Guiné > Zona Leste > Bambadinca > 1969 ou 1970: O heliporto. Havia também uma pista para outras aeronaves (Dornier, mais conhecida por D0). A guerra da Força Aérea era das nove às cinco...
© Humberto Reis (2005)
1. Mensagem de um antigo combatente da guerra colonial, no norte de Moçambique (1971/72), o Melo Silva, que nos pergunta:
Tenho lido o seu blogue sobre a Guiné. Estive em Moçambique. Gostava de lhe perguntar o seguinte:
1- É ou não verdade que os feridos transportados em DO [Dornier], por falta de espaço, tinham que ir encolhidos?
2- Na Guiné a FA também só funcionava até às 17H00, e os Helis não transportavam mortos?
Desculpe o atrevimento.
M.C.
2. Resposta de L.G.:
Caro amigo e camarada:
Obrigado pela sua pergunta. Na Guiné, as evacuações ditas Ypsilon (feridos muito graves) eram feitas de helicóptero, para o Hospital Militar de Bissau. As distâncias eram curtas, a Guiné é do tamanho do Alentejo.
Os nossos helicópteros não estavam, de facto, preparados para andar ao fim da tarde e, muito menos, à noite... No meu tempo (1969/71), e na zona leste, os helicópteros poisavam directamente numa clareira da mata, quando andávamos em operações; ou então a partir do heliporto do aquartelamento mais próximo, se o ferido não morresse até lá... No meu tempo, havia uma enfermeira a bordo...
Os nossos mortos nunca eram helitransportados, mas sim levados, penosamente, em macas improvisadas... O argumento: (i) o helicóptero custava 15 contos à hora (o ordenado mensal de dois alferes, na altura, ou seja, em 1969...); (ii) o serviço de saúde só cuidava dos vivos, não dos mortos.
Como sabe, na Guiné a nossa superioridade aérea acabou no dia em que foi utilizado, pelo PAIGC, o primeiro míssil terra-ar, no inícío do 2º trimestre de 1973... Aí acabou também a guerra da Guiné: o aquartelamento de Guileje é abandonada, em pânico, em Maio de 1973...
Junte-se à nossa tertúlia de ex-combatentes: temos um camarada, fuzileiro, que esteve em Moçambique, o Jorge Santos, autor da página A Guerra Colonial. Um abraço, Luís Graça
4. Resposta do Melo Silva:
Já agora, se o fuzo esteve no Niassa em 71/72, quase de certeza que o conheço.
Eu estava no Lunho, o do Cancioneiro [do Niassa].
Era uma porra, nunca havia a merda da verba para nada, excepto para a chularia em Nampula.
Vocês não tinham Dorniers [DO], aqueles aviãozinhos?
Um abraço.
5. Comentário do nosso tertuliano Manuel Castro:
É verdade, os Helis não voavam a partir do entardecer e também não faziam evacuações de zonas perigosas. Eu próprio fui transportado, em Outubro de 1973 do Olossato até Bissorá, deitado na carroçaria duma GMC. Esta picada, de cerca de 22 Km, foi percorrida em cerca de 5 horas, com os meus camaradas fazendo a picagem e protecção à coluna. Chegado a Bissorã (zona menos perigosa), fui recolhido pelo Heli e transportado para o hospital militar de Bissalanca. Algum tempo antes tinham sido abatidos os primeiros Fiats G-91 e a força aérea tinha deixado de voar para o Olossato. Felizmente estou vivo.
Em finais de Março de 1973, em cima da mesma GMC, tinha morrido o 1º cabo Guerrinha, por falta de evacuação. Sem uma perna, desfeita por uma mina antipessoal, esperou desesperadamente 7 longas e angustiantes horas que a evacuação, sucessivamente prometida, chegasse. Nunca chegou! Infelizmente o Guerrinha não está vivo.
Um abraço. M.Castro
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