1. Caro Luís,
Estou a fazer um trabalho na área da formação que me tem ocupado os dias das 14 às 23h, motivo pelo qual ainda não dei seguimento ao teu correio e que tenho muito gosto em manter. O blogue-fora-nada está cheio de motivos de interesse, merece uma atenção diferente.
No próximo fim de semana vou enviar-te os elementos que indicaste [fotos, nº da companhia, etc.]. Fiquei sensibilizado com a publicação do conto do Ansumane [, caçador de crocodilos]. Pareceu-me até que está muito melhor do que aquele que escrevi há anos. De resto, a minha prática de escrita em quase 40 anos de actividade profissional resumiu-se invariavelmente a relatórios comerciais, problemas, oportunidades, fraquezas, forças. Relatórios para multinacionais, sabes do que estou a falar, nada de margem para poesias...
Um abraço. Virgínio Briote.
2. Resposta de L.G.:
Vírginio, mais uma razão para te dedicares à escrita criativa... Faz-te bem a ti e a nós. Eu adoro aproveitar as estórias que os antigos camaradas me mandam. Há histórias fabulosas, contadas de maneira às vezes um pouco tosca, literariamente pobre... O que eu tenho feito, sempre com grande respeito pela proprieddae intelectual, pelo conteúdo, pelo estilo, pelas nuances, é dar-lhe pequenos retoques (pontuação, gramática e pouco mais). O mesmo faço às fotos: com pequenos retoques recupera-se e valoriza-se uma velha foto com interesse documental...
Eu também sei o que é isso da linguagem de pau: como professor universitário tenho que escrever e ler mil e uma coisas chatas para burro, sem graça, sem talento, sem alma... Tive algum receio em pôr as falas das personagens do teu conto, em discurso directo... Mas a ideia era tornar o teu texto mais amigável, facilmente legível, com parágrafos curtos, para o tipo de leitores do nosso blogue... Todos nós temos o direito de escrever à nossa maneira... Se o Saramago e o Lobo Antunes são pós-modernos e aplaudidos, quem somos nós para dizer que eles escrevem bem ou mal?... Aqui a questão não é o estilo pessoal mas o interesse (e a necessidade) em comunicarmos uns com os outros...
Dito isto, fico à espera de mais... E tiro-te já o quico, que é como quem diz: aqui vai uma chapelada, um aplauso... A avaliar pela tua experiência de Guiné, tu tens que ser tratado como um homen grande... Tu és de 1965, eu de 1969 e muitos outros de nós ainda mais periquitos do que eu. Pouco ou nada se tem falado dessa época, do ´período inicial da guerra na Guiné (1963, 1964, 1965...). Além disso, foste um operacional, como eu, e para mais comando, enquanto uma boa parte do pessoal da nossa tertúlia era de transmissões... Fico , pois, a aguardar as tuas surpresas. Um abraço, camarada Virgínio!
PS - Como vês, a malta vai juntando peças para fazer o puzzle da memória
da guerra (colonial ou do Ultramar, como queiras), sem sentimentos de culpa, sem acusações, sem vanglórias... Tem sído bonito, dizem-me e eu também sinto que sim. E talvez para o ano, a gente se possa juntar, conhecer pessoalmente e beber um copo.
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