05 abril 2004

Portugal sacro-profano - XVII: Az(n)ar o meu!

Não sei o que fazer. Ou não sabia exatamente o que fazer há umas semanas atrás. Tinha acabado de ler, num jornal da capital, um anúncio com um oferta de venda de um país. Mais exactamente uma oferta de trespasse. Os dizeres eram mais ou menos deste jaez:



"Trespasse-se. Motivo: falência. País com 90 000 km2. Vista: Mar, praias. Bem localizado. Junto à Europa, mesmo ao lado de Espanha. A precisar de obras. Contactar Agência de São Bento. Telefone...".



Não se falava em números. Primeiro suspeitei mas depois reconheci logo que era o meu país. E tive um momento de fraqueza. Próprio dos humanos. Judas era homem e traiu o seu mestre. Por trinta dinheiros. De facto, ainda pensei duas vezes "Vendo, não vendo!?"... Confesso que ainda estive tentado a vender a (ínfima) parte que me cabe do país onde nasci. Mas depois tive uns laivos de orgulho patriótico. Dizem que é a voz do sangue. E arranjei força para dizer cá para comigo: "Az(n)ar o meu!"...



Pais, país, data e hora não se escolhem para nascer. Nasceste portuga, vais morrer portuga. Não sou supersticioso, mas este pensamento contraditório ocorreu-me no fatídico dia 11 de Março de 2004. Vou continuar a ser portuga, e o meu país vai continuar a ser sempre o meu país. Eu provavelmente é que nunca mais serei o mesmo.

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