22 outubro 2003

Humor com humor se paga - II: O triunfo dos genéricos!

1. Como o mundo está a mudar, meu Deus!... E a que velocidade (estonteante)!... E a que preço (exorbitante)!... Não foi sem grande espanto e com maior falta de pudor, que eu vi os nomes dos medicamentos genéricos que o senhor Ministro da Saúde mandou publicar no agora Diário da Região Lusitana (ex-Diário da República Portuguesa). Esqueci-me de que já estávamos, pobres mas felizes, na Eurolândia. Desde 1986, dizem-me uns. Desde sempre, dizem-me outros.



Rendi-me à evidência: a famigerada lista até me parece útil. Sobretudo quando a gente tiver uma dor... na tola. Antigamente um portuga ia ao médico e depois à farmácia. Agora o felizardo do eurolandês vai direitinhinho à botica e, em vez de uma embalagem de Aspirina, pede uma caixa "Prá...Tola". Se o problema é ligeiramente mais abaixo e a gente anda a fungar do nariz, não precisamos de mais nada: "Um Prá...Penca, xáxa favor"... Se o problema é ainda mais grave (ali do foro do departamento das partes baixas...), nada como desinibidamente pedir à afável, prestável e poliglota boticária um "Prá...Tusa". Funciona em toda a parte, da Suécia dos vikings à Grécia dos armadores.



2. Pode não dar milhões, mas é fácil e barato. E, como se diz agora, mais conveniente: pensando bem, eu já não preciso de estar na bicha do centro de saúde (ficam com mais tempo patra serem atendidos os pobrezinhos, os velhinhos e os imigras). Também já não precisar de cravar um médico amoigo nem muito menos pagar a um doutor com consultório nas avenidas novas. Com os genéricos, é o triunfo do conceito do sirva-se a si mesmo! É o empowerment do Zé Portuga, dizem os sociólogos de serviço!



3. Além disso, esta lista é uma excelente mneumómica: depressa uma pessoa a decora. É como os provérbios: durante milhares de anos, eles funcionaram às mil e uma maravilhas como formas escolásticas, sincréticas e totalitárias de pensamento. Faz-me lembrar os tempos da escola do Conde de Ferreira onde eu andei. A gente tinha que saber de cor os nomes dos reis de todas dinastias, com os respectivos cognomes (Eu engava-me sempre no Sancho Pança!)... Percebo agora, meio século depois, qual é o verdadeiro sentido pedagógico do aprender-de-cor(ação).



4. Ela, a lista, vem antecedida dos nomes comerciais que a tua médica de família (ainda te lembras dela ?) te costumava receitar. Ele(s), o(s) médico(s), agora até pode(m) ser castelhano(s) e falar portunhol. Não faz mal. Cada vez é/são mais dispensável/éis. O médico, os médicos. Ora isso não é bom ? É o empowerment do Zé Portuga, agora senhor eurolandês, dizem os euro-sociólogos de serviço em Bruxelas.



5. Com a nova lista dos medicamentos genéricos, tu estás preparado para enfrentar os desafios da saúde (i) na economia global e (ii) na sociedade da informação e do conhecimento. É bom recordar que não há conhecimento sem informação; nem informação sem dados (primários).



Podes viajar para os limites da Eurolândia. Podes até mudar de galáxia, que o genérico é mesmo universal. E chegou para ficar. É a maior revolução depois da de Copérnico, Gutenberg, Pasteur, Einstein, Watson & Crick... Aqui eu paro porque de repente perdi a lista dos revolucionários ou a minha capacidade para os seguir. atrás do estandarte.



O que vos posso garantir é que (i) eu confio nos genéricos, (ii) o Dr. Copérnico também confia nos genéricos, (iii) tu confias nos genéricos, (iv) a minha médica de família confia nos genéricos, (v) nós confiamos nos genéricos... O ministro Luís Filipe Perereira e os seus assessores mais íntimos também. A indústria farmacêutica não sei.



6. Repara: com o genérico, aumentou a tua literacia em saúde. O genérico é o princípio da medicina ao alcance de todos. Tu tornas-te um generalista. Um verdadeiro generalista. O genérico é a realização do princípio constitucional do direito à saúde, estás a ver ? Com o genérico, tu ficas mais empoderado. Não sabes o que é ? Vem de empoderamento, do inglês empowerment. Antigamente eras um incapacitado. Agora com o empoderamento, tu ficas com capacitação. É isso. It's magic, guy!...



Não percebeste ? Então, merda, andei práqui a gastar o meu latim. É um bocado difícil de explicar melhor explicadinho. O que importa é que o empoderamento é bom para ti, para o sistema de saúde e para o Governo, que se preocupa contigo. É bom para a Eurolândia. É bom para o ex-Zé Portuga, agora eurolandês.



7. Um utente da saúde empoderado vale por dois e dispensa muito bom médico, enfermeiro, psicólogo, psiquiatra, técnico psicossocial, piscoterapeuta, nutricionista, gestor de saúde, gestor de seguros de saúde, maqueiro, abutre, coveiro. Não te esqueças que, antes de seres doente, já eras contribuinte. Agora passas a ser um contribuinte mais empoderado. Se virmos as coisas da perspectiva do marketing (social), tu passas a ter o estatuto de cliente. E o cliente manda: em cima o cliente, em baixo o presidente!



8. Em boa verdade a lista tem tudo o que precisas. Tu e o resto da tua família. Em qualquer parte da Eurolândia. E também te pode ser útil quando fores de viagem-de-férias-cá-dentro para ... a Costa da Caparica:



Activarol - "Prá...Memória"

Agiolax - "Pra...Cagar"

Aspirina - "Prá...Tola"

Benurom - "Prá...Tosse"

Buscopam - "Prás...Dores"

Cêgripe - "Pró...Vírus"

Colgate - "Prós...Dentes"

Cozaar - "Prá...Tensão"

Gerproct - "Pró...Cú"

Kompensam - "Prá...Azia"

Lauroderme talco - "Prós...Túbaros"

Nazex - "Pró...Penca"

Pancreoflat - "Prós...Gases"

Pers. Control - "Prá...Piça"

Reumon Gel - "Pró...Caruncho"

Soro - "Prá...Veia”

Tampax - "Prá...Rata"

Tantum Verde - "Prá...Boca"

Valium - "Pró..Óo"

Viagra - "Prá...Tusa"

Xanax - "´Pró...Stresse"



PS - Guarda a lista na tua mesinha de cabeceira e cuidado com as escutas! Que a Judite quando se põe à escuta, não olha para a tua conta da Portugal Telecom (se for fixo).

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