O país do viva-o-pipi, morra-o-bibi!
É porventura um sinal dos tempos a atitude de descrença, de desânimo, de frustação ou tão só de cinismo com que muitas pessoas (e algumas até com responsabilidade na administração da saúde e do trabalho) olham para o famigerado relatório anual da actividade dos serviços de SH&ST.
Tenho ouvido as mais variadas expressões, em geral carregadas de negatividade crítica. Não estou nada preocupada. Penso, enquanto blogo, que é bom, é higiénico, é saudável e sobretudo é mais seguro que fiquem aqui registadas. Aqui, no blog(ue)-fora-nada... Um dia destes vão parar ao grande caixote do lixo do ciberespaço que no planeta azul já não cabe tanta merda.
Para a petit histoire das lusitanas gentes e das suas lusitaníssimas mentalidades. E ao cuidado, pois claro, dos sociológos de serviço, a quem compete observar, medir, analisar, comparar e, se possível (velha utopia desta corporação de ofício!), mudar a espuma que escorre deste(s) dia(s):
- "É um aborto, o relatório!"
- "O melhor é esquecê-lo!"
- "Uma nova fonte de negócio para os especialistas de vão de escada que vivem das sobras da burocracia, preenchendo a papelada às pessoas"
- "Ninguém sabe para que serve"
- "O que é que o delegado de saúde da minha zona vai fazer com centenas ou milhares de relatórios em cima da secretária ?"
- "Fizeram sair a portaria, mas esqueceram-se do sistema de informação"
- "As estatísticas são uma máquina de fazer chouriços"
- "Já tínhamos três fontes de informação administrativa sobre os acidentes de trabalho: a do Ministério do Trabalho, a dos tribunais e a dos seguros; agora passamos a ter uma quarta"
- "Quem controla a veracidade das declarações ? Os trabalhadores não são ouvidos nem chamados"
- "O defunto IDICT não foi capaz de fazer o processo de acreditação das empresas prestadoras de serviços externos de segurança, higiene e saúde no trabalho, como é que vai agora tratar as centenas de milhares de relatórios que aí vêm?"
- "É um absurdo exigir às 300 e tal autarquias (das quais só 10% cumprem as prescrições mínimas em matéria de higiene e segurança no trabalho) que entrregam tantos relatórios quantos os estabelecimentos ou locais de trabalho existentes"
- "O Serviço Nacional de Saúde vai fazer o relatório dos pescadores em regime de companha, dos agricultores, dos artesãos, dos trabalhadores independentes, das micro-empresas ?"
- "As empresas vão fazer show off"
- "Deixem o mercado funcionar"
- "A Inspecção do Trabalho não vai chatear ninguém"
- "Desde quando a saúde pública se interessou pela saúde ocupacional?", etc.
Não sei se isto é uma reacção (imunopatológica) dos portugas quando são confrontadas com pequenas ou grandes mudanças que vão mexer nas suas pequenas ou grandes certezas... O problema, se calhar, nem é tanto esse: eu vejo sobretudo nestas atitudes o reflexo das consequências perversas das frustação das expectativas alimentadas desde 1991 em relação à área da SH&ST... E tu, ciberleitor deste blogue ? Não pensas nem blogas ? Se não blogas, não existes, neste país do viva-o-pipi, morra-o-bibi!
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