Os gajos até podem estar com carradas de razão. Independentemente dos humores matinais ou das idiossincrasias de cada um, eles são capazes até de ter razão. Aliás, eles têm razão.
Além disso, eles são figuras públicas, são uns crânios, são opinion-makers, têm provas dadas no seu campo profissional, falam de cátedra. Eles podem usar e abusar do argumento de autoridade. Ao longo da história, os intelectuais têm-no feito. Hoje andam trasvestidos de mediáticos. Têm um acesso privilegiado aos media. Por isso mesmo são intelectuais mediáticos. Dantes falavam em nome do povo, agora falam do povo. Falam, continuam a falar, de cátedra. O povo deixou de ser sujeito (activo), passou a ser objecto (passivo). De crónica, de sebenta, de análise, de reportagem, de artigo de opinião, de cantoria.
É talvez por isso que a gente, quando pode, não poupa os intelectuais mediáticos. Não os poupa ao assobio e à pateada (da populaça). Se a gente não poupa o rei, também não poupa a rainha, o príncipe e por aí abaixo, até ao cão. Eles, os intelectuais mediáticos, estão lá no Olimpo. A apontar para a gente cá em baixo, no inferno. Com dedos inquisitoriais. Ora os portugas não gostam de ser apontados a dedo. Além disso, têm dor de corno. Os portugas são ingartos para com os seus intelectuais mediáticos. Mesmo quando estão na merda e quando são citados como os mais infelizes da Europa (diz o New Scientist que eu não li e ele, o cientista, lá sabe porquê: deve ser por causa do fado, especula o blogador), os portugas não mostram gratidão por quem lhes passa a mão pelo cachaço.
Estre paleio acaba por resumir o estranho e confuso requerimento apresentado pelo Zé Povinho ao blogue-fora-nada. Devo dizer que dá jeito ter à mão de semear uma figura como a do Zé Povinho. Por exemplo, para sentir po pulsar do coração de A Nação. O que é que o Zé Povimnho, a nós, intelectuais, mais blogadores ou mais mediáticos ?
A mensagem é simples como a personagem: Meus senhores, por favor, não batam mais no ceguinho! Um pouco menos de sadomasoquismo não vos fica mal. Pelo menos até 4ª feira, dia 26 de Novembro. Até ao anúncio (oficial) da candidatura vencedora da organização da Taça da América.
Se a gente valer mais, aos olhos-com-cifrões dos suíços, do que o real lóbi espanhol, o milionário lóbi francês ou o mafioso lóbi italiano, então estamos safos. Pelo menos até 2007. Com a primeira década no papo, não há século que nos meta medo. E com o século ganho, o resto do milénio é canja, é um ver-se-te-avias... O Zé Povinho só espera que fiquem algumas sobras para ele. Por isso, please, meus senhores, não comam tudo... Ou não comam tudo de uma só vez. Como fizeram das outras vezes.
António Barreto (figura pública):
”É o momento que os portugueses preferem viver, o sítio onde mais gostam de se encontrar. Em cima da hora, no último minuto, na véspera, à beira do abismo (...). É por isso que fazem tantas coisas mal feitas (...). Ainda por cima, têm o desplante de transformar esses imperdoáveis defeitos em virtude. A que chamam o génio português. É por essas e outras que nunca viverei em paz com o meu passaporte” (Retrato da Semana: À beira do abismo. Público, 23 de Novembro de 2003).
António Pedro Vasconcelos (figura pública):
(...) Portugal entrou em depressão a partir daí [do último Mundial Coreia-Japão] porque há uma grande relação entre o futebol e o ‘estado da nação’: o futebol é uma das poucas coisas em que os portugueses acreditam que são um bocadinho melhores do que no resto (...). O país não acredita na selecção. As pessoas estão já a fazer o luto de não ganhar o Europeu porque têm medo de acreditar (...). O clima do país é de depressão (...). Alastra o sentimento de que não somos bons em nada (Entrevista. Texto de Luís Miguel Viana. Pública, revista do Público, 23.11.2003).
PS - Não vale a pena fazer uma hiperligação ao texto do Público, porque este material é efémero e um dia destes a crónica do AB, mais a nossa, vai ingloriamente parar à ciberpubela (caixote do lixo do ciberesapço, em franglês do Minho).
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