28 dezembro 2005

Guiné 63/74 - CCCXCIX: Mansambo, um sítio que não vinha no mapa (1): a água da vida

Guiné > Zona leste > Mansambo > 1968 > Para além dos abrigos subterrâneos à prova de morteiro e de bazuca (pelo menos), e das demais infraestrutuars indispensáveis à vida de uma companhia de quadrícula (refeitório, depósito de géneros, paiol, secretaria, campo de futebol, etc.), a água era talvez o bem mais precioso... Água, água!, diziam eles...

© Carlos Marques Santos (2005)




Temos mais um tertuliano, na recta final do ano de 2005: é o Marques dos Santos, de Coimbra, ex-furriel miliciano da CART 2339 (Mansambo, 1968/70) , afecta ao BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). Esta undiade foi rendida pela CART 2714 (1970/72).

Aqui vão as duas primeiras mensagem dele (enviadas em 26 e 28 de Dezembro de 2005):

Companheiro(s):

(i) Alertado por um mail do Ernesto Ribeiro, explorei o vosso blogue e, em anexo, envio cinco fotos do construção de raiz do quartel Mansambo, incluindo o poço e os chuveiros, em estreia (naquela altura) absoluta (1).

Anteriormente, um pelotão em linha, pronto a disparar, tinha que fazer segurança para o banho na célebre nascente (?) depois de ter havido uma emboscada, com atiradores do PAIGC na copa das árvores, emboscada essa que provocou graves danos na Companhia (2).

(ii) Por mero acaso descobri nas minhas navegações na Internet um site que referia Mansambo. Ao explorá-lo encontrei dois nomes: Ernesto Ribeiro e António Santos Almeida (CART 2339).

Por mail, entrei em contacto com o Almeida e descobri que ele iria à Guiné em Março próximo. Manifestei o desejo de ir também e logo a seguir um telefonema de quem há cerca de 35 anos não tinha notícias, apesar de termos desde há dez anos encontros anuais da nossa unidade. Este ano vai ser no Gerês, em Maio, o nosso encontro.

Este mail serve-me de primeiro contacto.Ao mesmo tempo, e vendo fotos de Mansambo, quero contribuir para a memória colectiva, enviando algumas das que possuo. Em anexos vou mandar umas tantas.

Um abraço de Marques dos Santos
(ex-furriel miliciano da CART 2339, hoje professor de Educação Física do Ensimno Secundário, aposentado, vivendo em Coimbra)


Guiné > Zona leste > Mansambo (3)> 1968 >

Depois da água para beber, o bem a seguir mais precioso era o duche... Quem não se podia dar ao luxo de tomar um duche, como este aqui documentado na foto, tomava uma banho à fula... com água recolhida das chuvas, em bidões!

© Carlos Marques Santos (2005)



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Notas de L.G.:

(1) A água (doce, potável ou não) era um dos bens mais preciosos, não só para as NT como para o PAIGC e para a população guineense. A água era duramente disputada por ambos os contendores. Naslguns sítios havia um acordo de cavaleiros, tácito; noutras, imoeraca a lei da guerra... Aconteceu em Mansambo: as NT foram emboscadas junto à nascente que abastecia o quartel em construção... Mansambo não existia no mapa, mas a sua importância era estratrégica ficando a meio dos trinta e tal quilómetros que separavam Bambadinca e o Xitole. O quartel foi construído de raíz pela CART 2339, com quem a CCAÇ 12 ainda colaborou durante meio ano (até Dezembro de 1969) em operações e colunas logísticas...

(2) Vd. na página sobre Mansambo fotos da famigerada nascente que havia nas imediações do aquartelamentoonde e onde tanto as NT como o PAIGC se abasteciam de água. Foi local de emboscadas e de mortes. Nessas fotos, pode-se ver o soldado condutor auto Manuel G. Ferreira, da CART 3494, do BART 3873, Jan. 1972 / Abr. 1974).

(3) No nosso tempo costumava-se dizer que Mansambo era um sítio que não vinha no mapa. Não tinha qualquer importância administrativa, por comparação com Bambadinca, a norte, e o Xitole, a sul. O quartel foi implantado na mata, desbastada: era um campo de futebol ou pouco mais, constituído por abrigos subterrâneos, construções de superfície abarracadas e arame farpado a toda a volta... No mapa do Xime, dos Serviços Cartográficos do Exército, anterior à guerra, havia uma minúscula tabanca, com duas moranças...

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