18 julho 2005

Guiné 63/74 - CXII: Mais estórias do Xitole (CART 2716, 1970/72)

A grande árvore que dominava o aquartelamento do Xitole. Lá continua de pé, mais de trinta anos depois.

© David J. Guimarães (2001)

Texto do David J. Guimarães (ex-Furriel Mil. da CART 2716, Xitole, 1970-72):

Junto mais quatro fotografias à nossa página do Xitole. Como é óbvio estou a contar as coisas mais ou menos encadeadas no tempo. Uma das fotografias que em estou com cotos (ou invólucros) de granadas de canhão sem recuo, é algo que conto em breve. Talvez coloque um título: "Nino e os seus canhões" ou "Uma rajada de canhões -a primeira de várias"... São os episódios da nossa guerra. Só que mais histórias surgirão ainda antes desses bombardeamentos...

O camarada Quaresma é esse aí que aparece ao meu lado: eu estou a dedilhar a viola e ele parece que canta o fado... Se repararem ele usa um colar ao pescoço. Isso era mesinha, que era pressuposto protegê-lo daquilo que lhe veio a acontecer... E lá cai a crença de rastos: negam-se os amuletos pela sua funcionalidade. Ironia das ironias, o fado (ou o destino) diz que contra a morte, afinal, não há nada a fazer...

Os negros da Guiné crêem muito nas mesinhas, como vocês sabem... Um dia em Bissau fui ver um jogo de futebol: era o Benfica contra os Balantas... Não é que a bola batia na trave, chegava à linha de golo e não entrava!... Enfim, aqueles casos de se gritar golo e a bola nunca entrar!... Foi lindo: de seguida começou tamanha cena de porrada, que só só visto... Tudo por que o guarda redes tinha mesinha num canto da baliza.

São os intervalos da guerra.

David J. Guimarães

2.O nosso amigo e camarada Guimarães é uma caixinha de surpresas. Aqui o vemos, à direita, tocando viola, quando há 3 anos esteve na Índia (Panjim, Goa, Damão) com um grupo de fados de Coimbra.

© David J. Guimarães (2005)

Diz ele: "Dediquei-me sempre a isto após a guerra e sou convidado por eles para tocar aqui ou ali. Nesta caso foi a Fundação Oriente.

"O poeta, o Camões, tinha aquela frase famosa Numa mão a espada e noutra a pena... Na Guiné, eu bem poderia dizer, a respeito de mim próprio: Numa mão a G3 e noutra a viola... É que também no Xitole era eu quem dava uma certa alegria àquela gente com a minha viola - não esta, que vocês vêem na foto, em Panjim, mas uma que comprei na Rua do Carmo, em Lisboa, para fazer a comissão. No fim vendi-a por 80 escudos... Engraçado!... É essa mesma que vocês podem ver na foto com o Quaresma".

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