Mensagem da Nela (Manuela Gonçalves) (de quem eu disse há dias, no Dia Internacional da Mulher, que não fazia mas devia fazer parte da nossa tertúlia, juntamente com o seu marido) (*):
1. Já tinha colocado o post 4 quando visitei o blog e escrevi o post 5. O meu marido era na altura o Alferes Miliciano Nelson Gonçalves. Obrigado por me considerar Tertuliana, mas, de facto, enquanto eu gosto de escrever, ele detesta. Quem sabe se o virá a fazer! (**)
Saudações amigas
Blog > Caminhos por onde andei > Post: Guiné- Bissau (5)
2. Com a devida vénia reproduz-se aqui esse post, datado de 25 de Março de 2006:
Na minha visita habitual ao Blogue-fora-nada , acabei por mudar de caminho e bater à porta do Africanidades, onde entrei, mesmo sem licença, e soube, pelo que é possível saber, da explosão de uma mina na zona de São Domingos.
O flagelo das minas continua e não sei mesmo se muitas delas não serão ainda daquelas que foram colocadas na guerra colonial. A coincidência transportou-me até Novembro de 69.
Foi naquela mesmo estrada - de São Domingos para Susana - numa operação de reconhecimento da via, que o Unimog em que o maridão seguia, pisou uma mina anti-carro. No Unimog, uma outra mina anti-carro, levantada cerca de 300 metros antes, era transportada atrás e, por mero acaso, não rebentou, o que teria sido catastrófico para todo o pelotão!
A mina tinha sido accionada pelo pneu do lado direito, pelo que o maridão foi atirado para fora, em estado crítico, não tendo o condutor sofrido senão pequenos ferimentos, apesar da força do embate!
Um helicópetro transportou-o para Bissau, tendo acordado uns dias mais tarde numa cama no Hospital Militar, sem uma perna e tendo por companheiro de quarto o capitão Peralta, cubano, cuja captura tão noticiada era nos media de então (***).
Antes como agora, aquela estrada era perigosa, antes como agora aquela estrada era a única via de saída e/ou entrada na região do litoral, antes como agora, parece, que a principal preocupação dos comandos era e é cortar a possibilidade de fuga às populações!
Antes como agora morrem soldados, fogem populações que não querem a guerra, que estão cansadas de lutas, de morte, de fome, de pobreza! Até quando a dor e o sofrimento? Até quando as minas nas estradas? Até quando?
Nela
_____________
Notas de L.G.:
(*) Vd. post de 8 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXVIII: Dia Internacional da Mulher (6): a guerra no feminino (Manuela Gonçalves)
(**) Cara amiga: Infelizmente ainda são poucas as mulheres que lêem e sobretudo escrevem neste blogue. Contam-se pelos dedos da mão as nossas tertulianas. Pelo que a Nela é bem vinda. Não há razão para não ser tertuliana, de jure e de facto. Já o é. Ou passa a ser automaticamente. Por muitas razões: (i) pelo seu maridão ter ido connosco, no mesmo navio, o N/M Niassa, em Maio de 1969, para a Guiné; (ii) por você ter, heroicamente, acompanhado a sua convalescença no Hospital Militar de Bissau à distância de milhares de quilómetros; (iii) por você ler o nosso blogue regularmente; (iv) por ter, tal como todos nós, uma grande paixão pela Guiné e pelo seu povo; (v) por ser uma mulher de armas... e, ainda por cima, ter sentido de humor, a avaliar pelo delicioso endereço do seu e-mail...
Bem vinda, Nela! Ou melhor: sê bem-vinda, que os camaradas e amigos da Guiné tratam-se todos por tu!
(***) O capitão Pedro Rodriguez Peralta, capitão do Exército Cubano, de 32 anos, instrutor ao serviço do PAIGC, foi gravemente ferido a 18 de Novembro de 1969, no corredor de Guileje, junto à fronteira com a Guiné-Conacri, no decurso da Op Jove, conduzida por forças paraquedistas e destinada a capturar o próprio 'Nino' Vieira. Enviado para Lisboa, só depois do 25 de Abril de 1974 é que o capitão Peralta é libertado.
Fonte: Policarpo, F. - Guerras de África: Guiné, 1963-1974. Matosinhos: QuidNovi.2006. 102. (Batalhas da História de Portugal, 21).
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