24 julho 2005

Guiné 63/74 - CXXII: Bibliografia da guerra no feminino (2)

Sugestão de leitura e selecção de Jorge Santos.

TÍTULO: As Mulheres e a Guerra Colonial
PUBLICAÇÃO: Revista Crítica de Ciências Sociais, 68
EDITORA: Centro de Estudos Sociais (Universidade de Coimbra)
DATA: Abril 2004

AUTORES E RESUMOS DOS ARTIGOS:

Margarida Calafate Ribeiro

África no feminino: As mulheres portuguesas e a Guerra Colonial

Procura-se traçar as linhas gerais que no discurso crítico histórico, político, sociológico e literário levaram a considerar a guerra como um fenómeno não exclusivamente masculino. Dentro da situação portuguesa, visa-se interpretar o "papel de apoio" que sempre esteve reservado às mulheres, de um ponto de vista público e privado, e analisar com mais detalhe a situação das mulheres portuguesas que acompanharam os maridos em missão militar em África, durante o período da Guerra Colonial.

Maria Manuela Cruzeiro

As mulheres e a Guerra Colonial: Um silêncio demasiado ruidoso

O texto pretende denunciar as várias camadas de silêncio com que a sociedade portuguesa fugiu ao encontro inevitável com a maior tragédia da sua contemporaneidade: a Guerra Colonial. A estratégia de ocultação, que oscila frequentemente entre o recalcamento e a denegação, atinge, quer os seus directos intervenientes (os militares mobilizados), quer as instituições do poder "político" e outro, quer sobretudo as suas vítimas mais ignoradas: as mulheres. Afastadas naturalmente da máquina de guerra, mas profundamente implicadas nos seus efeitos devastadores, o seu silêncio torna duplamente absurdo e incompreensível esse momento traumático da nossa história recente.

Helena Neves

Amor em tempo de guerra: Guerra Colonial, a (in)comunicabilidade (im)possível

O período da Guerra Colonial (1961-1974) produziu em Portugal profundas alterações de ordem demográfica, económica, social e cultural. Mas se o que é mensurável se encontra, hoje em dia, mais ou menos visível, há uma vertente que praticamente permanece por estudar: as vivências da intersubjectividade, dos afectos e das relações amorosas em tempo de guerra. O que se apresenta é um levantamento empírico desta problemática que urge analisar.

Maria Manuel Lisboa
"Até ao fim do mundo": Amor, rancor e guerra em Hélia Correia

A peça de teatro de Hélia Correia, O rancor: Exercício sobre Helena, oferece a base para uma análise textual do entendimento clássico e moderno do papel da mulher no contexto da guerra. As mulheres, na versão contemporânea de Hélia Correia, reproduzem e acentuam alguns dos indícios já disseminados pela tragédia e epopeia gregas, nomeadamente a problemática da sexualidade feminina e da paixão, enquanto forças contrapostas ao instinto belicoso masculino, por aquelas eventualmente derruido.

A leitura aqui apresentada focaliza aspectos variados da justaposição dos sexos no contexto da guerra: nomeadamente, a dinâmica entre mãe e filha enquanto agentes de um feminino solidário em confrontação com o imperativo belicoso masculino; a relação mãe-filho conforme inscrita no dilema edipiano filial de opção entre o pai guerreiro e a mãe atavicamente amada; a questão da maternidade/paternidade e do sacrifício voluntário ou recusado de filhos e filhas aos interesses da guerra; e o problema da representação passional do inimigo enquanto objecto de desejo e figuração do ideal do bem-amado.

Roberto Vecchi

Incoincidências de autoras: Fragmentos de um discurso não só amoroso na literatura da Guerra Colonial

Se a guerra é por excelência o território do androcêntrico, a experiência traumática da guerra e a sua representação pelo olhar feminino enxertar-se-ão numa margem periférica, numa orla de deslocação da própria experiência traumática. Deste ponto de vista, o feminino torna-se por excelência um “olhar testemunhal”, sendo a possibilidade sobrevivente, residual, da impossibilidade do testemunho integral diante do evento traumático. Uma deslocação esta que evidencia a não coincidência entre experiência e imagem, própria do testemunho, em que lógos e memória femininos se tornam portadores contundentes de um outro lógos, duma contra-memória.

Os romances de Wanda Ramos e Lídia Jorge são recolocados também na problemática trágica da aporia testemunhal, mostrando como uma reflexão crítica sobre o trágico moderno pode proporcionar uma perspectiva mais compreensiva de uma literatura problemática – pelo seu corpo a corpo com a história – como a da Guerra Colonial.

Ana de Medeiros
Re-escrevendo a História: A Costa dos Murmúrios de Lídia Jorge e L’Amour, la Fantasia de Assia Djebar

Dentro do tema geral da incompatibilidade entre a vida privada e a vida pública, decidi concentrar a minha atenção numa série de elementos comuns aos dois textos em análise e que explicam, em parte, a sua qualidade subversiva, num sentido político e histórico: a ideia das representações dominantes da mulher como falsas representações, o restaurar do passado da auto-representação feminina e o reconhecimento da necessidade de representar as diferenças entre mulheres. O trabalho de Lynn Hunt sobre a Revolução Francesa servirá como espaço teórico para início da minha análise.

Laura Cavalcante Padilha
Dois olhares e uma Guerra

A partir da leitura das obras poéticas Sangue negro (2001) e É nosso o solo sagrado da terra (1978), respectivamente de Noémia de Sousa e Alda Espírito Santo, o texto procura surpreender dois olhares africanos sobre a guerra, em perspectiva ao mesmo tempo étnica e de género. Para além disso, discute-se o duplo gesto de nomeação do conflito: a mudança, no universo discursivo, do sistema de referências imposto pelo colonialismo e, consequentemente, a encenação da interioridade de novos sujeitos históricos femininos.

Dossier
Dois depoimentos sobre a presença e a participação femininas na Guerra Colonial

Depoimento de Elsa Adler Gomes da Costa
Depoimento de Ivone Reis

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