generosamente dispendido pelos componentes da dedicada equipa de reportagem da Emissora Nacional.
3. A. Marques Lopes: Dou-vos a seguir alguns excertos que dizem bem da preocupação em minimizar a guerrilha e o problema por ela levantado bem como da admiração pelos ideais fascistas:
Esta sequência de reportagem permanece no Óio, ou melhor, continua em Mansabá. O estar-se numa terra, muito ou pouco tempo, não é razão para que se saia dela tudo imediatamente. O meu caso é esse: a região do Óio é vasta e lá decorreram alguns motivos fundamentais desta guerra que os nossos soldados sustentam na Guiné. Ora são esses soldados que me arrastam para uma sala onde está um trofeu de guerra: a farda do célebre facínora Inocêncio Ken. Ele era um dos elementos mais notórios do terrorismo. Parecia invulnerável às balas dos combates que sustentou com a nossa tropa. No final acabou por ceder, acabou por cair - coisa que sucede a todos os facínoras que se metem numa guerra ilegal, feita contra a natureza das coisas e dos homens.
Diante de mim, pendurado numa parede branca, alva de pureza, está a nódoa do capacete de Inocêncio Ken, feito de pele de macaco ... A regressão é notória e nem o feiticismo zoológico o salvou de prestar contas aos soldados portugueses: brancos ou pretos, porque todos representam Portugal.
Ao lado deste troféu de guerra encontra-se a camisola do facínora com os mezinhas que o deviam salvaguardar do ajuste de contas que estava à vista. Com efeito, dez quadradinhos, cosidos ao tecido eram outros tantos motivos de tranquilidade para quem fazia uma guerra revolucionária, para quem praticava, impunemente, uma guerra de terrorismo.
Mas o seu dia último chegou. O último dia chega sempre para os facínoras ... Bem sei que os feiticeiros podem dizer que os soldados de Portugal deitam água quente pelo cano e não matam ninguém ... Nessa mentira embarcaram os bacongos de Angola e a resposta viu-se. Com mentira idêntica — desta vez com mezinhas locais — levaram estes povos à indisciplina.
E o resultado está à vista: Amílcar Cabral a esmolar auxílio pelos centros de subversão, a ver se alguém deita uma esmola para uma guerra de que ele há-de ser um dia vítima. Até porque não é, verdadeiramente, guineense e, para mais está casado com uma mulher branca, da região transmontana. Nem sequer é africana a mulher de Amílcar Cabral! E isso é um grave impedimento para se ser alguma coisa de provável nesta confusão demoníaco-marxista ...
Mas voltemos ao facínora que é o camarada de Amílcar Cabra — engenheiro-agrónomo, com o curso tirado em Lisboa, capital de uma Pátria onde lançou as sementes mais sangrentas do terror. Efectivamente, a camisola de Inocêncio Ken, companheiro de Amílcar Cabral e de sua esposa branca, lá estava pendurada, depois de tirada ao corpo do facínora morto. A coisa não meteu agência funerária e os mezinhas não serviram para nada.
Os dez quadradinhos, os dez quadradinhos pretos não salvaram o terrorista do ajuste de contas. Repouse em paz, se é que um assassino pode repousar em paz!
(...) Chegou o momento de a autoridade administrativa não nos deixar partir sem molharmos a palavra, ao bom jeito português. E pronto: caímos em casa do Administrador Pimentel e fizemos gala ao jantar volante que nos serviu, com requintes que não podemos esquecer. Sim: ficaríamos mais tempo se pudéssemos. Mas tínhamos de cobrir a distância de Mansoa a Bissau no mesmo automóvel que nos trouxera, guiado pelo mesmo balanta que nos servira de condutor em toda a nossa estada na Guiné.
Noite alta partimos e, na estrada asfaltada, fomos revendo toda esta jornada ao Óio, centro efervescente de terrorismo, agora em franca pacificação. As imagens não se esbatem na memória. Lá fizemos amigos e conhecemos novas gentes e novos soldados. Lá confirmámos uma ideia que dia a dia se tornaria mais nítida: a sorte da guerra virava-se para o nosso lado. Nós venceríamos esta guerra.
(...) Depois aparece no nosso convívio um recuperado da luta contra nós. Arranjou também um patrono, como cartão de apresentação: nada menos do que Viriato! E, quando o capitão lhe perguntou diante de nós quem era Viriato, com um sorriso a sublinhar a dignidade da resposta, ele definiu desta maneira o pastor dos Hermínios:
—Viriato foi homem grande, português, que deu manga de porrada em pessoal bandido! Assim disse. E acreditava no que dizia. A imaginação dos povos submetidos à disciplina do Islão é maravilhosa. E não direi aqui a resposta de Viriato do Gabu, quando lhe perguntaram quem era o «Chefe da Tabanca Grande de Lisboa». Claro que esse Chefe é o Doutor Oliveira Salazar. Mas, pela resposta, para Viriato de Nova Lamego o Presidente do Conselho é uma espécie de super-boxeur, que bate que se farta no pessoal bandido! ...
Legenda original: "Monumento que o Duce, Benito Mussolini, amdou erguer na antiga capital da Guiné aos "caduti di Bolama". Dele escreveu Dons Rachelle Mussolini ao Autor desta reportagem: 'Ammiro veramente i portighesi che non l' hanno distrutto comme ésuscesso cuá in Itália' [Admiro verdadeiramente os portugueses que o não destruiram como aconteceu cá em Itália"
(...) Finalmente: Bolama que tem em si um dos raros monumentos ao esforço fascista de paz, quando Mussolini e Ítalo Balbo tentaram o cruzeiro aéreo para unir Roma ao Brasil. Com efeito, dois dos aparelhos despenharam-se em Bolama e a missão esteve em riscos de se malograr. Tal não aconteceu porque a tenacidade de Ítalo Balbo a isso se opoz. Resta desse desastre o belo monumento aos «Caduti di Bolama» no qual se reproduz um aspecto dos destroços dos aviões — duas asas, uma das quais ainda erguida aos céus e a outra quebrada e caída em terra.
O monumento foi feito por italianos e com pedra italiana, vinda de Itália, para esse fim. Mandou-o erguer Mussolini e na sua base lá se encontra a coroa de bronze por ele oferecida, com estes dizeres — Mussolini ai cadutti di Bolama. Ao lado, a águia da fábrica de hidro-aviões Savoia, uma coroa com fáscios da Isotta-Fraschini e a coroa de louros da Fiat. É curioso notar que este será um dos raros monumentos do fascismo, no mundo, que no fim de 1945 não foi apeado. Virado para diante e no alto, o distintivo dos fáscios olha ainda com alienaria o futuro, no seu feixe de varas e no seu machado, a lembrar a grandeza da Roma do passado.
(...) Falámos com alguns dos que regressaram e eles ficavam contentes de contactarem connosco: um disse-me, com orgulho, que tinha fugido e que a população portuguesa tinha batido os bandidos. É curioso que, com orgulho, pôde também dizer-me que o terrorista português era o melhor e o mais valente; o outro, da Guiné ou do Senegal não valia nada, mesmo nada. Sorri para dentro: a nossa presença é tão profunda que até tínhamos a primazia no campo terrorista: eram eles os melhores e os mais valentes! E devo acrescentar que eles usam o português como língua e não o crioulo ou a língua da sua raça. É um motivo de orgulho e de superioridade. As próprias instruções e os próprios livros de aprendisato são impressos em português. Que espantoso acto de contrição tudo isto significa para o sociólogo que quiser ver e nos quiser julgar!
Fonte: Extractos de: César, A. (1965): Guiné 1965: contra-ataque. Braga: Pax.
Guné 63/74 - CLXXII: Informação & Propaganda: a Miss Guiné-72
Texto do A. Marques Lopes, membro da tertúlia de ex-combatentes da Guiné:
Caros amigos:
Um senhor, de seu nome José Manuel Pintasilgo (filho da Maria de Lourdes não era certamente), escreveu um livro intitulado Manga de Ronco no Chão, referindo-se a umas viagens feitas na companhia do Spínola pelo chão manjaco.
O livro saíu em 1972 sem indicação da editora, normal em muitas obras encomendadas directamente pelo regime (1). Dou-vos esta peça maravilhosa sobre a eleição da miss Guiné. Vocês conheceram estas bajudas?... Eu não!
Abraços
Marques Lopes
2. Extractos de : Pintasilgo, J. M. (1972) - Manga de Ronco no Chão.
«Do aeroporto de Biassalanca a Bissau é preciso agora escolta militar... Aquilo está mal!...". Chegaram a este extremo de mentira os boatos postos a correr pelo inimigo na retaguarda nacional, que é o território metropolitano.
De Biassalanca a Bissau anda-se tão livre e descansadamente como da Portela ao Areeiro, na entrada de Lisboa!
No entanto, e apesar de ser domingo o dia da nossa chegada, deparou-se-nos uma «guerra» em Bissau, nesta pacata, provinciana e por isso mesmo muito nossa, muito portuguesa Bissau, onde agora é hábito (o eterno bom humor português...) chamar «guerra» a qualquer acontecimento... Todos têm (e sempre) uma «guerra» a resolver!
Em pleno domingo, foi, na verdade, o rescaldo de uma «guerra» ainda recente.
Tão importante o acontecimento se nos apresentava que nos obrigou a vestir o casaco e a pôr gravata, utensílios que tínhamos abandonado logo que o «Boeing» da TAP aterrou em solo guineense.
Legenda original: "A juventude guineense: presença e confiança no futuro, aliadas a uma indómita vontade de vencer". (in: Pintasilgo, J. M. - Manga de Ronco no Chão. Lisboa: s/ed. 1972. 113).
A «guerra» fora, dias antes, a eleição da Miss Guiné-72. O rescaldo era uma cerimónia a que assistiam a eleita e as suas damas de honor: a entrega de prémios aos concorrentes do I Rali Automóvel do Grupo Desportivo dos Funcionários do Banco Nacional Ultramarino da Guiné. Cerimónia solene no salão de festas da U. D. l. B. (União Desportiva Internacional de Bissau), a que presidiu o secretário-geral da província, coronel Pedro Gomes Cardoso.
A eleição da Miss Guiné provocou, na capital da província, acalorado interesse, que atingiu o auge quando veio a notícia de que ao lado da Rosarinho Borges podia desfilar a Zaida Nogueira, sua primeira dama de honor.
A Guiné veria, assim, duas suas representantes a desfilar no Casino Estoril.
Legenda original: "As cinco jovens da Guiné que encontaram a Metrópole" (in: Pintasilgo, J. M. - Manga de Ronco no Chão.Lisboa: s/e. 1972. 113).
Mas esta província — exemplo mais pujante do ecumenismo racial do Mundo Português — levou a Lisboa, além das duas concorrentes ao galardão nacional da juventude e da beleza, a segunda dama de honor, Gilda Maria, e duas «chefes de claque», Elisa Pereira e Maria de Fátima Brito e Silva.
O programa entusiasmou, logo de início, as jovens, que se viram cumuladas, por toda a parte, de provas de simpatia e amizade.
No outro sábado, na U. D. l. B., seria o baile da coroação, no qual colaborariam dois conjuntos musicais de grande agrado junto da juventude de Bissau. Foram convidadas as mais altas autoridades da província.
A 6 de Março, no avião da TAP, chegaria a Lisboa a representação da Guiné, que ofereceria no dia 8, na Varanda do Chanceler, uma recepção às outras delegações ultramarinas, às concorrentes metropolitanas e aos representantes dos órgãos de Informação. Amizade verdadeira uniu, em todas as fases desta competição, as três jovens da Guiné: três raparigas estudantes que ansiavam por chegar a Lisboa na qualidade de embaixatrizes da sua província.
_______
Nota de L.G.
(1) Trata-se de edição de autor. O livro foi efectivamente publicado em 1972. Pintasilgo foi director de A Época e também autor, juntamente com Handel de Oliveira e Acácio de Figueiredo, do livro Nós Não Seremos a Geração da Traição, obra onde se expõe as conclusões do polémico I Congresso dos Combatentes do Ultramar (Porto, Junho de 1973).
Caros amigos:
Um senhor, de seu nome José Manuel Pintasilgo (filho da Maria de Lourdes não era certamente), escreveu um livro intitulado Manga de Ronco no Chão, referindo-se a umas viagens feitas na companhia do Spínola pelo chão manjaco.
O livro saíu em 1972 sem indicação da editora, normal em muitas obras encomendadas directamente pelo regime (1). Dou-vos esta peça maravilhosa sobre a eleição da miss Guiné. Vocês conheceram estas bajudas?... Eu não!
Abraços
Marques Lopes
2. Extractos de : Pintasilgo, J. M. (1972) - Manga de Ronco no Chão.
«Do aeroporto de Biassalanca a Bissau é preciso agora escolta militar... Aquilo está mal!...". Chegaram a este extremo de mentira os boatos postos a correr pelo inimigo na retaguarda nacional, que é o território metropolitano.
De Biassalanca a Bissau anda-se tão livre e descansadamente como da Portela ao Areeiro, na entrada de Lisboa!
No entanto, e apesar de ser domingo o dia da nossa chegada, deparou-se-nos uma «guerra» em Bissau, nesta pacata, provinciana e por isso mesmo muito nossa, muito portuguesa Bissau, onde agora é hábito (o eterno bom humor português...) chamar «guerra» a qualquer acontecimento... Todos têm (e sempre) uma «guerra» a resolver!
Em pleno domingo, foi, na verdade, o rescaldo de uma «guerra» ainda recente.
Tão importante o acontecimento se nos apresentava que nos obrigou a vestir o casaco e a pôr gravata, utensílios que tínhamos abandonado logo que o «Boeing» da TAP aterrou em solo guineense.
Legenda original: "A juventude guineense: presença e confiança no futuro, aliadas a uma indómita vontade de vencer". (in: Pintasilgo, J. M. - Manga de Ronco no Chão. Lisboa: s/ed. 1972. 113).
A «guerra» fora, dias antes, a eleição da Miss Guiné-72. O rescaldo era uma cerimónia a que assistiam a eleita e as suas damas de honor: a entrega de prémios aos concorrentes do I Rali Automóvel do Grupo Desportivo dos Funcionários do Banco Nacional Ultramarino da Guiné. Cerimónia solene no salão de festas da U. D. l. B. (União Desportiva Internacional de Bissau), a que presidiu o secretário-geral da província, coronel Pedro Gomes Cardoso.
A eleição da Miss Guiné provocou, na capital da província, acalorado interesse, que atingiu o auge quando veio a notícia de que ao lado da Rosarinho Borges podia desfilar a Zaida Nogueira, sua primeira dama de honor.
A Guiné veria, assim, duas suas representantes a desfilar no Casino Estoril.
Legenda original: "As cinco jovens da Guiné que encontaram a Metrópole" (in: Pintasilgo, J. M. - Manga de Ronco no Chão.Lisboa: s/e. 1972. 113).
Mas esta província — exemplo mais pujante do ecumenismo racial do Mundo Português — levou a Lisboa, além das duas concorrentes ao galardão nacional da juventude e da beleza, a segunda dama de honor, Gilda Maria, e duas «chefes de claque», Elisa Pereira e Maria de Fátima Brito e Silva.
O programa entusiasmou, logo de início, as jovens, que se viram cumuladas, por toda a parte, de provas de simpatia e amizade.
No outro sábado, na U. D. l. B., seria o baile da coroação, no qual colaborariam dois conjuntos musicais de grande agrado junto da juventude de Bissau. Foram convidadas as mais altas autoridades da província.
A 6 de Março, no avião da TAP, chegaria a Lisboa a representação da Guiné, que ofereceria no dia 8, na Varanda do Chanceler, uma recepção às outras delegações ultramarinas, às concorrentes metropolitanas e aos representantes dos órgãos de Informação. Amizade verdadeira uniu, em todas as fases desta competição, as três jovens da Guiné: três raparigas estudantes que ansiavam por chegar a Lisboa na qualidade de embaixatrizes da sua província.
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Nota de L.G.
(1) Trata-se de edição de autor. O livro foi efectivamente publicado em 1972. Pintasilgo foi director de A Época e também autor, juntamente com Handel de Oliveira e Acácio de Figueiredo, do livro Nós Não Seremos a Geração da Traição, obra onde se expõe as conclusões do polémico I Congresso dos Combatentes do Ultramar (Porto, Junho de 1973).
Guné 63/74 - CLXXII: Informação & Propaganda: a Miss Guiné-72
Texto do A. Marques Lopes, membro da tertúlia de ex-combatentes da Guiné:
Caros amigos:
Um senhor, de seu nome José Manuel Pintasilgo (filho da Maria de Lourdes não era certamente), escreveu um livro intitulado Manga de Ronco no Chão, referindo-se a umas viagens feitas na companhia do Spínola pelo chão manjaco.
O livro saíu em 1972 sem indicação da editora, normal em muitas obras encomendadas directamente pelo regime (1). Dou-vos esta peça maravilhosa sobre a eleição da miss Guiné. Vocês conheceram estas bajudas?... Eu não!
Abraços
Marques Lopes
2. Extractos de : Pintasilgo, J. M. (1972) - Manga de Ronco no Chão.
«Do aeroporto de Biassalanca a Bissau é preciso agora escolta militar... Aquilo está mal!...". Chegaram a este extremo de mentira os boatos postos a correr pelo inimigo na retaguarda nacional, que é o território metropolitano.
De Biassalanca a Bissau anda-se tão livre e descansadamente como da Portela ao Areeiro, na entrada de Lisboa!
No entanto, e apesar de ser domingo o dia da nossa chegada, deparou-se-nos uma «guerra» em Bissau, nesta pacata, provinciana e por isso mesmo muito nossa, muito portuguesa Bissau, onde agora é hábito (o eterno bom humor português...) chamar «guerra» a qualquer acontecimento... Todos têm (e sempre) uma «guerra» a resolver!
Em pleno domingo, foi, na verdade, o rescaldo de uma «guerra» ainda recente.
Tão importante o acontecimento se nos apresentava que nos obrigou a vestir o casaco e a pôr gravata, utensílios que tínhamos abandonado logo que o «Boeing» da TAP aterrou em solo guineense.
Legenda original: "A juventude guineense: presença e confiança no futuro, aliadas a uma indómita vontade de vencer". (in: Pintasilgo, J. M. - Manga de Ronco no Chão. Lisboa: s/ed. 1972. 113).
A «guerra» fora, dias antes, a eleição da Miss Guiné-72. O rescaldo era uma cerimónia a que assistiam a eleita e as suas damas de honor: a entrega de prémios aos concorrentes do I Rali Automóvel do Grupo Desportivo dos Funcionários do Banco Nacional Ultramarino da Guiné. Cerimónia solene no salão de festas da U. D. l. B. (União Desportiva Internacional de Bissau), a que presidiu o secretário-geral da província, coronel Pedro Gomes Cardoso.
A eleição da Miss Guiné provocou, na capital da província, acalorado interesse, que atingiu o auge quando veio a notícia de que ao lado da Rosarinho Borges podia desfilar a Zaida Nogueira, sua primeira dama de honor.
A Guiné veria, assim, duas suas representantes a desfilar no Casino Estoril.
Legenda original: "As cinco jovens da Guiné que encontaram a Metrópole" (in: Pintasilgo, J. M. - Manga de Ronco no Chão.Lisboa: s/e. 1972. 113).
Mas esta província — exemplo mais pujante do ecumenismo racial do Mundo Português — levou a Lisboa, além das duas concorrentes ao galardão nacional da juventude e da beleza, a segunda dama de honor, Gilda Maria, e duas «chefes de claque», Elisa Pereira e Maria de Fátima Brito e Silva.
O programa entusiasmou, logo de início, as jovens, que se viram cumuladas, por toda a parte, de provas de simpatia e amizade.
No outro sábado, na U. D. l. B., seria o baile da coroação, no qual colaborariam dois conjuntos musicais de grande agrado junto da juventude de Bissau. Foram convidadas as mais altas autoridades da província.
A 6 de Março, no avião da TAP, chegaria a Lisboa a representação da Guiné, que ofereceria no dia 8, na Varanda do Chanceler, uma recepção às outras delegações ultramarinas, às concorrentes metropolitanas e aos representantes dos órgãos de Informação. Amizade verdadeira uniu, em todas as fases desta competição, as três jovens da Guiné: três raparigas estudantes que ansiavam por chegar a Lisboa na qualidade de embaixatrizes da sua província.
_______
Nota de L.G.
(1) Trata-se de edição de autor. O livro foi efectivamente publicado em 1972. Pintasilgo foi director de A Época e também autor, juntamente com Handel de Oliveira e Acácio de Figueiredo, do livro Nós Não Seremos a Geração da Traição, obra onde se expõe as conclusões do polémico I Congresso dos Combatentes do Ultramar (Porto, Junho de 1973).
Caros amigos:
Um senhor, de seu nome José Manuel Pintasilgo (filho da Maria de Lourdes não era certamente), escreveu um livro intitulado Manga de Ronco no Chão, referindo-se a umas viagens feitas na companhia do Spínola pelo chão manjaco.
O livro saíu em 1972 sem indicação da editora, normal em muitas obras encomendadas directamente pelo regime (1). Dou-vos esta peça maravilhosa sobre a eleição da miss Guiné. Vocês conheceram estas bajudas?... Eu não!
Abraços
Marques Lopes
2. Extractos de : Pintasilgo, J. M. (1972) - Manga de Ronco no Chão.
«Do aeroporto de Biassalanca a Bissau é preciso agora escolta militar... Aquilo está mal!...". Chegaram a este extremo de mentira os boatos postos a correr pelo inimigo na retaguarda nacional, que é o território metropolitano.
De Biassalanca a Bissau anda-se tão livre e descansadamente como da Portela ao Areeiro, na entrada de Lisboa!
No entanto, e apesar de ser domingo o dia da nossa chegada, deparou-se-nos uma «guerra» em Bissau, nesta pacata, provinciana e por isso mesmo muito nossa, muito portuguesa Bissau, onde agora é hábito (o eterno bom humor português...) chamar «guerra» a qualquer acontecimento... Todos têm (e sempre) uma «guerra» a resolver!
Em pleno domingo, foi, na verdade, o rescaldo de uma «guerra» ainda recente.
Tão importante o acontecimento se nos apresentava que nos obrigou a vestir o casaco e a pôr gravata, utensílios que tínhamos abandonado logo que o «Boeing» da TAP aterrou em solo guineense.
Legenda original: "A juventude guineense: presença e confiança no futuro, aliadas a uma indómita vontade de vencer". (in: Pintasilgo, J. M. - Manga de Ronco no Chão. Lisboa: s/ed. 1972. 113).
A «guerra» fora, dias antes, a eleição da Miss Guiné-72. O rescaldo era uma cerimónia a que assistiam a eleita e as suas damas de honor: a entrega de prémios aos concorrentes do I Rali Automóvel do Grupo Desportivo dos Funcionários do Banco Nacional Ultramarino da Guiné. Cerimónia solene no salão de festas da U. D. l. B. (União Desportiva Internacional de Bissau), a que presidiu o secretário-geral da província, coronel Pedro Gomes Cardoso.
A eleição da Miss Guiné provocou, na capital da província, acalorado interesse, que atingiu o auge quando veio a notícia de que ao lado da Rosarinho Borges podia desfilar a Zaida Nogueira, sua primeira dama de honor.
A Guiné veria, assim, duas suas representantes a desfilar no Casino Estoril.
Legenda original: "As cinco jovens da Guiné que encontaram a Metrópole" (in: Pintasilgo, J. M. - Manga de Ronco no Chão.Lisboa: s/e. 1972. 113).
Mas esta província — exemplo mais pujante do ecumenismo racial do Mundo Português — levou a Lisboa, além das duas concorrentes ao galardão nacional da juventude e da beleza, a segunda dama de honor, Gilda Maria, e duas «chefes de claque», Elisa Pereira e Maria de Fátima Brito e Silva.
O programa entusiasmou, logo de início, as jovens, que se viram cumuladas, por toda a parte, de provas de simpatia e amizade.
No outro sábado, na U. D. l. B., seria o baile da coroação, no qual colaborariam dois conjuntos musicais de grande agrado junto da juventude de Bissau. Foram convidadas as mais altas autoridades da província.
A 6 de Março, no avião da TAP, chegaria a Lisboa a representação da Guiné, que ofereceria no dia 8, na Varanda do Chanceler, uma recepção às outras delegações ultramarinas, às concorrentes metropolitanas e aos representantes dos órgãos de Informação. Amizade verdadeira uniu, em todas as fases desta competição, as três jovens da Guiné: três raparigas estudantes que ansiavam por chegar a Lisboa na qualidade de embaixatrizes da sua província.
_______
Nota de L.G.
(1) Trata-se de edição de autor. O livro foi efectivamente publicado em 1972. Pintasilgo foi director de A Época e também autor, juntamente com Handel de Oliveira e Acácio de Figueiredo, do livro Nós Não Seremos a Geração da Traição, obra onde se expõe as conclusões do polémico I Congresso dos Combatentes do Ultramar (Porto, Junho de 1973).
15 agosto 2005
Guiné 63/74 - CLXXI: Saltinho, 1971/74... United States of America, 2005
1. Mensagem acabada de receber na caixa de correio de L.G. (15 de Agosto de 2005, 23.24 h)
Estimado Luis Graça:
O meu nome é Joaquim Guimarães, sou residente nos Estados Unidos e ex-combatente da Guiné. Estive no Saltinho nos anos de 1971 a 74.
A informação do seu endereco foi-me dada pelo meu amigo de adolescência e também ex-militar na Guiné, o Luís Carvalhido [vd. Tertúlia dos ex-combatentes da Guiné].
Quando recebi o correio do Luis há uns tempos atrás fiquei "vazio" , não sabemdo bem como reagir ao aceder á página da Tertúlia de ex-combatentes da Guiné (1963/74).
O meu primeiro impulso foi enviar a notícia para os meus primos na França e Alemanha para saber como é que eles reagiriam a este extraordinário agrupamento de memórias. Até me recordei de coisas que estavam esquecidas há mais de trinta anos!
Um muito obrigado e parabéns pela maneira como tudo isto está organizado. Desde já pedia-lhe o favor de acrescentar mais um nome à sua lista e de me manter actualizado.
As fotos tiradas recentemente no Saltinho são as mesmas imagens tiradas em 71.
Tenho fotos e histórias que quero contar. Até lá os meus maiores desejos de saúde e felicidades.
Guimarães (...mas sou natural de Viana do Castelo)
2. Resposta de L.G.:
Meu caro Joaquim Guimarães:
Só podes ser bem vindo a esta tertúlia. Passas a fazer parte deste grupo de camaradas (e amigos), com todo o mérito. Além disso, sentimo-nos honrados com a tua mensagem. És um português da diáspora, que não esquece a sua terra, as suas raízes. O facto de teres andado pelos mesmos sítios por onde nós andámos, nas difíceis condições da guerra da Guiné, vem reforçar o nosso sentimento de grupo.
Logo que eu possa, farei a inclusão do teu nome na nossa tertúlia. Mas a partir deste momento podes comunicar, por e-mail, com todos amigos e camaradas da tertúlia, alguns dos quais já conheces como é o caso do Luís Carvalhido. Ele já me tinha falado em ti.
Fica ao teu critério mandares-me duas fotos para pôr na nossa fotogaleria: uma do tempo da Guiné e outra mais recente. E já agora diz-me, se assim o entenderes, qual era o teu posto e especialidade, a tua companhia (e eventualmente o teu batalhão), qual foi a tua unidade mobilizadora, onde vives e trabalhas nos EUA...
Ficamos à espera também das tuas fotos e das tuas estórias do Saltinho. Como vês, ainda não temos uma página só dedicada ao Saltinho. Neste momento, temos uma página conjunta sobre o Xitole e o Saltinho. Mas pode justificar-se, se houver suficiente material documental, a criação de uma página só dedicada ao Saltinho.
A propósito, conheces a página, não oficial, dos Rangers, elaborada pelo Ranger Eusébio (do Centro de Instrução de Operações Especiais, Lamego) ? Ele esteve seguramente contigo no Saltinho na mesma altura. Possivelmente vocês eram da mesma unidade. Ele tem imagens da Guiné que seguramente tu vais gostar de ver.
PS - Como vês, na nossa tertúlia, entre ex-camaradas da Guiné, tratamo-nos por tu. Aqui entre nós, não deve haver barreiras nem fronteiras, nem as de ontem nem as de hoje. Vai dando notícias. E divulga a nossa tertúlia. Boa sorte, amigo e camarada.
3. Cópia do e-mail, enviado posteriormente pelo Sousa de Castro ao nosso novo tertuliano:
Caro amigo. Olhando para a data em que estiveste na Guiné e na referida zona, leva-me a crer que pertenceste ao BART 3872, certo? Eu chamo-me António Castro, sou de Vila Fria, Viana do Castelo e pertenci ao BART 3873, na mesma época. Fala-nos algo sobre a tua companhia e também de recordações cpm que nos queiras presentear.
Sous de Castro
4. Resposta do Joaquim Guimarães:
Caro António:
(...) Obrigado pelo teu e-mail. Sim, estás certo, fiz parte do Batalhão 3872, pertenci à CCAÇ 3490, localizada no Saltinho e também num destacamento bem perto de Galomaro onde era a CCS.
A maior parte do meu tempo de Guiné foi passado na escola, pois eu fui o professor do posto escolar do Saltinho. Só de vez em quando, por óptimo comportamento, fazia umas emboscadas aqui ou ali. Mas sofri do mesmo [que os outros camaradas], as mesmas angústias, o mesmo pânico, o mesmo medo, as mesmas lágrimas e as mesmas alegrias.
Tenho histórias para contar e fotos para mandar. Fui apanhado desprevenido e ainda não me recompuz da alegria que tenho de poder gritar liberdade e poder expor o que sinto, o que senti. Em breve terás notícias do Saltinho e de mim.
És de Vila Fria, bem pertinho de Viana, até por graça somos capazes de nos conhecer. Como toda a malta daqueles tempos, trabalhei nos estaleiros [navais de Viana do Castelo], era mecânico. A oficina era por de trás da Igreja de N. Sra. da Agonia. Frequentei a Escola Industrial à noite até ao 5º ano antes de ir para soldado. Outra coisa: namorei todas as moças de Viana (pergunta ao Carvalhido)
E de momento é tudo. Obrigado por teres entrado em contacto comigo. Para o ano, se Deus quiser, ainda nos vamos encontrar.
Estimado Luis Graça:
O meu nome é Joaquim Guimarães, sou residente nos Estados Unidos e ex-combatente da Guiné. Estive no Saltinho nos anos de 1971 a 74.
A informação do seu endereco foi-me dada pelo meu amigo de adolescência e também ex-militar na Guiné, o Luís Carvalhido [vd. Tertúlia dos ex-combatentes da Guiné].
Quando recebi o correio do Luis há uns tempos atrás fiquei "vazio" , não sabemdo bem como reagir ao aceder á página da Tertúlia de ex-combatentes da Guiné (1963/74).
O meu primeiro impulso foi enviar a notícia para os meus primos na França e Alemanha para saber como é que eles reagiriam a este extraordinário agrupamento de memórias. Até me recordei de coisas que estavam esquecidas há mais de trinta anos!
Um muito obrigado e parabéns pela maneira como tudo isto está organizado. Desde já pedia-lhe o favor de acrescentar mais um nome à sua lista e de me manter actualizado.
As fotos tiradas recentemente no Saltinho são as mesmas imagens tiradas em 71.
Tenho fotos e histórias que quero contar. Até lá os meus maiores desejos de saúde e felicidades.
Guimarães (...mas sou natural de Viana do Castelo)
2. Resposta de L.G.:
Meu caro Joaquim Guimarães:
Só podes ser bem vindo a esta tertúlia. Passas a fazer parte deste grupo de camaradas (e amigos), com todo o mérito. Além disso, sentimo-nos honrados com a tua mensagem. És um português da diáspora, que não esquece a sua terra, as suas raízes. O facto de teres andado pelos mesmos sítios por onde nós andámos, nas difíceis condições da guerra da Guiné, vem reforçar o nosso sentimento de grupo.
Logo que eu possa, farei a inclusão do teu nome na nossa tertúlia. Mas a partir deste momento podes comunicar, por e-mail, com todos amigos e camaradas da tertúlia, alguns dos quais já conheces como é o caso do Luís Carvalhido. Ele já me tinha falado em ti.
Fica ao teu critério mandares-me duas fotos para pôr na nossa fotogaleria: uma do tempo da Guiné e outra mais recente. E já agora diz-me, se assim o entenderes, qual era o teu posto e especialidade, a tua companhia (e eventualmente o teu batalhão), qual foi a tua unidade mobilizadora, onde vives e trabalhas nos EUA...
Ficamos à espera também das tuas fotos e das tuas estórias do Saltinho. Como vês, ainda não temos uma página só dedicada ao Saltinho. Neste momento, temos uma página conjunta sobre o Xitole e o Saltinho. Mas pode justificar-se, se houver suficiente material documental, a criação de uma página só dedicada ao Saltinho.
A propósito, conheces a página, não oficial, dos Rangers, elaborada pelo Ranger Eusébio (do Centro de Instrução de Operações Especiais, Lamego) ? Ele esteve seguramente contigo no Saltinho na mesma altura. Possivelmente vocês eram da mesma unidade. Ele tem imagens da Guiné que seguramente tu vais gostar de ver.
PS - Como vês, na nossa tertúlia, entre ex-camaradas da Guiné, tratamo-nos por tu. Aqui entre nós, não deve haver barreiras nem fronteiras, nem as de ontem nem as de hoje. Vai dando notícias. E divulga a nossa tertúlia. Boa sorte, amigo e camarada.
3. Cópia do e-mail, enviado posteriormente pelo Sousa de Castro ao nosso novo tertuliano:
Caro amigo. Olhando para a data em que estiveste na Guiné e na referida zona, leva-me a crer que pertenceste ao BART 3872, certo? Eu chamo-me António Castro, sou de Vila Fria, Viana do Castelo e pertenci ao BART 3873, na mesma época. Fala-nos algo sobre a tua companhia e também de recordações cpm que nos queiras presentear.
Sous de Castro
4. Resposta do Joaquim Guimarães:
Caro António:
(...) Obrigado pelo teu e-mail. Sim, estás certo, fiz parte do Batalhão 3872, pertenci à CCAÇ 3490, localizada no Saltinho e também num destacamento bem perto de Galomaro onde era a CCS.
A maior parte do meu tempo de Guiné foi passado na escola, pois eu fui o professor do posto escolar do Saltinho. Só de vez em quando, por óptimo comportamento, fazia umas emboscadas aqui ou ali. Mas sofri do mesmo [que os outros camaradas], as mesmas angústias, o mesmo pânico, o mesmo medo, as mesmas lágrimas e as mesmas alegrias.
Tenho histórias para contar e fotos para mandar. Fui apanhado desprevenido e ainda não me recompuz da alegria que tenho de poder gritar liberdade e poder expor o que sinto, o que senti. Em breve terás notícias do Saltinho e de mim.
És de Vila Fria, bem pertinho de Viana, até por graça somos capazes de nos conhecer. Como toda a malta daqueles tempos, trabalhei nos estaleiros [navais de Viana do Castelo], era mecânico. A oficina era por de trás da Igreja de N. Sra. da Agonia. Frequentei a Escola Industrial à noite até ao 5º ano antes de ir para soldado. Outra coisa: namorei todas as moças de Viana (pergunta ao Carvalhido)
E de momento é tudo. Obrigado por teres entrado em contacto comigo. Para o ano, se Deus quiser, ainda nos vamos encontrar.
Guiné 63/74 - CLXXI: Saltinho, 1971/74... United States of America, 2005
1. Mensagem acabada de receber na caixa de correio de L.G. (15 de Agosto de 2005, 23.24 h)
Estimado Luis Graça:
O meu nome é Joaquim Guimarães, sou residente nos Estados Unidos e ex-combatente da Guiné. Estive no Saltinho nos anos de 1971 a 74.
A informação do seu endereco foi-me dada pelo meu amigo de adolescência e também ex-militar na Guiné, o Luís Carvalhido [vd. Tertúlia dos ex-combatentes da Guiné].
Quando recebi o correio do Luis há uns tempos atrás fiquei "vazio" , não sabemdo bem como reagir ao aceder á página da Tertúlia de ex-combatentes da Guiné (1963/74).
O meu primeiro impulso foi enviar a notícia para os meus primos na França e Alemanha para saber como é que eles reagiriam a este extraordinário agrupamento de memórias. Até me recordei de coisas que estavam esquecidas há mais de trinta anos!
Um muito obrigado e parabéns pela maneira como tudo isto está organizado. Desde já pedia-lhe o favor de acrescentar mais um nome à sua lista e de me manter actualizado.
As fotos tiradas recentemente no Saltinho são as mesmas imagens tiradas em 71.
Tenho fotos e histórias que quero contar. Até lá os meus maiores desejos de saúde e felicidades.
Guimarães (...mas sou natural de Viana do Castelo)
2. Resposta de L.G.:
Meu caro Joaquim Guimarães:
Só podes ser bem vindo a esta tertúlia. Passas a fazer parte deste grupo de camaradas (e amigos), com todo o mérito. Além disso, sentimo-nos honrados com a tua mensagem. És um português da diáspora, que não esquece a sua terra, as suas raízes. O facto de teres andado pelos mesmos sítios por onde nós andámos, nas difíceis condições da guerra da Guiné, vem reforçar o nosso sentimento de grupo.
Logo que eu possa, farei a inclusão do teu nome na nossa tertúlia. Mas a partir deste momento podes comunicar, por e-mail, com todos amigos e camaradas da tertúlia, alguns dos quais já conheces como é o caso do Luís Carvalhido. Ele já me tinha falado em ti.
Fica ao teu critério mandares-me duas fotos para pôr na nossa fotogaleria: uma do tempo da Guiné e outra mais recente. E já agora diz-me, se assim o entenderes, qual era o teu posto e especialidade, a tua companhia (e eventualmente o teu batalhão), qual foi a tua unidade mobilizadora, onde vives e trabalhas nos EUA...
Ficamos à espera também das tuas fotos e das tuas estórias do Saltinho. Como vês, ainda não temos uma página só dedicada ao Saltinho. Neste momento, temos uma página conjunta sobre o Xitole e o Saltinho. Mas pode justificar-se, se houver suficiente material documental, a criação de uma página só dedicada ao Saltinho.
A propósito, conheces a página, não oficial, dos Rangers, elaborada pelo Ranger Eusébio (do Centro de Instrução de Operações Especiais, Lamego) ? Ele esteve seguramente contigo no Saltinho na mesma altura. Possivelmente vocês eram da mesma unidade. Ele tem imagens da Guiné que seguramente tu vais gostar de ver.
PS - Como vês, na nossa tertúlia, entre ex-camaradas da Guiné, tratamo-nos por tu. Aqui entre nós, não deve haver barreiras nem fronteiras, nem as de ontem nem as de hoje. Vai dando notícias. E divulga a nossa tertúlia. Boa sorte, amigo e camarada.
3. Cópia do e-mail, enviado posteriormente pelo Sousa de Castro ao nosso novo tertuliano:
Caro amigo. Olhando para a data em que estiveste na Guiné e na referida zona, leva-me a crer que pertenceste ao BART 3872, certo? Eu chamo-me António Castro, sou de Vila Fria, Viana do Castelo e pertenci ao BART 3873, na mesma época. Fala-nos algo sobre a tua companhia e também de recordações cpm que nos queiras presentear.
Sous de Castro
4. Resposta do Joaquim Guimarães:
Caro António:
(...) Obrigado pelo teu e-mail. Sim, estás certo, fiz parte do Batalhão 3872, pertenci à CCAÇ 3490, localizada no Saltinho e também num destacamento bem perto de Galomaro onde era a CCS.
A maior parte do meu tempo de Guiné foi passado na escola, pois eu fui o professor do posto escolar do Saltinho. Só de vez em quando, por óptimo comportamento, fazia umas emboscadas aqui ou ali. Mas sofri do mesmo [que os outros camaradas], as mesmas angústias, o mesmo pânico, o mesmo medo, as mesmas lágrimas e as mesmas alegrias.
Tenho histórias para contar e fotos para mandar. Fui apanhado desprevenido e ainda não me recompuz da alegria que tenho de poder gritar liberdade e poder expor o que sinto, o que senti. Em breve terás notícias do Saltinho e de mim.
És de Vila Fria, bem pertinho de Viana, até por graça somos capazes de nos conhecer. Como toda a malta daqueles tempos, trabalhei nos estaleiros [navais de Viana do Castelo], era mecânico. A oficina era por de trás da Igreja de N. Sra. da Agonia. Frequentei a Escola Industrial à noite até ao 5º ano antes de ir para soldado. Outra coisa: namorei todas as moças de Viana (pergunta ao Carvalhido)
E de momento é tudo. Obrigado por teres entrado em contacto comigo. Para o ano, se Deus quiser, ainda nos vamos encontrar.
Estimado Luis Graça:
O meu nome é Joaquim Guimarães, sou residente nos Estados Unidos e ex-combatente da Guiné. Estive no Saltinho nos anos de 1971 a 74.
A informação do seu endereco foi-me dada pelo meu amigo de adolescência e também ex-militar na Guiné, o Luís Carvalhido [vd. Tertúlia dos ex-combatentes da Guiné].
Quando recebi o correio do Luis há uns tempos atrás fiquei "vazio" , não sabemdo bem como reagir ao aceder á página da Tertúlia de ex-combatentes da Guiné (1963/74).
O meu primeiro impulso foi enviar a notícia para os meus primos na França e Alemanha para saber como é que eles reagiriam a este extraordinário agrupamento de memórias. Até me recordei de coisas que estavam esquecidas há mais de trinta anos!
Um muito obrigado e parabéns pela maneira como tudo isto está organizado. Desde já pedia-lhe o favor de acrescentar mais um nome à sua lista e de me manter actualizado.
As fotos tiradas recentemente no Saltinho são as mesmas imagens tiradas em 71.
Tenho fotos e histórias que quero contar. Até lá os meus maiores desejos de saúde e felicidades.
Guimarães (...mas sou natural de Viana do Castelo)
2. Resposta de L.G.:
Meu caro Joaquim Guimarães:
Só podes ser bem vindo a esta tertúlia. Passas a fazer parte deste grupo de camaradas (e amigos), com todo o mérito. Além disso, sentimo-nos honrados com a tua mensagem. És um português da diáspora, que não esquece a sua terra, as suas raízes. O facto de teres andado pelos mesmos sítios por onde nós andámos, nas difíceis condições da guerra da Guiné, vem reforçar o nosso sentimento de grupo.
Logo que eu possa, farei a inclusão do teu nome na nossa tertúlia. Mas a partir deste momento podes comunicar, por e-mail, com todos amigos e camaradas da tertúlia, alguns dos quais já conheces como é o caso do Luís Carvalhido. Ele já me tinha falado em ti.
Fica ao teu critério mandares-me duas fotos para pôr na nossa fotogaleria: uma do tempo da Guiné e outra mais recente. E já agora diz-me, se assim o entenderes, qual era o teu posto e especialidade, a tua companhia (e eventualmente o teu batalhão), qual foi a tua unidade mobilizadora, onde vives e trabalhas nos EUA...
Ficamos à espera também das tuas fotos e das tuas estórias do Saltinho. Como vês, ainda não temos uma página só dedicada ao Saltinho. Neste momento, temos uma página conjunta sobre o Xitole e o Saltinho. Mas pode justificar-se, se houver suficiente material documental, a criação de uma página só dedicada ao Saltinho.
A propósito, conheces a página, não oficial, dos Rangers, elaborada pelo Ranger Eusébio (do Centro de Instrução de Operações Especiais, Lamego) ? Ele esteve seguramente contigo no Saltinho na mesma altura. Possivelmente vocês eram da mesma unidade. Ele tem imagens da Guiné que seguramente tu vais gostar de ver.
PS - Como vês, na nossa tertúlia, entre ex-camaradas da Guiné, tratamo-nos por tu. Aqui entre nós, não deve haver barreiras nem fronteiras, nem as de ontem nem as de hoje. Vai dando notícias. E divulga a nossa tertúlia. Boa sorte, amigo e camarada.
3. Cópia do e-mail, enviado posteriormente pelo Sousa de Castro ao nosso novo tertuliano:
Caro amigo. Olhando para a data em que estiveste na Guiné e na referida zona, leva-me a crer que pertenceste ao BART 3872, certo? Eu chamo-me António Castro, sou de Vila Fria, Viana do Castelo e pertenci ao BART 3873, na mesma época. Fala-nos algo sobre a tua companhia e também de recordações cpm que nos queiras presentear.
Sous de Castro
4. Resposta do Joaquim Guimarães:
Caro António:
(...) Obrigado pelo teu e-mail. Sim, estás certo, fiz parte do Batalhão 3872, pertenci à CCAÇ 3490, localizada no Saltinho e também num destacamento bem perto de Galomaro onde era a CCS.
A maior parte do meu tempo de Guiné foi passado na escola, pois eu fui o professor do posto escolar do Saltinho. Só de vez em quando, por óptimo comportamento, fazia umas emboscadas aqui ou ali. Mas sofri do mesmo [que os outros camaradas], as mesmas angústias, o mesmo pânico, o mesmo medo, as mesmas lágrimas e as mesmas alegrias.
Tenho histórias para contar e fotos para mandar. Fui apanhado desprevenido e ainda não me recompuz da alegria que tenho de poder gritar liberdade e poder expor o que sinto, o que senti. Em breve terás notícias do Saltinho e de mim.
És de Vila Fria, bem pertinho de Viana, até por graça somos capazes de nos conhecer. Como toda a malta daqueles tempos, trabalhei nos estaleiros [navais de Viana do Castelo], era mecânico. A oficina era por de trás da Igreja de N. Sra. da Agonia. Frequentei a Escola Industrial à noite até ao 5º ano antes de ir para soldado. Outra coisa: namorei todas as moças de Viana (pergunta ao Carvalhido)
E de momento é tudo. Obrigado por teres entrado em contacto comigo. Para o ano, se Deus quiser, ainda nos vamos encontrar.
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