Texto de A. Marques Lopes, ex-alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967) e da CCAÇ 3 (Barro, 1968), hoje coronel (DFA) na situação de reforma:
O Cacuto Seidi era o chefe da tabanca de Barro em 1968. Era um espectáculo vê-lo andar de bicicleta só com uma perna... houve um dia em que foi mordido por uma cobra de palmeira e tiveram que lhe cortar a perna.
Muitas vezes fui até à sua porta para falar com ele. Por duas razões: a primeira é que suspeitávamos que ele estava feito com o PAIGC e eu tentava colher alguma informação de interesse, mas ele tinha esperto no cabeça e nunca se descoseu, até porque sabia que eu suspeitava dele; a segunda é que era quem tinha influência sobre as bajudas, além de que tinha cinco mulheres, e essas conversas foram sempre muito úteis... e proveitosas.
Em 1998 fui a Barro. Assim que me viu abriu a boca e disse admirado:
-Alfero Lopes!- Ao fim de 30 anos lembrou-se logo de mim, apesar de estarmos os dois mais velhos, de tal modo que quem me acompanhava ficou com a boca aberta de espanto. É que foi, de facto, muito tempo de convívio e de conversa.
Perguntei-lhe pelo Braima, um caçador da tabanca de Barro, muito conhecedor de toda aquela zona e que foi o meu guia em 1968, porque conhecia todos os trilhos e buracos quer na mata quer no tarrafe das margens do Cacheu. O Cacuto ficou atrapalhado e respondeu:
- O Braima mataram.
- Ah! - disse-lhe eu - mas tu continuas a ser o chefe da tabanca! Então, eu tinha razão... -. Acabou por se rir, é claro.
Barro não é nada do que era. A pista da Dornier não existe, está de tal modo cheia de mato alto que ninguém diria que alguma vez houve ali uma pista. As instalações da companhia estão completamente destruídas e também cobertas de mato. A única lembrança de alguma actividade militar era uma granada de morteiro detonada, do PAIGC com certeza. Foi tanta a miséria que vi que deixei ao Cacuto 20 CFA (moeda actual da Guiné-Bissau) para ele distribuir pelas famílias da tabanca.
A. Marques Lopes
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