Luís Graça & Camaradas da Guiné (I Série)
blogue-fora-nada. homo socius ergo blogus [sum]. homem social logo blogador. em sociobloguês nos entendemos. o port(ug)al dos (por)tugas. a prova dos blogue-fora-nada. a guerra colonial. a guiné. do chacheu ao boe. de bissau a bambadinca. os cacimbados. o geba. o corubal. os rios. o macaréu da nossa revolta. o humor nosso de cada dia nos dai hoje.lá vamos blogando e rindo. e venham mais cinco (camaradas). e vieram tantos que isto se transformou numa caserna. a maior caserna virtual da Net!
01 junho 2006
Guiné 63/74 - DCCCXXV: Mudança de instalações: a nova caserna de Luís Graça & Camaradas da Guiné
Por razões de espaço e de tráfego, tivemos que mudar de instalações. O nosso senhorio, o Blogger.com, só nos dá 300 MB para alojar o nosso álbum de fotografias, o que é pouco para tanta gente. De facto, ao fim de um ano já estamos na casa da centena de amigos & camaradas e já postámos, com este, 825 textos.
O blogue passa a chamar-se simplesmente Luís Graça & Camaradas da Guiné, dando continuidade ao Blogue-fora-nada. Continuará a ser o sítio (virtual) onde nos encontramos, sempre que quisermos e pudermos. É um blogue colectivo que tem por missão ajudar a reconstituir o puzzle da memória da guerra colonial (ou do ultramar, ou de libertação, como queiram) na Guiné, hoje República da Guiné-Bissau, nos anos quentes de 1963 a 1974.
É um blogue, em português, para tugas, turras e nharros, sem discriminação de alguma espécie (sexo, idade, nacionalidade, etnia, orientação sexual, estado civil, religião, clube, hobby, lobby, escolaridade, título, profissão, situação na profissão, posto na tropa, estatuto sócio-económico, idiossincrasia, etc.).
Tomem nota do novo endereço (e continuem a visitar o outro):
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com
Também podem fazer comentários espontânea e directamente...desde que assinados / identificados.
Já publicámos, noutro sítio, as regras (mínimas) da nossa tertúlia:
Fazemos uma pequena distinção, meramente circunstancial, entre: (i) amigos (como é o caso do José Carlos Mussá Biai, do Leopoldo Amado, do Pepito ou de outros guinéus, não combatentes; como é o caso das nossas companheiras ou dos nossos filhos); e (ii) camaradas (os que dormiram no mesmo chão, que foram mordidos pelos mesmos mosquitos, que comeram o mesmo pão que o diabo amassou, que verteram sangue, suor e lágrimas nos mesmos rios, lalas, bolanhas, matas, buracos e tabancas, que apanharam a esma porrada, independentemente da bandeira por que se bateram que se insultámos mutuamente, enfim, todos aqueles de nós que fomos tugas, nharros e turras)...
O nosso comportamento, agora como… tertulianos (alguém inventou uma palavra nova em português), deve apenas pautar-se por critérios éticos ou valores tais como:
(i) respeito uns pelos outros, pelas vivências, valores, sentimentos, memórias e opiniões uns dos outros (hoje e ontem);
(ii) manifestação serena mas franca dos nossos pontos de vista, mesmo quando discordamos, saudavelmente, uns dos outros;
(iii) consagração do nosso blogue como ágora ou como praça pública para para manifestação (aberta, franca, leal, serena) dos nossas eventuais críticas e divergências de pontos de vista (se houver roupa suja, discute-se primeiro na caserna...);
(iv) socialização da informação e do conhecimento sobre a história da guerra colonial/guerra de libertação da Guiné;
(v) carinho e amizade pelo povo da Guiné (que ganhou a guerra mas não ainda a paz) (e a reciprocidfade está implícta: ... e dos guineenses pelos portugueses));
(vi) respeito pelo inimigo de ontem (que, sempre o disse, nunca lutou contra o povo português, mas contra um regime político que negava o direito à autodeterminação dos povos) (nós também nunca confundidmos o PAIGC com o povo ou os povos da Guiné);
(vii) não-intromissão na vida política interna da República da Guiné-Bissau, salvaguardado sempre o direito de opinião de cada um de nós, como cidadãos (portugueses, guineenses, europeus, africanos, globais...);
(viii) respeito acima de tudo pela verdade dos factos…
O que nos une é muito mais do que aquilo que nos separa: e, assim sendo, lá vamos escrevendo, (sor)rindo, cantando, às vezes chorando mas sempre blogando!...
Luís Graça & Camaradas da Guiné
PS - Todos os textos são assinados, sendo da inteira e única responsabilidade do(s) seu(s) autor(es). Os textos eventualmente não assinados são da responsabilidade do editor do blogue: Luís Graça.
Todo o material aqui inserido (textos e fotos) são propriedade dos seus autores. A sua utilização, para outros fins (didácticos, editoriais, etc.), deve ser previamente autorizada pelo editor do blogue e/ou pelos detentores dos respectivos direitos de autor.
Guiné 63/74 - DCCCXXV: Mudança de instalações: a nova caserna de Luís Graça & Camaradas da Guiné
Por razões de espaço e de tráfego, tivemos que mudar de instalações. O nosso senhorio, o Blogger.com, só nos dá 300 MB para alojar o nosso álbum de fotografias, o que é pouco para tanta gente. De facto, ao fim de um ano já estamos na casa da centena de amigos & camaradas e já postámos, com este, 825 textos.
O blogue passa a chamar-se simplesmente Luís Graça & Camaradas da Guiné, dando continuidade ao Blogue-fora-nada. Continuará a ser o sítio (virtual) onde nos encontramos, sempre que quisermos e pudermos. É um blogue colectivo que tem por missão ajudar a reconstituir o puzzle da memória da guerra colonial (ou do ultramar, ou de libertação, como queiram) na Guiné, hoje República da Guiné-Bissau, nos anos quentes de 1963 a 1974.
É um blogue, em português, para tugas, turras e nharros, sem discriminação de alguma espécie (sexo, idade, nacionalidade, etnia, orientação sexual, estado civil, religião, clube, hobby, lobby, escolaridade, título, profissão, situação na profissão, posto na tropa, estatuto sócio-económico, idiossincrasia, etc.).
Tomem nota do novo endereço (e continuem a visitar o outro):
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com
Também podem fazer comentários espontânea e directamente...desde que assinados / identificados.
Já publicámos, noutro sítio, as regras (mínimas) da nossa tertúlia:
Fazemos uma pequena distinção, meramente circunstancial, entre: (i) amigos (como é o caso do José Carlos Mussá Biai, do Leopoldo Amado, do Pepito ou de outros guinéus, não combatentes; como é o caso das nossas companheiras ou dos nossos filhos); e (ii) camaradas (os que dormiram no mesmo chão, que foram mordidos pelos mesmos mosquitos, que comeram o mesmo pão que o diabo amassou, que verteram sangue, suor e lágrimas nos mesmos rios, lalas, bolanhas, matas, buracos e tabancas, que apanharam a esma porrada, independentemente da bandeira por que se bateram que se insultámos mutuamente, enfim, todos aqueles de nós que fomos tugas, nharros e turras)...
O nosso comportamento, agora como… tertulianos (alguém inventou uma palavra nova em português), deve apenas pautar-se por critérios éticos ou valores tais como:
(i) respeito uns pelos outros, pelas vivências, valores, sentimentos, memórias e opiniões uns dos outros (hoje e ontem);
(ii) manifestação serena mas franca dos nossos pontos de vista, mesmo quando discordamos, saudavelmente, uns dos outros;
(iii) consagração do nosso blogue como ágora ou como praça pública para para manifestação (aberta, franca, leal, serena) dos nossas eventuais críticas e divergências de pontos de vista (se houver roupa suja, discute-se primeiro na caserna...);
(iv) socialização da informação e do conhecimento sobre a história da guerra colonial/guerra de libertação da Guiné;
(v) carinho e amizade pelo povo da Guiné (que ganhou a guerra mas não ainda a paz) (e a reciprocidfade está implícta: ... e dos guineenses pelos portugueses));
(vi) respeito pelo inimigo de ontem (que, sempre o disse, nunca lutou contra o povo português, mas contra um regime político que negava o direito à autodeterminação dos povos) (nós também nunca confundidmos o PAIGC com o povo ou os povos da Guiné);
(vii) não-intromissão na vida política interna da República da Guiné-Bissau, salvaguardado sempre o direito de opinião de cada um de nós, como cidadãos (portugueses, guineenses, europeus, africanos, globais...);
(viii) respeito acima de tudo pela verdade dos factos…
O que nos une é muito mais do que aquilo que nos separa: e, assim sendo, lá vamos escrevendo, (sor)rindo, cantando, às vezes chorando mas sempre blogando!...
Luís Graça & Camaradas da Guiné
PS - Todos os textos são assinados, sendo da inteira e única responsabilidade do(s) seu(s) autor(es). Os textos eventualmente não assinados são da responsabilidade do editor do blogue: Luís Graça.
Todo o material aqui inserido (textos e fotos) são propriedade dos seus autores. A sua utilização, para outros fins (didácticos, editoriais, etc.), deve ser previamente autorizada pelo editor do blogue e/ou pelos detentores dos respectivos direitos de autor.
31 maio 2006
Guiné 63/74 - DCCCXXVII: A 'legenda' do capitão comando Bacar Jaló (João Tunes)
Caro Luís,
Muito me impressionaram as imagens trazidas pelo nosso camarada Marques Lopes sobre os "restos de lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram".
Dei conta do meu grito de indignação partilhada no meu blogue e conclui assim:
"Um país que não respeita os corpos dos mortos que mandou combater por ordem do governo da pátria, ou do governo do raio do império, permitindo dar a dignidade do luto pelos seus, é um país sem vergonha perante os vivos porque despreza os seus mortos."
Fazendo o meu percurso de dor e repulsa pelo abandono, através das imagens, reparei que a lápide do "lendário Capitão Comando João Bacar Jaló" (tombado no tempo em que ainda estava na Guiné, tendo-lhe deus - o deus da guerra - poupado, desta forma piedosa e antecipadora, a ignomínia de ser fuzilado, sem julgamento, pelo PAIGC e no pós-independência, isto se não tivesse podido fugir e voltar a estar sob as ordens de Alpoim Calvão e Spínola no MDLP e a participar na rede bombista) se apresenta não só com melhor aspecto de conservação, como é diferente, nas inscrições, das dos restantes camaradas mortos em combate, por acidente ou por doença.
Quanto à conservação, entendo as razões aventadas - terá por lá família que a cuide e lhe dê lustro. Quanto à inscrição, já não entendo a falta, para mim incompreensível, da usada nas outras lápides do PELA PÁTRIA.
Talvez o camarada Marques Lopes tenha indagado das razões e possa esclarecer se a lápide é a original ou não terá sido, para que se compreenda a sua diferença, refeita posteriormente em trabalho de reescrita histórica. Mera curiosidade, já que nada adianta ou atrasa quanto à sorte do Bacar Jaló que, neste momento, tanto lhe fará quais os dizeres da sua lápide funerária.
Também fiquei perplexo por, nas legendas das imagens das lápides, o camarada João Bacar Jaló ter tido direito ao epíteto honroso de lendário com que foi distinguido, no blogue, em realce relativamente aos outros nossos camaradas tombados e com os restos para ali abandonados. Que lendas teve este camarada que o diferenciem, na sorte e na missão, dos outros camaradas? Além da lenda do mistério da lápide diferente, o que se alude ou sugere? Combateu mais e melhor que os outros? Foi generoso e humano para com os prisioneiros? Terá sido o Che da contra-guerrilha?
É que das lendas de Bacar Jaló nada sei. Sei apenas que foi um valoroso e impiedoso guerreiro. Apenas me encontrei com ele e os seus guerreiros ou em trânsito ou quando ele se albergava momentaneamente nos quartéis onde estive ou então (isso, várias vezes) em Bissau, na messe de oficiais, quando ele entrava lustroso dos galões novos e arrastando atrás de si uma multidão de esposas bem ataviadas, provocando a debandada enojada da maior parte das esposas dos oficiais metropolitanos ali a tomarem chá e jogarem canasta e que não queriam tais misturas.
E quantos oficiais ao serviço do PELA PÁTRIA olhavam de imediato para o relógio, metiam logo fim ao king ou ao bridge e zarpavam para o cumprimento imediato das obrigações militares no Estado Maior, antes que o Jaló se lembrasse de abancar na mesma mesa?!
Será esta a lendaque referes? Mas, se foi, isto não é lenda, viram os meus olhos, repetidamente e então fazendo-me rir que nem um perdido pelo insólito (mas não era por mal, os copos bebidos é que já eram - sempre - em demasia) e que a terra, se não for o mar ou o ar, há-de comer.
Desculpa as minhas curiosidades. Que são, apenas, isso mesmo.
Grande abraço para ti e saudações camaradas e amigas para todos os estimados tertulianos.
João Tunes
Comentário de L.G.:
João:
(i) O teu olho clínico não deixa escapar nada. E ainda bem, que alguém exerce essa função de vigilância (crítica) sobre os nossos dizeres, a forma e o conteúdo. Claro que se não trata aqui, como no goulag ou na caserna do antigamente, de vigiar e punir. A nossa paixão é a da verdade e do rigor. Felizmente que, não sendo um partido revolucionário ou contra-revolucionário, não sendo um movimento social, nem sendo uma corporação, não sendo sequer um grupo jantarista e excursionista, a nossa tertúlia (virtual) não precisa de comissário político, ideólogo, líder, professor, educador, animador sócio-cultural, pai, mãe ou outras figuras que tais. Liberdade de escrita, liberdade de crítica: eis o nosso lema (implícito na nossa prática bloguista).
(ii) Dito isto, tens toda razão: o adjectivo lendário aplicado ao Bacar Jaló é tão excessivo como a ideia do Marques Lopes me mandar condecorar no 10 de Junho com cruz de guerra com palma e tudo!... Que grande amigalhaço!...
A verdade é, segundo consulta ao meu dicionário etimológico, lendário deriva de lenda, e este vocábulo por sua vez vem do latim medieval legenda que queria significar "vida de santo"... Imagina só!
(iii) Eu não sei se o Bacar Jaló era ou não era em vida um bom muçulmano, mas santo é que eu não posso dizer que ele era(pelo menos, santo da minha devoção), a avaliar, de resto, por testemumnhos como o teu e o do Jorge Cabral (este, para mais, tinha de o gramar como hóspede em Fá Mandinga)...
(iv) Para abreviar razões, e poupar o meu e o teu tempo: O raio do adjectivo saltou-me do saco lexicográfico, por puro automatismo. Lapsus linguae ou acto falhado, eis a questão ?
(v) Pensando bem, sou capaz de inclinar-me mais para a interpretação psicanalítica: eu, tropa-macaca, tão pacifista como tu, tão suspeito de ser do contra como tu - ao ponto de me apodarem de camarada sov - também tinha as minhas fraquezas (humanas), quiçá, as minhas fantasias sadobelicistas... E até um dia tive, por uma fracção de segundo, o desejo secreto de comprar uma Kalash aos gajos dos comandos africanos, acabados de chegar do triste safari de Conacri... Imagina como é o psiquismo de um gajo!... Felizmente que o meu lado solar, racional, diurno, se impôs ao hemisfério lunar, romântico, irracional, nocturno, na outra fracção de segundo em que eu confrontei o desejo com a realidade... Preferi comprar 10 garrafas de uísque com os 500 pesos que me pediam pela bela Kalash...
(vi) É óbvio que o Jaló não merece o epíteto. Chamar-lhe lendário (logo, santo) era pô-lo no Olimpo dos guerreiros e mandar o resto dos nossos camaradas, insepultos, para a miserável vala comum... Era tirar-lhes, como tu insinuas, sugeres ou até afirmas, o resto de dignidade que é devida a um morto pela Pátria, um morto, qualquer morto...
(vii) Depois desta autocrítica mal amanhadas, espero que me releves a falta... de leviandade. Prometo ter mais cuidado com o verbo.
(viii) Escusado será dizer-te que é sempre um prazer ler-te e (re)ver-te mesmo à distância de muitos bytes (ou baites), enquanto a gente não se mete nas nossas tamanquinhas e reserva aí um lugar numa esplanada à beira Tejo para a prova real do blogue, fora nada... Um abraço caloroso. Luís.
Guiné 63/74 - DCCCXXVII: A 'legenda' do capitão comando Bacar Jaló (João Tunes)
Caro Luís,
Muito me impressionaram as imagens trazidas pelo nosso camarada Marques Lopes sobre os "restos de lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram".
Dei conta do meu grito de indignação partilhada no meu blogue e conclui assim:
"Um país que não respeita os corpos dos mortos que mandou combater por ordem do governo da pátria, ou do governo do raio do império, permitindo dar a dignidade do luto pelos seus, é um país sem vergonha perante os vivos porque despreza os seus mortos."
Fazendo o meu percurso de dor e repulsa pelo abandono, através das imagens, reparei que a lápide do "lendário Capitão Comando João Bacar Jaló" (tombado no tempo em que ainda estava na Guiné, tendo-lhe deus - o deus da guerra - poupado, desta forma piedosa e antecipadora, a ignomínia de ser fuzilado, sem julgamento, pelo PAIGC e no pós-independência, isto se não tivesse podido fugir e voltar a estar sob as ordens de Alpoim Calvão e Spínola no MDLP e a participar na rede bombista) se apresenta não só com melhor aspecto de conservação, como é diferente, nas inscrições, das dos restantes camaradas mortos em combate, por acidente ou por doença.
Quanto à conservação, entendo as razões aventadas - terá por lá família que a cuide e lhe dê lustro. Quanto à inscrição, já não entendo a falta, para mim incompreensível, da usada nas outras lápides do PELA PÁTRIA.
Talvez o camarada Marques Lopes tenha indagado das razões e possa esclarecer se a lápide é a original ou não terá sido, para que se compreenda a sua diferença, refeita posteriormente em trabalho de reescrita histórica. Mera curiosidade, já que nada adianta ou atrasa quanto à sorte do Bacar Jaló que, neste momento, tanto lhe fará quais os dizeres da sua lápide funerária.
Também fiquei perplexo por, nas legendas das imagens das lápides, o camarada João Bacar Jaló ter tido direito ao epíteto honroso de lendário com que foi distinguido, no blogue, em realce relativamente aos outros nossos camaradas tombados e com os restos para ali abandonados. Que lendas teve este camarada que o diferenciem, na sorte e na missão, dos outros camaradas? Além da lenda do mistério da lápide diferente, o que se alude ou sugere? Combateu mais e melhor que os outros? Foi generoso e humano para com os prisioneiros? Terá sido o Che da contra-guerrilha?
É que das lendas de Bacar Jaló nada sei. Sei apenas que foi um valoroso e impiedoso guerreiro. Apenas me encontrei com ele e os seus guerreiros ou em trânsito ou quando ele se albergava momentaneamente nos quartéis onde estive ou então (isso, várias vezes) em Bissau, na messe de oficiais, quando ele entrava lustroso dos galões novos e arrastando atrás de si uma multidão de esposas bem ataviadas, provocando a debandada enojada da maior parte das esposas dos oficiais metropolitanos ali a tomarem chá e jogarem canasta e que não queriam tais misturas.
E quantos oficiais ao serviço do PELA PÁTRIA olhavam de imediato para o relógio, metiam logo fim ao king ou ao bridge e zarpavam para o cumprimento imediato das obrigações militares no Estado Maior, antes que o Jaló se lembrasse de abancar na mesma mesa?!
Será esta a lendaque referes? Mas, se foi, isto não é lenda, viram os meus olhos, repetidamente e então fazendo-me rir que nem um perdido pelo insólito (mas não era por mal, os copos bebidos é que já eram - sempre - em demasia) e que a terra, se não for o mar ou o ar, há-de comer.
Desculpa as minhas curiosidades. Que são, apenas, isso mesmo.
Grande abraço para ti e saudações camaradas e amigas para todos os estimados tertulianos.
João Tunes
Comentário de L.G.:
João:
(i) O teu olho clínico não deixa escapar nada. E ainda bem, que alguém exerce essa função de vigilância (crítica) sobre os nossos dizeres, a forma e o conteúdo. Claro que se não trata aqui, como no goulag ou na caserna do antigamente, de vigiar e punir. A nossa paixão é a da verdade e do rigor. Felizmente que, não sendo um partido revolucionário ou contra-revolucionário, não sendo um movimento social, nem sendo uma corporação, não sendo sequer um grupo jantarista e excursionista, a nossa tertúlia (virtual) não precisa de comissário político, ideólogo, líder, professor, educador, animador sócio-cultural, pai, mãe ou outras figuras que tais. Liberdade de escrita, liberdade de crítica: eis o nosso lema (implícito na nossa prática bloguista).
(ii) Dito isto, tens toda razão: o adjectivo lendário aplicado ao Bacar Jaló é tão excessivo como a ideia do Marques Lopes me mandar condecorar no 10 de Junho com cruz de guerra com palma e tudo!... Que grande amigalhaço!...
A verdade é, segundo consulta ao meu dicionário etimológico, lendário deriva de lenda, e este vocábulo por sua vez vem do latim medieval legenda que queria significar "vida de santo"... Imagina só!
(iii) Eu não sei se o Bacar Jaló era ou não era em vida um bom muçulmano, mas santo é que eu não posso dizer que ele era(pelo menos, santo da minha devoção), a avaliar, de resto, por testemumnhos como o teu e o do Jorge Cabral (este, para mais, tinha de o gramar como hóspede em Fá Mandinga)...
(iv) Para abreviar razões, e poupar o meu e o teu tempo: O raio do adjectivo saltou-me do saco lexicográfico, por puro automatismo. Lapsus linguae ou acto falhado, eis a questão ?
(v) Pensando bem, sou capaz de inclinar-me mais para a interpretação psicanalítica: eu, tropa-macaca, tão pacifista como tu, tão suspeito de ser do contra como tu - ao ponto de me apodarem de camarada sov - também tinha as minhas fraquezas (humanas), quiçá, as minhas fantasias sadobelicistas... E até um dia tive, por uma fracção de segundo, o desejo secreto de comprar uma Kalash aos gajos dos comandos africanos, acabados de chegar do triste safari de Conacri... Imagina como é o psiquismo de um gajo!... Felizmente que o meu lado solar, racional, diurno, se impôs ao hemisfério lunar, romântico, irracional, nocturno, na outra fracção de segundo em que eu confrontei o desejo com a realidade... Preferi comprar 10 garrafas de uísque com os 500 pesos que me pediam pela bela Kalash...
(vi) É óbvio que o Jaló não merece o epíteto. Chamar-lhe lendário (logo, santo) era pô-lo no Olimpo dos guerreiros e mandar o resto dos nossos camaradas, insepultos, para a miserável vala comum... Era tirar-lhes, como tu insinuas, sugeres ou até afirmas, o resto de dignidade que é devida a um morto pela Pátria, um morto, qualquer morto...
(vii) Depois desta autocrítica mal amanhadas, espero que me releves a falta... de leviandade. Prometo ter mais cuidado com o verbo.
(viii) Escusado será dizer-te que é sempre um prazer ler-te e (re)ver-te mesmo à distância de muitos bytes (ou baites), enquanto a gente não se mete nas nossas tamanquinhas e reserva aí um lugar numa esplanada à beira Tejo para a prova real do blogue, fora nada... Um abraço caloroso. Luís.
Guiné 63/74 - DCCCXXIV: Antologia (40): A vergonha em debater a guerra colonial (António Luís Marinho)
Caros amigos e camaradas de tertúlia: Este blogue, colectivo sobre a experiência da guerra colonial na Guiné, tem sido um espaço privilegiado para dar voz (e rosto) aos antigos combatentes, de um e de outro lado. É um espaço plural, logo de liberdade, onde as diferenças (de pontos de vista, de sentimentos, de valores, de percepções,de estilos comunicacionais, de idiossincrasias, etc.) não impede que haja comunalidades na procura da verdade, no diálogo, na construção de pontes entre o passado, o presnete e o futuro, na reconstituição do puzzle da memória (de dois povos, dois países, dois continentes...). Espaço de liberdade, mas também de solidariedade, com o povo irmão da Guiné-Bissau... Não somos um clube de saudosistas, de africanistas, de veteranos...
Temos sido muito proactivos na produção e divulgação de textos e imagens, de preferência inéditos, pessoais, datados... Tal não impede, que de vez em quando, se reproduzam aqui documentos que trazem alguma luz sobre a complexidade realidade deste tempo histórico de que todos, de um lado e de outro, fomos protagonistas.
Serve este preâmbulo para justificar a reprodução, com a devida vénia, da entrevista ao DN - Diário de Notícias, em Abril passado, dada por Luís Marinho, que acabou de publicar um trabalho de investigação jornalística sobre a Op Mar Verde que, ainda hoje, tantas paixões de sinal contrário desencadeia entre nós...
O autor que teve acesso a fontes privilegiadas, a começar pelo cérebro da operação, Alpoím Galvão, diz pelo meso duas ou três coisas que eu gostaria de aqui sublinhar e reter: (i) o processo oficial da operação foi mandado destruído, em nome da segurança de Estado; (ii) a instituição militar portuguesa não quer (pou ainda receia) abrir "caixa de Pandora que são os dossiês da guerra colonial: isso eu já o sabia, desde a minha colaboração com o o jornalista Afonso Praça no defunto O Jornal, no princípio da década de 1980; e, por fim, (iii) temos ainda vergonha de falar, em privado e em pública, da guerra dita colonial ou do ultramar (de liberatção, dirá o Pepito ou o Leopoldo Amado): não apenas nós, também os nosso amigos guineenses... Será verdade ? A generalização não é abusoiva ? Nóis, peo menos, neste blogue aprendemos a falar em voz alta, olhos nos olhos, desta experiência, individual e colectiva, que nos marcou a todos de maneira indelével... Todos quisemos esquecer a Guiné, em algum momeno, e acabámos por estar aqui, rindo, falando, escrevendo, cantando, chorando, blogando em conjunto, numa caserna que é do tamanho do mundo... (LG)
PS - Aproveitem para comprar e ler o livro, aproveitando os descontos da Feira do Livro, de Lisboa e Porto, a abrir agora, nos próximos dias do mês de Junho. É apenas uma sugestão de leitura, nunca esquecendo que há muito mais mundo para lá da Operação Mar Verde bem como da própria guerra colonial e até da nossa querida Guiné-Bissau...
'Mar Verde': revelados documentos sobre operação militar ainda secreta.
Manuel Carlos Freire. Diário de Notícias. 17 de Abril de 2006
A Operação Mar Verde, realizada em Novembro de 1970, foi uma das maiores e mais controversas missões executadas pelas Forças Armadas portuguesas nas guerras coloniais (1961-1974). Mas só agora vê rompido o secretismo decorrente da falta de documentação nos arquivos civis e militares oficiais e do seu não reconhecimento pelo Estado.
António Luís Marinho, autor do recém-lançado livro Operação Mar Verde, Um Documento para a História, contou ao DN que o seu trabalho de pesquisa documental confirmou "a tradição de não dar aos arquivos os documentos oficiais" produzidos.
O jornalista (e actual director de informação da RTP) revela pela primeira vez um conjunto de textos oficiais sobre aquela operação. Contudo, "não acredito que haja uma discussão" sobre o assunto porque há "pouca tradição, infelizmente, de discutir" as questões da guerra colonial. "Parece que metemos a cabeça na areia, que há vergonha" de a debater, lamenta o autor.
O livro começou a ser preparado há 11 anos, quando "o entusiasmo" com que Luís Marinho ouvia o comandante Alpoim Calvão falar do ataque por si liderado contra a República da Guiné-Conacry "não [o] deixou indiferente". "Percebi também que estava ali uma história que valeria a pena contar", escreveu o jornalista no prefácio do livro editado pelo Círculo de Leitores. A importância de contar essa história era tanto maior quanto o marechal António de Spínola (comandante-geral e governador daquela colónia à data dos acontecimentos), assumira perante o Centro de Estudos das Campanhas Africanas (em 1989) que "o processo oficial sobre a "Operação Mar Verde" foi destruído".
A obra, escrita em estilo de reportagem e com recurso a fontes das duas partes em conflito, revela na íntegra 18 documentos de arquivos particulares, permitindo conhecer as posições (tanto no plano político como militar) de vários dos actores envolvidos. Além de divulgar A solução do problema da Guiné preconizada pelo general António de Spínola, o livro publica a "ordem de operações" manuscrita daquela operação, o relatório elaborado por Alpoim Calvão após a sua realização ou o redigido pelo comandante do único dos navios que tinha como missão "abicar em terra para desembarcar forças", o primeiro-tenente Costa Correia (um dos poucos que verbalizaram reservas à operação).
No livro, onde o jornalista lembra o contexto político, diplomático e militar da época, e historia a preparação e execução da Mar Verde, sobressaem precisamente as dúvidas e reservas existentes ao nível político e militar contra a operação.
Esta foi pensada por Alpoim Calvão, que a apresentou a Spínola em Agosto de 1969. O brigadeiro do monóculo "ouve com visível agrado a proposta de Calvão e diz-lhe para avançar com os preparativos", escreve Luís Marinho na página 62. Mas só no fim desse ano é que a missão ganha contornos definidos, quando dissidentes da Guiné-Conacry (ligados aos serviços secretos franceses) pedem apoio ao Ministério do Ultramar para derrubar o Presidente Sékou Touré.
O autor diz, ainda na mesma página, que "as Informações constituíram, desde o início, o 'calcanhar de Aquiles' da operação, e uma constante preocupação para Alpoim Calvão". Mas esta consciência, que a operação validaria, não fez vacilar o chefe fuzileiro. E tanto ele como o general Spínola deram ordem de prisão e fizeram ameaças directas aos que ousaram exprimir dúvidas sobre a exequibilidade da operação.
Outro aspecto singular da operação é que, já em Novembro e a poucos dias do início da acção, "há passos decisivos que não foram ainda dados" (página 86). Spínola, tendo pareceres negativos dos ministros da Defesa, Sá Viana Rebelo, e do Ultramar, Silva Cunha - o chefe da diplomacia, Rui Patrício, desconhecia o assunto -, "decide jogar o tudo por tudo e vai até ao limite", escrevendo ao presidente do Conselho uma carta que manda entregar por "um enviado especial" - o próprio Alpoim Calvão, recebido por Marcello Caetano a 16 de Novembro.
Luís Marinho revela também o diário pessoal do comandante da Defesa Marítima da Guiné (CDMG), comodoro Luciano Bastos, em que este revela "a fúria" de Spínola com os resultados da operação. Tendo-o chamado ao seu gabinete, o brigadeiro disse-lhe, "por vezes com grande excitação, que o Calvão, embora tivesse planeado tudo muito bem e que, sem ele, a operação não se realizaria, havia falhado redondamente no campo da execução". Spínola "acrescentou ainda que o Calvão actuara como para realizar um golpe de mão, sem ter percebido que o fundamental ali era o golpe de Estado", lê-se no diário do comodoro.
Guiné 63/74 - DCCCXXIV: Antologia (40): A vergonha em debater a guerra colonial (António Luís Marinho)
Caros amigos e camaradas de tertúlia: Este blogue, colectivo sobre a experiência da guerra colonial na Guiné, tem sido um espaço privilegiado para dar voz (e rosto) aos antigos combatentes, de um e de outro lado. É um espaço plural, logo de liberdade, onde as diferenças (de pontos de vista, de sentimentos, de valores, de percepções,de estilos comunicacionais, de idiossincrasias, etc.) não impede que haja comunalidades na procura da verdade, no diálogo, na construção de pontes entre o passado, o presnete e o futuro, na reconstituição do puzzle da memória (de dois povos, dois países, dois continentes...). Espaço de liberdade, mas também de solidariedade, com o povo irmão da Guiné-Bissau... Não somos um clube de saudosistas, de africanistas, de veteranos...
Temos sido muito proactivos na produção e divulgação de textos e imagens, de preferência inéditos, pessoais, datados... Tal não impede, que de vez em quando, se reproduzam aqui documentos que trazem alguma luz sobre a complexidade realidade deste tempo histórico de que todos, de um lado e de outro, fomos protagonistas.
Serve este preâmbulo para justificar a reprodução, com a devida vénia, da entrevista ao DN - Diário de Notícias, em Abril passado, dada por Luís Marinho, que acabou de publicar um trabalho de investigação jornalística sobre a Op Mar Verde que, ainda hoje, tantas paixões de sinal contrário desencadeia entre nós...
O autor que teve acesso a fontes privilegiadas, a começar pelo cérebro da operação, Alpoím Galvão, diz pelo meso duas ou três coisas que eu gostaria de aqui sublinhar e reter: (i) o processo oficial da operação foi mandado destruído, em nome da segurança de Estado; (ii) a instituição militar portuguesa não quer (pou ainda receia) abrir "caixa de Pandora que são os dossiês da guerra colonial: isso eu já o sabia, desde a minha colaboração com o o jornalista Afonso Praça no defunto O Jornal, no princípio da década de 1980; e, por fim, (iii) temos ainda vergonha de falar, em privado e em pública, da guerra dita colonial ou do ultramar (de liberatção, dirá o Pepito ou o Leopoldo Amado): não apenas nós, também os nosso amigos guineenses... Será verdade ? A generalização não é abusoiva ? Nóis, peo menos, neste blogue aprendemos a falar em voz alta, olhos nos olhos, desta experiência, individual e colectiva, que nos marcou a todos de maneira indelével... Todos quisemos esquecer a Guiné, em algum momeno, e acabámos por estar aqui, rindo, falando, escrevendo, cantando, chorando, blogando em conjunto, numa caserna que é do tamanho do mundo... (LG)
PS - Aproveitem para comprar e ler o livro, aproveitando os descontos da Feira do Livro, de Lisboa e Porto, a abrir agora, nos próximos dias do mês de Junho. É apenas uma sugestão de leitura, nunca esquecendo que há muito mais mundo para lá da Operação Mar Verde bem como da própria guerra colonial e até da nossa querida Guiné-Bissau...
'Mar Verde': revelados documentos sobre operação militar ainda secreta.
Manuel Carlos Freire. Diário de Notícias. 17 de Abril de 2006
A Operação Mar Verde, realizada em Novembro de 1970, foi uma das maiores e mais controversas missões executadas pelas Forças Armadas portuguesas nas guerras coloniais (1961-1974). Mas só agora vê rompido o secretismo decorrente da falta de documentação nos arquivos civis e militares oficiais e do seu não reconhecimento pelo Estado.
António Luís Marinho, autor do recém-lançado livro Operação Mar Verde, Um Documento para a História, contou ao DN que o seu trabalho de pesquisa documental confirmou "a tradição de não dar aos arquivos os documentos oficiais" produzidos.
O jornalista (e actual director de informação da RTP) revela pela primeira vez um conjunto de textos oficiais sobre aquela operação. Contudo, "não acredito que haja uma discussão" sobre o assunto porque há "pouca tradição, infelizmente, de discutir" as questões da guerra colonial. "Parece que metemos a cabeça na areia, que há vergonha" de a debater, lamenta o autor.
O livro começou a ser preparado há 11 anos, quando "o entusiasmo" com que Luís Marinho ouvia o comandante Alpoim Calvão falar do ataque por si liderado contra a República da Guiné-Conacry "não [o] deixou indiferente". "Percebi também que estava ali uma história que valeria a pena contar", escreveu o jornalista no prefácio do livro editado pelo Círculo de Leitores. A importância de contar essa história era tanto maior quanto o marechal António de Spínola (comandante-geral e governador daquela colónia à data dos acontecimentos), assumira perante o Centro de Estudos das Campanhas Africanas (em 1989) que "o processo oficial sobre a "Operação Mar Verde" foi destruído".
A obra, escrita em estilo de reportagem e com recurso a fontes das duas partes em conflito, revela na íntegra 18 documentos de arquivos particulares, permitindo conhecer as posições (tanto no plano político como militar) de vários dos actores envolvidos. Além de divulgar A solução do problema da Guiné preconizada pelo general António de Spínola, o livro publica a "ordem de operações" manuscrita daquela operação, o relatório elaborado por Alpoim Calvão após a sua realização ou o redigido pelo comandante do único dos navios que tinha como missão "abicar em terra para desembarcar forças", o primeiro-tenente Costa Correia (um dos poucos que verbalizaram reservas à operação).
No livro, onde o jornalista lembra o contexto político, diplomático e militar da época, e historia a preparação e execução da Mar Verde, sobressaem precisamente as dúvidas e reservas existentes ao nível político e militar contra a operação.
Esta foi pensada por Alpoim Calvão, que a apresentou a Spínola em Agosto de 1969. O brigadeiro do monóculo "ouve com visível agrado a proposta de Calvão e diz-lhe para avançar com os preparativos", escreve Luís Marinho na página 62. Mas só no fim desse ano é que a missão ganha contornos definidos, quando dissidentes da Guiné-Conacry (ligados aos serviços secretos franceses) pedem apoio ao Ministério do Ultramar para derrubar o Presidente Sékou Touré.
O autor diz, ainda na mesma página, que "as Informações constituíram, desde o início, o 'calcanhar de Aquiles' da operação, e uma constante preocupação para Alpoim Calvão". Mas esta consciência, que a operação validaria, não fez vacilar o chefe fuzileiro. E tanto ele como o general Spínola deram ordem de prisão e fizeram ameaças directas aos que ousaram exprimir dúvidas sobre a exequibilidade da operação.
Outro aspecto singular da operação é que, já em Novembro e a poucos dias do início da acção, "há passos decisivos que não foram ainda dados" (página 86). Spínola, tendo pareceres negativos dos ministros da Defesa, Sá Viana Rebelo, e do Ultramar, Silva Cunha - o chefe da diplomacia, Rui Patrício, desconhecia o assunto -, "decide jogar o tudo por tudo e vai até ao limite", escrevendo ao presidente do Conselho uma carta que manda entregar por "um enviado especial" - o próprio Alpoim Calvão, recebido por Marcello Caetano a 16 de Novembro.
Luís Marinho revela também o diário pessoal do comandante da Defesa Marítima da Guiné (CDMG), comodoro Luciano Bastos, em que este revela "a fúria" de Spínola com os resultados da operação. Tendo-o chamado ao seu gabinete, o brigadeiro disse-lhe, "por vezes com grande excitação, que o Calvão, embora tivesse planeado tudo muito bem e que, sem ele, a operação não se realizaria, havia falhado redondamente no campo da execução". Spínola "acrescentou ainda que o Calvão actuara como para realizar um golpe de mão, sem ter percebido que o fundamental ali era o golpe de Estado", lê-se no diário do comodoro.
Guiné 63/74 - DCCCXXIII: Ainda sobre os fuzilamentos (Jorge Cabral)
Texto do Jorge Cabral (ex-Alferes Miliciano de Artilharia, comandante do Pel Caç Nat 63, destacado em Fá Mandinga e depois em Missirá, Sector L1 - Bambadinca, Zona Leste, 1969/71).
Caro amigo, companheiro e camarada
Muito atarefado embora, tenho procurado seguir todas as intervenções produzidas sobre as questões dos Fuzilamentos.
Mantenho a opinião que sempre tive sobre a Guerra Colonial, uma guerra absurda, injusta e cruel. Já assim pensava em Mafra, quando conheci o camarada Tunes (1), por intermédio do amigo comum Resende.
Como já escrevi, as nossas experiências foram diferentes. Cada um de nós conheceu uma pequena parte da Guiné, e o contacto com tropas e populações africanas, que para uns foi diminuto ou inexistente, constituiu para outros o dia a dia, comendo juntos, dormindo lado a lado, partilhando medos comuns, e chorando os mesmos mortos. Será pois natural, que a sensibilidade com que abordamos o problema, reflicta essa realidade. Obviamente que uma coisa é analisar em abstracto, outra é sentir, recordando Homens concretos, com nome, família e sonhos, executados sumariamente.
Que o Exército Colonial cometeu crimes é verdade, o que não fez (nem faz) de nós todos violadores, torturadores ou massacradores. Inerentes ao colonialismo foram a violência, a opressão e a injustiça. De quem o combateu era legítimo esperar outro tipo de comportamentos mais idóneos à construção de uma sociedade mais Justa, Humana e Solidária.
Podemos evidentemente explicar e até procurar entender, mas tal não pode implicar a concordância ou aceitação, justificando porque sempre foi assim e transformando a vingança em regra. O crime não se combate com o crime, e o direito a ser julgado não é um luxo burgês, nem o "olho por olho, dente por dente" bíblico poderá ser tolerado. Trata-se de uma conquista da Humanidade, que deve ser vigente em todo o Mundo. Não existiram bons ou maus Gulagues, nem existem bons ou maus Guantanamos...
Informou o nosso historiador [Leopoldo Amado] que foram mortos cerca de 11.000 homens, e que em 1976 ainda se fuzilavam colaboradores dos Portugueses. Tal número é impressionante, e certamente ninguém de bom senso, admitirá que todos tenham sido criminosos de guerra, torturadores ou pides. Tratou-se de uma matança injustificada e absurda, cujas sequelas perduram até hoje, cá e lá. Também alguns dos meus soldados pereceram e nunca nenhum, durante os vinte e sete meses que os comandei, cometeu qualquer crime de guerra. Eram homens cansados, alguns com mais de quarenta anos, que faziam a guerra por necessidade e rotina, uma tropa fandanga sem heróis.
Quanto aos Comandos Africanos, conheci-os como Pessoas, em Fá Madinga, no período de instrução da Companhia. Nunca os acompanhei em combate e os temas das nossas conversas raramente incidiam sobre a guerra. Ensinavam-me costumes e tradições da Guiné, e eu retribuía, descrevendo a beleza do meu País.
Acredito que tenham cometido crimes de guerra como aliás todos os Africanos que~, aliados aos Portugueses, lutaram nas Campanhas de Pacificação. Falar no meu tempo, aos Homens Grandes Mandingas, no nome de Abdul Injaí, impunha ainda o respeito e o medo, mas também a admiração. Toda a história da Guiné do Séc. XIX e inícios do Séc. XX, está prenhe de violência, massacres, razias, saques.
Claro que não conhecíamos a História, tendo-nos sido inculcada a ficção de um País idílico, de pretinhos obedientes e portuguesíssimos, posto a ferro e fogo por traidores comunistas. Nós não sabíamos mas certamente a elite conselheira do Spínola havia estudado o passado e aprendido a manobrar as profundas inimizades étnicas. Sabiam eles, já então, também, qual seria o destino da Guerra, e o que iria acontecer à tropa africana.
Perdoa-me, Luís, a extensão do desabafo, mas qualificar de ingénua a minha intransigente posição sobre a dignidade da Pessoa Humana, em todas as circunstâncias, custa-me, porque há muitos anos ensino que nenhum Homem é monstro, que os monstros se abatem, mas que os Homens se julgam.
Um grande, grande Abraço
Jorge
P.S. – Se Amílcar Cabral fosse vivo, teria permitido o que aconteceu?
___________
Notas de L.G.
(1) Vd. post de 17 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXVIII: Ainda sobre os fuzilados... ou comentário ao texto do Jorge Cabral (João Tunes)
(2) Vd. post de 16 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXIV: Fala-se em 11 mil fuzilados (Leopoldo Amado, historiador)
Guiné 63/74 - DCCCXXIII: Ainda sobre os fuzilamentos (Jorge Cabral)
Texto do Jorge Cabral (ex-Alferes Miliciano de Artilharia, comandante do Pel Caç Nat 63, destacado em Fá Mandinga e depois em Missirá, Sector L1 - Bambadinca, Zona Leste, 1969/71).
Caro amigo, companheiro e camarada
Muito atarefado embora, tenho procurado seguir todas as intervenções produzidas sobre as questões dos Fuzilamentos.
Mantenho a opinião que sempre tive sobre a Guerra Colonial, uma guerra absurda, injusta e cruel. Já assim pensava em Mafra, quando conheci o camarada Tunes (1), por intermédio do amigo comum Resende.
Como já escrevi, as nossas experiências foram diferentes. Cada um de nós conheceu uma pequena parte da Guiné, e o contacto com tropas e populações africanas, que para uns foi diminuto ou inexistente, constituiu para outros o dia a dia, comendo juntos, dormindo lado a lado, partilhando medos comuns, e chorando os mesmos mortos. Será pois natural, que a sensibilidade com que abordamos o problema, reflicta essa realidade. Obviamente que uma coisa é analisar em abstracto, outra é sentir, recordando Homens concretos, com nome, família e sonhos, executados sumariamente.
Que o Exército Colonial cometeu crimes é verdade, o que não fez (nem faz) de nós todos violadores, torturadores ou massacradores. Inerentes ao colonialismo foram a violência, a opressão e a injustiça. De quem o combateu era legítimo esperar outro tipo de comportamentos mais idóneos à construção de uma sociedade mais Justa, Humana e Solidária.
Podemos evidentemente explicar e até procurar entender, mas tal não pode implicar a concordância ou aceitação, justificando porque sempre foi assim e transformando a vingança em regra. O crime não se combate com o crime, e o direito a ser julgado não é um luxo burgês, nem o "olho por olho, dente por dente" bíblico poderá ser tolerado. Trata-se de uma conquista da Humanidade, que deve ser vigente em todo o Mundo. Não existiram bons ou maus Gulagues, nem existem bons ou maus Guantanamos...
Informou o nosso historiador [Leopoldo Amado] que foram mortos cerca de 11.000 homens, e que em 1976 ainda se fuzilavam colaboradores dos Portugueses. Tal número é impressionante, e certamente ninguém de bom senso, admitirá que todos tenham sido criminosos de guerra, torturadores ou pides. Tratou-se de uma matança injustificada e absurda, cujas sequelas perduram até hoje, cá e lá. Também alguns dos meus soldados pereceram e nunca nenhum, durante os vinte e sete meses que os comandei, cometeu qualquer crime de guerra. Eram homens cansados, alguns com mais de quarenta anos, que faziam a guerra por necessidade e rotina, uma tropa fandanga sem heróis.
Quanto aos Comandos Africanos, conheci-os como Pessoas, em Fá Madinga, no período de instrução da Companhia. Nunca os acompanhei em combate e os temas das nossas conversas raramente incidiam sobre a guerra. Ensinavam-me costumes e tradições da Guiné, e eu retribuía, descrevendo a beleza do meu País.
Acredito que tenham cometido crimes de guerra como aliás todos os Africanos que~, aliados aos Portugueses, lutaram nas Campanhas de Pacificação. Falar no meu tempo, aos Homens Grandes Mandingas, no nome de Abdul Injaí, impunha ainda o respeito e o medo, mas também a admiração. Toda a história da Guiné do Séc. XIX e inícios do Séc. XX, está prenhe de violência, massacres, razias, saques.
Claro que não conhecíamos a História, tendo-nos sido inculcada a ficção de um País idílico, de pretinhos obedientes e portuguesíssimos, posto a ferro e fogo por traidores comunistas. Nós não sabíamos mas certamente a elite conselheira do Spínola havia estudado o passado e aprendido a manobrar as profundas inimizades étnicas. Sabiam eles, já então, também, qual seria o destino da Guerra, e o que iria acontecer à tropa africana.
Perdoa-me, Luís, a extensão do desabafo, mas qualificar de ingénua a minha intransigente posição sobre a dignidade da Pessoa Humana, em todas as circunstâncias, custa-me, porque há muitos anos ensino que nenhum Homem é monstro, que os monstros se abatem, mas que os Homens se julgam.
Um grande, grande Abraço
Jorge
P.S. – Se Amílcar Cabral fosse vivo, teria permitido o que aconteceu?
___________
Notas de L.G.
(1) Vd. post de 17 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXVIII: Ainda sobre os fuzilados... ou comentário ao texto do Jorge Cabral (João Tunes)
(2) Vd. post de 16 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXIV: Fala-se em 11 mil fuzilados (Leopoldo Amado, historiador)
Guiné 63/74 - DCCCXXII: Mais ex-combatentes fuzilados a seguir à independência (João Parreira)
Mais: é um dever dos tugas que conhecerem, treinaram e foram camaradas de armas destes homens, uma obrigação de Portugal e da Guiné-Bissau, dois países que se dizem irmãos e onde ainda existe uma enorme complexo de culpa e um sentimento de vergonha que nos impede falar publicamente, olhos nos olhos, da guerra colonial e pós-colonial, das suas sequelas e dos seus fantasmas... Em Portugal e na Guiné-Bissau, os armários da nossa memória colectiva estão cheios de cadáveres, reais ou fantasmagóricos: temos que os abrir, por mor da verdade histórica e da nossa saúde mental... (LG).
Caro Luís Graça,
Sobre o que tem vindo a lume, posso garantir que durante o tempo que permaneci na Guiné, 1964/66, nunca assisti ou ouvi falar de assassinatos de guineenses pelos comandos africanos que integraram os Grupos existentes na altura.
Estávamos em estado de guerra, onde ninguém pediu para ir, e a intenção, julgo eu, era matar para não morrer. Assim, em ambas as partes, por vezes era inevitável não haver mortos ou feridos em combate. Felizes os camaradas que nunca estiveram metidos em combates, e por isso desconhecem quanto traumatizante é essa situação.
Como todos nós que por lá andámos sabemos, os Grupos de guerrilheiros, a que muitos guineenses se juntaram voluntariamente, estavam nìtidamente em vantagem pois conheciam bem o terreno, tinham grande resistência e mobilidade, sobreviviam com pouco, estavam bem armados e conheciam bem as tácticas de guerrilhas, aprendida em vários países estrangeiros, para além de terem a colaboração natural ou forçada das populações. Em caso de necessidade tinham a vantagem de terem santuário em países vizinhos.
Se os guineenses que mais tarde fizeram parte das companhias de comandos não tivessem optado por se alistarem, e como tal sido treinados pelo nosso Exército, seriam por certo forçados a lutar ao lado dos guerrilheiros.
Agora visto por outro prisma. Se estes africanos eram assim tão sanguinários e assassinos como dizem, pois desconheço, pobres de nós, militares portugueses, se os mesmo se tivessem aliado aos seus irmãos de côr. Ou pior ainda, se mais tarde desertassem e se juntassem à causa da guerrilha.
Veio a verificar-se que fizeram uma opção errada, pois não seriam executados e hoje seriam, talvez, heróis nacionais, já que com o seu treino e perícia, teriam por certo no seu palmarés a morte de manga de portugueses, e quem sabe se algum de nós.
Outros fuzilamentos após a Independência da Guiné:
1º. Sargento Enfermeiro João Baptista (Depósito de Adidos)
2º. Sarg Inf Agnaldo Quinde Baldé (CCS/QG)
Soldado Infantaria Dicó Baldé (CCS/QG)
Sold Inf Miguel Francisco Pires (CCS/QG)
Sold Artilharia Henrique Sello Jaló (GAC 7)
Sold Art Jaló Seidi (GAC 7)
Sold Art Bacar Seidi (GAC 7)
Sold Inf Sello Jaló (GAC 7)
Sold Inf Demba Ganó (CCAÇ 11)
Sold Inf Sidi Jaló (CCAÇ 12)(2)
Sold Inf Aliu Baldé (CCAÇ 18)
Sold Inf Baba Gallé Jaló (CCAÇ 18)
Sold Inf Bacar Baldé (CCAÇ 18)
Sold Inf Mori Baldé (CCAÇ 18)
Sold Inf Braima Jau (CCAÇ 18)
Sold Inf Amadu Baldé (CCAÇ 21)(3)
Sold Condutor Napoleão Jaló (Marinha)
Cmdt Milícia Bacar Alansó Cassamá (Empada)
Cmdt Mil Cabá Santiago (Bissorã)
Cmdt Mil Dantil Mendes (Jolmete)
Cmdt Mil Mamadu Seidi (Mansabá)
Um abraço.
João Parreira
___________
Nota de L.G.
(1) Vd. post de 23 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)
(2) Sold 82116369 Sidi Jaló (Apontador de Dilagrama), futa-fula, pertencente à 1ª secção do 2º Grupo de Combate da CCAÇ 12 (Bambadinbca, 1969/71). Era Comandante deste Gr Comb o Alf Mil de Inf 13002168 António Manuel Carlão. A ele também pertenciam os nossos queridos amigos e camaradas, os furriéis milicianos António Levezinho e Humberto Simões.
Vd. post de 21 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXV: Composição da CCAÇ 12, por Grupo de Combate, incluindo os soldados africanos (posto, número, nome, função e etnia)
(3) Poderá tratar-se do Sold 82105669 Amadu Baldé, futa-fula, que pertenceu à 3ª secção do 1º Grupo de Combate da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71), grupo esse que era comandado pelo Alf Mil Op Esp Francisco Magalhães Moreira. O comandante da secção era o Fur Mil António Manuel Martins Branquinho, natural de (e residente em) Évora. Houve sodlados e graduados da CCAÇ 12 que integraram, em 1973, a nova CCAÇ 21. O Amadu Baldé poderá ter sido um deles: é apenas uma hipótese.
Vd. post de 21 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXV: Composição da CCAÇ 12, por Grupo de Combate, incluindo os soldados africanos (posto, número, nome, função e etnia)
Guiné 63/74 - DCCCXXII: Mais ex-combatentes fuzilados a seguir à independência (João Parreira)
Mais: é um dever dos tugas que conhecerem, treinaram e foram camaradas de armas destes homens, uma obrigação de Portugal e da Guiné-Bissau, dois países que se dizem irmãos e onde ainda existe uma enorme complexo de culpa e um sentimento de vergonha que nos impede falar publicamente, olhos nos olhos, da guerra colonial e pós-colonial, das suas sequelas e dos seus fantasmas... Em Portugal e na Guiné-Bissau, os armários da nossa memória colectiva estão cheios de cadáveres, reais ou fantasmagóricos: temos que os abrir, por mor da verdade histórica e da nossa saúde mental... (LG).
Caro Luís Graça,
Sobre o que tem vindo a lume, posso garantir que durante o tempo que permaneci na Guiné, 1964/66, nunca assisti ou ouvi falar de assassinatos de guineenses pelos comandos africanos que integraram os Grupos existentes na altura.
Estávamos em estado de guerra, onde ninguém pediu para ir, e a intenção, julgo eu, era matar para não morrer. Assim, em ambas as partes, por vezes era inevitável não haver mortos ou feridos em combate. Felizes os camaradas que nunca estiveram metidos em combates, e por isso desconhecem quanto traumatizante é essa situação.
Como todos nós que por lá andámos sabemos, os Grupos de guerrilheiros, a que muitos guineenses se juntaram voluntariamente, estavam nìtidamente em vantagem pois conheciam bem o terreno, tinham grande resistência e mobilidade, sobreviviam com pouco, estavam bem armados e conheciam bem as tácticas de guerrilhas, aprendida em vários países estrangeiros, para além de terem a colaboração natural ou forçada das populações. Em caso de necessidade tinham a vantagem de terem santuário em países vizinhos.
Se os guineenses que mais tarde fizeram parte das companhias de comandos não tivessem optado por se alistarem, e como tal sido treinados pelo nosso Exército, seriam por certo forçados a lutar ao lado dos guerrilheiros.
Agora visto por outro prisma. Se estes africanos eram assim tão sanguinários e assassinos como dizem, pois desconheço, pobres de nós, militares portugueses, se os mesmo se tivessem aliado aos seus irmãos de côr. Ou pior ainda, se mais tarde desertassem e se juntassem à causa da guerrilha.
Veio a verificar-se que fizeram uma opção errada, pois não seriam executados e hoje seriam, talvez, heróis nacionais, já que com o seu treino e perícia, teriam por certo no seu palmarés a morte de manga de portugueses, e quem sabe se algum de nós.
Outros fuzilamentos após a Independência da Guiné:
1º. Sargento Enfermeiro João Baptista (Depósito de Adidos)
2º. Sarg Inf Agnaldo Quinde Baldé (CCS/QG)
Soldado Infantaria Dicó Baldé (CCS/QG)
Sold Inf Miguel Francisco Pires (CCS/QG)
Sold Artilharia Henrique Sello Jaló (GAC 7)
Sold Art Jaló Seidi (GAC 7)
Sold Art Bacar Seidi (GAC 7)
Sold Inf Sello Jaló (GAC 7)
Sold Inf Demba Ganó (CCAÇ 11)
Sold Inf Sidi Jaló (CCAÇ 12)(2)
Sold Inf Aliu Baldé (CCAÇ 18)
Sold Inf Baba Gallé Jaló (CCAÇ 18)
Sold Inf Bacar Baldé (CCAÇ 18)
Sold Inf Mori Baldé (CCAÇ 18)
Sold Inf Braima Jau (CCAÇ 18)
Sold Inf Amadu Baldé (CCAÇ 21)(3)
Sold Condutor Napoleão Jaló (Marinha)
Cmdt Milícia Bacar Alansó Cassamá (Empada)
Cmdt Mil Cabá Santiago (Bissorã)
Cmdt Mil Dantil Mendes (Jolmete)
Cmdt Mil Mamadu Seidi (Mansabá)
Um abraço.
João Parreira
___________
Nota de L.G.
(1) Vd. post de 23 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)
(2) Sold 82116369 Sidi Jaló (Apontador de Dilagrama), futa-fula, pertencente à 1ª secção do 2º Grupo de Combate da CCAÇ 12 (Bambadinbca, 1969/71). Era Comandante deste Gr Comb o Alf Mil de Inf 13002168 António Manuel Carlão. A ele também pertenciam os nossos queridos amigos e camaradas, os furriéis milicianos António Levezinho e Humberto Simões.
Vd. post de 21 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXV: Composição da CCAÇ 12, por Grupo de Combate, incluindo os soldados africanos (posto, número, nome, função e etnia)
(3) Poderá tratar-se do Sold 82105669 Amadu Baldé, futa-fula, que pertenceu à 3ª secção do 1º Grupo de Combate da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71), grupo esse que era comandado pelo Alf Mil Op Esp Francisco Magalhães Moreira. O comandante da secção era o Fur Mil António Manuel Martins Branquinho, natural de (e residente em) Évora. Houve sodlados e graduados da CCAÇ 12 que integraram, em 1973, a nova CCAÇ 21. O Amadu Baldé poderá ter sido um deles: é apenas uma hipótese.
Vd. post de 21 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXV: Composição da CCAÇ 12, por Grupo de Combate, incluindo os soldados africanos (posto, número, nome, função e etnia)
Guiné 63/74 - DCCCXXI: Cancioneiro de Mansoa (8): a amizade e a camaradagem ou o comando da 38ª
Um Comando da 38ª
Era a minha sombra nas deslocações a Bissau
O meu guarda-costas preferido!... O número um!
Eu conhecia-o bem e sabia!... Que se necessário...
Dava a vida pelo amigo!... Como mais nenhum!
Na longínqua e bela Guiné,
Mais do qu’em qualquer outro lugar,
Encontrar um conterrâneo
Era o rei dos motivos p’ra festejar.
Para nós... do Porto e Lisboa,
Como éramos a maioria,
Amíude os encontros se davam
Sempre com renovada alegria.
Quando chegamos a Mansoa
Na recepção a nós, os periquitos (1),
Alguns velhinhos perguntavam
No meio daqueles pios esquisitos:
- Quais são os periquitos do Porto?…
Duas coisas tendes que fazer:
Pagar uma bebedeira mestra
E contar as novidades... que houver!
Fomos então p’rá cantina beber
E conversar, entusiasmados;
Nós, do Porto... do presente... de Abril
Eles... dos momentos ali passados.
Dias depois estes partiram,
O seu tempo de guerra... findara,
Foram estes os primeiros amigos
Com que a Guiné me brindara.
Um dia o Comandante disse-me:
- O vagomestre está muito doente,
Você vai substitui-lo como souber...
Vai alimentar toda esta gente.
Se mais proveito não lhe fizer,
Vai muitas vezes a Bissau… passear;
É um privilégio raríssimo,
Espero que não vá regatear!
Eu... um Operações Especiais?
Ouço, obedeço e não discuto!
Serei o Rei do desenrascanço?
Se calhar!... avancei, pois, resoluto!
No dia seguinte, surgiram-me ali
Num jipe, três Comandos , sedentos
Da 38ª Companhia (3)
Risonhos, amigáveis e... barulhentos.
Eram do Regimento de Comandos,
Sito na estrada p’ra Bissau, em Brá,
A cerca de sessenta quilómetros,
Que me convidaram a visitá-los… lá.
Mas entre eles estava um Cabo,
De seu nome Moreira Barbosa,
Que ao saber qu’eramos patrícios.
Exigiu comemoração honrosa.
Bebemos então e conversámos,
Ali cimentamos forte amizade
Daquele tipo hoje muito raro,
Com raízes par’a eternidade.
Ora... sempre qu’eu tinha d’ir à capital
Entrava nos Comandos a correr
- Ó Barbosa, queres vir comigo? -
Perguntai ao cego s’ele quer ver...
Provocavam enorme alarido
As viagens e as petiscadas
No Portugal, no Ronda, etc.
Estórias, anedotas... gargalhadas.
Ele conhecia metade do pessoal,
Apresentava-me toda a gente,
A nossa mesa depressa s’enchia
De malta faladora e contente.
Barbosa perto... tristeza longe,
O seu feitio guerreiro, destemido,
Completavam a sua forte alma
E contagiava o mais encolhido.
Como é lógico... muitas conversas
Versavam o tema da guerra,
As grandes operações e combates.
O sangue derramado na terra.
Os golpes de mão e emboscadas,
Os acidentes graves conhecidos,
O 25 de Abril...
Enfim... os mortos e os feridos
- Manga de ronco!... Compr’uma coisa?
Era o pregão local dos artesãos
Pululantes, insistentes, chatos,
Até qu’o Barbosa fechava as mãos!
Quis Deus que partisses mais cedo, amigo, irmão!
Quantas saudades deixaste dessa tua energia,
Da tua dinâmica... do teu empolgar pela acção,
Do teu espírito de aventura, do riso, da alegria!...
___________
Nota de L.G.
(1) Posts anteriores:
1 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVI: Cancioneiro de Mansoa (1): o esplendor de Portugal
1 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVII: Cancioneiro de Mansoa (2): Guiné, do Cumeré a Brá
7 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXLVI: Cancioneiro de Mansoa (3): um mosquiteiro barato para um pira...
10 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLIV: Cancioneiro de Mansoa (4): a arte de ser 'ranger'
1 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDIX: Cancioneiro de Mansoa (5): Para além do paludismo
19 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLIX: Cancioneiro de Mansoa (6): O pesadelo das minas
15 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVIII: Cancioneiro de Mansoa (7): Os periquitos do pós-guerra
(2) vd. post de 21 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCIV: Eu estava lá, na entrega simbólica do território (Mansoa, 9 de Setembro de 1974)
(3) A 38ª CCmds teve como unidade mobilizadora o CIOE - Lamego. Esteve no TO da Guiné entre Junho de 1972 e Abril de 1974. Fui a última CCmds, de origem metropolitana, a ser mobilizada para este território.
Guiné 63/74 - DCCCXXI: Cancioneiro de Mansoa (8): a amizade e a camaradagem ou o comando da 38ª
Um Comando da 38ª
Era a minha sombra nas deslocações a Bissau
O meu guarda-costas preferido!... O número um!
Eu conhecia-o bem e sabia!... Que se necessário...
Dava a vida pelo amigo!... Como mais nenhum!
Na longínqua e bela Guiné,
Mais do qu’em qualquer outro lugar,
Encontrar um conterrâneo
Era o rei dos motivos p’ra festejar.
Para nós... do Porto e Lisboa,
Como éramos a maioria,
Amíude os encontros se davam
Sempre com renovada alegria.
Quando chegamos a Mansoa
Na recepção a nós, os periquitos (1),
Alguns velhinhos perguntavam
No meio daqueles pios esquisitos:
- Quais são os periquitos do Porto?…
Duas coisas tendes que fazer:
Pagar uma bebedeira mestra
E contar as novidades... que houver!
Fomos então p’rá cantina beber
E conversar, entusiasmados;
Nós, do Porto... do presente... de Abril
Eles... dos momentos ali passados.
Dias depois estes partiram,
O seu tempo de guerra... findara,
Foram estes os primeiros amigos
Com que a Guiné me brindara.
Um dia o Comandante disse-me:
- O vagomestre está muito doente,
Você vai substitui-lo como souber...
Vai alimentar toda esta gente.
Se mais proveito não lhe fizer,
Vai muitas vezes a Bissau… passear;
É um privilégio raríssimo,
Espero que não vá regatear!
Eu... um Operações Especiais?
Ouço, obedeço e não discuto!
Serei o Rei do desenrascanço?
Se calhar!... avancei, pois, resoluto!
No dia seguinte, surgiram-me ali
Num jipe, três Comandos , sedentos
Da 38ª Companhia (3)
Risonhos, amigáveis e... barulhentos.
Eram do Regimento de Comandos,
Sito na estrada p’ra Bissau, em Brá,
A cerca de sessenta quilómetros,
Que me convidaram a visitá-los… lá.
Mas entre eles estava um Cabo,
De seu nome Moreira Barbosa,
Que ao saber qu’eramos patrícios.
Exigiu comemoração honrosa.
Bebemos então e conversámos,
Ali cimentamos forte amizade
Daquele tipo hoje muito raro,
Com raízes par’a eternidade.
Ora... sempre qu’eu tinha d’ir à capital
Entrava nos Comandos a correr
- Ó Barbosa, queres vir comigo? -
Perguntai ao cego s’ele quer ver...
Provocavam enorme alarido
As viagens e as petiscadas
No Portugal, no Ronda, etc.
Estórias, anedotas... gargalhadas.
Ele conhecia metade do pessoal,
Apresentava-me toda a gente,
A nossa mesa depressa s’enchia
De malta faladora e contente.
Barbosa perto... tristeza longe,
O seu feitio guerreiro, destemido,
Completavam a sua forte alma
E contagiava o mais encolhido.
Como é lógico... muitas conversas
Versavam o tema da guerra,
As grandes operações e combates.
O sangue derramado na terra.
Os golpes de mão e emboscadas,
Os acidentes graves conhecidos,
O 25 de Abril...
Enfim... os mortos e os feridos
- Manga de ronco!... Compr’uma coisa?
Era o pregão local dos artesãos
Pululantes, insistentes, chatos,
Até qu’o Barbosa fechava as mãos!
Quis Deus que partisses mais cedo, amigo, irmão!
Quantas saudades deixaste dessa tua energia,
Da tua dinâmica... do teu empolgar pela acção,
Do teu espírito de aventura, do riso, da alegria!...
___________
Nota de L.G.
(1) Posts anteriores:
1 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVI: Cancioneiro de Mansoa (1): o esplendor de Portugal
1 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVII: Cancioneiro de Mansoa (2): Guiné, do Cumeré a Brá
7 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXLVI: Cancioneiro de Mansoa (3): um mosquiteiro barato para um pira...
10 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLIV: Cancioneiro de Mansoa (4): a arte de ser 'ranger'
1 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDIX: Cancioneiro de Mansoa (5): Para além do paludismo
19 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLIX: Cancioneiro de Mansoa (6): O pesadelo das minas
15 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVIII: Cancioneiro de Mansoa (7): Os periquitos do pós-guerra
(2) vd. post de 21 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCIV: Eu estava lá, na entrega simbólica do território (Mansoa, 9 de Setembro de 1974)
(3) A 38ª CCmds teve como unidade mobilizadora o CIOE - Lamego. Esteve no TO da Guiné entre Junho de 1972 e Abril de 1974. Fui a última CCmds, de origem metropolitana, a ser mobilizada para este território.
Guiné 63/74 - DCCCXX: As Companhias de Caçadores Indígenas (Hugo Moura Ferreira, CCAÇ 6)
Caro Luís:
Como é comum, tenho maior interesse em tudo o que é inserido no Blogueforanada, mas no caso do Post nº 87 (DCCCXVII) houve algumas questões que por me dizerem respeito (4ª CCAÇ /CCAÇ 6) gostaria de esclarecer melhor.
A determinado passo é afirmado, perante elementos retirados da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), 3º Volume: Guiné, edição do EME, que “também ficamos a saber que a mais antiga Companhia de Caçadores, de recrutamento local, foi a CCAÇ 3, formada em Março de 1967, tendo como unidade mobilizadora o CTIG - 3ª Companhia de Caçadores Indígenas. Manteve-se em serviço até Abril de 1974. Estava sediada em Barro, como sabemos”
É precisamente sobre esta afirmação que eu gostaria de esclarecer que realmente em Março de 1967 foram formadas mais companhias com origem nas Companhias de Caçadores Indígenas (CAÇ I), como aconteceu com a CCAÇ 6 que foi formada na mesma altura tendo como unidade mobilizadora o CTIG – 4ª Companhia de Caçadores Indígenas.
A confirmar que houve três mais antigas e não uma mais antiga estão os factos a seguir descritos.
Assim:
Encontramos a páginas 62 daquela obra a referência a três Companhias de Caçadores Indígenas (1ª, 3ª e 4ª CCAÇ I) que, perante a Carta de Situação a 8AGO62, são localizadas em Farim, Nova Lamego e Bedanda.
Por outro lado pode verificar-se nos Gráficos das Unidades que participaram, a pags 122, 123 que:
(i) A 1ª CCAÇ I se manteve no activo até Março de 1967, em Barro;
(ii) A 3ª CCAÇ I esteve em Nova Lamego até Março de 1967, tendo passado, a partir dessa data, a ser designada por CCAÇ 3, tendo sido transferida para Barro, nessa data, onde se manteve até Março de 1969, quando foi transferida para Guidaje de onde passou para Saliquinhedim, Bijene, onde se manteve até Abril de 1974;
(iii) A 4ª CCAÇ I esteve sempre localizada em Bedanda, até Março de 1967, quando passa a ser designada por CCAÇ 6, mantendo-se sempre no mesmo local, até Abril de 1974;
(iv) Entretanto, em Março de 1967, quando foi efectuada a alteração de designação e de conceito de operacionalidade das Companhias de Caçadores formadas por pessoal africano, foi criada a CCAÇ 5 que se veio a localizar em Nova Lamego. Que em Agosto de 1968 se muda para Canjadude, onde se manteve até Abril de 1974;
(v) A partir daqui passaram então a ser formadas outras CCAÇ de Guarnição Territorial, das quais uma delas muito falada no nosso Blogue é a CCAÇ 13, do nosso amigo de Tertúlia Carlos Fortunato .
Esperando ter esclarecido e não confundido, mando abraços a todos.
Hugo Moura Ferreira
CCAÇ 6 – Bedanda
Julho de 1967 / Agosto de 1968
Guiné 63/74 - DCCCXX: As Companhias de Caçadores Indígenas (Hugo Moura Ferreira, CCAÇ 6)
Caro Luís:
Como é comum, tenho maior interesse em tudo o que é inserido no Blogueforanada, mas no caso do Post nº 87 (DCCCXVII) houve algumas questões que por me dizerem respeito (4ª CCAÇ /CCAÇ 6) gostaria de esclarecer melhor.
A determinado passo é afirmado, perante elementos retirados da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), 3º Volume: Guiné, edição do EME, que “também ficamos a saber que a mais antiga Companhia de Caçadores, de recrutamento local, foi a CCAÇ 3, formada em Março de 1967, tendo como unidade mobilizadora o CTIG - 3ª Companhia de Caçadores Indígenas. Manteve-se em serviço até Abril de 1974. Estava sediada em Barro, como sabemos”
É precisamente sobre esta afirmação que eu gostaria de esclarecer que realmente em Março de 1967 foram formadas mais companhias com origem nas Companhias de Caçadores Indígenas (CAÇ I), como aconteceu com a CCAÇ 6 que foi formada na mesma altura tendo como unidade mobilizadora o CTIG – 4ª Companhia de Caçadores Indígenas.
A confirmar que houve três mais antigas e não uma mais antiga estão os factos a seguir descritos.
Assim:
Encontramos a páginas 62 daquela obra a referência a três Companhias de Caçadores Indígenas (1ª, 3ª e 4ª CCAÇ I) que, perante a Carta de Situação a 8AGO62, são localizadas em Farim, Nova Lamego e Bedanda.
Por outro lado pode verificar-se nos Gráficos das Unidades que participaram, a pags 122, 123 que:
(i) A 1ª CCAÇ I se manteve no activo até Março de 1967, em Barro;
(ii) A 3ª CCAÇ I esteve em Nova Lamego até Março de 1967, tendo passado, a partir dessa data, a ser designada por CCAÇ 3, tendo sido transferida para Barro, nessa data, onde se manteve até Março de 1969, quando foi transferida para Guidaje de onde passou para Saliquinhedim, Bijene, onde se manteve até Abril de 1974;
(iii) A 4ª CCAÇ I esteve sempre localizada em Bedanda, até Março de 1967, quando passa a ser designada por CCAÇ 6, mantendo-se sempre no mesmo local, até Abril de 1974;
(iv) Entretanto, em Março de 1967, quando foi efectuada a alteração de designação e de conceito de operacionalidade das Companhias de Caçadores formadas por pessoal africano, foi criada a CCAÇ 5 que se veio a localizar em Nova Lamego. Que em Agosto de 1968 se muda para Canjadude, onde se manteve até Abril de 1974;
(v) A partir daqui passaram então a ser formadas outras CCAÇ de Guarnição Territorial, das quais uma delas muito falada no nosso Blogue é a CCAÇ 13, do nosso amigo de Tertúlia Carlos Fortunato .
Esperando ter esclarecido e não confundido, mando abraços a todos.
Hugo Moura Ferreira
CCAÇ 6 – Bedanda
Julho de 1967 / Agosto de 1968
30 maio 2006
Guiné 63/74 - DCCCXIX: Do Porto a Bissau (23): Os restos mais dolorosos do resto do Império (A. Marques Lopes)
Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério (colonial) > Abril de 2006 > Restos de lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram. Como o 1º Cabo Augusto Quintã, de 1966, nº ...204/66, que pertencia a uma unidade do Exército [número ilegível] .
Morreu "pela Pátria" a 19 do Outubro de 1967, conforme se pode confirmar pela lista que consta do memorial aos mortos das guerras do ultramar, junto à torre de Belém, em Lisboa. Obrigado ao Jorge Santos, pela ajuda. (LG).
Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério (colonial) > Abril de 2006 > Restos de lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram. Como o Soldado [Comando ? ] Ramajó Candé (ou Canté ?) que morreu a 23 de Junho de 1968, conforme se pode confirmar na lista dos nomes dos mortos nas guerras do Ultramar, no memorial junto à torre de Belém (LG).
Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério (colonial) > Abril de 2006 > Restos de lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram. Como o Soldado, de 1966, Manuel da Costa [Sacramento], pertencente a uma unidade do Exército, e que morreu a 16 de Agosto de 1967, conforme se pode confirmar através do memorial erguido aos mortos da guerra do Ultramar, junto à torre de Belém (LG).
Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério (colonial) > Abril de 2006 > Restos de lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram. Como o Soldado nº 021208/64, João Gomes, pertencente a uma unidade do Exército, e que morreu a 16 de Junho de 1967, conforme se pode confirmar através do memorial erguido aos mortos da guerra do Ultramar, junto à torre de Belém (LG).
Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério (colonial) > Abril de 2006 > Restos de lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram. Como o Soldado Manuel Rogério L[opes] Torres, pertencente a uma unidade do Exército, e que morreu a 10 de Novembro de 1964, conforme se pode confirmar através do memorial erguido aos mortos da guerra do Ultramar, junto à torre de Belém. Era muito provavelmente do Norte do país: pertencia à CART 566, cuja unidade mobilizadora foi o RAP 2, de Vila Nova de Gaia. A CART 566 esteve na Guiné de Agosto de 1964 a Novembro de 1965. O Soldado Torres também morreu na época seca, ao fim de escassos três meses de Guiné (LG).
Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério (colonial) > Abril de 2006 > Restos de lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram. Como o Soldado Apa Ié, pertencente a uma unidade do Exército, e que morreu a 10 de Agosto de 1968, conforme se pode confirmar através do memorial erguido aos mortos da guerra do Ultramar, junto à torre de Belém (LG).
Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério (colonial) > Abril de 2006 > Restos de lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram. Como o lendário Capitão Comando João Bacar Jaló, natural da Guiné, morto em combate em 16 de Abril de 1971 (LG).
Guiné > Bissau > 1966 > Cemitério onde ficaram sepultados os primeiros combatentes da guerra colonial. Há placas funerárias de militares de origem metropolitana que vão, pelo menos, até 1968. O estado de abandono do cemitério faz doer oc oração, diz-nos o Marques Lopes, que esteve lá recentemente, em Abril de 2006, com o Xico Allen (LG).
Foto: © Virgínio Briote (2005)
Texto e fotos (excepto a última): © A. Marques Lopes (2006)
Estes são os restos mais dolorosos da nossa passagem pela Guiné. Muito mais do que o que resta de abrigos e casernas. São placas de sepulturas no cemitério de Bissau, aquelas em que se pode ainda ler algumas letras ou números. Mais há, mas já nada se pode ler.
Soube, em tempos, que chegou a haver uma comissão encarregada de fazer a trasladação dos corpos lá sepultados. Mas nunca funcionou, segundo sei. É pena, pois eles e as respectivas famílias mereciam. Ali, parece que só a família do Bacar Jaló (1) tem tratado dele.
A. Marques Lopes
Comentário de L.G.:
Amigos e camaradas:
Quem se interessa por cemitérios ? Só os góticos, a tribo dos góticos, os nossos putos que se vestem de preto e têm horror à luz do dia...Por uma manhã ou uma tarde do mês de Abril de 2006, não sei ao certo em que dia, o A. Marques Lopes (julgo que acompanhado do Xico Allen) entrou no velho cemitério (colonial) de Bissau e fotografou os restos mais dolorosos do resto do nosso Império: as lápides funerárias, os restos dos soldados portugueses que por lá ficaram, mortos nos primeiros anos de guerra (até pelo menos 1968), "mortos pela Pátria", e que a Pátria nem sequer se deu ao trabalho de os trasladar para as suas terras natais...
Vocês dirão: depois de morto, tanto me faz... Mas espiritual e culturalmente não é assim... Os seres humanos só fazem o luto baseado na evidência da morte... E eu sei do que falo porque tenho parentes e conterrâneos, desaparecidos no mar, cujos corpos nunca deram à costa: e sem o cadáver não se pode fazer o luto, nem os ritos de passagem associados à morte, nem há viuvez nem orfandade...
Pois o Marques Lopes, que é um homem de cultura e de sensibilidade, tentou o insólito e o impossível: fotografar os últimos vestígios (materiais) de uma guerra, as letras e os números de identificação dos tugas (e alguns naturais da Guiné) que morreram e não tiveram uma sepultura condigna no cemitério da sua terra natal...
Em oito fotografias que le me mandou, só duas eram legíveis... Pela minha parte, passei um bom bocado de tempo a recompôr/reconstituir/decifrar o resto (Obrigado ao Jorge Santos, pela sua ajuda, já que me socorri da lista dos mortos da guerra colonial que consta do seu site)...
Julgo não ter perdido o meu tempo: de facto, e como muito bem diz o Marques Lopes, "eles e as respectivas famílias mereciam"... Ficam, pelo menos aqui, registados no nosso blogue os seus nomes, talvez alguém ainda os possa reconhecer, meio século depois, de entre os seus familiares e amigos.
E os seus nomes são (por odem alfabética): Anastácio Vieira Domingos, Apa Ié, Augusto Quintã, João Bacar Jaló, João Gomes, Manuel da Costa [Sacramento], Manuel Rogério Lopes Torres, Ramajó Candé (ou Canté ?)... (L.G.)
___________
Nota de L.G.
(1) João Bacar Jaló (ou Djaló): Capitão da 1º Companhia de Comandos Africanos, na altura sediada em Fá Mandinga:
vd posts de:
(i) 11 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - CIII: Comandos africanos: do Pilão a Conacri (Luís Graça)
(...) "O comandante operacional, esse, era o lendário capitão graduado comando João Bacar Jaló, um torre e espada, ex-alferes de milícia, de etnia fula, que viria a morrer em combate, mais tarde, já depois de Conacri (...). Não creio que tenha trocado com o João Bacar Jaló mais do que meia dúzia de palavras, em português. Mas estou a vê-lo, a entrar na parada do quartel de Bambadinca, ao volante de um burrinho (Unimog 411), à revelia de qualquer Regulamento de Disciplina Militar (RDM), à frente dos seus garbosos comandos, fabricados em série, denotando forte espírito de corpo, moral elevada e não menor fanfarronice.
"Alguns de nós chamávamos-lhes, com um certo desprezo e ironia, os muchachos de Pancho Villa por andarem armados até aos dentes e com fitas de metralhadora a tiracolo, além de gostarem de se fazer anunciar com enervantes rajadas de Kalash para o ar… Nas barbas do comandante do BART 2917 e do seu oficialato" (...).
(ii) 13 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXIV: Estórias cabralianas (6): SEXA o CACO em Missirá
(...) "Recomposto o Caco, olhou-me uma última vez e disse:
-Já vi tudo!
"Ao encaminhar-se para o helicóptero, ainda lhe ouvi comentar para a comitiva:
-Porra, que não é só o Alferes! Estão todos apanhados!
"Deve porém ter ficado impressionado, pois três dias depois voltou. Eu não estava. Tinha ido a Fá, buscar uma garrafa de whisky, prenda mensal do Capitão João Bacar Djaló. Contou-me o Branquinho que quando o informaram da minha ausência, Sua Excelência exclamou:
- Ainda bem!" (...)
Guiné 63/74 - DCCCXIX: Do Porto a Bissau (23): Os restos mais dolorosos do resto do Império (A. Marques Lopes)
Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério (colonial) > Abril de 2006 > Restos de lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram. Como o 1º Cabo Augusto Quintã, de 1966, nº ...204/66, que pertencia a uma unidade do Exército [número ilegível] .
Morreu "pela Pátria" a 19 do Outubro de 1967, conforme se pode confirmar pela lista que consta do memorial aos mortos das guerras do ultramar, junto à torre de Belém, em Lisboa. Obrigado ao Jorge Santos, pela ajuda. (LG).
Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério (colonial) > Abril de 2006 > Restos de lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram. Como o Soldado [Comando ? ] Ramajó Candé (ou Canté ?) que morreu a 23 de Junho de 1968, conforme se pode confirmar na lista dos nomes dos mortos nas guerras do Ultramar, no memorial junto à torre de Belém (LG).
Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério (colonial) > Abril de 2006 > Restos de lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram. Como o Soldado, de 1966, Manuel da Costa [Sacramento], pertencente a uma unidade do Exército, e que morreu a 16 de Agosto de 1967, conforme se pode confirmar através do memorial erguido aos mortos da guerra do Ultramar, junto à torre de Belém (LG).
Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério (colonial) > Abril de 2006 > Restos de lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram. Como o Soldado nº 021208/64, João Gomes, pertencente a uma unidade do Exército, e que morreu a 16 de Junho de 1967, conforme se pode confirmar através do memorial erguido aos mortos da guerra do Ultramar, junto à torre de Belém (LG).
Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério (colonial) > Abril de 2006 > Restos de lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram. Como o Soldado Manuel Rogério L[opes] Torres, pertencente a uma unidade do Exército, e que morreu a 10 de Novembro de 1964, conforme se pode confirmar através do memorial erguido aos mortos da guerra do Ultramar, junto à torre de Belém. Era muito provavelmente do Norte do país: pertencia à CART 566, cuja unidade mobilizadora foi o RAP 2, de Vila Nova de Gaia. A CART 566 esteve na Guiné de Agosto de 1964 a Novembro de 1965. O Soldado Torres também morreu na época seca, ao fim de escassos três meses de Guiné (LG).
Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério (colonial) > Abril de 2006 > Restos de lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram. Como o Soldado Apa Ié, pertencente a uma unidade do Exército, e que morreu a 10 de Agosto de 1968, conforme se pode confirmar através do memorial erguido aos mortos da guerra do Ultramar, junto à torre de Belém (LG).
Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério (colonial) > Abril de 2006 > Restos de lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram. Como o lendário Capitão Comando João Bacar Jaló, natural da Guiné, morto em combate em 16 de Abril de 1971 (LG).
Guiné > Bissau > 1966 > Cemitério onde ficaram sepultados os primeiros combatentes da guerra colonial. Há placas funerárias de militares de origem metropolitana que vão, pelo menos, até 1968. O estado de abandono do cemitério faz doer oc oração, diz-nos o Marques Lopes, que esteve lá recentemente, em Abril de 2006, com o Xico Allen (LG).
Foto: © Virgínio Briote (2005)
Texto e fotos (excepto a última): © A. Marques Lopes (2006)
Estes são os restos mais dolorosos da nossa passagem pela Guiné. Muito mais do que o que resta de abrigos e casernas. São placas de sepulturas no cemitério de Bissau, aquelas em que se pode ainda ler algumas letras ou números. Mais há, mas já nada se pode ler.
Soube, em tempos, que chegou a haver uma comissão encarregada de fazer a trasladação dos corpos lá sepultados. Mas nunca funcionou, segundo sei. É pena, pois eles e as respectivas famílias mereciam. Ali, parece que só a família do Bacar Jaló (1) tem tratado dele.
A. Marques Lopes
Comentário de L.G.:
Amigos e camaradas:
Quem se interessa por cemitérios ? Só os góticos, a tribo dos góticos, os nossos putos que se vestem de preto e têm horror à luz do dia...Por uma manhã ou uma tarde do mês de Abril de 2006, não sei ao certo em que dia, o A. Marques Lopes (julgo que acompanhado do Xico Allen) entrou no velho cemitério (colonial) de Bissau e fotografou os restos mais dolorosos do resto do nosso Império: as lápides funerárias, os restos dos soldados portugueses que por lá ficaram, mortos nos primeiros anos de guerra (até pelo menos 1968), "mortos pela Pátria", e que a Pátria nem sequer se deu ao trabalho de os trasladar para as suas terras natais...
Vocês dirão: depois de morto, tanto me faz... Mas espiritual e culturalmente não é assim... Os seres humanos só fazem o luto baseado na evidência da morte... E eu sei do que falo porque tenho parentes e conterrâneos, desaparecidos no mar, cujos corpos nunca deram à costa: e sem o cadáver não se pode fazer o luto, nem os ritos de passagem associados à morte, nem há viuvez nem orfandade...
Pois o Marques Lopes, que é um homem de cultura e de sensibilidade, tentou o insólito e o impossível: fotografar os últimos vestígios (materiais) de uma guerra, as letras e os números de identificação dos tugas (e alguns naturais da Guiné) que morreram e não tiveram uma sepultura condigna no cemitério da sua terra natal...
Em oito fotografias que le me mandou, só duas eram legíveis... Pela minha parte, passei um bom bocado de tempo a recompôr/reconstituir/decifrar o resto (Obrigado ao Jorge Santos, pela sua ajuda, já que me socorri da lista dos mortos da guerra colonial que consta do seu site)...
Julgo não ter perdido o meu tempo: de facto, e como muito bem diz o Marques Lopes, "eles e as respectivas famílias mereciam"... Ficam, pelo menos aqui, registados no nosso blogue os seus nomes, talvez alguém ainda os possa reconhecer, meio século depois, de entre os seus familiares e amigos.
E os seus nomes são (por odem alfabética): Anastácio Vieira Domingos, Apa Ié, Augusto Quintã, João Bacar Jaló, João Gomes, Manuel da Costa [Sacramento], Manuel Rogério Lopes Torres, Ramajó Candé (ou Canté ?)... (L.G.)
___________
Nota de L.G.
(1) João Bacar Jaló (ou Djaló): Capitão da 1º Companhia de Comandos Africanos, na altura sediada em Fá Mandinga:
vd posts de:
(i) 11 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - CIII: Comandos africanos: do Pilão a Conacri (Luís Graça)
(...) "O comandante operacional, esse, era o lendário capitão graduado comando João Bacar Jaló, um torre e espada, ex-alferes de milícia, de etnia fula, que viria a morrer em combate, mais tarde, já depois de Conacri (...). Não creio que tenha trocado com o João Bacar Jaló mais do que meia dúzia de palavras, em português. Mas estou a vê-lo, a entrar na parada do quartel de Bambadinca, ao volante de um burrinho (Unimog 411), à revelia de qualquer Regulamento de Disciplina Militar (RDM), à frente dos seus garbosos comandos, fabricados em série, denotando forte espírito de corpo, moral elevada e não menor fanfarronice.
"Alguns de nós chamávamos-lhes, com um certo desprezo e ironia, os muchachos de Pancho Villa por andarem armados até aos dentes e com fitas de metralhadora a tiracolo, além de gostarem de se fazer anunciar com enervantes rajadas de Kalash para o ar… Nas barbas do comandante do BART 2917 e do seu oficialato" (...).
(ii) 13 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXIV: Estórias cabralianas (6): SEXA o CACO em Missirá
(...) "Recomposto o Caco, olhou-me uma última vez e disse:
-Já vi tudo!
"Ao encaminhar-se para o helicóptero, ainda lhe ouvi comentar para a comitiva:
-Porra, que não é só o Alferes! Estão todos apanhados!
"Deve porém ter ficado impressionado, pois três dias depois voltou. Eu não estava. Tinha ido a Fá, buscar uma garrafa de whisky, prenda mensal do Capitão João Bacar Djaló. Contou-me o Branquinho que quando o informaram da minha ausência, Sua Excelência exclamou:
- Ainda bem!" (...)