Bissau > Hospital Nacional Simão Mendes > Paulo Salgado, integrado numa equipa de cooperantes. Infelizmente, o seu PC portátil não apareceu e a nossa tertúlia ressente-se disso... © Paulo Salgado (2005)
Meu Caro Luís!
Conclusão apressada. Gostaria de ter contado estórias belas que aconteceram aqui no HNSM [Hospital Nacional Simão Mendes] (este hospital, como escreve o Jorge nem parece um hospital; mas estão lá doentes; às vezes em condições miseráveis, e lá trabalham pessoas, umas que trabalham e outras que fazem que trabalham... como me interessa o que é positivo, o que é bom, então o feio, o maldito, o negativo, eu os esqueço e então tentamos: djitu ten ki ten).
Gostaria de vos falar do Sani, viúvo, adoentado, que passava horas e horas a tratar do saneamento e limpeza na zona da cólera (um dia destes morre e não se sabe a razão); gostaria de vos falar do amor do motorista guineense malandro e da engenheira italiana dos Médicos Sem Fronteiras que se enamoraram (quem sabe se um dia lá em Itália não nasce um mulatinho!). Gostaria de vos falar do entusiasmo dos bons profissonais que querem mudar a face de segmentos do Hospital: o Carlitos, o Armando e o velho técnico Armindo do RX que gosta dos portugueses com quem trabalhou e que fica aflito com as propostas que o Carlitos (financeiro) e a Conceição (do grupo dos quatro que aqui vão estar durante um ano) apresentam para mudar as rotinas do serviço de RX.
Gostaria de vos falar dos dois velhotes engajados neste projecto, Eng.º João Faria e Dr. Vítor Seabra, que suam as camisas três vezes ao dia. Gostaria de vos falar da menina N'nha (que trouxemos de Portugal onde o Prof. Horácio a operou a uma mão queimada (fez-me lembrar a bela história da bajudinha
Catotinha) que nos vem visitar e que não nos larga.
Gostaria de vos falar do serviço (!!!) de estomatologia que tem um técnico que aprendeu quatro anos em Cuba a arte de arrancar dentes e o que o faz, com muito carinho, quase inexplicavelmente, pelos materiais que usa, pois mais parece um conjunto de ferros que lava e põe num autoclave mal funcionante e ferrugento.
Gostaria de vos mostrar imensas fotos de meninos de Uaque que fabricam os assobios (está la na foto que veio no blogue) e fazer-nos pensar a todos que os nossos filhos e netos só pensam nas playstations). Enfim muita coisa ficou por vos contar. Desgraçadamente, o computador não apareceu...e tanto traballho que tive que refazer ou mesmo reformular.
Conclusão quente. Quentes são estes dias(desde as onze até às cinco). O movimento não pára: desde o Hotel de Bissau (à saída de Bissalanca) até à mãe de água (por detras lá está o Palácio do Povo, quer dizer a Assembleia Nacional Popular construída pelos chineses.. toca-toca, taxis, transportes mistos, jeeps grandes, poderosos, e pessoas num vai-vai que não acaba (para onde vão?). No Hospital, quentes são os dias e noites para as parturientes que vão parindo às três de cada vez.
Conclusão húmida. Húmidas as noites. Começam agora a ser mais frescas. Fazem-me lembrar as muitas estórias que os camarigos contam, e, especialmente, as que eu vivi em Olossato. Mas estas pertencem ao passado que desejo revisitar e fazer relembrar mas sempre pensando que do passado se tiram lições.
Conclusão conclusão: Estamos a chegar ao Natal. Que natal poderámos nós dar - em qualquer momento do ano - às crianças da pediatria (do serviço de Pediatria)?
Mas um momento belo: vede a canoa navegando, com jovem ao leme, no canal do rio Geba em direcção ao rio Mansoa.
Meu caro Luís. Arruma as três fotos como tu sabes fazer. Mas que seguem pelo outro endereço... Até logo, até sempre. Um abraço a todos os camaradas.
Paulo Salgado
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