10 fevereiro 2004

Socio(b)logia - VI: Portugal S(ociedade) A(nal)

Não sei se o Zé Portuga tem um apurado sentido de humor (crítico), ou se é apenas o eterno espectador (passivo) da queda dos anjos, dos mitos, dos heróis, dos poderosos, dos reis e das rainhas...



Quando há sangue, ou cheiro a sangue, ele é sempre o primeiro a parecer na primeira fila dos espectadores que se juntam em redor do cadafalso ou da fogueira... Acontece em todo o lado e em todas as épocas. Hoje como no tempo da Santa Inquisição, há sempre figurantes em número suficiente para enquadrar e dignificar o espectáculo.



Será que este é um traço de crueldade da personalidade do Zé Povinho, ou apenas a sabedoria (milenar) de que (i) o poder é volátil, que (ii) a glória do mundo passa, que (iii) a revolução engole os seus filhos, que (iv) a fúria justiceira é como um vulcão adormecido, que (v) a vida é um suplício de Sísifo, que (vi) quando o mar bate na rocha quem se lixa é o mexilhão, etc. ?!



Enfim, deixemo-nos de sociologia espontânea, e debrucemo-nos sobre a fotomontagem que circula pela Net e em que aparecem os principais implicados no caso Casa Pia, em lugar dos personagens do Senhor dos Anéis. Trata-se de uma paródia e de um trocadilho: Senhor dos Anais, Sociedade Anal...



Não o reproduzo aqui o boneco por razões éticas, de bom senso e de bom gosto: as pessoas em causa, conhecidas figuras públicas, embora acusadas de vários crimes, estão inocentes até prova em contrário, ou seja, até à sentença transitada em julgado (tenho aprendido umas coisas com esta sobre-exposição mediática da Senhora Justiça, Cega-Surda-E-Muda)... Mas é caso para o Blogador perguntar se o Portugal S. A. em que hoje vivemos não quer dizer justamente Portugal Sociedade Anal ?



É capaz de ser uma boa pergunta, não tanto para os os historiadores, os etnopsiquiatras, os antropólogos ou os sociólogos, como sobretudo para os economistas, empresários, gestores e académicos que hoje se reunem no convento do Beato para mais um exercício (colectivo) de purga e sangria...



Acontece que no capítulo do encarniçamento terapêutico, tem uma fraca reputação: "Em Lisboa nem sangria má nem purga boa"!, já lá diz o provérbio antigo.

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