12 dezembro 2005

Guiné 63/74 - CCCLX: Projecto Guileje (8): 'Quem não tem mãe, mama na avó' (provérbio guineense)

"Já temos uma lista inicial de uma dúzia de militantes envolvidos no assalto final [ao quartel de Guiledje] e que irão ser entrevistados (som e imagem) para o nosso arquivo histórico" (Pepito).

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Caro Luis:





Em referência ao que saiu hoje no nosso blogue [ Guiné 63/74 - CCCLVI: Antologia (33): os 'gringos açorianos' de Guileje (CCAV 8350, 1972/73)] , gostaria de dar as seguintes informações:

1. O texto que apresentas do jornalista Eduardo Dâmaso (Público) sobre o abandono de Guiledje, mereceu uma "resposta" do Comandante do PAIGC, Osvaldo Lopes da Silva, encarregue por Amílcar Cabral para fazer o reconhecimento e preparar as condições do assalto final a Guiledje (Cabral dizia: "se este quartel cai, tudo à volta também cai").

Trata-se de um documento histórico relevante (Público, 26 de Julho de 2004) com informações muito detalhadas de todos os preparativos militares então realizados.


2. Tem sido para nós mais fácil identificar e envolver nesta iniciativa as antigas milícias e população que vivia no quartel de Guiledje, porque continuaram a viver na zona e arredores. O mesmo não se passa com os guerrilheiros do PAIGC que, pelas características próprias da luta, vinham de diversas regiões do país para onde regressaram no fim da guerra. No entanto, já temos uma lista inicial de uma dúzia de militantes envolvidos no assalto final e que irão ser entrevistados (som e imagem) para o nosso arquivo histórico.

Por curiosidade, refiro-te que o topógrafo que vês na foto a fazer o levantamento topográfico do quartel, era um muito jovem militante do PAIGC que entrou no quartel dois dias depois de ele ter sido abandonado. Tem-nos prestado informações interessantíssimas em relação aos corredores de circulação da guerrilha e da população.

3. Paralelamente, já estão identificados os acampamentos do PAIGC na zona de Cantanhez, os quais irão igualmente ser reabilitados para permitir a todos ter uma ideia exacta dos contornos geográficos da guerra e aperceberem-se das condições de vida e luta da guerrilha. Entre eles situa-se o importante acampamento de Candjafra (e não Canjifara, como vem escrito no blogue), que irá ser integrado no percurso histórico do ecoturismo.

4. Sentimos clara e conscientemente que nesta iniciativa nos falta um historiador que organize e trabalhe a informação, que conduza o processo de recolha da "história". Mas como dizemos aqui na Guiné-Bissau, "quem não tem mãe, mama na avó". O que é preciso é salvar a memória, mesmo que com limitações, antes que ela desapareça à espera dos historiadores...

abraços
pepito

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