1. Mensagem do Afonso Sousa (22 de Julho de 2005), em resposta ao texto de A.Marques Lopes sobre o livro de Alpoím Galvão:
Binta, aonde estive !... Binta não era bem um quartel de mato, entalado no cerco alto do arame farpado, com velhos barracões de mancarra, outrora sinónimo de comércio, hoje com utilidades várias e sempre profundamente vazios. Vinham batelões rio [Cacheu] acima, sem perigos de morteiro, carregar colheitas de amendoim, que dariam óleo nos alambiques de Bissau. Não fossem as árvores e Binta seria agora um deserto.
Porquê, então, Binta ? Ponto estratégico (?), encostado ao Rio Cacheu, com Ganturé (nos tempos da guerra, a Base Fluvial de Alpoim Calvão) logo alí, um pouco mais a jusante (Bigene), ou local privilegiado para escoamento do produto.
O negrito talvez seja forte e quererá, também, significar que urge revisitar estes sítios !
Afinal fica claro. A Operação Mar Verde visava o derrube de Sekou Touré. O António Marques Lopes não refere se no livro o autor faz a justificação desse golpe de estado. Nós, no entanto, conhecemos alguns dos intentos, mas seria giro conhecê-los com maior profundidade através do seu maior protagonista (...).
2. Texto do A. Marques Lopes (23 de Julho de 2005):
Em especial para o amigo Afonso Sousa.
É muito claro no livro de Alpoim Calvão que o objectivo era derrubar o governo de Sékou Touré colocar no seu lugar a FLNG (Front de Libération National Guinéen), opositora do PDG, partido no poder, a qual impediria a existência de bases de apoio do PAIGC na Guiné-Conacri, o objectivo táctico. Com efeito, diz Calvão, a páginas 67-68:
"Desde 1964 que os oposicionistas guineenses, procuravam contactar, como é lógico, com as nossas autoridades. Foram-se trocando ideias, pesando possibilidades, mas não apareciam resultados práticos palpáveis. A política seguida pelo Governo Português dera origem a uma cautelosa estratégia militar, que considerava as fronteiras (?) tabu, permitindo assim que as unidades do PAIGC tivessem sempre possibilidades de refúgio, de recompletamento e de treino. Contudo, com a vinda do então Brigadeiro António de Spínola, as coisas tomaram outro rumo. Os oposicionistas guineenses começaram a sentir que havia viabilidades para realizações práticas que os poderiam ajudar a alcançar o objectivo das suas aspirações pertinazes — a queda do regime de Sekou Touré.
"As diversas ramificações do FNLG tinham vindo a contactar as autoridades portuguesas por canais diferentes — Ministério do Ultramar em Lisboa e Sub-Delegação da D.G.S. em Bissau. Esta, com o núcleo que se ia agrupando à sua volta, iniciou a recolha dum certo número de informações que, recortadas com as que vinham de Lisboa, fizeram perceber a amplitude da dissidência guineense.
"Foi primeira intenção do Governador e Comandante Chefe, instalar um ramo militar do FNLG algures em território da província, donde irradiariam acções de guerrilha contra o vizinho do Sul. Esta hipótese foi encarada em Outubro de 1969 começando-se os preparativos para a enformar. Necessariamente, assunto tão complexo levaria muito tempo a resolver em toda a extensão e assim de facto sucedeu.
"Mas com o decorrer do tempo, a viabilidade do plano parecia maior e verificava-se, com satisfação, que o projectado ataque aos navios do PAIGC em Conakry poderia ser perfeitamente enquadrado nas futuras operações de guerrilha do Front."
Mas diz ele [o Alpoím Galvão], logo à frente, que esta hipótese de uma guerrilha contra a República da Guiné a partir de território português levantaria problemas de política internacional junto da ONU e da OUA, pelo que, diz ele, "propôs que se executasse um golpe de Estado em Conakry o que obteve a imediata adesão do General Comandante Chefe".
Com esse objectivo, diz ele também, "após vários encontros de coordenação entre a parte portuguesa (Cap.ten.Calvão e Inspector Adjunto Matos Rodrigues [, da PIDE/DGS]) e os representantes do FNLG, realizados em Bissau, Paris e Genève, fizeram-se uma série de acções para a recolha do pessoal [do FNLG]" (p. 69).
Refere também que houve algumas reticências entre os operacionais desta acção. O major Leal de Almeida, supervisor da Companhia de Comandos Africanos, recusava-se a tomar parte nela, por achar ser contra a ética militar realizar uma operação contra o governo dum país com o qual não estávamos em guerra. Foi preso e mandado de helicóptero para Bissau, onde o General Spínola o mandou regressar novamente a Soga e reintegrar-se nas forças de assalto.
Mas esta atitude, reconhece ele [o Alpoím Galvão], teve efeito deletério no moral de alguns elementos da Companhia de Comandos Africanos. É assim que o capitão João Bacar Jaló, com grande ascendente sobre a CCA, revelou dúvidas e condicionalismos. Mas lá acedeu a participar. Esta situação terá, acho eu, tido alguma influência no resultado final da acção.
Claro que não restam dúvidas sobre os objectivos da Op Mar Verde. O Afonso Sousa tem razão.
Marques Lopes
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