22 julho 2005

Guiné 63/74 - CXVII: Antologia (8): Dossiê Guiné (Vida Mundial, 1971) (1ª Parte)

Texto enviado pelo A. Marques Lopes, em 30 de Junho de 2005, na véspera de ir de férias.

Caros camaradas de tertúlia:

Vejam este dossiê que extraí de um longo artigo ("Para um dossier Guiné - A guerrilha e o contra-ataque") da extinta revista Vida Mundial, de 19 de Fevereiro de 1971.

Mesmo este extracto é um pouco longo também, mas vale a pena lê-lo, sobretudo no aspecto da organização do PAIGC, o seu exército regular e a forma como actuavam, bem como a fase preparativa da sublevação. Por exemplo, no plano da Operação Fanta é evidente que não atacavam ao acaso, e nós sabemo-lo. Há também uns comunicados do SIPFA (Serviço de Informação Pública das Forças Armadas) com interesse.

É um documento feito no tempo da velha senhora, mas considero-o uma boa peça jornalística, com intenção de elucidar sobre muita coisa, embora condimentada com algumas citações para dar uns posinhos da objectividade do regime.

Nas circunstâncias e limitações que havia, [a Vida Mundial] foi uma revista com alguns trabalhos de interesse, e muitos jornalistas democratas e antifascistas trabalharam nela, fazendo o possível para que alguma coisa passasse nas malhas da censura.

A. Marques Lopes

_________________

A ORIGEM DA PALAVRA GUINÉ

Qual a origem e o que se entende, exactamente, pela palavra Guiné? João Ameal, no seu estudo «Perspectiva histórica sobre a Guiné e Cabo Verde», responde a essa pergunta nos termos seguintes:

«No curso dos tempos, diversos significados lhe têm sido atribuídos. A sua origem estará, porventura, no nome de um aglomerado que, segundo alguns, data do século XI - mais precisamente de 1040 - aglomerado sito junto às margens do Alto Níger, a cerca de 14 graus de latitude Norte. Por ser um centro bastante frequentado pelas caravanas de mercadores sudaneses e outros, que andavam em constante negócio com os povos da Arábia, espalhou-se, muito cedo, a suafama e chegou mesmo até países da orla mediterrânica. Aparecia designado por modos diferentes: Geny, Gena, Ginya, Genni, Gineva, Djienné, Djenné, Gynoia – tantos como as pronunciações fantasiosas dos caravaneiros de múltiplas raças e origens (João de Barros chamou-lhe, por sua vez, Guinauhá). E acabou por cristalizar, entre nós, de preferência, na forma Guiné, às vezes, também, Guinee ou Guinea.»

Por sua vez, António de Almeida, num trabalho intitulado «Das Etnias da Guiné Portuguesa, do Arquipélago de Cabo Verde e das Ilhas de São Tomé e Príncpe» refere que «o topónimo Guiné figura na grande maioria dos idiomas das gentes nativas desta província e nos crioulos do Cacheu, de Bolama e de Bissau - os mais importantes e praticamente idênticos; com efeito, o nome Guine dado aos territórios habitados por negros da África Ocidental, ao norte do Equador, após o descobrimento pelos portugueses, em 1446, é equivalente, embora evidenciando amiúde alterações fonéticas que, alias, não conseguem encobrir a sua etimologia».

Acrescenta, ainda, António de Almeida que, de acordo com informações colhidas «in loco», o vocábulo toma as formas Ghiné ou Djiné (felupes e baiotes); Ghiné (mandingas, manjacos e saracolés); Njiné (naius de Catió); -Njini Bo-portuguêsse (papéis, querendo dizer «Guiné dos Portugueses»); Njiné (brames de Bula); Njiné e Ghiné (futa-fulas e . no crioulo de Bissau); Guiné (fulas-forros); Guiné Portuguisse (cassangas); Guiné Portuguêsse (brames de Bolama e nos crioulos de Bolame e Cacheu); Guiné Portuguêsse, La Guiné (fulas-pretos) e Guiné Bo-portuguêsse (biafadas).

Referindo-se ao termo Guiné, António de Almeida acentua que «seja qual for o motivo da adopção da palavra Guiné, provenha ou não de Guinéus (derivado de Ghináweu - Fernando Rogado Quintino) ou da denominação do remoto e prestigioso reino de Gana (Ghana, Ghanah, Ganata) dos Árabes e Kumbi dos Negros, e se filie, ou não, no Guinauha do topónimo do centro urbano Jenné ou Ujenné, quer derive, ainda, do nome do império e cidade de Ghana (Manuel Dias Belchior), do que não restam dúvidas é de que os antepenúltimo e penúltimo vocábulos se revelam análogos, morfológica e foneticamente, às designações correntemente empregadas, ainda hoje, pelos naturais da Guiné Portuguesa nos próprios idomas ou nos crioulos».

(...)

ORGANIZAÇÕES QUE LUTAM (OU LUTARAM) NA GUINÉ

É muito frequente aparecer no noticiário referente aos acontecimentos da Guiné uma série de siglas identificadoras das organizações a que pertencem os guerrilheiros que lutam (ou lutaram) naquele território, os quais, dispõem de bases nas nações vizinhas.

Pouco mais se sabe, todavia, do que a tradução dessas siglas, desconhecendo-se, quase em absoluto, quais as motivações determinantes do aparecimento das respectivas organizações. Para uma mais esclarecida informação apresentamos, esquematicamente, a indicação das referidas siglas e alguns elementos que permitem saber os porquês da sua existência.

P. A. I. G. (Partido Africano para a Independência da Guiné) - Fundado antes de 1957 por Amílcar Cabral, este agrupamento, que antecedeu o P.A.I.G.C., colaborava com os organizadores do M.P.L.A. (Movimento para a Libertação de Angola) e com alguns revolucionários de Cabo Verde, de Moçambique e de São Tomé e Príncipe no seio do M.A.C.

M.A.C. (Movimento Anti-Colonialista) - Movimento que foi dado como extinto, em Tunes [Tunísia], em Janeiro de 1960, por ocasião da II Conferência dos Povos Africanos. Deu origem ao F.R.A.I.N.

F.R.A.I.N. (Frente Revolucionária Africana para a Independência Nacional das Colónias Portuguesas) - Esta organização englobava, após a extinção do M.A.C., os movimentos conhecidos por P.A.I.G.C., M.P.L.A. e a U.P.A. Foi extinto em Abril de 1961 para surgir com a designação de C.O.N.C.P.

C.O.N.C.P. (Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas) - Como o próprio nome indica, este movimento resultou de uma associação dos vários movimentos existentes para conseguirem a «Independência Nacional das Colónias Portuguesas» e apareceu com esta designação após várias alterações já anteriormente assinaladas.

M.L.G.C. (Movimento de Libertação da Guiné e Cabo Verde) - Este partido dividiu-se em dois porque os naturais da Guiné (cerca de 60 mil), residentes no Senegal, não desejavam qualquer associação com os cabo-verdianos. Surgiu, assim, o M.L.G.

M. L. G. (Movimento de Libertação da Guiné) – Organização constituída quase exclusivamente por manjacos (...). Este movimento tinha por chefe François Mendy, estudante de Direito, de ascendência manjaca, nascido no Senegal e que cumprira o serviço militar no Exército francês. A organização estava dividida em duas, pois tinha uma filial em Conakry (M.L.G.-Conakry) e uma outra delegação, embora rudimentarmente estruturada, em Bissau (M.L.G.-Bissau), segundo revelou, em Agosto de 1963, o jornal Le Monde Diplomatique.

U.P.L.G. (União Popular para a Libertação da Guiné dita Portuguesa) - Este movimento enquadrava alguns fulas residentes no Senegal.

R.D.A.L.(Reagrupamento Democrático Africano para a Libertação da Guiné dita Portuguesa) - Esta organização parecia englobar os mandingas existentes no Senegal.

U.P.G. (Unido das Populações da Guiné dita Portuguesa) – Esta associação apareceu após a dissolução do M.L.G.C, e tinha uma secção formada por naturais da Guine, em Kolda, província senegalesa do Casamansa.

U.G.T.G. (União Geral dos Trabalhadores Guineenses) – Órgão paralelo à U.N.T.G. (União Nacional dos Trabalhadores Guineenses) e que forma uma secção do P.A.I.G.C. Estes agrupamentos têm carácter sindicalista.

U.N.G.P. - Alguns elementos do M.L.G.-Bissau e do U.P.G. aderiram ao U.N.G.P., mas o comité da Organização da Unidade Africana considerou-o como movimento que, efectivamente, não combatia a presença portuguesa. Após a decisão da O.U.A. acima referida, o U.N.G.P. viu decrescer a sua importância.

Alguns destes movimentos, como o M.A.C., o F.R.A.I.N. e o C.O.N.C.P. não chegaram a lutar e, presentemente, só o P.A.I.G.C. parece dispor de força na Guiné. A esse movimento, pela importância de que se reveste, nos referiremos mais em pormenor noutro local deste dossier. Acentue-se, no entanto, que o P.A.I.G.C. foi fundado em 1956 e o seu chefe é Amilcar Cabral.


A LUTA NA GUINÉ: PORQUÊ... COMO...


A Guiné - escreve João Baptista Nunes Pereira Neto, no seu estudo «Movimentos subversivos da Guiné, Cabo Verde c São Tomé e Príncipe - Tentativa de esboço sociopolítico», publicado pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina - foi, durante muito tempo, teatro de agitação que, praticamente, só cessou no continente, em 1915, devido à acção decisiva de Teixeira Pinto, embora, nas duas décadas subsequentes, tivesse, por vezes, havido necessidade de submeter as populações de algumas ilhas do arquipélago de Bijagós.

Terminadas estas últimas operações, gozou (a Guiné), praticamente, um quarto de século de paz - acrescenta o mesmo autor, que continua, assim, o seu estudo: «No entanto, pouco depois da independência da República da Guiné, conseguida em fins de Novembro de 1958, esta província portuguesa passou a ser citada nos órgãos da informação internacionais como sendo alvo das atenções conjuntas de N'Krumâ e Sekou Touré, que desejariam criar a Federação dos Estados Unidos da África Ocidental, a qual englobaria, além daquela parcela do território português, a Libéria, a Serra Leoa, a Gâmbia, a Costa do Marfim, o Gana, a República da Guiné e a Nigéria.

«Um ministro deste último país - continua Pereira Neto - parecia mesmo ter projectos mais audaciosos a esse respeito, pois sugeria que nessa federação entrassem, além daqueles países e territórios, o Togo, o Níger, o actuai Mali, a República do Alto Volta, os Camarões, o Daomé e o Senegal.»

Prosseguindo o referido estudo, o aludido autor acentua que «esses projectos de reagrupamento, que tanta tinta fizeram correr nos primeiros meses após a ascensão à independência de alguns países, depressa caíram no esquecimento e, assim, a Guiné deixa, novamente, de despertar as atenções dos órgãos da informação internacional mas, infelizmente, por alguns meses, pois, em 3 de Agosto de 1959, deu-se um grave incidente no porto de Bissau, devido a uma paralisação de trabalho, em virtude do qual houve alguns mortos e feridos.

«Após um pequeno surto de interesse provocado por esse incidente e pelo subsequente envio, poucos dias depois, de um reduzido contingente de tropas - que foi o primeiro que na actual conjuntura se teve de deslocar para o Ultramar - tudo se manteve calmo.»

Fonte: "Para um dossier Guiné - A guerrilha e o contra-ataque". Vida Mundial. 19 de Fevereiro de 1971.

Selecção e notas de A. Marques Lopes.

16 comentários:

Anónimo disse...

CONAKRY, le 31 aut 1959


Au Bureau politique du parti Democratique Guinéen



La lutte pour la Liberation de notre peuple a été combattue par la repression la plus barbare et jalousement cachée et dissimulée par les Portuguais, aux dépans d´une censure sévère et menteuse campagne d`auto- propagande.
Mais les masscres méthodiquement organisés n`ont pas été capables de nous détournér de notre objectif ou de diminuer la foi et la toujours croissante participation des Africains dans la bataille anti- colonialiste.
Le Mouvemet Anti- Colonialiste (Mac) est une organization de lutte et de revendication de tous les peuples africains sous domination Portuguaise - de l´Angola, du Mozambique, dela Guinée, de ´L´Archipel de Cap Vert, des Îles de S. Thomé et Principe.

L`objectif suprême du Mac c´est l´independance et la rehabilitation de 11 millions d´Africains d´une Afrique de 2 millions de kilomètres carrées.
Le Mac veut démasquer, devant les Africains , et les autres peuples épris de justice, les assassinats en masse dont ont été victimes les peuples Africains, le regime esclavagiste, le regime de travail forcé en vigueur dans les territoires Africains dominés par le Portugal et tout l´abject systéme colonial Portuguais.

Le Mac appuiera tous les mouvement africains que se dirigent vers l´independance.
Le Mac estime trouver l`appui de tous les mouvement africains qui s`engagent dans la lutte anti - colonialiste.

En saluant le parti Democratique Ginéen, le mouvement Anti colonialiste s´adresse á son Bureau politique, dans l´espoir de voir bien acptées les propositions qui lui sont formulées:


1- Qu`il soit accordé au MAC la creation d`un bureau dans la Republique de Guinée.

2- Que soit concedé asile, dans la Republique de Guinée, aux membres du MAC qui en auront besoin.

3- Qu´il leur soit concedé le passeport Guinéen.

4- Qu´il soit permis au MAC l´utilization de la Radio de la Republique de la Guinée.

5 - Qu´il soit accordé , au Mac, un prêt, remboursable après la libération.
6- Que soient controlées les activités, dans la Republique de Guinée de ceux qui proviennent des territoires dominés par Portugal.

7- Que des mesures urgentes soient prises dans le but d`incomber au gouvernement Portuguais le massacre de 30 Africains , en Bissao , et que soient imediatement liberés les 250 Africains arrêtés en Guinée dite Portuguaise.

Pour le Mouvement Anti Colonialiste


Hugo de Menezes

Anónimo disse...

Conacry,10 de agosto de 1961 Ref. 383/21/61

Hugo Azancot de Menezes

Recebida aos 24/08/61


Caro Hugo

Estimamos que tu e a tua família tenham feito uma excelente viagem e que vocês todos gozem de boa saúde.

Diz-nos urgentemente de que necessitares aí. Estamos aqui para servir da melhor maneira.
1-Junto te envio copia de uma carta que o director do EXPRESSEN dirigiu ao bureau da CONCP.
Pelos vistos já estão a caminho de Léopoldville 3 toneladas de medicamentos, de medicamentos ,os quais se destinam a CVAAR.
Achamos que é muito importante reter a seguinte passagem da carta do director do EXPRESSEN: “ Nos remede sont a leur disposition, mais s`ils n`arrivent pas a Léo ces temps -ci les remede seront distribués aux infirmeries au long de la frontiere.

Se for possível ,é muito conveniente que te apresentes urgentemente ao M. Gosta Streiffert , coordenador em chefe da acção em favor dos refugiados angolanos no congo.

Os fins da tua visita ao Streiffert deverão ser os seguintes:

a) Garantir- lhe a próxima chegada ao Congo de mais dois médicos angolanos. ( Com efeito, o ministro da saúde deste país acaba de dizer ao Eduardo que ele pode partir quando ele quiser .Em face disso, é quase certo que o Eduardo e o Boavida partirão no próximo barco, ou mesmo antes, de avião.

b) Avisar ao Streiffer que os três médicos angolanos -
- Tu ,Boavida e Santos -,que estarão aí certamente antes da chegada dos medicamentos, estão prontos a entrar imediatamente em actividade com os medicamentos enviados da Suécia pelo EXPRESSEN.

c) Deixar boa impressão ao Streiffer . Para isso, recomendaremos -te um trato o mais diplomático possível e a maior circunspecção possível . É fundamental que, depois do teu encontro com o Streiffer , este não fique com a impressão de que a vossa actividade vai constituir uma espécie de concorrência as funções dele e a actividade da liga das sociedades da cruz vermelha para o Congo.
Pelo contrario.
d) Sondar , habitualmente , a opinião íntima do Streiffer sobre a vossa futura presença junto dos refugiados . Tentar saber se há influências, opostas a actividade da CVAAR , na pessoa do Streiffer e dos seus colegas.

e) Deixar em toda gente a convicção firme de que a actividade da CVAAR será humanitária e apolítica . Quero, no entanto, lembrar-te quee a melhor maneira de impor a ideia de que a CVAAR é apolítica não consiste em declarares que ela “ é apolítica”, mas sim em mostrares um interesse humano, médico, por todas as vítimas da guerra. Quero dizer: o apoliticismo da CVAAR será inculcado no espírito dessa gente de maneira indirecta: através das tuas atitudes e do teu interesse humano e de técnico pelos doentes vítimas dos acontecimentos de Angola.

Fala pouco e ouve muito. É pela bouca que morre o peixe.
f) É fundamental que, depois do Streiffer te conhecer , deixes neste indivíduo uma espécie de compromisso de consciência que o impeça de dar os medicamentos um outro destino diferente ,sem primeiramente te consultar.
2- O Aquino Bragança vai enviar-te de Rabat o original da carta do director do EXPRESSEN . Em caso de necessidade , essa carta poderá servir de tira-teimas sobre o destinatário dos medicamentos.
Tudo faremos para que dentro de dias o Eduardo e o Américo estejam aí.

3)- Diz-nos urgentemente se a War ON Wait já transferiu o dinheiro para aí. Tenho insistido com o CABRAL para que isso se realize o mais depressa possível . Mas achamos estranho que o CABRAL não tenha, até hoje, acusado a recepção da vossa carta para a WAR ON WAIT.

Achamos conveniente que, logo que chegues ao Congo , escrevas ao CABRAL informando-o de que já estas aí e que outros médicos chegarão dentro de dias .
Saúde para a tua família e para ti.
Coragem , bom trabalho e prudência!

P.S.- O original desta carta ,enviámo-la , nesta mesma data , à nossa caixa postal de Brazzaville.

VIRIATO DA CRUZ

Anónimo disse...

MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO
DE ANGOLA
M.P.L.A.
51,Avenue Tombeur de Tabora
LEOPOLDVILLE
--------------

Por ocasião da campanha eleitoral que se desenrola em Portugal com vista às eleições legislativas anunciadas para 12 de Novembro corrente, o comité director do MPLA declara, mais uma vez ,o seu pleno apoio ao movimento da oposição democrática Portuguesa ao regime ultra - colonialista e fascista de Salazar.
Apesar da diversidade dos programas das várias correntes do movimento da oposição democrática Portuguesa ,o comité director do MPLA constata um denominador comum em todos esses programas : um espírito realista e democrático que, se animasse o poder político português , possibilitaria a resolução dos problemas coloniais sem necessidade a violência armada ,das confrontações sangrentas de que são já vítimas há dez meses o povo de Angola e o povo português.

Enquanto perdurar ,o regime de salazar continuará a praticar arbitrariedades e violência e só deixará ao povo de Angola a luta armada como única possibilidade de sair das intoleráveis condições de opressão e de exploração em que esse tenta mantê-lo.
É, pois evidente que, enquanto perdurar o regime ultra- colonialista e fascista de Salazar, o movimento da resitência armada do povo Angolano prosseguirá , com os seus fluxos e refluxos , até vitoria final.

Certo de que a sua luta activa e plena de sacrifício vem contribuindo concretamente para levar à morte o regime de Salazar, o povo de Angola tem o direito de esperar que o povo Português preencha as jornadas da presente campanha eleitoral com acções decisivas para o derrubamento do regime fascista.

O COMITÉ DIRECTOR DO M.P.L.A.

Léopoldville, 3 de Novembro de 1961


(A carta faz parte do Espolio de um dos fundadores do M.P.L.A DR Hugo José Azancot de Menezes.)

Anónimo disse...

MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO BRAZZAVILLE, 3 DE DEZEMBRODE1964
DE ANGOLA Mr. Dr. Hugo de Menezes
M.P.L.A. P. O..BOX 1633
ACCRA- GHANA
B.P. 2353
BRAZZAVILLE

RÉPUBLIQUE DU CONGO
-------------------

Departamento de : RELAÇÕES EXTERIORES
Ref. 1397/44/64


Caro compatriota,

Junto remetemos os documentos relativos a comissão dos três e do comité dos 9, encarregada de reexaminar o problema do nacionalismo Angolano na última conferência de chefe de Estados Africanos da O.U.A.
O RAPPORT da Comissão dos três , sendo confidencial não deverá ser divulgado. Enviamo-lo á título informativo pessoal,,permitindo - o a ter uma ideia exacta.


Saudações Revolucionárias

Pelo Comité Director

Agostinho Neto

Presidente




A FORÇA DO M.P.L.A, RESIDE NO APOIO QUE LHE CONCEDEM AS CAMADAS POPULARES NO INTERIOR DO PAIS ( Conferência de quadros do M.P.L.A,- 3 a 10 de janeiro de 1964).

FORCE DU M.P.L.A. RESIDE DANS LE SOUTIEN QUE LUI ACCORDENT LES MASSES POPULAIRES DANS L ´INTERIEUR DU PAYS ( Conférence des cadres du M.P.L.A, - 3 au 10 janvier 1964)

Anónimo disse...

MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO BRAZZAVILLE, 3 DE DEZEMBRODE1964
DE ANGOLA Mr. Dr. Hugo de Menezes
M.P.L.A. P. O..BOX 1633
ACCRA- GHANA
B.P. 2353
BRAZZAVILLE

RÉPUBLIQUE DU CONGO
-------------------

Departamento de : RELAÇÕES EXTERIORES
Ref. 1397/44/64


Caro compatriota,

Junto remetemos os documentos relativos a comissão dos três e do comité dos 9, encarregada de reexaminar o problema do nacionalismo Angolano na última conferência de chefe de Estados Africanos da O.U.A.
O RAPPORT da Comissão dos três , sendo confidencial não deverá ser divulgado. Enviamo-lo á título informativo pessoal,,permitindo - o a ter uma ideia exacta.


Saudações Revolucionárias

Pelo Comité Director

Agostinho Neto

Presidente




A FORÇA DO M.P.L.A, RESIDE NO APOIO QUE LHE CONCEDEM AS CAMADAS POPULARES NO INTERIOR DO PAIS ( Conferência de quadros do M.P.L.A,- 3 a 10 de janeiro de 1964).

FORCE DU M.P.L.A. RESIDE DANS LE SOUTIEN QUE LUI ACCORDENT LES MASSES POPULAIRES DANS L ´INTERIEUR DU PAYS ( Conférence des cadres du M.P.L.A, - 3 au 10 janvier 1964)

Anónimo disse...

Your Ref: GMH/ CR 200 GOWER STREET
OUR Ref: MWKC /JP/ N / 7a LONDON N W 1



Mr. G. M. HOUSER,
American Committee on Africa,
4 West 40th Street,
New York 18, N.Y.,
U.S.A.


Dear Mr. Houser,

Thank you very much for your letter of the 17th June, 1959.

Our Angola friend about whom Ms. Mboya talked with you when you met in America, is Dr Hugo Menezes who comes from Portuguese Angola, and we have been trying to send him to one of the Independent African countries so that he can be free to express himself. His present adress is as above,and we shall be grateful if you can give him all the assistance possible.

We are particulary glad to note that you are trying very hard to bring the Portuguese question before the United Nations. Dr Hugo Will be Very useful in this respect and i hope you will not hesitate to write to him.

Looking forward to hearing from you in the near future.



With best wishes,

Yours Sincerely,

M. W. KANYAMA CHIUME


Publicity secretary
Nyasaland African Congress

Anónimo disse...

Dr Hugo Menezes B. P 856, LÉO
Representante do M.P.L.A. 3 de Agosto de 1962
Bureau Of African Affairs
P.O. BOX M 24
Accra - Ghana


Prezado compatriota :
Esperamos que a tua família tenha feito uma boa viagem e que todo o trabalho esteja a decorrer bem no teu novo posto.
Esta é para te participar o seguinte: dentro em breve deverão prosseguir os preparativos para o congresso da mulher angolana aí. Em reuniões que tivemos com 2 elementos da UPA nos dias 1 e 2 deste, determinou-se que o Comité preparatório que vai trabalhar aí seja constituído pelas seguintes pessoas: Maria Ruth Costa ( 3, Rue Rodin, Rabat, Marrocos, D Bernarda de Sousa e Santos e uma “ neutra “ que é a cunhada da tua irmã. Recomendamos e frisamos insistentemente que nenhuma decisão nem démarche do Comité preparatório se torna válida sem a colaboração e o acordo das 3 - por meio das respectivas assinaturas, por exemplo.

Carecemos do teu auxílio no sentido de esclareceres o Bureau aí o facto de o actual Comité preparatório que deve trabalhar em Accra o fazer sempre como um bloco e o Bureau não dever reconhecer pedido nem proposta nenhuma que engaje as mulheres angolanas , sem o acordo desses elementos. Pedimos que faças também um bom corredor para obteres os bilhetes que faltam para o Comité preparatório entrar logo em acção aí: Um para a Ruth e outro para a D. Bernarda Santos . A terceira componente já tem o seu e parte para aí a manhã, mas convém que todas comecem a trabalhar ao mesmo tempo em Accra para se evitarem os golpes usuais . Agarra - te às cunhas altas que já conseguiste.

Por favor , despacha -te com os bilhetes. Manda-nos dizer o que conseguires com a urgência que puderes. Obrigado por tudo e Bom trabalho.

Cordialmente ao dispor ,

DEOLINDA ALMEIDA

Secretária da OMA

SECÇÃO de LÉO ( LÉODPOLVILLE)




CC: Maria Ruth Costa

Anónimo disse...

Your Ref: GMH/ Cr
Our Ref: MWKC/ JP/ N/7a

Mr. G . M. HOUSER,
AMERICAN COMMITTEE ON AFRICA,
4 WEST 40TH STREET,
NEW YORK 18, N.Y.,
U.S.A.



Dear Mr. Houser,
Thank you very much for your letter of the 17th june, 1959.

Our Angola friend about Whom Mr. Mboya talked with you
When you met in America, is Dr HUGO MENEZES who
Comes from portugese Angola, and we have been trying to
one of the independent African countries so that he can be
free to express himself.´His present adress is as above, and we
Shall be grateful if you can give him all the assistance possible.
We are particularly glad to note that you are trying very hard to
bring the portugese question before the United Nations.
Dr Hugo will be very useful in thisrespect and i hope you will
not hesitate to write to him.
Looking forward to hearing from you in the near future.


With best wishes,
Yours sincerely,

M. W. KANYAMA CHIUME
PUBLICITY SECRETARY
NYASALAND AFRICAN
CONGRESS

Anónimo disse...

Mário de Andrade
14 Rue de Monastir Rabat, le 2 janvier 65
Rabat




Meu caro Hugo,

Embora tardiamente ,Sarah e eu próprio formulamos os melhores votos para 1965, à família Menezes … “ sita em Accra”.

Enviamos um telegrama (assinado pelo secretariado da CONCP) a saber exactamente quando pensavas fazer sair o primeiro número do jornal.
Evidentemente, preparei algumas notas sobre a nova literatura e a revolução nas colónias portuguesas. Alem disso, penso que seria extremamente importante que o jornal fizesse eco regular das publicações da CONCP. Informo - te, a este respeito, que , em principio, terá lugar (passe o galicismo em Rabat, no fim desta semana a primeira reunião do comité preparatório da 2ª conferência das organizações - membros. Claro que mandarei o comunicado final.
Como vão as démarches para o lançamento do jornal Faulha? Queres informar o DAMZ que “ Etincelle” chega-nos aqui via… marítima?

Gostaria de obter a referência do livro sobre as relações económicas com Portugal, de que me falaste. Poderei continuar a expedir outros livros de que necessites para os teus estudos.
Diz algo, brevemente. Abraços do


Mário (Mario Pinto de Andrade)

Anónimo disse...

O PERCURSO De DR HUGO JOSÉ AZANCOT DE MENEZES

Hugo de Menezes nasceu na cidade de São Tomé a 02 de fevereiro de 1928, filho do Dr Ayres Sacramento de Menezes.

Aos três anos de idade chegou a Angola onde fez o ensino primário.
Nos anos 40, fez o estudo secundário e superior em Lisboa, onde concluiu o curso de medicina pela faculdade de Lisboa.
Neste pais, participou na fundação e direcção de associações estudantis, como a casa dos estudantes do império juntamente com Mário Pinto de Andrade ,Jacob Azancot de Menezes, Manuel Pedro Azancot de Menezes, Marcelino dos Santos e outros.
Em janeiro de 1959 parte de Lisboa para Londres com objectivo de fazer uma especialidade, e contactar nacionalistas das colónias de expressão inglesa como Joshua Nkomo( então presidente da Zapu, e mais tarde vice-presidente do Zimbabué),George Houser ( director executivo do Américan Commitee on África),Alão Bashorun ( defensor de Naby Yola ,na Nigéria e bastonário da ordem dos advogados no mesmo pais9, Felix Moumié ( presidente da UPC, União das populações dos Camarões),Bem Barka (na altura secretário da UMT- União Marroquina do trabalho), e outros, os quais se tornou amigo e confidente das suas ideias revolucionárias.
Uns meses depois vai para Paris, onde se junta a nacionalistas da Fianfe ( políticos nacionalistas das ex. colónias Francesas ) como por exemplo Henry Lopez( actualmente embaixador do Congo em Paris),o então embaixador da Guiné-Conacry em Paris( Naby Yola).
A este último pediu para ir para Conacry, não só com objectivo de exercer a sua profissão de médico como também para prosseguir as actividades políticas iniciadas em lisboa.
Desta forma ,Hugo de Menezes chega ao já independente pais africano a 05-de agosto de 1959 por decisão do próprio presidente Sekou -Touré.
Ainda em 1959 funda o movimento de libertação dos territórios sob a dominação Portuguesa.
Em fevereiro de 1960 apresenta-se em Tunes na 2ª conferência dos povos africanos, como membro do MAC , com ele encontram-se Amilcar Cabral, Viriato da Cruz, Mario Pinto de Andrade , e outros.
Encontram-se igualmente presente o nacionalista Gilmore ,hoje Holden Roberto , com o qual a partir desta data iniciou correspondência e diálogo assíduos.
De regresso ao pais que o acolheu, Hugo utiliza da sua influência junto do presidente Sekou-touré a fim de permitir a entrada de alguns camaradas seus que então pudessem lançar o grito da liberdade.

Lúcio Lara e sua família foram os primeiros, seguindo-lhe Viriato da Cruz e esposa Maria Eugénia Cruz , Mário de Andrade , Amílcar Cabral e dr Eduardo Macedo dos Santos e esposa Maria Judith dos Santos e Maria da Conceição Boavida que em conjunto com a esposa do Dr Hugo José Azancot de Menezes a Maria de La Salette Guerra de Menezes criam o primeiro núcleo da OMA ( fundada a organização das mulheres angolanas ) sendo cinco as fundadoras da OMA ( Ruth Lara ,Maria de La Salete Guerra de Menezes ,Maria da Conceição Boavida ( esposa do Dr Américo Boavida), Maria Judith dos Santos (esposa de um dos fundadores do M.P.L.A Dr Eduardo dos Santos) ,Helena Trovoada (esposa de Miguel Trovoada antigo presidente de São Tomé e Príncipe).
A Maria De La Salette como militante participa em diversas actividades da OMA e em sua casa aloja a Diolinda Rodrigues de Almeida e Matias Rodrigues Miguéis .


Na residência de Hugo, noites e dias árduos ,passados em discussões e trabalho… nasce o MPLA ( movimento popular de libertação de Angola).
Desta forma é criado o 1º comité director do MPLA ,possuindo Menezes o cartão nº 6,sendo na realidade Membro fundador nº5 do MPLA .
De todos ,é o único que possui uma actividade remunerada, utilizando o seu rendimento e meio de transporte pessoal para que o movimento desse os seus primeiros passos.
Dr Hugo de Menezes e Dr Eduardo Macedo dos Santos fazem os primeiros contactos com os refugiados angolanos existentes no Congo de forma clandestina.

A 5 de agosto de 1961 parte com a família para o Congo Leopoldville ,aí forma com outros jovens médicos angolanos recém chegados o CVAAR ( centro voluntário de assistência aos Angolanos refugiados).

Participou na aquisição clandestina de armas de um paiol do governo congolês.
Em 1962 representa o MPLA em Accra(Ghana ) como Freedom Fighters e a esposa tornando-se locutora da rádio GHANA para emissões em língua portuguesa.

Em Accra , contando unicamente com os seus próprios meios, redigiu e editou o primeiro jornal do MPLA , Faúlha.

Em 1964 entrevistou Ernesto Che Guevara como repórter do mesmo jornal, na residência do embaixador de Cuba em Ghana , Armando Entralgo Gonzales.
Ainda em Accra, emprega-se na rádio Ghana juntamente com a sua esposa nas emissões de língua portuguesa onde fazem um trabalho excepcional. Enviam para todo mundo mensagens sobre atrocidades do colonialismo português ,e convida os angolanos a reagirem e lutarem pela sua liberdade. Estas emissões são ouvidas por todos cantos de Angola.

Em 1966´é criada a CLSTP (Comité de libertação de São Tomé e Príncipe ),sendo Hugo um dos fundadores.

Neste mesmo ano dá-se o golpe de estado, e Nkwme Nkruma é deposto. Nesta sequência ,Hugo de Menezes como representante dos interesses do MPLA em Accra ,exilou-se na embaixada de Cuba com ordem de Fidel Castro. Com o golpe de estado, as representações diplomáticas que praticavam uma política favorável a Nkwme Nkruma são obrigadas a abandonar Ghana .Nesta sequência , Hugo foge com a família para o Togo.
Em 1967 Dr Hugo José Azancot parte com esposa para a república popular do Congo - Dolisie onde ambos leccionam no Internato de 4 de Fevereiro e dão apoio aos guerrilheiros das bases em especial á Base Augusto Ngangula ,trabalhando paralelamente para o estado Congolês para poder custear as despesas familhares para que seu esposo tivesse uma disponibilidade total no M.P.L.A sem qualquer remuneração.

Em 1968,Agostinho Neto actual presidente do MPLA convida-o a regressar para o movimento no Congo Brazzaville como médico da segunda região militar: Dirige o SAM e dá assistência médica a todos os militantes que vivem a aquela zona. Acompanha os guerrilheiros nas suas bases ,no interior do território Angolano, onde é alcunhado “ CALA a BOCA” por atravessar essa zona considerada perigosa sempre em silêncio.

Hugo de Menezes colabora na abertura do primeiro estabelecimento de ensino primário e secundário em Dolisie ,onde ele e sua esposa dão aulas.

Saturado dos conflitos internos no MPLA ,aliado a difícil e prolongada vida de sobrevivência ,em 1972 parte para Brazzaville.

Em 1973,descontente com a situação no MPLA e a falta de democraticidade interna ,foi ,com os irmãos Mário e Joaquim Pinto de Andrade , Gentil Viana e outros ,signatários do « Manifesto dos 19», que daria lugar a revolta activa. Neste mesmo ano, participa no congresso de Lusaka pela revolta activa.
Em 1974 entra em Angola ,juntamente com Liceu Vieira Dias e Maria de Céu Carmo Reis ( Depois da chegada a Luanda a saída do aeroporto ,um grupo de pessoas organizadas apedrejou o Hugo de tal forma que foi necessário a intervenção do próprio Liceu Vieira Dias).

Em 1977 é convidado para o cargo de director do hospital Maria Pia onde exerce durante alguns anos .

Na década de 80 exerce o cargo de presidente da junta médica nacional ,dirige e elabora o primeiro simpósio nacional de remédios.

Em 1992 participa na formação do PRD ( partido renovador democrático).
Em 1997-1998 é diagnosticado cancro.

A 11 de Maio de 2000 morre Azancot de Menezes, figura mítica da historia Angolana.

Anónimo disse...

PARTIDO AFRICANO DA INDEPENDÊNCIA DA GUINÉ E CABO VERDE
Sede: Bissau
Conacry , 20 de Fevereiro de 965



Mr. Hugo MENEZES

P.O.BOX 1633

ACCRA (Ghana)


Caro amigo,

Em resposta à sua carta de 23 de Novembro último, temos a dizer-lhe o seguinte:

1º/ - A iniciativa da publicação, no Ghana, de um jornal em língua portuguesa, parece - nos digna do maior interesse, não podendo nos deixar de dar todo o apoio aos amigos que se dedicam à concretização dessa ideia;

2º/ - Nesse intuito, pensamos pôr, em breve, à vossa disposição, algum material escrito e fotográfico, expor -vos as nossas sugestões e enviar - vos a colaboração escrita que nos pedem;

3º/ - Dada que a sua carta nos chegou num período em que o nosso secretário geral se encontrava no interior do pais , de onde regressou apenas há alguns dias, não nos foi ainda possível enviar-lhe o artigo pedido para o primeiro número do jornal. Contamos, entretanto, poder fazê-lo brevemente.

Apresente as nossas melhores felicitações a todos quanto trabalhem para que o jornal seja em breve uma realidade.

Com os melhores votos, queiram receber as nossas

SAUDAÇÕES COMBATIVAS


VASCO CABRAL



SECRETARIAT GENERAL: B,P. 298 CONAKRY- REPUBLIQUE DE GUINÉE

Anónimo disse...

Ref.69/B/62 Léopoldville,21 de 1962

Caro Hugo
Saúde

Para que possas continuar a acompanhar os assuntos da nossa luta em especial ao desejado Front junto envio pelo Kassinda um dossier de todas as demarches efectuadas para prosseguimento do do acordo de principio aasinado entre Accra p elos três partidos que bem conheces. O dossier se destina ao presidente Krumah e por isso peço - te de o fazeres chegar ao destinatário . É nosso empenho para que essa entidade seja o juiz do processo e por essa razão pretendemos pôr -lhe ao corrente de todas as demarches efectuadas nesse sentido . Quanto ao governo do Congo tomamos agora uma posição séria. Apresentamos ontem um protesto ao Ministro de informação pelas noticias tendenciosas na Radio- difusão do chamado “Governo da República de Angola no Exílio” e seus “ministros “. Igualmente enviamos cópias do protesto ao Presidente da república, Primeiro Ministro do interior. Ultimamente a situação do refugiado em Léopoldville agrava-se pois que cobram actualmente para o “sejour “ 50 frs mensais. Já apresentamos também uma reclamação por tal facto porque achamos impróprio para com os refugiados que nada possuem. A situação no interior continua a mesma . Os nossos adversários continuam com as duas mentiras, simplesmente os 22 militares preparados não querem entrar no interior de Angola sem formação do verdadeiro Front .
O soba da Sanzala muitas manobras utiliza para mante-los dentro mas parece nada resultar. Temos recebido muitas noticias do interior. O povo está exausto e impaciente com a desunião constante dos partidos. Esperamos que procures usar da tua influência junto do soba de lá para que a decisão penda para nós mesmo sem o Front. Esperamos que nos informes se há possibilidades de podermos mandar publicar ai o relatório do Padua . Agradecemos a informação ainda na volta do correio visto tratar-se de um assunto de importância e muito urgente. Eu não sei o se o Mário te falou desse assunto, mas posso assegurar-te que foi aprovado numa reunião do C.D ( comité director) a publicação do relatório. A
Publicação pretende-se que seja em brochura, se demora para não perder a actualidade , visto os relatos apanhados no depoimento da Onu terem sido já publicados por 250 jornais conforme noticia em nosso poder. Temos de andar meu caro. Desejo-te bom trabalho e muito êxito. Aceite cumprimentos de todos.
Do amigo e compatriota

Graça

Anónimo disse...

GHANA BROADCASTING CORPORATION

Broadcasting house, P.O. ´BOX 1633
Accra, Ghana 19th November ,1962

MY Ref . Nº DOB.295/120

Sir,

I have the honour to offer you new terms of engagement on Programme Contract in the Portuguese section of RADIO GHANA with effect from today.

Duration of Engagement: - The engagement will be for a period of two years in the first instance but will be subject to renewal at the end of that time if you wish it and , if your work has been satisfactory.

The engagement can be terminated by two months notice being given by either side or alternatively - on Radio Ghana´S side - by the payment of two months salary in lieu of notice.

Salary: - Your salary will be £100 a month and will be subject to Ghanaian Income Tax and Compulsory Savings both of which will be deducted at source. The compulsory Savings is returnable.

Accommodation: - Hard furnished accommodation - bungalow or self - contained flat will be available at Accra. The rent will be £90 per year.

Leave : On completion of year` service you will be eligible for 36 days paid leave.

Free Medical Attention : While on this engagement in Ghana you will be eligible to receive free medical and dental treatment.

Duties : - Your duties will be to work as a producer and Announcer / Translator in the Portuguese Section of Radio Ghana assisting in edit: translating and announcing news bulletins, commentaries and programmes in Portuguese, in writing, preparing and producing material suitable for inclusion in these programmes; and for any assistance that may be requied of you for the general programme output in Portuguese or in English.
You will be expected to work full time for Radio Ghana during outside activities such as commercial work or writing for the Press can be undertaken only with the permission of the Director.

I have the honour to be,
Sir,
Your obedient Servant,

(W.F. Coleman)
Director of Broadcasting

Dr. Hugo de Menezes,
Portuguese Section,
Broadcasting House,
Accra.

Anónimo disse...

Caro Hugo




Saúde para si e para a família. Nós por cá tudo normal excepto a complicação dos disparates dos amigos da Firma UPA- PDA que se pretendem grandes vítimas do nacionalismo angolano quando é certo sofrerem do nacionalismo de ricos…
Deves estar ao corrente de que provavelmente na 2ª quinzena de Setembro se deve realizar o congresso popular para modificações disciplinares no nosso movimento. Como todos os membros do comité Director devem assistir a ele, era e é máxima conveniência que respondesse ao telegrama que o MPLA te enviou confirmando a minha aceitação da proposta do presidente Nkrumah e tua a fim de eu ficar a trabalhar em Accra.

Convém que me responda se recebeu o telegrama e quando conta que eu possa aparecer aí, para também aqui se fazer um plano de trabalho de sorte a minha ausência mesmo inopinada não prejudique a boa marcha das coisas.
Recomendações da minha família à sua.
Abraço e saudações nacionalistas.
Ao seu dispor
Leo , 30/08/ 1962

José Domingos

Anónimo disse...

UMA CRÍTICA MUITO DURA AOS MÉTODOS DO MPLA

Ao saber da conversa ocorrida em Acra (Ghana), Lúcio Lara reagiu: « Os cubanos falam de mais»

HUGO AZANCOT DE MENEZES

Longe de mim a pretensão de ter feito história ou de escrevê-la.
Contudo, vivi factos que envolvem, também , outros protagonistas.
Alguns, figuras ilustres. Outros, gente humilde, sem nome e sem história, relacionados, apesar de tudo, com períodos inolvidáveis das nossas vidas.
Alguns destes factos , ainda que de fraca relevância, podem ter interesse, como « entrelinhas da História», para ajudar a compreender situações controversas.
Conheci Ernesto Che Guevara em Acra , em 1964, e comprometi - me a não publicar alguns temas abordados na entrevista que tive o privilégio de lhe fazer como « repórter» do jornal Faúlha.

Já se passaram mais de 30 anos. O contexto actual é outro.
Pela primeira vez os revelo, na certeza de que já não é o quebrar de um compromisso, nem a profanação de uma imagem que no
A entrevista realizou-se na residência do embaixador de Cuba em Acra , Armando Entralgo González, que nos distinguiu com a sua presença.
Ali estava Che…
A sua tez muito pálida contrastava com o verde - escuro da farda.
As botas negras, impecavelmente limpas.
Encontrei-o em plena crise de asma, Socorria - se , amiúde, de uma bomba de borracha.
Che Guevara , deus dos ateus, dos espoliados e dos explorados do terceiro mundo, deus da guerrilha, tinha na mão uma bomba, não para destruir mas para se tratar… de falta de ar. Aspirava as bombadas, dando sempre mostras de um grande auto -domínio.
Fora-me solicitado que submetesse o questionário à sua prévia apreciação - e assim o fiz.
Uma das questões dizia respeito à cultura da cana - de - açúcar em Cuba.
Como encarava ele a aparente contradição de combater teoricamente a monocultura - apanágio dos sistemas de exploração colonial e tão típica dos sistemas de exploração colonial e tão típica do subdesenvolvimento - ao mesmo tempo que fomentava, ao extremo, a cultura da cana e a produção de açúcar - mono -produto de que Cuba se tornaria, afinal, cada vez mais dependente?
Outro tema que nos preocupava, a nós , africanos, era o papel dos cidadãos cubanos de origem africana na revolução cubana e a fraca representação deles nos órgãos de direcção dos país e do partido, os quais tinham proscrito qualquer discriminação racial.
Não constituiria o comandante Juan D´Almeida - único afro - cubano na direcção do partido - uma excepção?
Entretanto, a crise de asma agudizava-se , o que nem a mim me dava o à - vontade requerido nem, obviamente, ao meu interlocutor a disposição necessária para o diálogo.
Insistiu para que eu o iniciasse. Ao responder - lhe que não me sentia á vontade para fazê-lo, em virtude de seu estado, disse - me em tom provocante e com certa ironia :« Vejo que você é um jornalista muito tímido.»

No mesmo tom lhe respondi, que não me tinha pronunciado como jornalista, mas como médico .« Comandante, as suas condições não lhe permitem dar qualquer entrevista», disse-lhe eu.
Olhando-me , meio surpreso e sempre irónico, replicou: « Companheiro, eu não falo como doente, também falo como médico.
Em meu entender, estou em condições de dar a entrevista.»
Mas a crise de asma não melhorava, tornando impossível o diálogo. Foi necessário adiá-lo.
Reencontrámo-nos dias depois. Estava, então, quase eufórico. Referindo-se á atitude dos cidadãos cubanos de origem africana, à sua fraca participação na revolução, disse não gostar de se referir á origem ou à raça dos homens.
Apenas à espécie humana, a cidadãos, a companheiros.
Manifestei-lhe a minha total concordância. «A verdade », disse-lhe eu, «é que a revolução cubana tinha suscitado em todos nós , africanos, uma enorme expectativa, muita esperança, pois que, pela primeira vez, assistia-mos a um processo revolucionário de cariz marxista, num país subdesenvolvido e eis - colonial , tendo, lado a lado, cidadãos de origem europeia e africana, e onde a discriminação racial tinha sido, e ainda era, tão notório.»
Cuba seria pois, para nós, africanos, um teste. Seguíamos atentamente a sua evolução e queríamos ver como seria resolvido este problema.
Muitos, em África, mostravam-se cépticos. Mais do que interesse, da nossa parte existia ansiedade.
Segundo Che Guevara , a população de origem africana, a principio, não participava no processo. Via-o com uma certa indiferença, como mais uma luta…
«deles». Mas a desconfiança estava a desaparecer, era cada vez maior a adesão, á medida que iam constatando que este processo era totalmente diferente daqueles que o precederam. Que era um processo para todos.
Che Guevara acabava de chegar do Congo - Brazzaville.Visitara as bases do MPLA em Cabinda (de facto, na zona fronteiriça Congo/ Brazzaville /Cabinda) .
Pedi - lhe que me desse as impressões da sua visita. Che não era um diplomata, mas um guerrilheiro, e foi directamente à questão:
« O MPLA tem ao seu dispor condições de luta excepcionais.
Quem nos dera a nós que, durante a guerrilha, em Cuba, tivéssemos algo comparável. Mas estas condições não estão a ser devidamente aproveitadas, exploradas …
O MPLA não luta, não procura o inimigo , não ataca…
O inimigo deve ser procurado, deve ser fustigado, deve ser perseguido, mesmo no banho. Agostinho Neto está a utilizar a luta armada apenas como mero instrumento de pressão política.»
Dei parte da conversa a Agostinho Neto. Não reagiu. Tal como a Lúcio Lara, que me respondeu:
« Os cubanos falam demais.»
Mas Che falava verdade. Durante vários anos, na minha qualidade de responsável dos serviços de assistência médica da 2º região político - militar do MPLA (Cabinda ) , fui disso testemunha a cada passo.
Aí e assim , como contestação a esta e outras situações idênticas, surgiria dentro do movimento, antes de Abril de 1974, a Revolta Activa.

Hugo José Azancot de Menezes foi médico. Foi um dos fundadores do MPLA

Anónimo disse...

JORNAL” REPÚBLICA”

FUNDADOR: DR. ANTÓNIO JOSÉ DE ALMEIDA,
DIRECTOR: CARVALHO DUARTE
DIRECTOR- ADJUNTO: ALFREDO GUISADO

DIÁRIO DA TARDE DE MAIOR CIRCULAÇÃO EM TODO PAÍS

CHEFE DE REDACÇÃO E EDITOR: ARTUR INEZ
TERÇA -FEIRA,10DE SETEMBRO DE 1957
ANO 47( 2ª SÉRIE) - Nº9598- PREÇO 1$00
APRESENTOU UMA GRAVURA COM OS PRESIDENTES DOS ORGÃOS DIRECTIVOS DA CASA DOS ESTUDANTES DO IMPÉRIO:

HUGO MENEZES, DE S. TOMÉ,
CARLOS ERVEDOSA, DE ANGOLA,
FERNANDO VAZ, DE MOÇAMBIQUE.