Post nº 304 (CCCIV)
Guiné > Mansoa > 9 de Setembro de 1974 >
O Furriel de Operações Especiais Ribeiro, da CCS do BCAÇ 4612, recolhe a bandeira verde-rubra, na presença de representantes do PAIGC (incluindo a viúva de Amílcar Cabral) e de autoridades militares do CTIG.
© Eduardo Magalhães Ribeiro (2005)
1. Fui hoje contactado, por telefone, por um ex-furriel miliciano, ranger, Eduardo Magalhães Ribeiro (que trabalha no Porto, na EDP) e que esteve na CCS do último batalhão da Guiné, em Mansoa (BCAÇ 4612)...
Ele considera-se o mais periquito dos periquitos da Guiné: foi para a Guiné já depois do 25 de Abril em "missão liquidatária"...
Na realidade, tratava-se de fazer a entrega (simbólica) do território aos novos senhores da Guiné e, ao mesmo tempo, assegurar a retirada, ordeira, digna e segura, das últimas tropas portuguesas. Mansoa, em pleno coração do território, serviu perfeitamente para esse duplo propósito...
Guiné > Mansoa > 9 de Setembro de 1974 >
Um português, Ribeiro, a fazer história...
© Eduardo Magalhães Ribeiro (2005)
Presumo que tenha sido uma experiência não menos dolorosa para muitos jovens portugueses, numa época não isenta de riscos, tensões e contradições... Pessoalmente confesso que não gostaria de lá ter estado, fardado, no pós-25 de Abril de 1974... Fez-se história nesse dia já longínquo de 9 de Setembro de 1974...
O Eduardo diz que ficou famoso pela sua foto a arriar a bandeira verde-rubra , em Mansoa, na presença da Maria Turra (sic), como era conhecida entre os tugas - com o sentido de humor, que é típico da caserna, mas com respeito e até carinho - a viúva do Amílcar Cabral, que assistiu com outros destacados dirigentes do PAIGC a este momento histórico...
Enquanto ansiava por receber as prometidas fotos e estórias do Eduardo, este nosso novo tertuliano acabou por fazer uma primeira remessa, agora mesmo...
2. Texto do Eduardo Magalhães Ribeiro:
Boa noite, amigo ex-combatente da Guiné, Luis Graça.
Tal como combinámos, anexo um pequeno texto e algumas fotos, das 38 que possuo aqui em casa, que vou repartir por 3 ou 4 emails, dada a sua grande ocupação de espaço.
Eu estive na Guiné, em Mansôa, em 1974, na CCS do BCAÇ 4612/74 (o último batalhão que partiu para a Guiné e também o último que de lá saiu), e participei, ali, na entrega do aquartelamento ao PAIGC e na simbólica entrega do território, que incluiu uma muito concorrida cerimónia do último arriar de bandeira nacional, com cerimónia oficial, na Guiné, e o hastear da primeira bandeira da Guiné-Bissau.
Se achares com interesse junta ao blogue.
MANSÔA, 9 de Setembro de 1974
Com a revolução de 25 de Abril de 1974, foi dada como terminada aquela que foi designada como Guerra do Ultramar, que Portugal travava em África, nas três conhecidas frentes: Angola, Guiné e Moçambique.
Guiné > Mansoa > 9 de Setembro de 1974 >
Um privilégio que poucos tiveram e que provavelmente poucos quereriam ter... É de imaginar o tipo de sentimentos, contraditórios, que terá assaltado, naquele momento, este digno representante do povo português que foi o nosso camarada Ribeiro...
© Eduardo Magalhães Ribeiro (2005)
Em 9 de Setembro de 1974, com a independência da Guiné-Bissau, foi entregue o território ao PAIGC numa cerimónia oficial que decorreu no quartel de Mansôa.
Estiveram presentes nessa cerimónia: a CCS do BCAÇ 4612/74, comandada pelo Major Ramos de Campos; o CMDT do mesmo batalhão, Coronel António C. Varino; um grupo de combate, um grupo de pioneiros, Maria Cabral (viúva de Amilcar Cabral) e o comissário político Manuel Ndinga, do PAIGC; e, pelo CEME do CTIG, o Ten. Cor. Fonseca Cabrinha.
Guiné > Mansoa > 9 de Setembro de 1974 >
Um dia de sonhos e de esperanças para os guineenses... E de alguma nostalgia para os últimos soldados do império colonial português...
© Eduardo Magalhães Ribeiro (2005)
A bandeira foi arriada por mim, à data Furriel Miliciano de Operações Especiais, Eduardo José Magalhães Ribeiro.
À cerimónia compareceram ainda uns largos milhares de nativos locais, de diversas etnias: papéis, balantas, fulas, futa-fulas, mandingas, manjacos, etc., e umas dezenas de jornalistas de todo o mundo.
Um guerrilheiro do PAIGC hasteia a bandeira da nova República da Guiné-Bissau.
Os inimigos de ontem dão-se as mãos e prometem cooperar, no futuro, numa base igualitária, falando a mesma língua. Sob a bandeira do PAIGC os vários povos da Guiné lutaram pela indepência mas é através da língua portuguesa (oficial) que se entendem...
© Eduardo Magalhães Ribeiro (2005)
Desta cerimónia possuo em minha casa 38 fotografias, mas existe um filme deste acontecimento histórico inserido na série televisiva: Século XX Português, da SIC Notícias – no Episódio sobre a “Descolonização”, acompanhado de uma curta entrevista, que ali dei, sobre os factos então vividos.
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