"Os gestores portugueses já afirmam que não basta a modernização tecnológica, mas que é indispensável a actuação no campo dos factores 'imateriais', revela este estudo [da consultora Active Management Group] (Catarina Nunes: Velho modelo impera. Expresso, 22.11.2003).
Ora bolas! E eu a pensar que tinha sido a tribo dos sociólogos do trabalho a pôr em evidência, há muitas luas atrás, isso mesmo, que um dos pontos fracos da nossa estrutura produtiva era a sobrevalorização do determinismo tecnológico no processo de modernização das empresas, o fetichismo tecnológico, a crença positivista no abre-te-sésamo da tecnologia pronta a servir, a redução do processo de inovação à introdução de novas tecnologias e a persistência de filosofias e práticas organizacionais fortemente enraizadas no modelo tradicional de empresa, práticas essas que ignoravam pura e simplesmente os factores sócio-organizacionais, leia-se "imateriais", como factores de produtividade, qualidade e competitividade!...
Os componentes materiais de trabalho, esses, a gente sabe facilmente identificar, inventariar, listar: (i) os locais ou instalações de trabalho; (ii) o ambiente físico de trabalho; (iii) a chave de parafusos, o martelo, o torno mecânico, o computador e todas as demais ferramentas, máquinas e materiais necesssários ao processo de produção, incluindo as matérias-primas; sem esquecer (iv) as substâncias e os agentes químicos, físicos e biológicos, (v) o layout de produção, a par da (vi) organização do trabalho e do tempo de trabalho.
Mais dificilmente objectiváveis são os elementos imateriais do trabalho, tais como: (i) cultura da empresa; (ii) clima organizacional;L (iii) liderança estratégica; (iv) estilos de gestão e chefia; (v) comunicação assertiva; (vi) dinâmica(s) de grupo; (vii) valores, representações simbólicas, identidades profissionais, etc. São afinal as pessoas, os individuos e os grupos de cuja interacção resultam as organizações. É o humanware, meu estúpido!
Daí a importância da formação em Gestão de Recursos Humanos e Comportamento Organizacional na perspectiva da inovação e mudança: não se trata apenas de desenvolver competências técnicas mas também... humanas, relacionais e sociais!
Enfim, é preciso virem os estrangeiros de fora atirar-nos à cara coisas mais feias ou menos bonitas. Há tempos foram os tipos da Ad Capita International Search, depois os gajos do Relatório McKinsey (Portugal 2010: Acelerar o Crescimento da Produtividade)... agora são estes, da Active Management Group...
Não nos queixemos: felizmente nunca nos faltaram amigos da estranja para nos dar uma palavrinha de conforto, um conselho, uma pancadinha nas costas... Mas também a canelada ou outros golpes mais baixos... Que os amigos são mesmo para as ocasiões!
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